Análise Arkade: Scarlet Nexus tem história mirabolante e combates incríveis

10 de julho de 2021
Análise Arkade: Scarlet Nexus tem história mirabolante e combates incríveis

Prepare-se para enfrentar Criaturas sinistras usando uma mistura incrível de telecinese com pancadaria em Scarlet Nexus, um jogo surpreendente! Confira nossa análise que tarda, mas não falha!

Confesso que Scarlet Nexus é um jogo que ficou bem fora do meu radar. Como alguém que não assiste animes, esses “jogos com cara de anime” geralmente não chamam muito a minha atenção.

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“Cara de anime” é tipo isso, saca?

Quando os camaradas da Bandai Namco enviaram um código de análise de Scarlet Nexus, eu quase passei adiante. Mas, como eu estava “sem nada par jogar”, acabei assumindo a responsabilidade de experimentar o jogo para produzir esta análise. E olha: eu não me arrependi.

Futuro “Brainpunk”

Scarlet Nexus é um RPG de ação em terceira pessoa que possui duas campanhas, cada uma delas com um protagonista. Yuito Sumeragi e Kasane Randall são dois jovens recrutas da FSC (Força de Supressão das Criaturas), uma organização formada por soldados que receberam aprimoramentos cerebrais para ganharem ou fortalecerem certas habilidades especiais, que eles usam para defender o mundo da constante invasão das Criaturas, monstros que supostamente são fruto de uma anomalia gravitacional conhecida como “Cinturão da Ruptura“.

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As trajetórias de Yuito e Kasane estão sempre se entrelaçando, então é como se cada campanha mostrasse um lado da história. As duas campanhas meio que se complementam, mas como cada uma delas pode durar cerca de 30 horas, esteja preparado para uma longa jornada se quiser ver tudo que o jogo tem a oferecer.

Scarlet Nexus tem uma trama bastante mirabolante e viajada, que envolve conspirações governamentais, grupos militares cheios de segredos e até viagens no tempo. O roteiro não consegue se manter realmente interessante o tempo todo — muito por conta de como ele é desenvolvido, logo falo mais sobre isso — e em diversos momentos eu acho que ele não precisava ir tão longe… mas no geral, gostei do conjunto.

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Sem dar spoilers, o que dá força ao jogo é a união dos personagens. Tanto Yuito quanto Kasane formam suas parties com outros membros da FSC, e construir boas relações com eles é parte importante do jogo. Em breve aprofundo melhor este assunto.

Ah, e o termo “brainpunk” que acabou meio que virando uma piada interna do jogo, faz alusão ao futurismo estilizado dele: enquanto o conceito de cyberpunk envolve aprimoramentos cibernéticos e steampunk é sobre máquinas a vapor, brainpunk diz respeito aos aprimoramentos cerebrais que são a chave dos poderes das tropas da FSC.

Não é bem um RPG

Embora seja vendido como um RPG de ação, a verdade é que Scarlet Nexus funciona mais ou menos como um jogo de fases: recebemos uma missão, vamos até lá, cumprimos o objetivo e voltamos. A história se desenrola, aí vem outra missão, que nos manda para outro lugar, e assim sucessivamente. Os cenários até são bem amplos, mas este não é um mundo aberto: as áreas nem sempre se conectam, e quando o fazem, você precisa sair de uma área para entrar em outra (ou simplesmente saltar entre elas com o fast travel).

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Nas missões principais, o jogo geralmente é focado na ação: devemos eliminar Criaturas em algum lugar, ou invadir alguma instalação suspeita. O avanço é bastante linear, com alguns caminhos secundários aqui e ali que podem render itens. Há muito reaproveitamento de ambientes — missões que se passam em áreas já visitadas — o que, convenhamos, nunca é legal.

Entre uma missão e outra, temos os chamados Interlúdios. Nessas horas, o jogo assume uma vibe meio Persona, e nosso objetivo é conversar com os membros do grupo e fortalecer nossa relação com eles. Não há grandes decisões para serem tomadas, nem nada do tipo: basta interagir com os personagens para ter acesso ao comando “fortalecer amizade”, que é basicamente uma cutscene em que os personagens conversam ou fazem algo juntos.

