Análise Arkade: A interessante combinação de Stealth e controle do Tempo de Shadwen
Shadwen é o novo game da Frozenbyte, a mesma desenvolvedora da série Trine. O novo game trás uma aventura nova em um mundo medieval que sofre pelas guerras e abusos de poder, com uma jogabilidade inspirada na personagem Zoya de Trine, com idéias muito interessantes e decisões que afetam a narrativa.
Shadwen é uma aventura 100% stealth action. Furtividade absoluta é o caminho a se seguir, contando com vários equipamentos e o próprio tempo a seu favor para montar as mais diversas estratégias para completar sua jornada.
A ASSASSINA E O REINO DE RIVENDON
O game conta a história da assassina Shadwen, que invade o reino de Rivendon com o objetivo de matar o seu rei. No meio do caminho, encontramos Lily, uma menina órfã que se vê no meio na missão de Shadwen e a segue até o final. A razão pela qual ela seguirá Shadwen, no entanto, dependerá do jogador.
Shadwen é um game puramente stealth e com um forte recurso que impacta diretamente a narrativa: matar ou não os seus inimigos. Durante nosso primeiro encontro com Lily, devemos salvá-la de um guarda truculento que a está ameaçando simplesmente por pegar maçãs no chão. Podemos tanto atrair o guarda para longe sem que ele nos veja, ou podemos matá-lo. Despistando o guarda, Lily nos seguirá de livre e espontânea vontade, já que nós a salvamos e ela não tem para onde ir. Se matarmos o guarda na frente de Lily, ela ficará horrorizada com Shadwen e não confiará nela, mas será obrigada a segui-la, pois Shadwen não arriscaria que uma criança contasse aos guardas de sua presença, prejudicando sua missão.
Com isso, as duas seguem adiante pelo reino de Rivendon, e a forma com a qual o jogador seguir adiante impactará diretamente a relação entre Shadwen e Lily. Não matar fará com que Lily confie cada vez mais em Shadwen e se afeiçoe a ela. Porém, quanto mais o jogador matar, mais assustada e horrorizada Lily ficará, julgando Shadwen por suas ações ruins.
O game progride em fases, cada uma com um layout diferente, fazendo com que os jogadores tenham que planejar bem cada ação para seguir adiante e guiar Lily. Em todo lugar temos inimigos em patrulha, eles sempre estão conversando entre si, seja sobre a situação do reino, problemas pessoais e outras coisas. E é dessa forma que o jogador entende o mundo do game, e passa a compreender melhor o motivo pelo qual Shadwen deseja a morte do rei, além de, é claro, termos uma visão diferente dos soldados “inimigos” que encontramos.
Se um soldado ver Shadwen, ele atira para matar, todos os soldados estão equipados com bestas e atiram sem prévio aviso. Porém, ouvindo as conversas dos soldados, vemos que existem entre eles aqueles que detestam a situação do reino e não gostam da forma como a população sofre do lado de fora do castelo. Temos aqueles obrigados a servir de guarda contra sua vontade, bem como aqueles que não dão a mínima para a população, já que trabalhando como soldado eles ao menos não estão na miséria. Isso é algo muito interessante, pois quebra a regra de “protagonista do bem” contra “Inimigos do mal”. Matar ou não é puramente decisão do jogador, e isso tem consequências.
FURTIVIDADE COM O TEMPO A SEU FAVOR
A regra de Shadwen é: stealth absoluto. Se um inimigo te ver, é game over, e se um inimigo notar a sua presença, seja vendo corpos de soldados mortos ou sendo alertado de sua presença, ele irá avisar todos os inimigos, e também é game over pois a inteligência artificial dos inimigos é muito competente. Para se manter fora de vista, o jogador pode se esconder atrás de objetos, em montes de feno e arbustos, e em lugares altos. Além de poder andar agachado, sem fazer barulho.
