Análise Arkade: RiME é uma bela e envolvente jornada rumo ao desconhecido
Muito tempo se passou desde que RiME foi anunciado. O jogo sumiu por uns tempos, deixou de ser exclusivo do PS4 e hoje, enfim, está chegando às lojas virtuais. Mas e aí, será que o jogo é bom? Descubra em nossa análise completa!
Contextualizando
RiME é o tipo de jogo que cativou todo mundo já de cara. Anunciado durante a Gamescom lá em 2013 –sim, 4 anos atrás –, o game é uma produção da Tequila Works, estúdio independente que nos entregou o competente survival pós-apocalipse Deadlight e, mais recente, lançou o surpreendente The Sexy Brutale (leia esse review, sério, vale a pena).
De 2013 para cá, o jogo passou por alguns perrengues nos bastidores: o acordo de exclusividade com a Sony (que seria a distribuidora) foi rompido, e com isso o futuro do game tornou-se nebuloso. Felizmente, a Grey Box assumiu a distribuição do game, que no início do ano ressurgiu das cinzas, agora como um título multiplataforma.
Quando jogos demoram muito para sair ou passam por esse tipo de problema, a gente geralmente fica com um pé atrás. Não são poucos os exemplos de jogos que tiveram um desenvolvimento conturbado e, por conta disso, acabaram deixando a desejar. Será que RiME escapa desta “maldição”? Vamos descobrir!
Um garoto, uma raposa e uma torre
RiME é mais um daqueles jogos que nos oferece uma grande jornada com um mínimo de história. Como em Journey e outros games do tipo, nenhuma palavra é dita aqui: tudo é muito subliminar, com situações que vão se conectando para garantir a continuidade da aventura.
Controlamos um garotinho sem nome que acorda em uma bela praia de uma ilha exuberante e cheia de mistérios. Pela lógica, ele escapou de um naufrágio, e acabou indo parar ali. Mas isso é mostrado de maneira sutil e fragmentada, e a história do menino em si é contada através de gravuras, que você visualiza ao espiar por buracos de fechadura escondidos pela ilha.
Nesta ilha, torres e construções enormes dividem espaço com fauna e flora dignas de um conto de fada. Há também templos, ruínas e estátuas, muitas estátuas. E é de uma delas que ganha vida sua “guia” nesta aventura, uma simpática raposinha que vai estar (quase) sempre apontando o caminho certo que você deve ir.
Confira abaixo nossos primeiros 25 minutos de gameplay:
Supostamente, seu objetivo principal é chegar ao topo da maior torre da ilha, onde há um imenso buraco de fechadura. Assim, você segue sozinho por cenários surrealmente belos, explorando ruínas dignas de Shadow of the Colossus e descobrindo novas formas de avançar. Como em Journey e The Last Guardian, RiME não nos conta uma história do jeito convencional, mas sem dúvida entrega uma jornada memorável, cheia de emoção e significado.
Exploração e puzzles
Ao contrário de Journey — que é uma experiência bem linear –, RiME é muito mais aberto, e te deixa muito mais livre desde o início. Claro que nem tudo é acessível de cara: há uma progressão que deve ser respeitada, mas no geral você sempre tem muito espaço de exploração. Porém, por mais relaxante que seja simplesmente “passear” sem rumo pela ilha, atenção às sutis pistas (e à raposinha) que sinalizam onde você deve ir. Sem bússolas, mapas nem nada do tipo, é preciso ficar ligado para não acabar perdido.
A exploração é simples, e na maior parte do tempo faz o jogo parecer quase um walk simulator. Felizmente, porém, ele não fica só nisso: há muita verticalidade na exploração, com trechos de escalada dignos dos melhores momentos de Prince of Persia. E há também puzzles muito bem integrados ao contexto da ilha, que brincam com perspectiva e luz e sombra de formas muito criativas.
O gameplay é simples e intuitivo: além de correr, escalar e nadar, o garotinho também pode empurrar, arrastar e carregar coisas, e pode “comunicar-se” de forma rústica cantarolando e gritando — sim, isso tem sua utilidade. E é assim, entre exploração, escaladas, puzzles e portas fechadas (que precisam ser abertas, claro, e encontrar a chave faz parte da brincadeira), que RiME vai nos guiando por seu belo e solitário mundo.
Ainda que alguns puzzles sejam um tanto trabalhosos, poucos são realmente difíceis, é mais questão de prestar atenção ao cenário (lembre, este é o tipo de jogo que não te explica nada diretamente) e entender como o puzzle funciona. Vez ou outra o jogo surpreende com novas situações — como uma enorme área subaquática, ou um trecho onde devemos fugir de um enorme e sinistro pássaro –, ou áreas menos coloridas e mais sombrias, mas no geral o game mantém uma cadência muito aprazível. RiME é gostoso de jogar.