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Tipo ir comer gyoza em um restaurante

Como eu disse, a união dos heróis é um dos pontos fortes do jogo. Os relacionamentos que se criam são simples, mas genuínos. Gemma, por exemplo, é um cara mais velho que se sente deslocado no meio dos jovens. Ao fortalecer a relação com ele, vemos Yuito levando-o para restaurantes da moda, para experimentar coisas que os jovens fazem. É bobinho, mas até que bem simpático.

Além dessas interações, também podemos dar presentes para os membros do grupo, que ajudam a criar e fortalecer os laços entre a equipe. E a amizade aqui está diretamente relacionada à efetividade do grupo em combate: através do SAS — uma espécie de rede neural que conecta os membros da FSC –, podemos “emprestar” habilidades dos outros membros do grupo, e quanto mais forte a relação, mais poderes são liberados.

Pancadaria telecinética

Na hora da pancadaria, Scarlet Nexus faz uma deliciosa mistura de hack n’ slash com os poderes telecinéticos no melhor estilo Jesse Faden em Control: Yuito é adepto do combate direto e ataca com uma espada, enquanto Kasane ataca à distância com shurikens telecinéticos.

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O segredo do sucesso em combate é misturar golpes físicos com os poderes telecinéticos, arremessando carros, lustres e outros elementos do cenário nos inimigos. É tipo Final Fantasy VII Remake: você aplica golpes físicos “comuns” para encher a barra que permite usar os poderes. Outro ponto em comum com Final Fantasy: além da vida, os inimigos possuem um medidor de atordoamento, que, quando esvaziado, permite a aplicação de um ataque letal.

Tanto Yuito quanto Kasane possuem o poder de mover objetos com a mente, mas graças ao SAS, eles podem “emprestar” temporariamente os poderes de seus aliados. Hanabi, por exemplo, é uma piromante, então ao usar os poderes dela, acrescentamos dano por fogo aos nossos ataques. Já Tsugumi possui o dom da clarividência: emprestar o poder dela nos permite enxergar inimigos que podem ficar invisíveis. Há um aliado que nos deixa invisível, o que abre a possibilidade de ataques surpresa (ou mesmo de evitar confrontos).

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Essa mecânica de emprestar as habilidades do grupo é uma das coisas mais legais do jogo, pois acrescenta muito mais variedade e profundidade às batalhas. É possível pegar mais de um poder emprestado ao mesmo tempo, bem como ativar golpes exclusivos dos aliados, conforme o nível de amizade permite.

Confira abaixo um pouquinho de gameplay de combate:

Para completar as possibilidades do divertido sistema de combate, temos o chamado “Campo Cerebral“, quando “alcançamos o sétimo sentido” e levamos a luta para uma arena cerebral, onde nossos poderes telecinéticos são potencializados ao máximo.

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Sem contar que o visual é deveras psicodélico

O lance é que o Campo Cerebral tem uma dinâmica de risco x recompensa: você fica MUITO poderoso, mas sua barra de vida vai se esvaziando enquanto você está lá. Ou seja, é uma habilidade para ser usada com cautela.

O lado RPG

Eu falei lá em cima que Scarlet Nexus não é bem um RPG, e ele realmente não é. O “fator RPG” está no fato de que há um pouco de loot para ser coletado. Não há grande variedade de trajes ou armas, mas podemos adquirir armas mais fortes e acessórios que melhoram nossos atributos, além de itens cosméticos que só alteram o visual dos heróis. Tudo isso pode ser comprado ou até mesmo trocado com o “cara da lojinha”.

Outro elemento típico de RPG que se faz presente no game é uma robusta árvore de habilidades. Dividida em vários quadrantes, os pontos de experiência que ganhamos ao subir de nível podem ser trocados por upgrades para diversos aspectos do protagonista: vida, ataque físico, poderes, campo cerebral, etc.

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A árvore de habilidades é bem recheada

Nem todo jogo usa 100% dos botões do controle, mas em Scarlet Nexus parece que até “faltam” botões, pois o jogo cria diversos atalhos do tipo R1 + direcional para cima ou L1 + X que dão um trabalhinho para serem memorizados. A interface de Scarlet Nexus é um tanto quanto poluída, o que dá a impressão de que o jogo é complicado… e na verdade ele é um pouco. Seus menus dentro de menus são terríveis, e descobrir certas coisas simples dá mais trabalho do que deveria. Mas, depois que o jogador entende como tudo funciona — especialmente os combates — a experiência torna-se bem prazerosa.

