Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

8 de abril de 2017

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Parece que a indústria dos games renovou seu interesse por jogos de aventura e exploração 3D naquele estilo “jogo de mascotes”. Além do Yooka-Laylee que vem aí, recentemente foi lançado Snake Pass, confira o que achamos do game!

Um herói improvável

Depois de vermos ouriços, dragões, lagartos e bandicoots tornando-se heróis no mundo dos games, chegou a vez das cobras: o protagonista de Snake Pass é Noodle, uma simpática cobra colorida, que vai unir forças com o beija-flor Doodle para salvar a montanha de Haven Tor de uma escuridão misteriosa que anda bagunçando as coisas por lá.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Noodle e Doodle.

Para isso, você enfrentará 15 fases — através de 4 “mundos temáticos” — reunindo pedras mágicas conhecidas como Keystones. Cada fase possui 3 pedras, e você deve reunir todas elas para abrir o portal que concede acesso à próxima fase. Também tem umas bolhas e  medalhas para você coletar, mas elas não são obrigatórias.

Pensando como uma cobra

Esqueça ouriços que usam tênis de corrida, bandicoots de calça jeans, macacos de gravata e outros animais antropomorfizados: em Snake Pass, controlamos uma cobra que realmente se comporta como uma cobra. Ela não tem braços nem pernas, então não é capaz de pular, segurar coisas… pelo menos não da forma tradicional.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Noodle é uma cobra que realmente se move como uma cobra!

Em Snake Pass, nossa protagonista se move como uma cobra de verdade: rastejando. E este “pequeno” diferencial pauta toda a jogabilidade do game, bem como seus desafios: sem inimigos, chefes, nem nada do tipo, o que temos aqui são os chamados environmental puzzles, ou seja, o próprio cenário oferece os desafios que precisam ser superados.

Considerando a limitada mobilidade do nosso herói e a física bem aplicada do jogo, levar Noodle até certos objetivos acaba sendo uma tarefa árdua. Você precisa aprender a lidar com a “malemolência” da cobra para fazê-la perseverar, alternando comandos para fazê-la se erguer e usar seu corpo para apertar, enroscando-se em bambus, galhos e outras estruturas para ter apoio na hora de guindar seu corpo para plataformas e lugares altos.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Enroscar-se bem é o segredo para não cair.

Ao invés de ficar descrevendo como funciona o gameplay de Snake Pass, acho mais fácil mostrá-lo na prática. Confira um pouco do meu gameplay (uma fase completa) no vídeo abaixo:

Bacana né? Eu jogo videogames há quase 30 anos e acho que nunca vi nada parecido no mundo dos games (nem o clássico Snake, o “jogo da cobrinha” leva a mobilidade ofídica tão a sério) , então a Sumo Digital sem dúvida merece pontos por criatividade e ousadia. Existem ainda mecanismos para girar e bolas para empurrar, mas tudo foi pensado para poder ser manipulado por uma criatura sem mãos.

Infelizmente, porém, esta  mecânica tão ousada não chega sem alguns probleminhas…

Não é tão fácil quanto parece

Snake Pass é um puzzle game com ênfase em física, mas ele bem diferente de Portal e outros games com a mesma temática. Como seu objetivo é sempre o mesmo — coletar as Keystones –, o desafio em si fica em descobrir como chegar até elas, que vão sendo colocadas em lugares cada vez mais mirabolantes conforme você avança.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Espinhos e abismos: prepare-se para odiá-los. Repare na Keystone amarela lááá longe.

A questão é que conseguir chegar até elas muitas vezes é mais difícil do que deveria, simplesmente por conta da estrutura “molenga” da personagem. Ela nem sempre vai se enrolar como você gostaria, ou conseguir o impulso que seria necessário para cruzar um buraco. Por melhor que você se torne no ato de controlar a cobra, parece haver muita sorte e aleatoriedade envolvida no processo.

