Análise Arkade: evitando o apocalipse em Shadow of the Tomb Raider
A nova aventura de Lara Croft chega só no fim da semana, mas a gente já jogou, e trazemos nossas impressões para você em um review antecipado especial! Com vocês, Shadow of the Tomb Raider!
Iniciando o apocalipse
Lara Croft sempre foi uma arqueóloga/aventureira, mas foi esta nova trilogia que a transformou também em uma sobrevivente. Ela passou por poucas e boas no reboot de 2013, depois foi em busca de seu passado em Rise of the Tomb Raider… e agora ela vai literalmente tentar impedir o apocalipse.
A história da vez envolve as famosas profecias maias que predizem o fim do mundo. Em sua ânsia para evitar que a Trindade — a seita maluca apresentada no game anterior — colocasse as mãos em um artefato daquele povo, Lara acaba iniciando uma série de eventos que inexoravelmente culminarão no fim do mundo, começando com um tsunami que varre quase todo um povoado do mapa (enquanto estamos nele).
Ciente da besteira que fez, Lara irá se enfiar em selvas e catacumbas peruanas na busca pela “outra parte” do tal artefato, que é capaz de anular o Armagedom. Claro que a Trindade também está de olho nesta outra relíquia — para “recriar o mundo, livre do pecado” –, o que transforma a busca de Lara em uma nova jornada de superação e sobrevivência.
Em time que está ganhando…
Shadow of the Tomb Raider meio que segue a mesma cartilha estabelecida pelos dois jogos anteriores: misturando exploração e alguns combates com resolução de puzzles e algumas doses de stealth, Lara Croft irá desbravar selvas, ruínas e tumbas enquanto lida com animais selvagens, mercenários e guerreiros tribais que parecem saídos de outra época.
Como Lara nunca chega exatamente preparada para suas aventuras, ela acaba tendo que se virar como pode: desta vez até sua faca terá que ser fabricada artesanalmente– com um pedaço de hélice de avião! –, mas não demora para ela recuperar o básico de seu arsenal, como o arco-e-flecha e seus sempre úteis machados de alpinismo.
Como no game anterior, a cadência de Shadow of the Tomb Raider é bem linear, mas existem algumas áreas maiores que servem como pseudo-mundos abertos, onde podemos conversar com NPCs, cumrprir sidequests… ou simplesmente parar um pouquinho para curtir uma apresentação musical, ou fazer carinho em uma lhama!
Ainda que muitos destes objetivos secundários sigam o padrão “garoto de recados”, há algumas missões paralelas bem interessantes, que aprofundam as relações de Lara com novas culturas e com o passado daqueles povos. O vilarejo de Paititi, a maior área aberta do jogo, oferece muitas possibilidades, então não deixe de explorá-lo com calma.
Dá pra mexer um pouquinho, sim!
O crafting continua sendo parte importante do game, mas nunca deixa o jogador na mão: jogando na dificuldade normal, é fácil encontrar ervas de cura, madeira e penas para produzir flechas. Seguindo os moldes de Far Cry, Lara agora pode criar misturas de ervas que aguçam seus sentidos, aumentam sua resistência por alguns segundos, e por aí vai.
A maior novidade do sistema de crafting, porém, está no maior número de possibilidades que o jogo oferece. Conforme explora a vasta árvore de habilidades de Lara, você vai ganhando novas formas de usar o ambiente a seu favor. É possível, por exemplo, catar aranhas do meio do mato e usá-las para criar projéteis venenosos, ou extrair a seiva de cogumelos para manufaturar bombas de fumaça alucinógenas.
Lara também está mais apta a se misturar com a selva em si: ela pode se sujar de lama para ficar melhor camuflada no ambiente, bem como comprar e/ou produzir roupas com penas e peles de animais que lhe concedem alguns buffs. Tal qual Hitman, vez ou outra ela até usa o uniforme de seus inimigos para passar despercebida entre eles.
O que nem sempre dá certo, como você pode ver no vídeo abaixo:
Uma das melhores novidades, porém, está na exploração aquática: visitar cavernas e tumbas total ou parcialmente alagadas oferecem alguns dos melhores momentos do game, misturando a tensão da falta de oxigênio em si (há “bolsões de ar” no melhor estilo Sonic que dão uma força) e os perigos naturais — enguias e piranhas — com passagens e mecanismos que devem ser operados debaixo d’água.
Nem tudo são flores
Para não dizer que toda mudança é positiva, temos alguns deslizes: há alguns itens essenciais para a exploração que a gente não consegue naturalmente, e devem ser comprados. Um deles — aquele aparelho de tensão para cordas –está com uma vendedora qualquer em Paititi, e custa bem caro.
Ainda que você não precise dele para chegar ao fim do game, é fato que o gadget é bem útil para destruir algumas barreiras que escondem tesouros opcionais, e entrou naturalmente para o arsenal da heroína nos jogos anteriores. Aqui, foi muito por acaso que o consegui, e ele pode acabar passando batido por jogadores menos atentos.
