Análise Arkade – Saturnalia traz o folclore da Sardenha e “bom terror” para os videogames

5 de novembro de 2022
Análise Arkade - Saturnalia traz o folclore da Sardenha e "bom terror" para os videogames

Ainda no tempo do Império Romano, um festival era celebrado regularmente, para celebrar o “renascimento” do ano. A Saturnália era comemorada para marcar o solstício de inverno no calendário Juliano, que, curiosamente, era celebrado em 25 de dezembro, a mesma data a qual comemoramos, atualmente, o Natal.

Mas, diferente do nosso dia anual de troca de presentes, Papai Noel e árvores com luzes, a Saturnália começava oito dias antes, e traziam “regras” que “invertiam” a sociedade: homens se vestiam de mulher, e senhores se vestiam de servos. E, semelhante com a data que comemoramos hoje, as casas eram decoradas com folhagens, velas eram acesas e presentes eram trocados.

Análise Arkade - Saturnalia traz o folclore da Sardenha e "bom terror" para os videogames

Este elemento folclórico faz parte do game Saturnalia, desenvolvido pelos italianos da Santa Ragione. Agora falando do game, e não do evento histórico, o estúdio trouxe uma aventura survival horror com forte influência do folclore da Sardenha, ilha que faz parte da Itália atual e que é riquíssima em tradições e cultura. Dentro deste contexto, com sua história acontecendo em 1989, o jogo propõe quebra-cabeças que abrem atalhos pelo caminho, que vão guiando o jogador para investigação e desbloqueio da história.

Assim, o jogador é convidado a conhecer uma típica pequena vila italiana, que mantém a sua própria versão do festival. No vilarejo, é preciso conhecer a relação entre local e moradores, onde o “prazer das peças se encaixando” é um dos atrativos. O game te coloca na pele de quatro personagens jogáveis, sendo Anita, a primeira deles. Anita visita Gravoi, onde vive um caso com Damiano, homem casado que trabalha na igreja do local.

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Ela não consegue ir embora do local pois a cidade está com a sua única via de saída bloqueada, pois lá irá acontecer a misteriosa “Festa di Santa Lúcia”. Para encontrar seu companheiro, encontra Paul, outro personagem jogável, que fala sobre uma “criatura” que fotografou no local. Ela encontra tal criatura em seguida, onde as perguntas começam a surgir, e o jogador é convidado a buscar suas respostas.

A partir daí, o jogador explora mais Gravoi, conhecendo mais sobre o “submundo” da vila, envolvendo vários segredos. Segredos estes envolvidos com tal festival, e que vai se desdobrando como algo cada vez mais estranho. O game fica ainda mais intimidador por causa do seu visual, cuja direção de arte optou por algo tipo bloco de desenho animado. Lembrei, até, do visual do clip Take On Me do A-Ha:

Neste contexto visual, temos uma óbvia rica construção de uma pequena vila italiana. Poucos sabem, mas a Itália ainda tem muitas destas vilas, com 200 ou 300 habitantes. Roma, Milão ou Nápoles são, de fato, cidades enormes, mas aquele conceito de pequenas vilas, ainda dos tempos de Idade Média (ou antes disso), ainda permanecem em boa parte do país.

Resumindo: parece que desenharam os personagens com caneta e levaram para o game. E ficou bacana assim como ficou. Ficou bonito e intimidador, como o game queria se transmitir, desde o começo. Além disso, a paleta de cores nos faz lembrar muito dos próprios games de computador do final dos anos 80, com tons de cores bem saturadas misturadas com clima acinzentado, ou mesmo escuro, quando a noite chega.

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Além de Anita e Paul, ainda temos para jogar Claudia, uma “ragazza” que quer participar do festival a todo custo, e Sergio, que é amigo de Paul e foi banido de Gravoi há muito tempo, ao ser denunciado por algo considerado grave no local. Apesar de serem pessoas comuns, cada personagem tem sua “habilidade especial”. Claro que não estamos falando de subir pelas paredes e nem cuspir fogo, mas Sergio tem um celular, item de luxo em 1989, e que aqui faz muita diferença.

Paul, por sua vez, usa sua câmera para distração e para fotografar pistas; Claudia pode se espremer e acessar mais locais, e Anita tem boa memória e se lembra da localização de vários locais na cidade. Cada personagem tem suas missões, e lembrei, mesmo não sendo reproduzida de forma idêntica, do jeitão de “vários protagonistas” de GTA V.

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Embora não seja parecido com Silent Hill, o game tem um elemento em comum, ou quase isso: a noite. Enquanto Silent Hill diminui sua visão pela cidade, dando uma sensação de perigo constante, Saturnalia traz uma noite muito escura, que faz a jogabilidade ficar muito mais tensa e preocupante. O jogador vai ter que lidar com o que tem: pontos de referência, com apenas poucos fósforos ajudando a dar um mínimo de luz.

E, óbvio, a “cereja” deste bolo de terror: a criatura. Um dos muitos segredos do lugar, o monstro das sombras anda atrás de seus “alvos” trazendo consigo um pouco de tensão, ao “dizer” que está por ali com sons macabros. Mas captura não é morte imediata. O personagem ainda pode ser salvo por outro, mas se os quatro personagens morrerem, o jogo traz a sua grande “surpresa”:

Gravoi renasce totalmente diferente, refeita com novos layouts. Há como lidar com as questões de morte no game, mas esta ideia simplesmente acaba com qualquer “ajuda” que canais do Youtube oferecem, deixando o jogador, literalmente, ao “Deus dará”, e com suas habilidades para resolver seus problemas e terminar o game.

Análise Arkade - Saturnalia traz o folclore da Sardenha e "bom terror" para os videogames

Saturnalia é um jogo de terror diferenciado. Trazer um bom game de terror, com fortes inspirações de uma região tão rica quanto a Sardenha é de uma sabedoria ímpar. É importante e necessário que pessoas dos mais diversos locais do planeta tragam suas tradições, costumes e geografias para o mundo dos videogames. Felizmente, a indústria brasileira também está aprendendo isso. Apenas por trazer elementos tão interessantes de uma cultura tão rica quanto a da Itália, já valeria a pena.

Mas o game também é muito interessante, para quem gosta de um bom game de terror. Mais do que o gameplay em si, um bom jogo de terror é considerado como tal por conseguir manter o jogador tenso enquanto a jogatina. Fatal Frame, Resident Evil, Amnesia ou Silent Hill são considerados bons games por, entre vários elementos, trazer, cada um a seu modo, maneiras de deixar seu jogador desconfortável.

Saturnalia, ao invés de simplesmente “copiar” uma destas fórmulas, resolveu se inspirar e trazer boas ideias de alguns games do gênero, mas, ao trazer o mistério dos personagens somada a uma cidade que se reconstrói a cada fracasso total, consegue trazer algo novo para o gênero, e é altamente recomendado para quem curte o gênero.

Saturnalia está disponível, com versões para consoles PlayStation, consoles Xbox, Nintendo Switch e PC, via Epic Games Store.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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