A assassina Shadwen começa a aventura equipada somente com uma faca, sua principal arma. Mas o jogador pode encontrar em baús espalhados ao longo do game que possuem projetos de novas armas e equipamentos. Para fabricar tudo isso, o jogador deve coletar itens pelos baús, até ter o necessário para construir cada equipamento novo. Temos itens de distração, como uma bola de metal com um rato vivo dentro que sai rolando pelo chão fazendo barulho e atraindo os inimigos, dardos envenenados, bombas que grudam nas paredes, e até minas de proximidade. Mas o equipamento mais importante de todos é o Grapling Hook, a ferramenta mais legal e mais útil de todas.
Com o grapling hook, podemos lançar uma corda que se prende em superfícies de madeira, nos permitindo puxar objetos e escalar estruturas. O gancho pode ser lançado em qualquer direção, desde que esteja apontado para algo de madeira. Podemos aumentar e diminuir o comprimento da corda enquanto ela está presa, nos permitindo escalar casas, postes e vigas, assim como na jogabilidade de Zoya de Trine. Apenas com o gancho podemos progredir pelas fases tranquilamente, nos dando bastante mobilidade e sendo usado para montar estratégias e atrai inimigos.
E o recurso mais interessante do game é o tempo, que está completamente a nosso favor. Quando ficamos imóveis no cenário o tempo congela, seja em terra ou no ar. Com isso, podemos controlar a câmera livremente para vermos nossos arredores. Temos total controle sobre nossas ações, pois podemos voltar o tempo a qualquer momento, e até onde quisermos. Se você realizar uma série de ações e não ficou satisfeito com o resultado, você pode voltar tudo e recomeçar de novo, a qualquer momento o jogador pode voltar o tempo para mudar qualquer coisa que tenha feito, seja atrair um inimigo pro lugar errado, derrubar um objeto que não queria, matar um inimigo sem querer, ou mesmo ser morto pelo inimigo.
Com isso a estratégia fica inteiramente nas mãos no jogador. O jogador pode ficar parado em um esconderijo e segurar o botão que deixa o tempo seguir, pará-lo quando desejar, voltar um pouco e andar em frente na hora correta. Esse é um recurso muito divertido, principalmente combinado com o Grapling Hook. Podemos nos balançar pelos cenários ao estilo Homem-Aranha, ficar imóveis em meio ao ar observando tudo no chão, e mudar a trajetória da queda ou lançar outro gancho em pleno ar.
LIMPANDO O CAMINHO PARA LILY, QUANDO ELA AJUDA
O objetivo principal do game é escoltar Lily até o fim de casa fase, marcada por um grande brasão em seu ponto final. O problema é que na maioria das vezes Lily não colabora e torna tudo difícil. O lado bom é que não precisamos nos preocupar com a segurança de Lily, ela se locomove de esconderijo em esconderijo, e os inimigos jamais a atacarão, mesmo que ela ande na frente deles.
Lily sempre buscará cobertura e não progredirá se houver algum inimigo que possa vê-la. Nós podemos mandar Lily seguir para determinados pontos através de um comando, mas ela só obedecerá se não houver inimigos no caminho. Ou seja, se não houver nenhum inimigo cujo campo de visão atrapalhe seu caminho, ela seguirá, se houver mesmo que só um inimigo cujo campo de visão enxergue Lily por questão de centímetros, ela não avançará, e apontará para o inimigo que a impede de prosseguir, para que possamos nos livrar dele.
O problema é que a IA de Lily é muito inconstante. Enquanto há momentos em que ela se vira muito bem, progredindo rápido com qualquer brecha que dermos para ela, em outros momentos ela simplesmente faz tudo errado e não obedece quando mandamos ela ir para algum ponto. Por diversas vezes eu limpei o caminho para ela atraindo todos os inimigos para longe, ela então seguia por metade do caminho, e quando um inimigo por uma fração de segundo olhava em sua direção, ela voltava todo o caminho, as vezes até tentando voltar pro início da fase sem motivo algum.
