Análise Arkade: Sifu, uma estilosa (e punitiva) jornada de vingança e kung fu

22 de fevereiro de 2022
Análise Arkade: Sifu, uma estilosa (e punitiva) jornada de vingança e kung fu

Sifu é um jogo que “sem querer” virou meme aqui no Brasil por conta de seu nome, digamos, peculiar. O humor, porém, para no título: com o controle na mão, Sifu é um jogo que não é para qualquer um.

Vingança e pancadaria

Sifu se baseia em filmes de artes marciais para nos mostrar uma clássica história de vingança. Basicamente, o pai e mestre do protagonista é assassinado por um de seus antigos aprendizes, e é nossa missão vingar a morte dele.

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Os vilões de Sifu

Claro que isso não será uma tarefa fácil: o vilão do game é “protegido” por aliados que são bons de briga, e tem centenas de capangas à sua disposição. Para chegarmos até ele, vamos ter que abrir caminho — na porrada, claro — por toda essa galera.

Morra. Envelheça. Tente de novo.

O que diferencia Sifu de tantos outros jogos de pancadaria que existem por aí é a passagem do tempo. Começamos nossa trajetória de vingança com 20 anos, mas a cada vez que morremos, nosso personagem envelhece um pouco. E ele não envelhece um ano de cada vez: o contador de mortes vai se acumulando e somando mais anos à sua idade a cada morte.

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Funciona assim: na primeira vez que você morre, gasta um ano de vida, e o contador de mortes vai ficar na posição 1. Morra de novo e o medidor de mortes vai para 2 + o ano que você envelheceria normalmente, ou seja, essa segunda morte vai custar 3 anos de vida, e assim sucessivamente.

Ou seja, a idade do personagem vai escalonando em progressão geométrica conforme o contador de mortes aumenta. É possível diminuir (ou mesmo zerar) a contagem de mortes “jogando bonito” e eliminando certos inimigos, mas isso demanda um bocado de habilidade do jogador.

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Envelhecer deixa os golpes do personagem mais fortes, porém ele aguenta menos dano conforme fica velho — e isso é um problema, pois os inimigos batem forte. Além disso, há uma idade limite, que fica entre os 70 e os 80 anos. Se morrer ali, é Game Over, e você terá que começar sua jornada novamente.

O recomeço não é do zero, no entanto: as pistas que coletamos ao longo do jogo são mantidas, bem como habilidades que foram destravadas permanentemente. Porém, para destravar uma habilidade de forma definitiva, você precisa comprá-la diversas vezes, o que é um saco, pois torna o progresso demasiado lento.

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Se envelhecer demais, você não pode comprar certas habilidades

Outra questão atrelada ao envelhecimento é que certas habilidades só podem ser aprendidas na juventude. Fique velho demais e você não poderá desbloquear certos golpes — simplesmente porque o personagem não é mais flexível o bastante para realizá-los. É mais uma ideia que acho legal na teoria, mas que na prática só atrasa a vida da gente.

Pancadaria estilosa e desafiadora

Sifu se descreve como um beat ‘em up, mas ele na verdade é muito mais complexo do que a maioria dos jogos do gênero. Na prática, ele parece combinar elementos de beat ‘em up com outros de roguelite, mas seu gameplay é denso e complexo de um jeito que pode rapidamente se tornar punitivo.

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Não diria que estamos diante de um Souls-like, mas os combates têm uma cadência muito própria que é difícil de dominar. O parry tem uma janela de tempo ridiculamente curta para ser efetivo, e além dele ainda temos rolamentos, esquivas e outras mecânicas que, sendo honesto, já usamos em centenas de jogos, mas aqui, tudo parece mais engessado, mais trabalhoso, demanda mais tempo para a gente pegar o jeito.

Verdade seja dita, os combos “normais” são simples e estilosos, mas logo passam a ser rechaçados com facilidade pelos inimigos. As habilidades especiais (e mais poderosas) que desbloqueamos demandam comandos do tipo ↑, ↑ + ataque, algo que não sai com facilidade e fluidez no calor dos combates, quando estamos tendo de lidar com vários oponentes simultaneamente.

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E já que estamos sendo sinceros aqui, vou desabafar: Sifu não é para mim. O jogo exige uma dedicação que eu não tenho. E, ainda que ele não seja um roguelite/roguelike de verdade (não há o fator procedural, por exemplo, as fases são sempre iguais), a repetição que a experiência demanda simplesmente não me agrada. Eu não estava me divertindo enquanto jogava, sabe? E, mesmo que jogar videogame para mim, que sou jornalista de games, seja trabalho, em geral eu tento tirar satisfação da experiência. Mas com Sifu não deu.

Que fique claro: tem muita gente por aí amando Sifu e o desafio masoquista que ele oferece. E não há nada de errado nisso. Comigo a fórmula não clicou, mas está clicando com muita gente. Então, tenha em mente que essa é só a minha opinião — e eu sou um cara que, por incrível que pareça, preza pela diversão (não pelo stress) quando jogo videogame. ¯\_(ツ)_/¯

Audiovisual

Sifu é um jogo extremamente cinematográfico em sua abordagem do kung fu e da plasticidade dos movimentos. E este, na minha opinião, é o maior acerto do jogo. É fácil reconhecermos trechos que homenageiam Oldboy — a famosa cena do corredor — e outras obras clássicas do gênero.

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Antes…
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E depois 😀

A estética do jogo nem tenta ser realista, mas seu visual estilizado é muito bonito, e concede muita personalidade ao jogo. Os golpes são doloridos, têm impacto, e a paleta de cores enriquece muito o visual do game, mesmo que os cenários não sejam particularmente inspirados.

O áudio enriquece ainda mais a experiência, com sons de socos e chutes que parecem saídos diretamente de um filme de artes marciais. Sifu utiliza o alto falante do controle do PS5 de formas bem interessantes. Ao se aproximar de uma caçamba de lixo na calçada, por exemplo, o DualSense emite um zumbido incômodo, como se estivesse cheio de moscas. É só um detalhe, mas denota capricho e valor de produção.

Conclusão

Sifu não é para mim. Pelo menos, não por enquanto. A desenvolvedora percebeu que a dificuldade punitiva do jogo tornou-se um divisor para a comunidade, e já prometeu que o jogo vai receber opções de dificuldade. Creio que isso vai permitir que jogadores menos empenhados (como eu), consigam curtir a experiência sem se frustrarem.

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Acredito que acessibilidade nunca é um problema e não deveria ser ignorada pela indústria, mas sei que a galera do “git gud” vai dizer que eu preciso ser melhor, que o jogo tem a dificuldade que o desenvolvedor planejou, e etc. E eles não estão errados. Eu só não tenho o tempo e a paciência que Sifu exige para ser melhor.

Se você tem mais tempo e empenho do que eu, e a repetição não te assusta, vai fundo. Sifu não me agradou, mas tem agradado muita gente. E não há certo ou errado nesta discussão. Há opiniões distintas, e quando se fala em análise e crítica, não há imparcialidade.

Sifu está disponível para PC, Playstation 4 e Playstation 5 (versão analisada). O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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