Análise Arkade – Sniper Elite: Resistance, um prato requentado e com o mesmo tempero de sempre

Revisitando a análise de Sniper Elite 5 que eu escrevi para a Arkade lá em 2022, já no título eu entregava: o jogo refina a fórmula da franquia, mas traz poucas novidades. Isso ainda é verdade em 2025, com a chegada de Sniper Elite: Resistance.
Aqui, no entanto, isso é um pouco mais compreensível. Repare que não temos um “6” no título. Sniper Elite: Resistance ocupa um posto intermediário, servindo como um spin off que traz como principal novidade um novo protagonista: Harry Hawker.
Bem-vindo à Resistência
Coadjuvante do modo cooperativo em títulos anteriores da franquia, Hawker estrela sua própria missão — que, na verdade, é a “missão secundária executada pelo coadjuvante” — uma vez que a trama corre em paralelo aos eventos de Sniper Elite 5.
Basicamente, enquanto o herói Karl Fairburne estourava cabeças de nazistas e desmantelava o Projeto Kraken em uma região da França, Hawker fazia o mesmo em outro canto do país. O alvo aqui é a Kleine Blume, uma espécie de veneno neural que o Führer planejava usar contra os Aliados.

A Resistance do título, claro, envolve um grupo de rebeldes que não está disposto a se entregar sem luta. Hawker se junta a eles e vai usar seus talentos de atirador de elite, para apoiar a causa — o que envolve, claro, explodir testículos cabeças de muitos nazis.
Caçando nazistas do seu jeito
Embora seja, essencialmente um jogo de tiro em terceira pessoa, desde seu excelente quarto episódio a série Sniper Elite flerta com o chamado “immersive sim”. Ou seja, você tem um mapa, uma missão principal e alguns objetivos secundários. Como chegar em cada um deles, em qual ordem cumprir os objetivos ou como cumpri-los, tudo isso fica a seu critério.

É uma abordagem válida, especialmente porque permite que, mesmo uma fórmula requentada tenha um gostinho novo. Duas pessoas que jogarem a mesma campanha poderão ter experiências bastante distintas, simplesmente por utilizarem estratégias diferentes.
A campanha conta com 9 missões principais, que nos permitem explorar 7 mapas no estilo sandbox. Sempre temos total liberdade para decidir como agir. Prefere ser furtivo ou explosivo? Vai cumprir as missões secundárias, ou se focar nos objetivos principais? Munição letal ou não letal? Sniper ou metralhadora?

Verdade seja dita, os objetivos ainda são meio que os mesmos: se infiltrar em bunkers, coletar evidências, encontrar documentos, sabotar armas, eliminar alvos estratégicos. Coisas que a gente já fez antes em Sniper Elite, mas que seguem sendo divertidas porque a gente escolhe como vai fazê-las.
Agulha no palheiro
O que nem sempre é divertido é um tipo de missão secundária recorrente (até demais) que envolve encontrar um objetivo minúsculo em uma área enorme. Ali pela segunda missão, há uma sidequest envolvendo encontrar dois documentos em um enorme hotel que deve ter uns 6 andares, dezenas de corredores e infindáveis quartos iguais.

Há mesas com papeis (supostamente) importantes por todo lado, mas precisamos achar os papeis certos, nas mesas certas. Com um mapa 2D que simplesmente coloca um ponto de interesse em uma região, sem levar em conta os andares e cômodos de uma construção, encontrar estes papeis levou muito mais tempo do que deveria.
“Era só não fazer, afinal é objetivo secundário”. É, eu sei. Mas, como Sniper Elite é um jogo “de fases”, eu gosto de fazer tudo antes de ir para a próxima. Sem contar que, geralmente cumprir os objetivos secundários torna o objetivo principal daquela área mais fácil, então vale a pena fazer estas sidemissions.
Coop, invasão, PvP propaganda
Como de praxe, joguei boa parte da campanha de Sniper Elite: Resistance em coop online, e esta segue sendo a minha recomendação. Jogar com um amigo deixa tudo mais legal, e permite que um dê cobertura ao outro, ou que estratégias mais elaboradas sejam traçadas.

