Análise Arkade: Scars Above um “double A” com boas ideias, mas sem foco

6 de abril de 2023
Análise Arkade: Scars Above um "double A" com boas ideias, mas sem foco

Se você gosta de ficção científica e mistério, talvez queira dar uma olhada em Scars Above, game que mistura estes dois elementos com tiroteios elementais e uma pitada de Souls-like. Confira nossa análise completa!

Double A espacial

Scars Above é um tipo de jogo que está cada vez mais raro no mundo dos games. É um título que não é indie, nem triple A, ficando no meio do caminho, na zona cinzenta dos chamados “double As”, jogos com custo de produção (e de marketing) bem mais modestos do que um grande blockbuter, mas que também possuem um orçamento maior do que um indie tradicional.

Esse tipo de jogo era bem comum ali nos tempos do PS2, mas como o mercado mudou muito de lá para cá — e o preço para produzir um jogo aumentou consideravelmente — poucos são os remanescentes deste nicho.

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Scars Above é um desses jogos. Com uma pegada que mistura Mass Effect Andromeda com Returnal, o jogo nos apresenta à Dra. Kate Ward, uma jovem cientista que faz parte de um grupo que investiga uma misteriosa estrutura alienígena que surgiu acima da Terra — o Metaedro.

Obviamente as coisas dão um pouco errado: nossa nave de reconhecimento acaba sendo “absorvida” peo Metaedro e cai em um mundo alienígena desconhecido. Para piorar, Kate se vê separada de toda sua tripulação. E, é claro que este planeta possui fauna e flora extremamente hostis, bem como ruínas e elementos de alguma cultura alienígena ancestral.

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Tecnologias ancestrias

Assim, Kate precisa se virar neste bravo novo mundo, lutando para descobrir o paradeiro de seus companheiros desaparecidos enquanto tenta não ser devorada por criaturas alienígenas… e, claro, explora e aprende mais sobre o lugar em que está.

Exploração e combate em Scars Above

Pelas imagens, é fácil deduzir que Scars Above é um shooter espacial em terceira pessoa. Porém, o jogo não se resume a atirar em aliens malvados. Como estamos no controle de uma cientista, a exploração e a coleta de dados são aspectos igualmente importantes da aventura.

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Dano elétrico é especialmente efetivo em alvos molhados

Por não ser uma fuzileira espacial, nem nada do tipo, Kate precisa “improvisar” — mais ou menos como um famoso engenheiro que transforma ferramentas em armas. Munida de uma útil impressora 3D, ela vai fabricando equipamentos e aprimoramentos que lhe ajudem a lidar com as coisas hostis que tentarão matá-la. Até mesmo munição pode ser fabricada mediante a coleta de certas matérias-primas.

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Imprimindo novos equipamentos

Aí entra um sistema de munições elementais que concede um tom estratégico ao jogo. Temos, por exemplo, uma munição de fogo, mas o jeito mais inteligente de usá-la é junto de uma granada de fluido inflamável, que aumenta a área de dano. Do mesmo modo, a água conduz eletricidade, ou pode ser congelada — e um inimigo molhado recebe menos dano de fogo.

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Dano elemental de fogo em ação

Utilizar estas combinações elementais é útil para lidar com os monstros alienígenas, claro, mas também se faz necessário na exploração. Um exemlo real do jogo: para passarmos por lagos repletos de “piranhas alienígenas”, devemos congelar a água para criar um caminho. É simples, mas engenhoso.

Souls-like científico

No meio disso tudo, temos ainda elementos do famigerado Souls-like. Pois é, embora não seja realmente um Souls-like, Scars Above empresta alguns elementos deste gênero tão prolífico. Algo que não me agrada muito, mas né, eu não sou fã de Souls-likes.

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Há criaturas que parecem sáidas de um horror Lovecraftiano

Por exemplo: aqui temos uma barra de stamina que limita nossa mobilidade, especialmente em combate. Além disso, ao utilizar um ponto de descanso/salvamento, todos os monstros das redondezas são ressuscitados. O jogo também tem aquele esquema de “atalhos” típicos de Souls-likes: passagens que só podem ser abertas por um lado, mas quando liberadas, cortam um baita caminho, facilitando o ato de ir e vir.

Infelizmente, na minha opinião, nenhum desses elementos melhora a experiência de Scars Above. De fato, eu gostaria que ele fosse um shooter de ação mais tradicional, ou menos punitivo. Ou, melhor ainda: Scars Above poderia ter mais foco na exploração, que é a parte realmente interessante do game.

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A exploração deveria ser o foco do jogo

O game até se esforça para inovar de maneiras coerentes: como controlamos uma cientista, não ganhamos pontos de XP aniquilando criaturas, mas escaneando e analisando coisas daquele mundo alienígena. Há momentos de investigação e busca de “pistas” que não devem nada para o que já vimos na série Batman Arkham, por exemplo.

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Escaneando coisas alienígenas

Essa simples mudança reforça meu ponto: este jogo seria bem mais legal com menos foco no combate e mais na exploração. E, embora seja bem fácil ficar meio perdido, o mundo do game tem uma atmosfera de mistério e perigo iminente que estimulam a curiosidade do jogador. Só é chato ter que ficar matando tantas criaturas (iguais) enquanto exploramos…

O audiovisual de Scars Above

Como dito no início deste artigo, Scars Above é um jogo “double A”. Então, não espere nada tecnicamente muito avançado. Ainda que tenha uma direção de arte bem legal, o visual do jogo não impressiona, sendo, no máximo ok, com altos e baixos. Se o mundo do jogo é atmosférico e misterioso na medida certa, os modelos de personagens humanos são bem “geração passada”.

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É louvável que o jogo traga cutscenes e diálogos falados — contando inclusive com boas legendas em português brasileiro –, mas nivele suas expectativas. O que temos aqui é um título que cumpre seu papel, mas é consciente das próprias limitações. É impossível não compará-lo com Returnal — pela temática, pela protagonista feminina, etc. — mas há um abismo de custo de produção entre eles.

No departamento sonoro, o jogo traz músicas eletrônicas ambientais que contribuem com a vibe sci fi proposta. Os efeitos sonoros são decentes, mas um tanto repetitivos. As vozes cumprem seu papel, sem realmente se destacarem.

Conclusão

Scars Above não é um jogo memorável, nem revolucionário. Por não saber dosar seus elementos de combate com a exploração — e ele até flerta com o terror ocasionalmente (?!) –, o game acaba não fazendo nenhuma das coisas bem o suficiente para se destacar. Especialmente em um mundo onde Souls-likes são tão comuns.

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É fato, porém, que seu maior valor é sua audácia. Scars Above é o tipo de jogo que nenhum estúdio grande teria coragem de financiar. O mundo dos games está cada vez mais derivativo — ninguém quer investir milhões em algo diferente, fora do comum. Em contrapartida, os estúdios muito pequenos não tem milhões para investir, e por isso apostam em projetos mais simples.

Assim, ele fica nesse “limbo” de um double A de orçamento mediano. Um game que é corajoso, mas tinha potencial para ser muito mais. Talvez com mais identidade, mais foco no que realmente importa, ele pudesse vir a ser algo realmente especial.

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Do jeito que está, porém, Scars Above entretém por umas horinhas, mas dificilmente vai ficar na cabeça do jogador depois que os créditos subirem — e nem há um fator replay que estimule novas campanhas.

Scars Above está disponível para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series. O jogo possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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