Problemas de timing

Infelizmente o jogo tem lá suas falhas: a história demora um bocado para engrenar e, considerando que as campanhas são longas, esse problema de timing pode deixar as primeiras horas bem arrastadas. Mesmo quando a história já está boa, ela pode se tornar cansativa simplesmente porque a maneira com que ela é contada não é muito empolgante.

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Boa parte da história do jogo é desenvolvida assim…

Explicando: eu sei que Scarlet Nexus não é um Triple A, mas 95% dos diálogos rolam em telas estáticas, onde apenas os olhos e a boca dos personagens se movem. Como a história é muito pautada por diálogos, isso simplesmente fica chato de se acompanhar. Há pouquíssimas cutscenes animadas no jogo, e elas geralmente duram poucos segundos — logo dão lugar para as cenas estáticas de diálogo.

E já que estamos falando de timing, os momentos de interlúdio que rolam entre uma fase e outra também podem ser um tanto… inadequados. Exemplo: na missão, Yuito acabou de fazer uma descoberta terrível sobre seu passado, algo que claramente deixou ele muito abalado. Aí vem o interlúdio e é tipo “ei, vamos conversar sobre uma flor que eu vi na infância?” ou “que tal irmos comer um guioza naquele restaurante novo?”. Esses momentos bobinhos acabam quebrando o ritmo dramático do jogo, o que não é legal, em termos de consistência narrativa.

Audiovisual

Embora eu não seja fã de “jogos com cara de anime”, no geral eu até gosto do visual de Scarlet Nexus. Ele nem precisava ter “cara de anime”, se não quisesse, mas já que os produtores optaram por essa estética, pelo menos fizeram um bom uso dela: o design dos personagens é muito legal, e as Criaturas são tão bizarras quanto impressionantes, misturando partes humanas (ou de animais) com buquês de flores, lustres e outros elementos inusitados.

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O bestiário traz ótimas artworks dos inimigos

No departamento sonoro, a trilha sonora combina com a proposta do jogo, trazendo uma mistura de rock e techno que soa bem “futurista”. As dublagens em inglês são excelentes, ajudando muito a conceder carisma aos personagens. Não joguei em japonês, mas pelo que li por aí, as vozes em japonês também são ótimas.

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A estética é interessante, mas é chato passar várias vezes pelos mesmos lugares

Como há muito diálogo (e muitos menus) em Scarlet Nexus, é um alívio contarmos com um trabalho de localização pra lá de competente: todos os menus e tutoriais estão em português brasileiro, e há legenda para todos os diálogos. Como eu disse antes, a história é mirabolante e até um pouco absurda, mas entendê-la é parte fundamental da experiência, afinal, tudo o que acontece está relacionado aos personagens, suas famílias e suas crenças.

Conclusão

Como “embarquei” em Scarlet Nexus sem saber praticamente nada sobre ele, saio muito satisfeito, pois ele me surpreendeu positivamente. Seu sistema de combate é excelente e muito criativo, e o carisma dos personagens ajuda o jogador a se importar com tudo o que acontece, mesmo que a história ocasionalmente vá longe demais.

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Minha reação ao perceber que estava curtindo um jogo com cara de anime

Acho que o principal problema de Scarlet Nexus é seu timing: o jogo demora para ficar bom, e o excesso de cenas estáticas e longos diálogos tornam tudo ainda mais cansativo, especialmente porque as campanhas são longas e a história se desenvolve de maneira não muito empolgante, beirando o estilo visual novel.

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Mas, quando a gente se acostuma com isso, descobre um jogo incrível, criativo tanto em seus conceitos quanto em suas mecânicas — sem exagero, os combates estão entre os mais divertidos e empolgantes que experimentei nos últimos anos. Um game imperdível para quem curte “jogos com cara de anime”, mas que também pode surpreender quem não é fã.

Scarlet Nexus foi lançado pela Bandai Namco em 24 de junho, com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X|S (versão analisada). O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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