Análise Arkade: Resident Evil HD Remaster melhora o que já era muito bom!
A Mansão Spencer nunca esteve tão viva — ou morta, dependendo do seu ponto de vista. Visitamos pela quarta vez a misteriosa mansão que vive em nossos pesadelos desde 1996 e podemos afirmar que esta versão HD remasterizada está de parabéns. Prepare a beretta, a erva e vem com a gente!
Resident Evil é um clássico eterno e ponto. Não tem como questionar o impacto e influência da série mesmo com reclamações referentes aos jogos mais recentes. E o primeiro jogo é tratado com tanto carinho pelos fãs que apesar de muitos estarem encarando este HD Remaster como algo inédito na série, já é a quarta versão diferente da aventura de Jill, Barry e Chris.
Primeiro, logicamente tivemos o clássico de 1996 que todos conhecem e amam. Aí em 2002 a Nintendo com sua exclusividade sobre a franquia contou com o remake com gráficos refeitos e novos elementos no Gamecube (também saiu para o Wii anos mais tarde) e em 2006, tivemos o RE: Deadly Silence para DS que embora baseado no original de Playstation e Saturn, também tinha suas novidades, como a faca que funcionava na tela de toque.
E agora é a vez de Resident Evil HD Remaster, jogo que pega o remake de Gamecube, dá uma repaginada de respeito em visual e jogabilidade e oferece para uma gama maior de jogadores as maravilhas e surpresas da Mansão Spencer e seus arredores.
O mesmo de sempre mas sem ser sempre o mesmo
Sim, você vai procurar chaves novamente. Sim, você vai ter que estocar ervas e armas com cuidado de novo. E sim, você vai ter que desviar dos malditos cachorros que saltam na janela mais uma vez. Mas o legal de HD Remaster é que sutis mudanças foram inseridos no jogo para que o jogador não se sinta jogando algo velho com cara nova, como foi no remake de Metal Gear Solid, onde as únicas novidades eram os gráficos e as cenas exageradas de luta (vale falar do Easter Egg do Mario também pois ficou legal).
O jogador que decorou seu jeito de terminar a aventura vai ter que refazer toda sua rota, pois além de alguns itens terem mudado de lugar, novos locais foram adicionados. E adições ao gameplay também fazem parte da sua nova “rotina”, como a parte (não tem spoiler, não se preocupe) em que você tem que levar com o maior cuidado do mundo uma substância explosiva sob risco de game over caso seja atingido/a.
Os zumbis também foram “atualizados”. Agora eles não “desaparecem” quando são “mortos” (haja aspas). Eles ficam estirados e você precisa jogar querosene e tacar fogo ou em uma próxima visita ao local eles estarão de pé e mais fortes.
Outra mudança interessante está no controle. Para quem não conheceu o jogo em sua forma original, existe a possibilidade de se controlar os personagens de maneira diferente ao clássico “eixo”. O modo alternativo permite ao jogador andar pelos cenários de acordo com a câmera: se Jill ou Chris aparecem de frente para você, então o jogador pressiona para baixo para a movimentação. Uma mão na roda para quem quer conhecer o jogo.
Um belo lugar para passar umas férias (ou não)
O Gamecube já era um console que apresentava visual melhor do que a concorrência. É só ver o Wind Waker e você entenderá o que quero dizer. O fato de que com o — caro — cabo componente praticamente todos os jogos do console tinham suporta a 480p em televisores compatíveis (no PS2 isso acontecia, mas em quantidade e qualidade muito menor — exceção para os God of War e Gran Turismo 4 com seus 1080i), ampliava mais ainda a qualidade visual dos seus jogos. E com Resident Evil a história não foi diferente.
Na versão remasterizada, tudo ficou melhor. Os efeitos de sombra e luz que são obrigação para trazer o clima de terror ao jogo dão show aqui, fazendo com que os ambientes passem mais ainda a impressão de que você está em uma noite escura dentro de uma mansão deserta cheia de criaturas bizarras. O trabalho melhorou consideravelmente o jogo de Gamecube e pode ser considerado sim um fator positivo, especialmente no Playstation 4 e seus 1080p suaves, onde cada detalhe do cenário esbanja riqueza de detalhes. E em um jogo onde são os detalhes que fazem a diferença no gameplay, pontos para a Capcom aqui.
O silêncio faz parte do bom trabalho sonoro (tirando a dublagem, claro!)
Pare e pense: um dos grandes charmes dos primeiros Resident Evil é a sua dublagem tosca, digna de Sessão da Tarde. O sanduíche de Jill ou o diálogo extremamente “solto” logo no começo do jogo vivem para sempre em nossas mentes e mexer nisso por mais maluco que pareça, ia tirar uma parte muito legal do jogo. E por isso temos uma dublagem atualizada sim, mas com os mesmos diálogos esquisitos e falas dos filmes vespertinos.
Por outro lado, o som do jogo é algo impecável. Desde as músicas sombrias em alguns cômodos, passando pelos sons de ambiente quando está fora da mansão até o silêncio absoluto em outros locais, tudo isso encaixa muito bem nas propostas de solidão, medo e tensão que o jogo propõe ao jogador. Também merece mérito a manutenção de sons característicos da série como o de andar, empurrar e o de abrir portas, assim como algumas músicas que trazem também um certo clima de nostalgia para quem curtiu RE em sua época de glória.
E finalmente, LEGENDAS! Aqueles que não entendem muito bem o inglês, mas conseguem acompanhar numa boa legendas, poderão entender um pouco mais da história. Uma pena que o nosso PT-BR, tão comum em jogos recentes, tenha ficado de fora. Mesmo assim, as legendas em inglês ajudam bastante aqueles que querem entender melhor a trama.
