Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer

3 de setembro de 2020
Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer

Um assassinato misterioso colocou o futuro de toda uma sociedade em xeque. E é seu trabalho investigar e descobrir o que aconteceu. Confira agora nossa análise de Paradise Killer, jogo que mistura investigação, mundo aberto e visual novel.

Um mundo bizarro

Paradise Killer parte de uma premissa tão absurda quanto diferente: em uma sociedade utópica governada por divindades, ilhas paradisíacas são criadas (e destruídas) pelo bel prazer destas divindades. Elas se reúnem e criam sempre uma ilha maior e melhor do que a anterior.

Este ritual de criação e destruição é interrompido quando, na criação da 24ª versão da ilha, todo o conselho destas divindades é assassinada brutalmente. Um crime tão difícil de se executar quanto de se descobrir quem é o culpado.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer

Justamente por isso, nossa protagonista, Lady Love Dies (pois é, esse é o nome dela), é tirada de seu exílio — de 3 milhões de dias — para investigar. Para esta tarefa, ela tem à sua disposição o Starlight, um computador modernoso que será seu braço direito. De resto, cabe a você, e sua sagacidade, juntar as peças deste quebra-cabeça para solucionar o crime.

Investigação e mundo aberto

Jogos investigativos costumam se apresentar na forma de adventures: temos alguns lugares para ir, alguns objetos com os quais podemos interagir, e algumas pessoas com as quais podemos conversar. É uma fórmula que funciona para este tipo de jogo, pois limita o escopo do jogador, permitindo que ele fique focado na investigação em si.

Paradise Killer foge desta receita: ele tem um mundo aberto relativamente grande para ser explorado e não se preocupa em conduzir o jogador pela mão. A partir do momento que você assume o controle de Lady Love Dies, você é livre para explorar, e realizar a investigação da maneira que quiser.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer

Por um lado isso é bom… por outro, pode acontecer do jogador ficar perdido, sem saber exatamente o que fazer ou para onde ir. Mesmo quando você encontra itens importantes — que podem abrir portas, liberar caminhos ou ajudar a resolver enigmas — o jogo não te diz “use o item X no painel Y”. Você precisa descobrir sozinho… seu Starlight até ajuda, criando compêndios e organizando seu inventário, mas no geral você tem que se virar.

Esse fator “mundo aberto” ainda chega acompanhado de umas decisões de game design bem questionáveis. Por exemplo: você precisa pagar para realizar fast travels. Não é caro (1 cristal de sangue), mas desbloquear os telefones que lhe permitem chamar o transporte também é algo que precisa ser pago… é uma burocracia boba, que não serve para nada além de obrigar você a estar sempre em busca dos tais cristais.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer
Essa é a moça que te dá caronas (mas cobra por isso)

Mecanicamente, o jogo não traz nada de extraordinário: a perspectiva é em primeira pessoa, e nossa personagem pode correr, pular e se abaixar. Interagir com outros personagens, encontrar pistas pelo cenário, tudo é bem simples e intuitivo. O que complica é, essencialmente, saber o que fazer, qual o próximo passo.

Na prática, então, Paradise Killer é um jogo que demanda um bocado de resiliência. Você precisa querer que a história ande para ela andar… mas precisa também descobrir como fazer ela andar. É um jogo que testa a paciência do jogador, e espera que você realmente se dedique para conseguir avançar.

Visual Novel de detetive

Eu acho curioso o universo e os personagens que foram criados para Paradise Killer… mas ao mesmo tempo acho que ele poderia ser mais simples. Não há nada comum, aqui: todos tem nomes bizarros, aparências estranhas, e esse fator “esquisitice” mais atrapalha do que ajuda, pois fica difícil de memorizar tudo.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer
Sim, o nome desse cara é “Doctor Doom Jazz

Conversar com esta galera estranha é interessante, especialmente por termos diálogos muito bem escritos. Podemos definir o “tom” do que dizemos (acusatório ou comedido, por exemplo), e isso afeta o comportamento dos NPCs e o quão honestos eles vão ser com você.

Como há um grande mistério para ser desvendado, espere por uma boa dose de plot twists e situações inesperadas. Porém, repito: nada aqui simplesmente acontece, você é a força motriz que faz a narrativa evoluir, mas precisa saber o que está fazendo para que as coisas aconteçam.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer
E essa caveira é o “Sam Day Break

Você pode, por exemplo, descobrir que o álibi de um personagem é falso. Com essa nova informação, cabe a você tomar a iniciativa de voltar até onde esse personagem fica e questioná-lo. Se é longe, problema seu, dê um jeito de chegar lá… ou corra o risco de deixar para depois e perder “o fio da meada”. Nessa nova conversa, um fato novo pode surgir, acrescentando uma nova estrela na intrincada constelação de pistas que você vai descobrindo enquanto investiga.

É difícil comparar Paradise Killer com outros jogos, uma vez que ele realmente é muito único dentro de sua proposta. Talvez o que mais se aproxime dele seja a série Danganrompa, mas digo isso com ressalvas, uma vez que são jogos com ritmos bem diferentes.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer

Esteticamente, porém, eles meio que seguem a mesma linha: temos um mundo 3D meio old school que não é bem low poly, e remete um pouco à estética dos jogos da geração PS2. Os personagens, por sua vez, são 2D, e têm visuais tão estranhos quanto seus nomes: temos criaturas de vários braços, caveiras coloridas, demônios psicodélicos, e muito mais.

Conclusão

Paradise Killer é um jogo que definitivamente não é para todos. Seu ritmo é lento, seu mundo é esquisito e sua história é bizarra. É um jogo que te deixa bastante livre, mas ao mesmo tempo não te ajuda a entender o que está acontecendo: tudo aqui depende de você, e ficar perdido faz parte da experiência.

Análise Arkade: desvendando um crime sombrio no esquisito Paradise Killer

Dificulta o fato do jogo não ter nenhum tipo de localização para o nosso idioma. Os diálogos são muito importantes, e é fundamental ter um bom nível de inglês para acompanhar as conversas, analisar pistas, descartar álibis, e muito mais.

Se você conseguir superar todos estes perrengues, estará diante de um jogo único, que conta uma história surpreendente e é capaz de levantar reflexões e te fazer questionar seu próprio senso de justiça. Mas para aproveitar tudo isso, você vai ter que lidar com um jogo que é, em muitos aspectos, mais complexo do que deveria.

Paradise Killer será lançado amanhã (04/09), com versões para PC e Nintendo Switch (versão analisada).

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

Mais Matérias de Rodrigo

Comente nas redes sociais