Análise Arkade: Pumpkin Jack, um ótimo jogo de plataforma 3D “com alma de PS1”
O Halloween está chegando, e se você quer entrar no clima com um bom jogo de plataforma 3D, como nos tempos do Playstation 1, fique ligado em Pumpkin Jack, uma ótima surpresa que que está chegando hoje aos PCs e consoles!
Parece familiar?
Sim, eu sei. Pumpkin Jack lembra bastante MediEvil, clássico do PS1 que ganhou um remake caprichado no PS4 há exatamente um ano. Presumo que uma parcela dessas semelhanças seja proposital, mas acho que boa parte das similaridades se deve à temática: vilarejos rurais, cemitérios, plantações… tudo isso faz parte do “panorama geral” de ambos os games, e o visual cartunesco deles, que deixa tudo menos aterrorizante e mais “bonitinho” também corrobora com isso.
A trama do jogo é curiosa: a chatice de um reino pacato chamado Boredom Kingdom entedia o próprio demônio, que resolve mandar uma maldição para o lugar. Os humanos então recorrem a um poderoso mago (com motivações duvidosas) para protegê-los.
O demônio então, conjura seu próprio “campeão” para derrubar o mago: Jack, o Senhor das Abóboras, que retorna do túmulo não para salvar o reino, mas para impedir que ele seja salvo. Acompanhado de um corvo falastrão, Jack irá se aventurar ao longo de 6 fases, saltando entre plataformas e enfrentando inimigos em sua busca pelo mago.
É tudo muito simples, linear e direto ao ponto, mas o jogo ganha pontos por injetar humor e personalidade aos personagens. Jack é irônico e até um pouco babaca, seu amigo corvo é medroso, e alguns coadjuvantes de luxo que encontramos pelo jogo também esbanjam carisma. Há diálogos divertidos e boas referências a jogos e filmes, inclusive nos troféus/conquistas. Pumpkin Jack é um jogo que sabe usar o humor a seu favor.
Plataforma & Pancadaria
O site oficial do game descreve-o como uma mistura de MediEvil com Jak & Daxter, e essa é uma grande verdade. Cada fase do jogo reúne bons trechos de plataforma 3D (se você tem medo de altura, venha preparado, pois vamos bem alto aqui) com um sistema de combate simples, mas efetivo.
Plataforma 3D é um negócio que pode dar muito errado se for feito de qualquer jeito, mas felizmente, o gameplay aqui é muito bem calibrado. Jack possui apenas um pulo duplo, mas isso é mais do que o suficiente para superar os obstáculos do game. Cada fase tem 20 crânios de corvo para serem coletados, e há também um gramofone escondido por estágio, o que libera um “número musical” secreto e pode entreter os colecionistas.
Na hora do fight, Jack também se garante na simplicidade: há um botão de ataque e um de esquiva, e também é possível mandar seu corvo atacar à distância. Conforma avança, você desbloqueia meia dúzia de armas — bem variadas, indo de uma pá até uma escopeta –, mas o gameplay com todas é essencialmente o mesmo. Os inimigos costumam vir em pequenos bandos, mas o combate do jogo dá conta do recado, sem nunca se tornar o elemento dominante.
Pumpkin Jack traz algumas boss battles bem intensas, e momentos onde Jack “separa” sua cabeça do corpo, e devemos controlar somente sua cabeça de abóbora para cumprir pequenos desafios. Há jogos de memória com lápides, arremessos de presentes (o Papai Noel se coloca em nosso caminho em uma parte da história), tocar música em cogumelos e outras mini-games temáticos. São momentos pontuais, que no geral só parecem estar ali para dar um propósito à habilidade de “perder a cabeça” do protagonista.
Corrida & Criatividade
Um detalhe interessante é que, apesar de sua curta duração, Pumpkin Jack se esforça para trazer experiências variadas em todas as suas fases. Além dos já mencionados mini-games com a cabeça de Jack, sempre há um trecho de “corrida on rails”, e estes trechos não só são desafiadores, como também muito divertidos.
Há uma boa variedade nesse ponto: em alguns momentos, você vai andar em alta velocidade em um carrinho de mina, destruindo bloqueios e evitando buracos nos trilhos ou guiando um desses carrinhos em alta velocidade sobre as muralhas de um castelo contra um trio de cavaleiros trapalhões. Em outros momentos, o Caronte irá levá-lo para um rolê de barco cheio de surpresas. Também há uma gárgula que te leva para alguns voos bem acidentados, e por aí vai.
Confira um dos “passeios” em carrinho de mina no vídeo abaixo:
Esses trechos são breves, mas interessantes, e deixam claro que houve carinho e cuidado na concepção do game, para que ele não seja “apenas” um jogo de plataforma 3D, e agregue mais coisas bacanas. Acho que o único “erro” aqui é a repetição: se cada um desses momentos acontecesse uma única vez, seria perfeito. Mas eles “voltam” para uma segunda ou mesmo uma terceira rodada, e sem o elemento surpresa, eles meio que perdem um pouco do impacto.
Audiovisual
Pumpkin Jack não tem o mesmo orçamento de um MediEvil, mas traz um visual cartunesco muito caprichado, e no PC conta inclusive com ray tracing e outros recursos “next gen”. O mundo 3D do jogo lembra um pouco os tempos do PS1: há paredes invisíveis aqui e ali, mas como esse é um jogo de fases — não de mundo aberto — isso acaba nem sendo um problema. O desempenho também é bom: joguei no Xbox One X, e o jogo roda lisinho, é estiloso e muito bem resolvido visualmente.
A questão do orçamento fica mais clara em alguns aspectos: não há cutscenes mirabolantes, por exemplo, e a única voz que vamos ouvir é a do narrador. Mesmo assim, o jogo conta sua história de maneira competente através de diálogos escritos e desenhos cheios de estilo. Infelizmente, o jogo não foi localizado para o nosso idioma.
A trilha sonora, por outro lado, é bem impressionante: toda orquestrada e retumbante, ela conta inclusive com algumas músicas clássicas famosas, como For Elise e uma releitura “assustadora” da poderosa Cavalgada das Valquírias. A trilha sonora é incrível e contribui muito com a atmosfera “halloween” do jogo. Ah, e tá disponível no Spotify, clica aqui que vale muito a pena.
Conclusão
Pumpkin Jack é um jogo da geração atual com alma de PS1. Há poucos jogos assim hoje em dia, com essa vibe mais retrô — mas sem ser retrô demais, tipo pixel art 2D. Eu adorava os jogos de plataforma 3D daquela época, e realmente sinto falta desse tipo de experiência.
Justamente por isso, Pumpkin Jack foi uma grata surpresa. Ele durou pouco mais de 6 horas comigo, mas esse tempo foi, no geral, muito satisfatório. O jogo dá suas escorregadas (tem uma parte de encontrar o caminho certo em uma floresta que é terrível), mas o saldo no geral, é bem positivo.
É bom termos um jogo realmente novo desse tipo em 2020, que não seja mais um remake ou remaster. Jack tem personalidade de sobra para se tornar um novo “mascote” do gênero, e dada a qualidade da sua aventura, eu realmente espero que o estúdio tenha fôlego (e grana) para transformar o jogo em uma franquia.
Pumpkin Jack está sendo lançado hoje (23/10), com versões para PC, Playstation 4, Xbox One (versão analisada, rodando no Xbox One X) e Nintendo Switch.