O coop não é novidade, assim como o modo Invasão, que foi introduzido no jogo anterior e retorna. Deixar seu jogo aberto a invasões basicamente lhe permite invadir (ou ser invadido) por outro jogador, para então caçá-lo ( ou ser caçado) É um twist que funciona muito bem, agregando uma dose extra de tensão e adrenalina às missões e amplos mapas da campanha.
A única modalidade realmente nova são as missões Propaganda. Ao longo da campanha, podemos encontrar cartazes com propaganda da Resistência. Pegá-los libera missões (acessadas fora da campanha, pelo menu principal) onde assumimos o controle de membros da Resistência e devemos cumprir objetivos com tempo contado, tipo infiltrações 100% stealth ou causar o maior estrago possível com um rifle sniper em uma posição privilegiada. Nada revolucionário, mas é “mais” conteúdo.

Somado a isso, o jogo segue oferecendo boas partidas PvP em seus modos competitivos. Esta nunca é a minha praia, então não tenho muito a dizer — exceto que, quem gosta, vai se sentir em casa, uma vez que tudo é muito parecido com o que já vimos antes.
Audiovisual
Sniper Elite: Resistance segue rodando na mesma engine proprietária (Asura) que a Rebellion usa para criar praticamente todos seus jogos há pelo menos uns 15 anos. Uma engine que está sempre sendo atualizada e melhorada, claro… mas ainda assim, uma engine que já parece um tanto datada.

O problema talvez nem seja a engine em si, mas o fato de que Sniper Elite: Resistance segue “ancorado” na geração passada — o jogo saiu também para PS4 e Xbox One. Não quero soar como um babaca elitista, mas a verdade é que lançar um jogo de 2025 em consoles de 2013 impõem certos sacrifícios e limitações que impedem que haja uma melhoria gráfica realmente notável.
Isso não quer dizer que Sniper Elite: Resistance é um jogo feio — longe disso. Mas, ele não parece muito diferente de Sniper Elite 4, lançado 8 anos atrás. Graficamente, não há retrocesso, mas também não há evolução. Certos elementos que antes eram impressionantes já não causam o mesmo impacto. Compreensível em se tratando deum spin off, mas realmente espero que um vindouro Sniper Elite 6 eleve o patamar.

O que segue sendo um retrocesso é a ausência de dublagem em português brasileiro. Sniper Elite 4 teve um carinho especial — e rendeu alguns memes, é verdade –na localização que nenhum jogo posterior a recebeu desde então. Aqui temos menus e legendas em português, mas nada de vozes.
No mais, o departamento sonoro e a trilha seguem cumprindo seu papel. Ainda é possível sabotar motores ou aproveitar explosões e trovões para mascarar os disparos, e a visão raio-x nas mortes mais emblemáticas (incluindo explosões e execuções na faca, não apenas tiros de longa distância) segue agregando uma camada extra de violência que não perde a graça.

Sniper Elite 5 e meio
Sabe aquela comida que você adora, mas já comeu tantas vezes que perdeu um pouco da magia? Sniper Elite: Resistance é tipo isso: um prato requentado que ainda é saboroso, mas não surpreende, pois usa o mesmo tempero que a gente já conhece. Um jogo bom, mas que não parece realmente novo — e funcionaria, talvez, como uma expansão de Sniper Elite 5.
Nada aqui é ruim ou mal feito, mas também não é novo. Quase tudo o que Sniper Elite 5 tinha, também tem aqui, e o fato de ser um spin off faz com que o jogo inevitavelmente pareça menos importante. Este não é Sniper Elite 6, afinal, parece mais um Sniper Elite 5 e meio.

A fórmula Sniper Elite ainda funciona, mas já dá sinais de cansaço. Em algum momento, estourar testículos nazistas em raio-X vai ficar chato. A Rebellion é boa no que faz, mas espero que ela perceba que é preciso evoluir — e se libertar das amarras da geração passada — para que o prato principal de seu cardápio não acabe ficando insípido.
Sniper Elite: Resistance está disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada), Playstation 4, Xbox Series e Xbox One.