Análise Arkade: Pressure Overdrive mistura corrida com twin stick shooter
Os quase longínquos anos 1980 e principalmente os anos 1990 foram muito generosos ao trazer para o mundo dos videogames ótimos jogos no estilo shoot ‘em up, games de tiro cujo ponto de vista, normalmente, é com câmera e cima, tanto vertical quanto horizontalmente. Todavia, esse sub-gênero é uma tradição muito anterior a isso, que remete ao princípio dos jogos eletrônicos, como o inovador Computer Space (1971) e, mais tarde, o inesquecível River Raid (1982). Depois vieram clássicos como Axelay, Gradius, R-Type e tantos outros.
Olhando em retrospectiva, a grande ponte entre todos eles é o protagonismo de aeronaves. Não a toa, antes dessa gourmetização dos gêneros de videogame, era comum falarmos desses games como “jogos de navinha” e, com o passar dos anos, a indústria começou a deixar esse estilo de lado, ficando cada vez mais raro encontrá-los para as novas gerações. Pressure Overdrive busca resgatar essa página da história dos videogames, ao mesmo tempo que procura inovar. Afinal, é basicamente um jogo de navinha… com carros!
Contando uma história entre tiros e explosões
Pressure Overdrive começa quando um poderoso empresário, o Conde, resolve roubar toda a água do lugar para abastecer as máquinas a vapor de seu spa. Nada satisfeito com isso, o protagonista da aventura parte com seu carango atrás do vilão para recuperar esse recurso tão precioso e, no caminho, encontrará exércitos de inimigos que farão de tudo para pará-lo.
Em termos narrativos, portanto, o game não traz nada de tão inovador, trazendo simpesmente uma premissa para encararmos as mais de 30 fases que deverão ser vencidas antes de alcançar o grande vilão. Ao mesmo tempo, com poucas, mas divertidas cut-scenes, o game estabelece um carisma incrível, principalmente para o antagonista, que inegavelmente busca inspiração em obras como Meu Malvado Favorito (com direito a sua própria versão dos Minions) e Megamente, filmes recentes que humanizam e dão humor e esses vilões com planos mirabolantes e estranhos.
Ainda assim, é uma história um tanto quanto protocolar e que, em termos práticos não oferece nada mais à experiência do jogador. É divertidinha e tudo mais, mas pouco faria falta se não estivesse lá. Por vezes, as cut-scenes parecem estar lá mais para nos lembrar que há uma narrativa sendo desenvolvida do que para oferecer conteúdo de fato. De qualquer forma, ela é contada por meio de cenas que, as vezes, parecem rodar em baixa resolução, inclusive ao se comparar com a ótima composição de imagens do gameplay.
Correndo e Atirando
Jogando com um controle tradicional, Pressure Overdrive funciona com um sistema bastante simplificado de twin-stick, tal como Dead Nation, por exemplo, onde os comandos básicos são dedicados aos dois direcionais analógicos. Um deles controla o veículo, dando a ele aceleração e direção, e o outro aponta e atira ao mesmo tempo. Ou seja, não há botões específicos para se acelerar ou frear, nem para atirar. Tudo se resolve bem basicamente usando as alavancas.
Isso não significa, porém, que não haja outros comandos. Durante a jogatina, é possível comprar e equipar diferentes adicionais ao carro, alguns passivos, outros ativos que são mapeados automaticamente nos botões de ação. Assim, é possível equipar uma turbina, drones, armas especiais e outras traquitanas que dão opções para o jogador. Nada disso, porém, muda drasticamente a mecânica principal de correr e atirar.
O jogo conta com duas barras principais para o seu carro: uma de vida e a outra de pressão — que aqui funciona meio como uma barra de stamina, meio como um sistema de super-aquecimento. Enquanto a primeira, obviamente, define se o jogador seguirá vivo até o fim de cada fase, a segunda precisa ser controlada e alimentada para não perder rendimento, principalmente nos momentos de mais ação. Saber lidar com essa barra é fundamental, principalmente quando a dificuldade começa a aumentar de verdade.
Contando com poucos modos de jogo, que nada mais são do que formas de pontuar e progredir nos mesmos níveis, o jogo não é tão variado assim, podendo se tornar cansativo ao longo da jornada. Não que seja especialmente longo, já que cada fase não deve durar mais que 3 ou 4 minutos (a não ser as dos sub-chefes que podem ser bem mais longas). Mas a pouca variedade de inimigos e a sensação de estarmos jogando sempre a mesma fase ajudam a dar essa sensação de esgotamento, que diminui quando alguém entra com o segundo controle na aventura (sim, há coop local aqui, e é bem divertido).
Audiovisual
Um dos grandes acertos da produção é a composição visual da tela de jogo. É comum em games do gênero tudo ficar bastante poluído e um pouco confuso demais, com tiros, inimigos, cenários e outras coisas se misturando. Neste caso, os ambientes são bastante limpos e tudo parece bastante nítido. Os tiros dos inimigos são fáceis de se identificar (nem tão fáceis assim de se desviar) e o mapa, mesmo com algumas irregularidades, é bastante tranquilo de se compreender e de se movimentar.
A princípio, parece haver uma diversidade interessante de inimigos, cada qual com suas características, mas essa sensação acaba caindo por terra ao longo da jornada. Todos começam a ficar repetitivos, mesmo os mais diferentes. Mas o que piora muito essa sensação é que a composição dos cenários não muda muito. Parece realmente que se está jogando as mesmas fases o tempo todo, com algumas variações de dificuldade. Há ambientes distintos, mas eles acabam não se diferenciando tanto a ponto de ser algo significativo.
O design do jogo acerta bastante no desenvolvimento dos personagens, caricatos e carismáticos. O veículo — um buggy estilizado meio steampunk — vai ficando cada vez mais nervoso conforme visitamos a garagem para acrescentar novas adições que melhoram o seu desempenho. As cut-scenes, como dito, também funcionam bem ao criar uma atmosfera leve e descompromissada, mas não são tão belas como poderiam ser considerando as passagens de jogo em si.
Em termos sonoros, as músicas do jogo acompanham o tom leve e despretensioso, mas tal como os cenários, acabam se tornando repetitivas. Não há um grande destaque também para os efeitos sonoros ou mesmo a dublagem, que cumprem o seu papel sem nenhum grande destaque positivo ou negativo, o que torna o jogo, de forma geral, bastante agradável em termos audiovisuais, cumprindo seu papel de forma satisfatória.
Conclusões
Pressure Overdrive é um belíssimo representante de um gênero quase esquecido pela indústria, mas não pelos jogadores de longa data. Ainda que inove ao trazer um veículo terrestre, e não aéreo, homenageia com muito sucesso os shoot ‘em ups clássicos e os reapresenta para uma nova geração de forma bastante justa.
Se não é absolutamente brilhante em termos visuais e apresenta algumas limitações em questões de gameplay, consegue ser bastante divertido, leve e despretensioso na medida certa. É desafiador, sobretudo nas fases com chefes e sub-chefes, mas alcança um ótimo equilíbrio sem apelar para uma dificuldade exagerada e desmotivadora.
E mais: jogando com um amigo de sofá, o game se torna ainda mais divertido pela bagunça que causa. Mesmo nesse sentido, o game consegue resgatar a diversão de outros tempos em que nos divertíamos jogando com um bom player 2.
Pressure Overdrive foi lançado esta semana, e está disponível para PC, XBox One e Playstation 4. O game conta com textos e menus totalmente em português do Brasil.