Análise Arkade: Redout é velocidade, adrenalina e psicodelia

1 de setembro de 2017

Análise Arkade: Redout é velocidade, adrenalina e psicodelia

Não é de hoje que jogos de corrida estão se tornando meio parecidos em uma pretensa busca pelo realismo. Em muitos momentos acabam se tornando até mesmo burocráticos, com belíssimos modelos visuais, ajustes perfeitos de todos os parafusos e cidades e circuitos espetaculares para um bom pega.

Ao mesmo tempo, por vezes faz falta alguma proposta nova, que saia da caixinha e das amarras que vieram com os sucessos de franquias como Gran Turismo, Need For Speed e, principalmente, Forza. Não falo somente de uma dualidade simplória entre jogos mais voltados à simulação e outros mais pautados por uma experiência arcade. Falo de algo muito mais “estranho”, como foram um dia F-Zero ou Rock ‘n Roll Racing. Algo realmente diferente.

Análise Arkade: Redout é velocidade, adrenalina e psicodelia

Redout, se não é absolutamente original e inovador — o jogo vai nos lembrar do próprio F-Zero e de Wipeout (até o nome tem uma relação óbvia), com muita inspiração (voluntária ou não) em Star Wars Episode 1 Racer — mas é uma grata surpresa ao trazer essa estranheza, essa sensação de que estamos curtindo um jogo de corrida realmente diferente, trazendo diversão sem compromisso, movimentos malucos, desafios instigantes e, quem sabe, até alucinações.

Velocidade sem blá blá blá

O modo Carreira, o principal do jogo, não tem nada que remeta a uma história a ser contada, uma ambientação para dar sustentação ao universo diegético do game. Os demais, com tela dividida ou em outros formatos solo, idem. Ao contrário, aqui tudo é direto e objetivo: Redout é um jogo de corrida sem frescura, composto por uma série de desafios e eventos bastante simples de se entender. Cabe ao jogador simplesmente mandar bem para poder acessar a próxima corrida.

Confira um pouco de gameplay abaixo:

Bem, não só seguir adiante, porque é possível preparar uma série de coisas antes de colocar o dedo no acelerador. Mas nada de pressão de pneus (até porque nem temos pneus, né?), balanceamento do freio ou sistema de transmissão. Estamos falando de naves, que realmente lembram um pouco os pods de Star Wars – A Ameaça Fantasma. Os ajustes são simples, como melhoria de turbina, de aderência, de estrutura e de energia.

Não dá pra reclamar, contudo, de falta de opção. Há uma boa variedade de naves disponíveis para compra, com uma lista de fornecedores, cada qual com naves com atributos diferentes: algumas mais rápidas, outras mais fortes, outras mais potentes, e assim por diante. Dentro de cada um, há uma linha de naves que são mais avançadas para jogadores mais experientes e desafios mais avançados na carreira.

Análise Arkade: Redout é velocidade, adrenalina e psicodelia

Para quem não faz questão de historinha em jogo de corrida e sente falta dos tempos em que os games iam direto ao que interessa — a corrida –, a simplicidade nostálgica de Redout será muito bem-vinda. O game se beneficia muito dessa decisão de design, já que se dedica ao que importa em sua proposta, que é criar eventos cheios de adrenalina e muito, muito rápidos.

Muita velocidade e pouca chance de erro

Fica claro que o objetivo do jogo é correr, vencer corridas, superar marcas de tempo e todas as possibilidades mais tradicionais de jogos do gênero. Então estão lá o modo time attack para voltas mais e mais rápidas, as corridas convencionais, os modos de eliminação e tudo mais que há desde Need For Speed até Mario Kart.

No final, tudo se resume a entender o sistema do jogo para fazer uma corrida rápida e limpa. Sua nave pode ser destruída — seja por avarias causadas por má direção, seja por um salto mal planejado — então mesmo e velocidades alucinantes, o jogador deve equilibrar a ousadia de uma direção agressiva com a cautela de evitar batidas para não explodir e, fatalmente, perder qualquer chance de vitória.

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Irrita o fato de vermos adversários fazendo corridas ideais, sem erros ou improvisos. Diferente do que é cada vez mais comum nos jogos atuais, aqui os adversários controlados pela IA são exageradamente perfeitos. Desse modo, uma morte acidental significa praticamente uma derrota, já que uma recuperação é improvável pela incapacidade da IA de errar sozinha, de bater, de mudar o traçado. Jogar com alguém ao lado (ou à distância) é infinitamente mais gratificante pela possibilidade do erro e improviso do jogador e do adversário.

Para tentar levar vantagem, há uma série de power ups que podem ser comprados e equipados para adaptar a nave ao estilo do jogador. Contudo, é possível aplicar somente um passivo e um ativo por corrida, o que significa que mais importante do que comprar todos os que estão disponíveis são as escolhas de quais são mais adequados para cada situação. E isso só a experiência é que vai dizer.