É mais um Journey-like?
Sim e não. Eu citei Journey muitas vezes aqui (e ainda citarei mais algumas vezes até o fim desta resenha) e sem dúvida é possível traçar vários paralelos entre os games, mas no geral eles têm uma pegada uma pegada um pouco diferente, apesar de suas muitas similaridades.
Considero Journey mais uma experiência do que um jogo: ele é breve, envolvente e intenso onde você se preocupa basicamente em seguir em frente, correndo, planando e surfando pelas dunas. O gameplay em si é simples, e não há muitos empecilhos que te impeçam de chegar ao fim da jornada. Já RiME é mais complexo e pode ter alguns percalços: pode acontecer é de você ficar travado em algum puzzle, por exemplo. Nunca há combate direto, ainda que existam criaturas hostis (que parecem os Dementadores de Harry Potter) que devem ser evitadas.
RiME, no geral, tem mais cara de jogo de videogame, se comparado com Journey: você arrasta caixas, escala, carrega orbes de energia e deve se preocupar em ficar sem ar quando está mergulhando (há até corais que soltam enormes bolhas de ar, no melhor estilo Sonic). RiME oferece uma jornada envolvente e memorável, mas, ao contrário de um “walk simulator”, ele se preocupa em trazer um pouco mais de gameplay ao contexto. Ah, e ele é relativamente mais longo, também: levei cerca de 8 horas para ir até o fim, enquanto Journey mal dura 3 horas.
Audiovisual
A direção de arte de RiME é simplesmente espetacular. Ele é quase o tempo todo ensolarado e colorido, mas mesmo quando a noite cai — sim, há um ciclo de dia/noite rolando, e você pode até interferir nisso –, seu mundo é incrivelmente belo. Com um ar que é cartunesco sem cair no clichê, o que temos aqui é um daqueles jogos que são bons não só de jogar, mas também de assistir.
Confira abaixo o dispositivo que nos permite “controlar o tempo”no jogo:
O level design em si também merece destaque: por ser um jogo totalmente desprovido de diálogos ou palavras (não há nem hud na tela), é preciso que o design seja bom para sinalizar ao jogador o que ele deve fazer ou onde ir sem depender de tutoriais, setas ou instruções. Na maior parte do tempo, ele faz isso muito bem, sinalizando de forma competente beiradas que podem ser escaladas e objetos que podem ser carregados, sem deixar “escancarado”. É sutil e demanda atenção do jogador, mas funciona para não deixar ninguém perdido.
Este capricho não se limita somente ao visual, mas se estende também ao áudio: os sons da natureza da ilha — o grasnar das gaivotas, o ruído poderoso das cachoeiras — são impressionantes, e criam uma imersão incrível naquele ambiente. A trilha sonora orquestrada lembra muito a de Journey, e isso é um tremendo elogio, afinal ela é espetacular, potencializando a solidão inerente do game e os momentos dramáticos e emocionantes.
No PS4, o game deu umas engasgadas leves — quedas de framerate e umas “travadinhas” –, mas foram problemas pontuais, e nada que torne o game injogável. Vale ressaltar que jogamos antes do lançamento, então pode ser que isso seja corrigido com patches. Ah, e sempre é bom lembrar que, embora o game não tenha diálogos nem textos, os menus estão em português brasileiro!
Conclusão
E aqui respondo a pergunta que deixei lá na introdução deste artigo: RiME escapa da “maldição” dos jogos que são muito adiados e passam por perrengues de produção? A resposta é um retumbante sim! Mesmo com todas as tretas que rolaram nos bastidores, RiME é um jogo lindo, envolvente e gostoso de jogar.
Eu fui um dos que embarcou no “trem do hype” por este jogo já pelo primeiro trailer. Journey é uma das melhores experiências que tive no mundo dos games, e jogos que pendem para este estilo — outro bom exemplo é ABZÛ — sempre despertam meu interesse. E fico feliz em afirmar que não saio decepcionado.
RiME não tenta ser só uma cópia de Journey, e se preocupa em oferecer mais variedade em seu gameplay. Seu mundo é incrível, misterioso e cheio de segredos, e a sublime união de visual e trilha sonora tornam esta uma experiência que merece ser jogada por qualquer gamer de bom gosto. A história meio que fica em segundo plano, mas a jornada em si faz a experiência valer a pena.
RiME está sendo lançado hoje (26/05) para PC, Playstation 4 e Xbox One. Em breve ele também vai chegar ao Nintendo Switch. Este review foi feito com base em uma cópia de PS4, que recebemos antecipadamente da assessoria da Grey Box.