Outra novidade que não é realmente boa está justamente na descoberta de tesouros e artefatos: nos jogos anteriores, automaticamente íamos para uma tela de inventário ouvir o que Lara tinha a dizer sobre o que encontrou. Agora isso não acontece: precisamos acessar o menu manualmente para podermos ver nossos tesouros e manuseá-los em busca de segredos.
Mais Indiana Jones, menos Rambo
Ainda que continue sendo uma parte importante do jogo, o combate foi bastante reduzido aqui: parece que os desenvolvedores quiseram puxar o freio na matança, para mostrar Lara mais como uma arqueóloga estilo Indiana Jones e menos como uma máquina de matar como John Rambo.
Praticamente todas as situações de combate oferecem possibilidade de uma abordagem stealth — que também traz algumas novidades –, deixando o combate mais crível. Nos games anteriores, Lara derrubava pequenos exércitos sozinha. Aqui ela ainda é extremamente letal, mas lida com grupos menores, e a abordagem stealth deixa a situação mais plausível.
Isso também dá um tom mais humano ao game: Lara parece mais preocupada em ouvir histórias e ajudar quem precisa e menos em simplesmente sair matando seus desafetos. O jogo até arruma um tempinho para revisitar a infância de Lara, mas não vamos nos aprofundar nisso aqui para evitar spoilers.
No mais, o ato de desbravar as tumbas em si continua sendo uma das melhores partes desta nova série: o level design integra puzzles bem sacados aos cenários, exigindo atenção e uma boa dose de raciocínio do jogador. Alguns são especialmente trabalhosos, mas sempre conseguem fazer o jogador se sentir habilidoso e esperto ao completá-los.
Audiovisual
Shadow of the Tomb Raider é um jogo deslumbrante. Esteja você nos becos de um vilarejo, no meio da selva ou diante de um imponente templo, o game entrega um visual excelente, ótimos efeitos de iluminação e animações um tanto recicladas, mas ainda competentes.
O departamento sonoro desponta como um dos melhores dos últimos tempos: os sons ambientes realmente deixam o jogador imerso na situação — sejam os ruídos animalescos da mata ou os ecos agourentos de uma caverna. As dublagens também são muito boas, e a trilha sonora aparece só quando é necessária, para pontuar os momentos mais cinematográficos.
Este é mais um jogo que chega totalmente localizado para o nosso idioma, mas depois de conferir as dublagens em português, acabei optando pelo áudio original. Aliás, em inglês só não, fui no áudio imersivo: esta opção faz com que os personagens falem seu idioma nativo, de modo que iremos ouvir espanhol e estranhos dialetos tribais conforme o falante.
Acessibilidade parece ter sido uma grande preocupação para os desenvolvedores: é possível alterar individualmente a dificuldade de diferentes elementos que compõem o gameplay — para quem quer combates mais fáceis, ou puzzles com mais dicas, por exemplo –, bem como aumentar o tempo de resposta dos QTEs ou mesmo sumir com os comandos contextuais.
Shadow of the Tomb Raider aproveita os recursos da atual geração para oferecer uma experiência muito rica: jogando no Xbox One X, é possível escolher se queremos rodar o jogo na maior resolução possível, ou se preferimos focar o poder de fogo no console em uma taxa de framerate mais alta. Como sempre, fui na segunda opção, e a experiência foi muito fluida.
Ah, e como eu não poderia deixar de evidenciar aqui, Shadow of the Tomb Raider suporta o recurso HDR em TVs compatíveis, e já chega com um Photo Mode caprichado para quem quer documentar suas aventuras da forma mais estilosa possível, podendo inclusive mudar a expressão facial de Lara!
Aí vão alguns dos meus cliques:
Conclusão
Shadow of the Tomb Raider não tenta ser revolucionário. Ele aproveita muito do que foi construído nos 2 jogos anteriores, colocando Lara (e o jogador) em um novo contexto para utilizar habilidades e equipamentos já estabelecidos. Isso era notável em Rise of the Tomb Raider, e, se no geral isso não torna um jogo muito superior ao outro, concede um senso de unidade aos títulos, que, afinal, compõem uma trilogia.
Que fique claro que isso não faz dele um jogo ruim: Shadow of the Tomb Raider traz uma aventura envolvente, ágil e gostosa de jogar, com um clima cinematográfico excelente, um departamento sonoro impecável e alguns dos melhores environmental puzzles da série. Pode não ter um feeling genuinamente novo, mas entrega o que os fãs da série já testaram e aprovaram.
Ainda está cedo para afirmar que este jogo representa a aposentadoria desta nova Lara Croft, mas ele claramente encerra um ciclo, e faz isso de forma competente, ainda que dentro de uma zona de conforto. Quem gostou dos 2 últimos jogos não tem porque não gostar deste: explorar e desbravar tumbas ainda é um prazer, e ao diminuir os combates, o jogo se permite focar justamente no que ele faz de melhor.
Shadow of the Tomb Raider será lançado em 14 de setembro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Este review foi feito com uma cópia para Xbox One (rodando no Xbox One X), que recebemos antecipadamente da assessoria da Square Enix para fins de análise.