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Soma-se a isso o fato de que há diferenças óbvias entre carros convencionais de outros jogos — com rodas e pneus, por exemplo — para sistemas de flutuação. Então, há ainda a necessidade de alguns movimentos verticais para aproveitar melhor um looping ou até para não bater com a carcaça no chão. Tudo isso a uma velocidade que, segundo as estatísticas do game, pode chegar a mais de mil quilômetros por hora! Wow!

E aí está o maior acerto de Redout: a sensação de velocidade aqui é impressionante. A velocidade que listamos acima até não parece tão maior que em um jogo de corrida “comum” — mas há um sentimento de instabilidade constante, mesmo em linha reta, como se a nave realmente estivesse lutando contra o atrito do vento e a força da gravidade. As pistas surreais só ajudam nesse sentimento de imersão veloz, elevando a adrenalina para além da técnica e do traçado perfeito.

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Se for comparar com outros jogos do gênero, os comandos são muito mais casuais que os complexos sistemas de simulação. São leves, com uma física muito simplificada, e parece ter sido criado para favorecer uma diversão descompromissadam, quase  casual. Não que isso torne o jogo fácil: as corridas são alucinantes e bem desafiadoras, e exigem mais dos reflexos do jogador do que habilidade em si.

Um espetáculo de luzes e cores

Antes de mais nada, é importante destacar que a primeira tela do game é sobre a possibilidade da fotossensibilidade e de convulsões a partir de padrões de cores, formas e luzes. Isso já dá uma ótima dica sobre as escolhas estéticas mais psicodélicas adotadas por Redout. O visual é polido e bem resolvido, e abusa bastante de formas geométricas e de focos de luz dos mais inesperados.

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Principalmente nas pistas e nos ambientes, há uma profusão de padrões completamente fora do convencional, criando uma experiência visual bastante intensa e viva, que só contribui para o aumento da sensação de velocidade e até de uma tensão de vertigem. Ao mesmo tempo, em alguns momentos essas composições não são perfeitas, e acabam por deixar o jogo um pouco confuso em termos de direção, altitude, posição do jogador e dos adversários na pista e limites do circuito. Muitas vezes me vi caindo em um precipício sem saber distinguir o que era a pista do que não era.

Isso não significa que o aspecto visual é um problema do jogo, já que há uma necessária fase de adaptação que em duas ou três voltas já se mostra mais confortável. Mas algumas passagens pesam a mão e acabam frustrando aqueles mais afoitos a voltas perfeitas e tempos ideais sem resvalos nas beiradas do circuito.

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De forma bastante coerente, a trilha sonora é guiada por músicas eletrônicas com batidas fortes e marcações rítmicas aceleradas que corroboram com a proposta de velocidade e até de imersão sinérgica. Parece até uma viagem alucinógena em meio a uma festa rave.

Há, contudo, um comprometimento em termos do equilíbrio sonoro, já que os efeitos de ruído do ambiente e das naves ficam em segundo plano graças a potência musical. Não há um protagonismo desses motores futuristas de propulsão a energia, algo que é sempre bem-vindo em jogos de corrida. O mesmo para as pistas, localizadas em ambientes tão diferentes que acabam sumindo em termos sonoros.

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Ainda assim, em termos gerais, a composição audiovisual de Redout não decepciona. O design das naves é bastante inspirado, os ambientes são muito dinâmicos e cheios de construções surreais e a música funciona muito bem, sendo totalmente coerente com o estilo escolhido. Há algumas faltas de mixagem sonora aqui e alguns exageros visuais ali, mas nada que comprometa o bom trabalho estético do game.

Conclusão

Redout é um jogo de corrida que foge um pouco dos padrões ultra-realistas do mercado mainstream atual e também não se apoia nas propostas mais nostálgicas da produção independente. Ainda que já tenhamos visto corridas de nave mirabolantes antes, ele busca algo novo, pautado pela velocidade descompromissada e pelo espetáculo visual mais conceitual e abstrato.

Análise Arkade: Redout é velocidade, adrenalina e psicodelia

Ao mesmo tempo que consegue ser muito simples em termos de mecânica, traz consigo desafios intensos, com características próprias de movimentação e de física, e com competições com ritmo e tensão sempre no máximo, evitando esforços em questões narrativas ou de verossimilhança com a realidade. Enquanto se liberta do convencional, traz algo novo, algo fresco para o gênero.

Em alguns momentos, o tom parece ir um pouco além na sua proposta exagerada, com trechos confusos em seus circuitos e composições conflitantes em termos visuais e sonoros, mas são detalhes que ficam pequenos diante dos grandes acertos dentro da proposta original. Como um todo, é uma ótima alternativa dentro um gênero cada vez mais sisudo e, de uma forma mais ampla, um ótimo respiro, desde que o jogador não tenha tendências a sensibilidade e profusão de luzes e cores.

Redout está disponível para Playstation 4, XBox One e PC, com textos e menus totalmente em português brasileiro.

Paulo Roberto Montanaro

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