Análise Arkade: R-Type Final 2, o oneroso retorno de um clássico dos shoot ‘em ups
R-Type é uma franquia que acompanha a própria evolução dos videogames: o primeiro jogo da série chegou aos arcades em 1987. Agora em 2021, um novo capítulo da saga espacial chega, na forma de R-Type Final 2!
Não era uma piada
Um detalhe curioso é que R-Type Final 2 foi anunciado no dia primeiro de abril de 2019. Como a indústria de games é cheia de pegadinhas e trollagens nesta data, todo mundo achou que era zoeira — até porque, quando um jogo leva “Final” no nome, não faz muito sentido ter uma parte 2, né?
Pois bem, não era zoeira. O anúncio foi real, e logo depois a Granzella anunciou uma campanha de financiamento coletivo, que arrecadou mais de um milhão de dólares, e teve o intuito de transformar esse novo jogo em uma espécie de homenagem para o legado da série.
O jogo nos dá um background da base espacial em que estamos e nos permite até nomear nossa personagem, mas não tem uma grande a ser desenvolvida aqui. Apesar do visual moderno 2.5D, esse ainda é um “jogo de navinha” bem raiz, e o que interessa é a ação.
De início, temos 3 naves diferentes para escolher e há um grau mínimo de customização para cada uma delas (trocas de cores, adesivos e diferentes tipos de bombas especiais).
Como as naves possuem power ups ligeiramente diferentes, vale a pena experimentar todas para ver com qual delas você se sai melhor.
Pew, pew, pew!
Escolha feita, o gameplay em si é bastante familiar para qualquer um que jogou algum shoot ‘em up nas últimas décadas: você deve exterminar hordas de naves inimigas, escapando de incontáveis projéteis enquanto faz o seu melhor para coletar power ups e manter-se vivo.
Apesar de ser familiar, temos algumas nuances nas mecânicas, por exemplo: há um botão de rapid fire que você pode manter apertado para ficar atirando ininterruptamente, como uma metralhadora. Porém, também há um botão de tiro único: manter ele pressionado carrega uma versão muito mais poderosa do seu tiro. A pegadinha é que você não pode usar os dois ao mesmo tempo, precisando escolher e priorizar o que for mais adequado conforme a situação.
Outro detalhe interessante é que o primeiro power up que a gente coleta sempre é um orbe que atira sozinho. Porém, você pode acoplá-lo à sua nave — tanto na frente quanto na traseira — o que lhe confere a possibilidade de atirar em duas direções simultaneamente. Não temos como virar o bico da nave para trás, então este recurso acaba sendo uma mão na roda, pois ocasionalmente virão inimigos também pela esquerda da tela.
Boa parte dos demais power ups (os coloridos) servem justamente para alterar o tipo de tiro que esse orbe ajudante dispara, entre lasers que ricocheteiam e até um “chicote” elétrico. Usando a terceira nave, esse orbe passa a se movimentar e mirar automaticamente pela tela, então equipá-lo com uma boa munição ajuda bastante nos trechos mais cabeludos.
Outra peculiaridade nas mecânicas são os botões de aceleração e “freio” para as naves, que nos permitem um controle mais rápido (ou mais lento) para realizar esquivas e manobras. Não é assim tão útil: eu fiquei na velocidade intermediária (2) o tempo todo e, no geral, a velocidade correspondeu às expectativas.
No mais, espere por um “jogo de navinha” bastante tradicional, que traz uma boa mistura de inimigos comuns, chefes gigantes e muitas explosões pela tela. Aliás, se tem um jogo que precisa ter um aviso de “luzes piscantes” é esse: mesmo o projétil mais ordinário é brilhante e pulsante, de um jeito que a tela torna-se quase uma balada, tamanha a quantidade de luzes e cores piscando!
E já que falamos nisso, destaco que o departamento audiovisual do jogo é bem competente: ainda que alguns backgrounds sejam bem genéricos, os modelos de naves e inimigos são bem feitos, e o jogo tem capricha nos sons de laser e explosões. A trilha sonora ocasionalmente desaparece (me parece ser um bug), mas, sendo bem honesto, nem faz muita falta.
Continues, DLCs e preços polêmicos
Uma coisa que R Type-Final 2 traz direto dos anos 80/90 é o limite de vidas e continues. Porém, ele faz isso de um jeito que é diferente… e também desnecessário.
Funciona assim: na sua primeira partida, você vai ter 3 continues, cada um com 3 vidas. Perdeu tudo, é Game Over de vez, volta do início. Porém, nessa segunda rodada, você vai ter 10 continues, o que aumenta suas chances de chegar até o final. Eu consegui terminar nessa segunda partida, mas li por aí que, se você fracassar tendo 10 continues, vai ter 99 tentativas na próxima jogada.
Se é possível ter 10 ou 99 continues, porque o jogo nos obriga a começar somente com 3? Tentar zerar com 3 continues fica parecendo uma perda de tempo… ou uma forma bem safada de prolongar a experiência do jogo.
O que nos leva ao próximo ponto: R-Type Final 2 é um jogo estilo arcade, super direto ao ponto. São apenas 7 fases, então, com alguma habilidade, é possível terminá-lo em menos de uma hora. E ele custa absurdos R$ 199 na PSN brasileira. É um preço bem alto para um jogo tão curto, não acha?
Calma que ainda tem mais: o jogo mal “saiu do forno” e já veio acompanhado de um DLC, que custa R$ 37,50 e acrescenta mais duas fases. Além disso, o jogo ainda conta com um “Stage Pass” que vai ter, no total, 3 pacotes de fases extras (contando com esse primeiro que já saiu). Esse “passe” custa mais de R$ 100. Ou, se preferir, você pode adquirir o jogo base + o Stage Pass pela bagatela de R$ 319,90.
Eu não gosto de atribuir preço ao nível de diversão (ou mesmo nostalgia) de um jogo. Porém, pagar quase 200 reais por um jogo que tem 7 fases e dura menos de uma hora é bem salgado. E o pior: ao invés de colocar mais conteúdo no jogo para tentar justificar esse valor, os caras foram lá e criaram não um, mas 3 pacotes de DLCs separados. Se cada um tiver duas fases, o pacote todo vai acrescentar uns 30 minutos de jogo “novo”, e olha lá.
Conclusão
Eu sei que a nostalgia as vezes fala mais alto que a razão, mas, preciso ser honesto: mesmo que você seja um fã de carteirinha de R-Type, ou um entusiasta de shoot ‘em ups… segure a onda e espere por uma promoção muito boa antes de comprar R-Type Final 2.
Não é nem pela qualidade do jogo, mas pelo custo-benefício. R-Type Final 2 é um bom “jogo de navinha”… mas também é um jogo curto e simples, que você consegue zerar “em uma sentada” e não tem lá um fator replay muito grande.
E, convenhamos: é um “jogo de navinha”. Você sem dúvida consegue encontrar produtos muito similares (e bem mais em conta) por aí. Em último caso, fica a dica: ele tem uma demo gratuita. Baixe e experimente antes de abrir a carteira.
R-Type Final 2 está disponível para PC, Playstation 4 (versão analisada, rodando no PS5), Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. O jogo não possui menus ou legendas em português brasileiro.