Análise Arkade: A raivosa e decepcionante aventura de Hatred

21 de junho de 2015

Análise Arkade: A raivosa e decepcionante aventura de Hatred

O polêmico game da Destructive Creations finalmente foi lançado, mas será que Hatred tem algum conteúdo ou está aqui só para causar? Confira agora em nossa resenha!

No final dos anos 90, Running with Scissors lançou o que seria um dos jogos mais polêmicos lançados até hoje. Anos depois, a franquia Postal se tornou um exemplo de como utilizar toda a infâmia em troca de algo que poderia funcionar na indústria dos games, ou que pelo menos funcionou o bastante para termos três jogos e um filme dirigido pelo igualmente infame diretor, Uwe Boll.

Uns bons anos depois, a desenvolvedora polonesa Destructive Creations surge das profundezas da internet para lançar o trailer de Hatred, primeiro jogo oficial da produtora. Me mantive em cima do muro durante a confusão do primeiro trailer por pensar que o “simulador de matança” poderia ter algum potencial em nos dar uma mensagem importante para o público — seja positiva ou negativa –, ou que pelo menos teríamos um protagonista interessante, assim como tantas outras mídias conseguiram fazer ao se aprofundar na mente de um sociopata como este.

Infelizmente este não é o caso, com Hatred sendo uma viagem vazia e sem sentido aliada à mecânicas interessantes que fazem o tempo exercido sobre o game passível, no máximo.

Análise Arkade: A raivosa e decepcionante aventura de Hatred

A EXAGERADA PREMISSA

Hatred coloca o jogador nas pesadas botinas do Antagonista. Sem nome, o homem caucasiano veste um sobretudo similar ao de Neo no filme Matrix e com um penteado digno de um fã de heavy metal. Ele pragueja poéticas frases relacionadas ao quanto que ele odeia tudo e a todos, e como que o seu objetivo é fazer o máximo de caos e destruição possível até que encontre o seu próprio fim, em uma viagem exageradamente dramática que nos faz pensar qual foi o motivo disto tudo. Até descobrir que realmente não teve um motivo, somente mortes inócuas e sem personalidades, assim como o próprio assassino.

O Antagonista faz o seu caminho de destruição começando literalmente em sua rua e logo depois seguindo para diversos lugares, incluindo uma pequena cidade, um trem em movimento, um quartel de exercito, entre outros. A história se desenrola no decorrer do game, com o Antagonista encontrando um propósito para maximizar sua matança, afinal o objetivo dele é matar o maior número de pessoas e da forma mais eficaz possível. Desta forma Hatred coloca o jogador em diferentes cenários com diversas situações rolando nelas, mas ainda mantendo a mesma formula baseada em matar todos, mudando pouco da estratégia básica apresentada no começo.

Análise Arkade: A raivosa e decepcionante aventura de Hatred

Em um dado momento estamos no ultimo vagão de um trem em movimento, com a missão de limpar o caminho à frente até chegar à cabine do piloto para que ele também possa encontrar o seu fim. Neste caso especial existe uma pequena luz mostrando o potencial de Hatred, mudando radicalmente a forma que o jogo funciona e deixando-o respirar no meio de todo o caos repetitivo.

Em outra situação entramos em uma cidade um pouco mais populosa, diferente dos subúrbios em que o nosso Antagonista reside. Nessa fase em particular temos objetivos secundários mais amplos, com um número bem maior de pessoas para matar da forma que você quiser, seja com um rifle de assalto, pistola, escopeta ou com alguns coquetéis molotovs para alastrar o fogo mais rapidamente. Nesse caso, a fase se mantém bem mais aberta para explorar diferentes opções, além de compreender novas estratégias e encontrando novos caminhos no gigantesco cenário que a Destructive Creations construiu. Mas infelizmente isto é um dos poucos elementos que dão certo em Hatred, porque além de sua história vazia, o game tem uns sérios problemas em sua jogabilidade.

Análise Arkade: A raivosa e decepcionante aventura de Hatred

DESEQUILIBRADO DO COMEÇO AO FIM

Jogar e pegar o jeito de Hatred são coisas simples, mas suportar a falta de balanceamento em cada uma das fases é algo totalmente diferente. A estrutura de Hatred se baseia em diferentes pontos de respawn que você adquire ao fazer objetivos secundários em cada cenário. Em um caso precisamos exterminar as pessoas que estão festejando em uma casa, em outra o objetivo é matar todos que estão no shopping esperando o lançamento de um novo celular, e em outro momento temos a missão de desativar o sistema do trem que está na estação para criar uma espetacular batida de trem, resultando em centenas de mortos.

