Análise Arkade: Rad, um roguelike pós-apocalíptico ambientado nos anos 80
Rad é o novo jogo da Double Fine, e é também a primeira aventura da empresa pelo gênero roguelike. Será que eles conseguiram criar algo bacana dentro deste nicho? Vamos descobrir!
Pós-apocalipse oitentista
Rad se passa em um pós-apocalipse distópico, que mostra a Terra devastada não por um, mas por 2 apocalipses (?!), que dizimaram boa parte da vida e tornaram nosso planetinha azul em um amontoado tóxico, estéril e sem vida de ruínas.
Quando parecia não haver mais jeito, um robô aparece para dizer aos humanos remanescentes que certas máquinas antigas podem “filtrar” a toxicidade do ar, tornando boa parte do mundo habitável novamente. Porém, essas máquinas estão morrendo e precisam ser religadas, e fazer isso envolve excursionar por lugares perigosos e venenosos.
O escolhido para tal missão é você, que vai assumir o avatar de um adolescente desbravador. Para evitar sua morte imediata nessas explorações, o tal robô que encoraja as excursões modifica seu corpo, permitindo que você absorva os “RADS“, que são as toxinas presentes nos monstros, transformando esse DNA contaminado em mutações que poderão ser mais (ou menos) úteis em sua missão.
Assim, prepare-se para viajar por paisagens inóspitas enfrentando monstros, religando máquinas antigas e restabelecendo, aos poucos, a vida do planeta.
Gameplay Mutante
Rad é um jogo de ação e exploração com visão isométrica que começa bastante simples, mas vai ganhando novas camadas a cada mutação que seu personagem sofre.
Começamos a jornada apenas com um taco de beisebol, mas conforme eliminamos monstros e assimilamos seus DNAs, vamos ganhando novos poderes e habilidades. Vendedores espalhados pelo mundo do game também podem vender soros que causam mutações instantâneas.
Há dezenas de mutações diferentes — algumas passivas, outras ativas — e claramente houve muita criatividade envolvida na concepção delas: de braços em chamas que disparam bolas de fogo a cabeças explosivas, passando por tentáculos e cérebros saltitantes que controlam os inimigos, há muita variedade aqui.
O mais legal é que o fator roguelike do jogo se faz presente aqui: não há uma ordem predeterminada de upgrades, eles vão chegando aleatoriamente e você precisa aprender como eles funcionam no calor das partidas. O lado ruim é que a morte zera seu personagem, que ressurge na vila dos humanos sem nenhum dos poderes previamente adquiridos.
Confira abaixo os primeiros 16 minutos de gameplay, com um personagem “zerado” explorando o cenário, matando alguns monstros e adquirindo suas primeiras mutações:
No mais, o gameplay é simples, misturando combate e exploração e sem muita variação na fórmula. Há túneis que ligam diferentes áreas, e um certo número de máquinas deve ser ligado antes que o portal para a próxima fase seja aberto. A comparação não é muito precisa, mas jogar Rad me lembrou bastante o que encontramos recentemente no revival de Toejam & Earl — jogo que, confesso, não achei lá essas coisas. A diferença é que lá a próxima fase só libera depois que você coletas uma peça da nave; aqui o objetivo é religar um número x de máquinas.
Confesso que não sou um grande apreciador de roguelikes, com suas mortes definitivas e recomeços, mas isso até não me incomodou tanto assim em Rad. O que me incomodou é que a fórmula do jogo nunca muda, e ainda que os poderes aleatórios mudem um pouquinho a forma como a gente joga, o loop de gameplay e a dinâmica de progressão do jogo jamais se alteram. Fica chato depois de um tempo.
Outro problema bem evidente que temos aqui é a falta de um tutorial: Rad nunca nos diz o que certos poderes ou mesmo botões fazem, e nem tudo dá para a gente descobrir na tentativa e erro. Algumas telas de loading me ensinaram coisas que eu não vi em nenhum outro lugar do game, e embora isso seja útil, seria bom termos um mínimo de instruções antecipadas, afinal, as telas de loading aparecem na ordem que quiserem.
Referências oitentistas
A Double Fine sempre se esmerou para criar mundos e personagens cativantes, e aqui pelo menos uma parte disso é mantida: o mundo do game é muito legal, e o fato dele ser ambientado nos anos 80 (pós-apocalipse) abre espaço para muitas referências audiovisuais bacanas. Os personagens, por sua vez, são apenas avatares, e embora sejam estilosos, não têm nenhuma personalidade.
Para começar, o jogo possui aquele filtro de “velho” que faz ele parece estar rodando em um VHS. Além disso, a moeda corrente ali são fitas K7, e usamos disquetes para abrir baús (?!). Há muito néon, muitos moicanos de cores vibrantes, jaquetas jeans, terminais de computador ultrapassados, calças legging coloridas e outras bizarrices.
Mas assim: esteticamente tudo é muito legal, mas também muito sem propósito. Não há uma razão narrativa para Rad ter essa cara oitentista. Ok, o fim do mundo pode ter sido naquela época, mas isso é tudo, e, convenhamos, é bem vago. Parece que eles criaram um jogo com cara de anos 80 simplesmente “porque sim” — ou talvez para aproveitar o sucesso de Stranger Things e outras obras ambientadas nesta época.
A trilha sonora é nostálgica, de um jeito que chega a ser quase plágio. Rad não traz nenhuma música licenciada, mas é fácil reconhecer acordes e riffs de clássicos como “Take On Me”, “Eye of the Tiger” e outras pérolas dos anos 80 “camuflados” em músicas que se parecem (até demais) com os hits da época.
No geral, em termos audiovisuais não há muito do que reclamar: Rad é bonito e bem resolvido em seu design, mas raso em conectar sua estética com sua história. E, ainda que sua trilha sonora quase infrinja o copyright de vários artistas, ela funciona para potencializar a vibe anos 80 do game.
Ah, e vale ressaltar que o game chega ao Brasil com menus e legendas em português brasileiro. Não que haja uma baita história sendo desenvolvida aqui, mas Rad é um jogo bem humorado, e poder entender todos os trocadilhos e referências sem dúvida enriquece a experiência.
Conclusão
Rad é divertido, mas em nenhum momento chega a empolgar. A fórmula do jogo é simples demais, e a repetição inerente ao gênero roguelike (com mortes permanentes e recomeços) evidencia ainda mais a falta de variedade de seu gameplay.
Mas eu falo isso como alguém que já é não é lá um grande fã do gênero. Se você curte outros roguelikes, é provável que o da Double Fine te agrade tanto quanto qualquer outro game do tipo. Ou não, vai saber. De qualquer modo, para mim, nem o clima anos 80 foi suficiente para manter meu interesse pelo jogo.
Rad foi lançado em 20 de agosto, e está disponível para PC, Playstation 4, Nintendo Switch e Xbox One.