A triste história de Lisa Trevor e as interessantes adições ao roteiro.
A grande novidade no jogo se chama Lisa Trevor, um ser atormentado e impossível de se matar. Sua presença no jogo se faz especial por encaixar no contexto da história do jogo, que apesar de ser a mesma que todos conhecem, conta com adições que ajudam a entender melhor o que os eventos querem mostrar.
Os personagens mostram de maneira mais claras suas intenções e dramas pessoais enquanto desenrolam os eventos, e mesmo o [spoiler, selecione o texto para ler] fato de encontrar os companheiros mortos (ou morrendo) da S.T.A.R.S. dá uma sensação bem diferente de impotência e tristeza [fim do spoiler].
E os arquivos extras somam muito também. Claro que com o passar dos anos e seus muitos jogos, várias pontas ficaram soltas e muita coisa esquisita necessita de explicação, mas a intenção aqui pelo visto foi a de tentar explicar melhor a história na mansão e seus laboratórios e não da franquia como um todo. Mais poderia ser feito, mas podemos nos considerar satisfeitos com o que vimos.
Acessível e amigável
Um grande defeito do gamer em geral (com óbvias exceções) é a de achar que todos nascem sabendo. Como Resident Evil é um jogo de 1996 e isso quer dizer que muita gente que hoje é gamer nem era nascido naqueles dias, o mais natural seria termos um jogo aonde veteranos chorassem lágrimas de nostalgia e novatos passassem reto, afinal não iriam conseguir se adaptar ao jeito “old school de se jogar”.
Felizmente, HD Remaster não faz isso, trazendo o modo Very Easy para estes jogadores terem a oportunidade de conhecer o jogo. E ao mesmo tempo, o próprio jogo em dificuldade mais amena vai mostrando ao jogador que nos primeiros jogos da série, é melhor fugir do que lutar e que é importantíssimo vasculhar cada canto, afinal a receita do antídoto que você tanto precisa para matar uma planta pela raiz está nos arquivos e você só vai descobrir isso com olhos atentos (tudo bem, hoje tem os vídeos no Youtube também, desisto!).
Para os veteranos, as novidades também são agradáveis. Ao fechar o jogo pela primeira vez, o modo Real Survivor é desbloqueado. Também temos o Once Again e aqui, além da ausência da mira automática, você conta com a companhia do seu parceiro “morto” Forest Speyer começa a te perseguir pela mansão munido de granadas, impossibilitando qualquer ataque (ataque ele e ganhe game over!). E se conseguir terminar este modo, você ainda habilita o Invisible Mode, talvez o modo de jogo mais impossível da história da franquia.
No modo invisível, além das dificuldades já mencionadas do Once Again, o que faz a aventura ficar mais difícil ainda é o fato de que você não vai ver nenhum inimigo durante todo o jogo, não podendo prever ataques nem posicionar-se de maneira a evitá-los. Pior, nos dois modos os baús não tem “suporte de nuvem”, ou seja: se guardou um item importante no Baú X, só vai poder retirá-lo no mesmo Baú X, acabando com a farra de tratar os baús do jogo como um Dropbox ou Google Drive da vida.
Além disso, as conquistas e troféus também ajudam muito na questão desafio. Já pensou em terminar o jogo usando apenas a faca? E finalizar nos modos insanos citados acima? Pois para os amantes das conquistas, muito tempo vai ser gasto no jogo e com prazer.
Dá vontade de jogar, jogar e jogar
Dito tudo isto, este Resident Evil faz muito bem o que todo jogo deveria fazer: dar vontade de jogar mais e mais. Quando o jogo termina o clima de “mas já?” é presente e os modos novos fazem muito bem o papel de incrementar o gameplay.
As adições na história faz aquele que curte o enredo e o universo da série vasculhar com mais cuidado cada canto da casa, enquanto aquele que gosta de ostentar o menor tempo possível para fechar o jogo também pode fazê-lo de maneira agradável. E os novatos contam com ajuda e facilidades para adentrar no residência do mal. Enfim, tem diversão pra todos os gostos, de verdade!
Isso sem mencionar o que o jogo já oferece desde 1996: finais extras, roupas novas, a possibilidade de contar com a Rocket Laucher a todo momento e muito mais.
Resident Evil HD Remaster é o “remake do remake” do título de 2002 e além das devidas atualizações técnicas, ainda traz algumas novidades para que os jogadores novatos possam conhecer o universo da franquia em seus primórdios e desafios insanos para quem sempre quis algo mais dentro da mansão. Se você é fã da franquia (ou pelo menos dos três primeiros) e tem um Playstation 3, Playstation 4, Xbox 360, Xbox One ou um PC, não há razões para ficar sem o jogo.
Procuramos aqui passar o máximo de informações possíveis. Buscamos falar tanto do remake em si, mesmo sendo um jogo de 13 anos de vida, quanto das novidades desta versão em questão. Entendemos que pela baixa popularidade do Gamecube por esses lados poucos tiveram a oportunidade de jogar este título de fato, ficando refém apenas das revistas na época. E ainda assim, colocamos as novidades do jogo para que você possa conferir. Tanto é que as duas versões foram jogadas em um período próximo: antes de receber a versão HD Remaster havia jogado a versão “original” em meu Wii para poder discernir melhor as diferenças e preparar uma análise mais completa.
Agora como somos insaciáveis e sempre queremos mais, fica a pergunta: quando teremos Resident Evil 2 HD Remaster? E o Resident Evil 3 HD Remaster? Code Veronica? Se todos contarem com este cuidado de produção, muita gente ficaria feliz em passear novamente por Raccoon City antes da cidade ser exterminada do mapa.