Como em diversos outros jogos 3D, a câmera é outro problema: ela vai se comportar bem na maior parte do tempo, mas quando você se enfia em um cantinho muito apertado, ela invariavelmente vai se perder, tornando complicado entender o que está sendo mostrado na tela. E considerando que neste jogo temos uma personagem capaz de se enrolar nas coisas, muitas vezes o ato de se enrolar torna-se complicado, porque a direção que você gira a alavanca não está “alinhada” com o posicionamento da câmera.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Noodle pode se aventurar também por baixo d’água.

Por fim, acho mancada que o level design tenha sido mal planejado: há basicamente um caminho disponível para cada Keystone. Então, caso você fique “travado” em um ponto particularmente complexo, simplesmente não vai poder progredir, pois quase nunca há uma “rota alternativa” para chegar ao seu objetivo.

Só para você ter uma ideia, eu passei cerca de 2 horas preso na 8ª fase — onde tinha que literalmente cruzar um abismo enroscando-me em bambus pendurados — e quando consegui passar, fiquei com a impressão de que foi mais por sorte do que por habilidade qualquer outra coisa. É um tipo de level design obtuso, que tende a tornar frustrante um jogo que deveria ser divertido. E se você der bobeira e não passar pelas (poucas) pedras luminosas que criam checkpoints, ainda corre o risco de perder suados minutos de progresso.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Aquela moeda é opcional, mas muitas Keystones ficam em lugares igualmente ingratos.

Com tudo isso eu quero deixar claro que, por mais fofinho e simpático que pareça, a dificuldade de Snake Pass acaba “jogando contra”. A criançada provavelmente vai achá-lo tedioso, e mesmo os marmanjos vão passar por momentos de raiva e frustração, seja pela câmera, pelo level design ou pelo “fator sorte” envolvido.

Audiovisual

Aqui não há do que reclamar: a Sumo Digital criou um jogo visualmente excepcional, colorido e carismático, que automaticamente nos faz lembrar de Crash Bandicoot, Donkey Kong e tantos outros jogos do tipo. Ainda que nenhum dos personagens esbanje personalidade para se tornar um “mascote”, eles sem dúvida são muito bonitinhos e bem animados. A forma fluida e ondulante com que Noodle se move é muito legal, ela realmente parece uma cobra real deslizando e se contorcendo.

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Evite seguir em linha reta, mova-se em ziguezague, é bem mais rápido.

Ah, e já que falamos em Donkey Kong, se você curte game music prepare-se para se emocionar, pois a trilha sonora de Snake Pass é assinada pelo lendário David Wise, compositor que que participou da criação das trilhas de diversos jogos da série Donkey Kong, bem como Battletoads, Star Fox e outras franquias lendárias. De fato, a trilha sonora deste jogo traz muito do feeling de Donkey Kong, usando e abusando de percussão e flauta para criar uma atmosfera que cai como uma luva no game.

Ouça aí a música tema do jogo:

https://youtu.be/Ytfihbl9pDE

O jogo não tem diálogos falados, e infelizmente não foi localizado para o nosso idioma — menus e legendas, tudo está em inglês. Se serve de consolo, não temos realmente uma grande história se desenvolvendo, de modo que qualquer um pode curtir o game em inglês, mesmo, sem problemas.

Conclusão

Snake Pass é sem dúvida um jogo ousado. A Sumo Digital esmerou-se em criar uma mecânica diferenciada e inovadora, e ela sem dúvida conseguiu criar algo diferente de tudo o que já vi. Porém, é triste que um gameplay tão engenhoso e bem executado acabe comprometido por um level design obtuso e uma câmera inconstante que, somados ao “fator sorte”, tornam o game uma experiência bem mais difícil e frustrante do que ele deveria ser.

Análise Arkade: pensando como uma cobra no simpático Snake Pass

Se você está em busca de um jogo que traz uma mecânica realmente diferente, Snake Pass sem dúvida vai te surpreender. Porém, fique avisado que, passado o deslumbramento inicial e a “moleza” das primeiras 3 ou 4 fases, ele se torna difícil bem rápido, e infelizmente a dificuldade aqui é daquele tipo que não depende apenas das suas habilidades para ser superada.

Snake Pass foi lançado em 28 de março, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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