Em outros momentos, Lily atingia o fim da fase, faltando somente que eu levasse Shadwen até lá para concluir a fase em questão, e ela voltava todo o caminho sem motivo algum, jogando fora toda a estratégia que eu tive em abrir caminho para ela, pois os inimigos já estavam de volta a seus postos. Felizmente o recurso de voltar e congelar o tempo ficando imóvel ajuda e muito nessa situação, isso é, se novamente Lily deixar. Muitas vezes eu apontei um arbusto para ela se esconder. Ela ia até ele e se escondia, mas quando eu chegava lá, ela voltava tudo, e quando eu ordenava ela para voltar ao arbusto, ela apenas caminhava até ele e novamente voltava. Ou em outras situações, ao abrir portas para novas áreas, Lily não seguia em frente, me obrigando a ordená-la a ir até um ponto próximo a mim para finalmente começar a se mover.
Infelizmente a IA inconstante de Lily prejudica muito o game em alguns momentos, visto que o que devemos fazer no game é basicamente levar ela do começo ao fim das fases. Muitas vezes ela própria ficava presa nos cenários, pois resolvia andar em uma direção estranha e ficava presa. São altos e baixos, muitas vezes é difícil atrair inimigos para longe, pois diferente de Lily, a IA dos inimigos é muito competente.
Ao se atrair um inimigo para longe, ou se um inimigo ver você, ele irá investigar. Mas os inimigos não apenas vão até o ponto onde viram algo estranho, olham, e voltam. Eles primeiro vão até o local que os atraiu, investigam, depois investigam os arredores com bastante perícia, e só então voltam a seus postos. Além disso, se um inimigo notar algo estranho, avisará quem estiver próximo. Os outros inimigos próximos então podem se juntar na inspeção, ou podem simplesmente ignorar, pois eles não viram nem ouviram nada, e ainda dizem que é só impressão do inimigo alertado.
Os inimigos são muito inteligentes, e investigam qualquer som e movimento que detectarem. Vez ou outra os inimigos não notavam certas ações minhas, mas foram raros momentos, na maioria do tempo, os inimigos são realmente implacáveis.
GRÁFICOS E SOM
Shadwen possui belo gráficos, apesar do visual simples. Os efeitos de texturas e iluminação são muito bons, mas o game possui um visual mais realista, diferente de Trine. Temos belas paisagens aéreas, com por-do-sol, noites estreladas com lua cheia, e chuva pesada. Os cenários e objetos possuem um visual mais cartunesco ao estilo Trine, mas sem as belas paisagens mágicas, com a predominância de paredões de pedra, ruas sujas e cheias de entulho e escuridão. As cutscenes do game rolam com animações em pinturas, com desenhos belíssimos que parecem feitos a mão.
Infelizmente o game não foi muito bem otimizado. Rodando com muito lag nas configurações mais altas. Meu PC não é dos melhores, mas decente o suficiente para jogar outros jogos que demandam de mais processamento gráfico sem problemas. E Shadwen, que apesar de ser muito belo, não é um game tão pesado para se rodar peca nesse quesito, sendo necessário dar uma baixada nos gráficos para que o game rode sem problemas, mas ainda assim, mantendo sua beleza. Porém isso deve ser corrigido em futuras atualizações que o game deverá receber.
No departamento sonoro o game manda bem. Na maioria do tempo os sons ambientes predominam, e tudo o que escutamos é o som das chuvas, dos passos e conversas dos inimigos, bem como de nossas próprias ações, mas quando a música se faz presente ela é bela e sutil, dando um tom de mistério e urgência para a jornada de Shadwen e Lily.
CONCLUSÃO
Shadwen é um ótimo game de stealth com mecânicas muito boas que poderiam e deveriam ser reutilizadas em futuros games, principalmente o recurso de controle do tempo combinado com o uso do grapling hook, que tornam a exploração do game realmente divertida.
Infelizmente por conta da inteligência artificial maluca de Lily, o game acaba sendo frustrante em determinados momentos. Afinal, nosso principal objetivo é guiar Lily, e quando nós fazemos nossa parte e ela não ajuda em nada, fica bem difícil. Mas nos momentos em que a IA de Lily funciona da maneira certa, o game é muito satisfatório e divertido. Então se você gosta de um bom game de ação furtiva, dê uma conferida em Shadwen, pois realmente vale muito a pena para os fãs do gênero!
Shadwen está sendo lançado hoje, dia 17 de maio, e tem versões para PC e Playstation 4.