Análise Arkade: Randall é um MetroidVania com poderes mentais (e muitos problemas)

24 de junho de 2017

Análise Arkade: Randall é um MetroidVania com poderes mentais (e muitos problemas)

Randall acorda em um mundo distópico cyberpunk com uma voz em sua cabeça lhe avisando que ele terá problemas. E um destes problemas, infelizmente, é o jogo em si. Confira nossa análise de Randall, um jogo que tinha potencial, mas infelizmente decepciona.

MetroidVania Cyberpunk

Randall se passa em um futuro distópico cyberpunk cheio de ruas sujas, pichações pelas paredes e letreiros de neon. O protagonista — Randall — acorda em uma espécie de sarcófago, com uma voz cínica em sua cabeça lhe dizendo que há algo errado com o mundo, e que ele precisa fazer algo.

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O que está errado é que um cientista maluco está criando uma “nova raça humana”, aprimorada com poderes e gadgets. Porém o que ele realmente está criando é um exército de cobaias… e o próprio Randall é uma dessas cobaias, o que é algo bom, considerando que seus enxertos lhe concedem novas habilidades.

Confira abaixo os 10 minutos iniciais do game para entender mais ou menos qual é a treta:

Não é o plot mais original do mundo, mas funciona suficiente bem como fio condutor da história, levando Randall a explorar cidades, esgotos, laboratórios, e muito mais. Infelizmente, nem tudo “funciona suficientemente bem” neste jogo, o que torna a experiência um tanto frustrante.

Pancadaria, plataforma e controle mental

O gameplay de Randall se apoia em 3 pilares: há momentos de pancadaria, há trechos de plataforma e há alguns puzzles, que você geralmente deve resolver utilizando a habilidade de controle mental do protagonista. Sim, em um esquema semelhante à Oddworld, podemos “pegar emprestadas” as habilidades dos inimigos quando necessário.

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Alguns puzzles são relativamente complexos, obrigando o jogador a ficar ligado para usar seus inimigos de formas pouco convencionais. Existem bandidos capazes de andar no teto, por exemplo, e usar esta habilidade a seu favor se torna crucial para evitar raios, lasers e outros perigos.

A pancadaria lembra um pouco a do excelente Guacamelee, mas nem de longe tem a mesma qualidade. Os combates são repetitivos e sem graça, a forma desajeitada com que os (poucos) golpes se ligam não possibilita a criação de combos mais elaborados. Dá para notar que o pessoal da We The Force quis fazer algo parecido com o que a Drinkbox fez no jogo dos “luchadores”, mas eles infelizmente não conseguiram.

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Além de tudo isso, Randall se preocupa em burocratizar coisas simples. Por exemplo, temos uma habilidade de wall jump simples e intuitiva, mas é preciso apertar um botão (R1, no PS4) simplesmente para o personagem se agarrar à beiradas, cordas e pontos de apoio em geral. É algo que milhões de outros personagens de outros jogos fazem automaticamente, e não há razão para que um botão tenha uma função tão obtusa e específica.

E os problemas não param por aí…

Gameplay problemático

PC gamers e aficionados por jogatina online certamente estão familiarizados com o termo imput lag: ele é usado para designar o tempo que leva entre o jogador apertar o botão e a ação ser realizada na tela. O ideal em um jogo é que o imput lag seja imperceptível, e a ação ocorra “instantaneamente”. Não é o que acontece aqui: Randall tem um imput lag terrível, com respostas lentas que tornam trechos de plataforma que demandam mais precisão um exercício de paciência.

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Isso afeta drasticamente a experiência de jogo, pois, ao contrário de jogos bem calibrados como Super Meat Boy ou N+ — nos quais, em caso de falha, a culpa é do jogador, e não das mecânicas — aqui a culpa geralmente é do jogo, mesmo. Sua jogabilidade não está à altura dos desafios que ele oferece, e com isso quem se frustra é o jogador.

Audiovisual

Aqui está um ponto em que o game se destaca em alguns aspectos, mas escorrega em outros. Em uma primeira olhada, não se pode negar que Randall é um jogo de visual bacana e estiloso. Porém, conforme você vai passando por áreas semelhantes e enfrentando os mesmos guardas de novo e de novo, fica evidente que faltou empenho na hora de diversificar aquele mundo: o que você vê na primeira fase, verá de novo algo igual e/ou parecido na reta final do jogo.

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Para piorar, o game roda muito mal — pelo menos no PS4, que é a plataforma em que testamos: “engasgos”, travadinhas e quedas de frame rate acontecem mais do que deveriam, o que piora (ainda mais) os já citados problemas que o gameplay como um todo apresenta.

Randall tem poucos diálogos falados, e uma trilha sonora que não necessariamente se destaca, mas é competente em criar uma ambientação condizente com a proposta do game. Faltou uma revisão básica nas legendas: é muito comum vermos erros gramaticais e/ou de digitação nos diálogos e tutoriais do game, que, aliás, estão todos em inglês.

Conclusão

Como fã de MetroidVanias que tenham uma boa dose de pancadaria, estava bem empolgado por Randall… e infelizmente me decepcionei muito com o game. Seu gameplay parece nunca funcionar do jeito que deveria, e a jogabilidade truncada acaba se tornando um desafio maior do que todos os puzzles e chefes do game.

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Se você também é um fã do gênero, sugiro que busque outras opções — Ori and the Blind Forest, por exemplo, é um jogo extraordinário — ou simplesmente poupe seu dinheiro. Este é só o segundo jogo dos mexicanos da We The Force, e sem dúvida há talento e disposição por lá… mas tudo isso precisa ser lapidado para que tenhamos um jogo decente.

Randall foi lançado para PC (Steam)e Playstation 4 no dia 6 de junho.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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