Análise Arkade: Pepper Grinder e o desafio viciante de abrir caminho na broca

28 de março de 2024
Análise Arkade: Pepper Grinder e o desafio viciante de abrir caminho na broca

Certos jogos partem de premissas simples, mas surpreendem com uma gameplay bem calibrado, gostoso de jogar. Pepper Grinder é assim: minimalista em história, mas gigante em diversão. Vem conferir nossa análise do mais novo lançamento da Devolver Digital!

Apesar do nome peculiar (se traduzirmos ao pé da letra, o nome do jogo significa “moedor de pimenta”), Pepper Grinder conta a história de uma jovem pirata chamada Pepper, que teve seu navio afundado e todos os seus tesouros roubados.

Obviamente ela não vai deixar isso barato: munida de uma poderosa broca (chamada Grinder), a garota vai abrir caminho na força do ódio (e da broca) para reaver suas riquezas, em uma ilha repleta de perigos e monstrinhos bizarros.

Análise Arkade: Pepper Grinder e o desafio viciante de abrir caminho na broca

Não é assim uma grande história, e todo esse conceito é apresentado de forma rápida. E tudo bem, afinal, Pepper Grinder não é um jogo que nos prende por sua história. Seu maior triunfo é sua jogabilidade, e a forma como ela torna a experiência viciante!

Brocando para todos os lados

Embora o termo “brocar” provavelmente tenha alguma conotação sexual distorcida em algum lugar, no dicionário ela significa pura e simplesmente “perfurar com uma broca”. E é isso o que vamos fazer na maior parte do tempo em Pepper Grinder.

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Tipo assim

Nossa incansável broca Grinder é tão poderosa que praticamente arrasta a protagonista Pepper para onde vai. Assim o gameplay que, em uma primeira olhada, parece ser só plataforma 2D tradicional, ganha uma nova camada quando pressionamos encontramos superfícies perfuráveis, pressionamos o gatilho direito para acionar o rotor e percebemos que “quem manda é a broca”.

Vou fazer uma analogia meio besta aqui, para exemplificar: sabe quando levamos um cachorro muito grande para passear na coleira, e acabamos sendo carregados por ele? É mais ou menos o que acontece aqui: a broca meio que nos arrasta junto.

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Sendo arrastado pela broca

Claro que temos algum controle sobre a direção que queremos seguir, mas é tudo muito “bruto”. É impossível fazer curvas perfeitas ou viradas repentinas para o lado oposto. Enquanto nos locomovemos brocando, estamos à mercê da força motriz broca.

Pepper Grinder e seu level design primoroso

Felizmente, isso não é um problema, visto que o level design primoroso de Pepper Grinder foi cuidadosamente pensado para tirar proveito dessa movimentação um tanto errática.

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Repare no caminho perfurável acima da lava

Ao posicionar estrategicamente superfícies que podemos brocar (pelo chão, pelas paredes e pelo teto), o jogo cria caminhos que desafiam o jogador a “pilotar a broca” de um jeito que consiga chegar onde deseja, sem muito tempo para pensar. Essa imprecisão calculada na movimentação lembra um pouco o incrível Yoku’s Island Express, onde o protagonista estava preso à uma bola de pinball.

Vou deixar um breve vídeo de gameplay aqui para você entender como isso funciona, de um momento particularmente complicado (e empolgante) de uma fase no gelo:

Ter um bom controle vai ser fundamental não só para “passar de fase”, mas principalmente se você quiser coletar as 5 moedas piratas que estão escondidas em cada fase. São colecionáveis opcionais, mas coletá-las nos permite comprar chaves que desbloqueiam fases extras e itens cosméticos.

Conforme jogamos e superamos os obstáculos, vamos percebendo que, embora pareça truncado, o gameplay com a broca é bastante fluido. A jogabilidade foi muito bem pensada (e calibrada) para alcançar um ponto de equilíbrio entre o controle e a falta dele.

Broca multiuso e chefes

E quando começamos a nos adaptar com as nunaces de um gameplay que é fácil de aprender, mas difícil de dominar, descobrimos que a broca na verdade possui diversas outras funções, que vão sendo apresentadas ao poucos.

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Ao acoplarmos a broca em uma arma, por exemplo, temos uma minigun. Também podemos usar o rotor da broca para acionar mecanismos. Em dado momento, vamos até pilotar um veículo de neve. Há vários momentos em que o gameplay se reinventa, mas nunca perde sua essência.

O que nos leva às batalhas contra chefes, que são tremendamente divertidas e desafiadoras, afinal, temos que evitar ataques e infligir dano por meio dos controles “precisamente imprecisos” da broca.

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O primeiro chefe é esse besourão

Mais uma vez o level design brilha, entregando arenas de combate planejadas para o jogador ter boa locomoção e poder tanto atacar quanto fugir com agilidade.

O audiovisual de Pepper Grinder

Embora se apresente com uma pixel art 2D simples, Pepper Grinder é um jogo carregado de personalidade. Os personagens são muito expressivos, e a campanha é dividida em mundos temáticos que agregam muita variedade de cenários — como neve, gelo, pântano, etc.

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Olha que gigante fofinho <3

Esse também é aquele tipo de jogo “crocante”, que coloca muito peso, muito impacto na movimentação. Sentimos o peso da broca não só nos controles, mas na maneira satisfatória com que ela atravessa superfícies — e monstrinhos inimigos.

Sem vozes (e sem diálogos, na verdade), o departamento sonoro do jogo é composto pelo rotor da broca e outros efeitos, e por músicas que até são variadas, mas não são particularmente marcantes. Cumprem seu papel, mas acho que o jogo merecia algo mais… Sonic, sabe? Uma trilha mais grudenta, mais condizente com o estilo do jogo.

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Joguei Pepper Grinder no Nintendo Switch, em modo portátil, e o desempenho foi impecavelmente fluido. Ah, e vale ressaltar que, mesmo sem diálogos e com pouca história, o game possui menus e legendas em português brasileiro.

Conclusão

Pepper Grinder é um joguinho que chega descompromissado, mas cativa o jogador com mecânicas criativas, desafio na medida e um gameplay delicioso. Tudo isso pode fazer com que ele torne-se altamente viciante, visto que aquela sensação de “na próxima tentativa eu consigo” o torna um jogo difícil de largar.

Análise Arkade: Pepper Grinder e o desafio viciante de abrir caminho na broca

Prova disso é que eu estou com muitos jogos “maiores” para cobrir, mas não consegui largar Pepper Grinder nos últimos dias. Toda hora que me sobrava um tempinho para jogar, eu tirava o Switch da mochila e colocava minha broca para trabalhar (sem malícia).

Simples, “crocante” e divertido, Pepper Grinder é mais um ótimo jogo no portfólio da Devolver Digital (publisher que, vamos concordar, não costuma errar muito). E o fato de chegar com um precinho super camarada (menos de R$ 50 no Switch) deixa ainda mais fácil recomendá-lo.

Pepper Grinder chega hoje (28/03) ao PC e ao Nintendo Switch. O game possui uma demo gratuita em ambas as plataformas.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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