No meio dessas missões é que vem o perigo na forma de policia, forças táticas e forças especiais. Os próprios civis também fazem parte do perigo que o Antagonista precisa enfrentar, pegando armas que foram deixadas no chão para que eles possam “bancar o herói” e tentar dar o fim no vilão. A premissa dá um senso de realismo que funciona na maioria da vezes, com algumas situações servindo para dar um motivo a mais para matar inocentes e ficar de olho para não perder vida, enquanto em outras situações ela acaba incomodando, especialmente nos momentos mais críticos onde você acaba morrendo não por um descuido seu, mas sim pelo quão desregular Hatred consegue ser em seu nível de desafio.

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As forças armadas – chamadas de “escudos humanos” – se dividem em policiais manuseando pistolas e escopetas, tropas da SWAT com submetralhadoras e granadas de luz, e por ultimo o exército e seus rifles de assalto e granadas de fragmentação. Para sobreviver o Antagonista precisa matar pessoas utilizando a ação de finalizar pessoas no chão, nessa hora a câmera sai de seu ponto isométrico e se coloca como fosse um filme, apresentando uma sangrenta cena em que o Antagonista acaba com a vida de alguém de uma forma bem estilosa, seja esmagando a cabeça da vitima com o seu coturno, dando um tiro de misericórdia no peito ou atirando na cabeça da pessoa e deixando seus miolos em pequenos pedaços grudados no chão, mostrando toda a sua gloriosa e desnecessária violência.

Essas ações são obrigatórias para sobreviver porque está é a única forma de recuperar sua vida, sendo que ele não se regenera ou utiliza kits de sobrevivência para retornar ao estado inicial. Hatred também disponibiliza coletes a prova de balas que dão uma pequena ajuda nas tensas situações em que a policia está dominando o recinto.

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Porém, o verdadeiro problema se encontra na falta de balanceamento nos inimigos que aparecem a cada momento. Há horas que Hatred é extremamente generoso ao te dar mais munição do que precisa, em outras horas o game te coloca em situações quase impossíveis de sair. O pior é justamente é por não existir essa curva no nível de desafio, Hatred te dá as opções de jogar no Fácil ou no Difícil, te explica o funcionamento de cada mecânica e começa de uma forma bem fácil para que você possa se acostumar com os controles. O problema é quando a segunda fase chega e a policia se torna extremamente agressiva e logo depois sendo extremamente fácil de lidar, não existindo uma visão clara de quando você pode aguentar aqueles inimigos e resultando em fugas estratégicas para sobreviver com o pouco de pontos de vida que possui.

PRETO, BRANCO E VERMELHO

Para agravar a dificuldade, temos a direção artística que se mantém entre uma ideia funcional, mas que ao mesmo tempo peca na criatividade e complica na jogabilidade. O universo de Hatred é em preto e branco, o nosso Antagonista é caucasiano e se veste de preto nos mesmos tons de cores que o ambiente apresentado, fazendo o personagem se camuflar acidentalmente para o próprio jogador. Assim no meio de todo tiroteio, caos e destruição, você ainda precisa se preocupar em encontrar o próprio personagem para que ele não tome tiro por estar em pleno campo aberto, e não em segurança, como você havia achado.

Análise Arkade: A raivosa e decepcionante aventura de Hatred

No entanto, os pequenos detalhes de Hatred fazem a escolha do preto e branco até que interessante, sendo que não é tudo pintando de uma única cor, com itens e objetos relevantes totalmente coloridos para dar uma ênfase maior na imagem, com sirenes dos carros da policia piscando em azul e vermelho, os coloridos outdoors fazendo o contraste entre os tons pálidos e cadavéricos das vitimas, além do próprio vermelho mais escuro para o sangue ao lado do ameaçador e vívido amarelo para o fogo. Nessa união Hatred consegue pintar cenas interessantes, mas infelizmente dá para contar em uma mão o número de vezes que ele se saiu bem sucedido, com o restante do jogo se mantendo no mesmo confuso e tedioso preto e branco.

CONCLUSÃO

Hatred é uma viagem estranha e decepcionante, servindo como um pedaço de mídia vazio que perde o potencial de fazer algo interessante em troca do puro valor de chocar alguém por estar agindo de uma forma “rebelde”. O nosso protagonista/antagonista é no minimo infantil, com ambições parecidas ao de um adolescente que ficou muito tempo “escutando músicas que os seus pais não gostam enquanto jogava videogames violentos”, servindo como o estereotipo perfeito que uma pessoa extremamente conservadora pensaria sobre um adolescente.

Sua jogabilidade é passível, que assim como a trilha sonora, está lá somente para fazer presença. A visão artística pode até ser interessante em alguns momentos, mas mesmo assim ela acaba passando despercebido por ser tão insossa. Porém Hatred ainda consegue ter alguns momentos divertidos — extremamente raros, devo adicionar — e interessantes, mas que não valem a pena ter que aguentar uma experiência angustiante e inócua para tê-las.

Hatred está disponível para PC.

Henrique Gonçalves

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