Análise Arkade: Planet Alpha leva a fórmula de Limbo e Inside para o espaço
Muitos jogos tentam emular os games da Playdead — produtora de Limbo e Inside — em termos visuais, sempre com muito contraste e escuridão. Planet Alpha faz o oposto: ele tem o feeling dos jogos da Playdead, mas joga isso em um mundo alienígena super colorido. Será que essa mistura funciona? Leia nossa análise e descubra!
O Planeta Alpha
Planet Alpha é mais um daqueles jogos com narrativa não-verbal que traz mais uma motivação do que uma história propriamente dita: assumimos o controle de um astronauta, que está explorando um exuberante planeta alienígena, com fauna e flora surrealmente belas.
Sua exploração logo é interrompida por uma invasão: centenas de naves hostis começam a chegar, despejando hordas de robôs, sentinelas e drones de patrulha, maculando o tom idílico do lugar com suas turbinas barulhentas e suas armas laser.
Estes novos visitantes claramente não estão para brincadeira, então sua missão de reconhecimento acaba tornando-se uma grande corrida pela sobrevivência, com alguns momentos de stealth e environmental puzzles aqui e ali.
Sobrevivendo à invasão
Partindo desta premissa, o jogo estabelece um padrão linear bem claro: nosso objetivo é simplesmente seguir em frente, evitando a todo custo que os robôs e sentinelas invasores nos vejam.
O jogo mistura com muita propriedade trechos de correria que são puramente de plataforma com sequências de ação mais cadenciada, onde devemos parar, analisar o ambiente e descobrir uma forma de prosseguir. O andamento é muito fluido, o que concede um ótimo ritmo à aventura.
Vez ou outra teremos que arrastar blocos para servirem de plataformas, nos agacharmos em meio à vegetação densa para não sermos avistados, ou dar um jeito de ativar mecanismos que façam portas e elevadores funcionarem. Coisas que quem jogou Inside — ou mesmo Unravel — já está bem familiarizado.
Em termos de gameplay, o que temos de mais diferente aqui é a habilidade de rotacionarmos o próprio planeta: quando estamos sobre certas plataformas, podemos literalmente acelerar a rotação do planeta, e de repente o dia vira noite.
Qual a utilidade disso? Depende: há certas plantas que só se abrem a noite, e você pode usá-las como plataformas para seguir em frente. Há “casulos” que se abrem para receber a luz do sol, esporos que só se tornam visíveis no escuro, constelações que (obviamente) só podem ser vistas durante a noite, e muito mais.
É um elemento de gameplay interessante, utilizado de forma inteligente, sem excessos, geralmente na resolução de puzzles. A mecânica altera o visual como um todo, mas principalmente altera o ambiente, permitindo que nosso astronauta siga seu caminho usando a exótica flora local como caminho.
Um mundo exuberante
Não sei você, mas eu fico muito satisfeito de ver como a indústria dos games está redescobrindo as cores: a geração passada foi marcada por muitos jogos escuros e monocromáticos. Diversos jogos excelentes, mas que não traziam lá muitas cores.
Ultimamente isso vem mudando. Jogos como Horizon Zero Dawn e Guacamelee 2 já nos brindaram com seus mundos coloridos, e Planet Alpha leva isso a um novo patamar: a temática alienígena deu total liberdade criativa aos designers, que povoaram o mundo do game com formas de vida psicodelicamente coloridas.
Falando em psicodelia, dá uma conferida no visual das “fases bônus” do game, que desde já estão entre as coisas mais bonitas que eu vi em um game ultimamente:
Voltando ao assunto, falemos do belo mundo alienígena do game: de enormes cogumelos alienígenas a construções que parecem feitas de ouro puro, passando por “dinossauros” e grandes insetos bioluminescentes, cada tela de Planet Alpha é uma explosão de cores e sons que merece ser apreciada.
Claro que nem sempre podemos simplesmente parar para ficar admirando a paisagem. Mas, mesmo isso acaba sendo algo positivo: a cadência dos acontecimentos mantém o “fator deslumbramento” em alta por toda a jornada. A gente nunca tem tempo de “se acostumar” com um ambiente, pois logo surge outro, ainda mais psicodélico e incrível do que o anterior. A direção de arte é espetacular, e está o tempo todo tirando o fôlego do jogador com suas paisagens surreais.
Mesmo em seus momentos de escuridão, Planet Alpha consegue usar as cores a seu favor: certa parte do jogo se passa em uma espécie de colmeia obscura, mas mesmo ali há casulos bioluminescentes que enriquecem o visual.
Confira um breve momento de gameplay nesta área abaixo — e repare que dependemos do besourão para limpar o caminho para a gente:
Na maior parte do tempo o que nos acompanha são os sons ambientes, mas a música se faz presente no game para potencializar perseguições e momentos mais intensos. Ah, e vale ressaltar que, ainda que não tenha diálogos nem uma história sendo desenvolvida de forma tradicional, Planet Alpha conta com menus e legendas em português brasileiro.
Conclusão
Enquanto eu jogava Planet Alpha, duas coisas me vinham à mente: Inside, o jogo da Playdead, e Avatar, o filme de James Cameron. E acho que essa é uma ótima forma de sintetizar o que o jogo oferece: ele é praticamente um Inside ambientado em Pandora.
O ritmo quase implacável do game não permite que possamos simplesmente parar e apreciar a paisagem — este definitivamente não é um walking simulator, e você vai morrer um bocado, se der bobeira –, mas isso de forma nenhuma torna seu visual menos espetacular, e seu mundo, menos surpreendente.
Planet Alpha é uma experiência intensa em termos de gameplay, e uma explosão de cores e sons que é um deleite para olhos e ouvidos. Uma prova que este tipo de jogo não precisa ser sempre escuro e claustrofóbico para ser envolvente. Altamente recomendável para quem curte experiências como Inside e Little Nightmares, e está atrás de mais jogos do tipo.
Planet Alpha é o centésimo jogo publicado pela Team17, e foi lançado em 4 de agosto. O game está disponível para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.