Análise Arkade: SoulCalibur VI coloca a série de volta nos eixos (e ainda traz o Geralt)
Uma das mais clássicas franquias de luta está de volta: SoulCalibur VI revisita a clássica lenda das espadas gêmeas SoulEdge, e faz isso com muita competência, confira nossa análise!
Um jogo com duas campanhas
Desde que o reboot de Mortal Kombat foi lançado, tornou-se meio que obrigatório para qualquer jogo de luta que se preza trazer um modo história minimamente interessante. A série SoulCalibur sempre teve uma mitologia bem delineada e um lore bastante rico, mas não era um game que realmente se preocupava em apresentar isso ao jogador de forma interessante, trazendo uma história muito pautada por textões e diálogos.
SoulCalibur VI chega para mudar isso: temos aqui não apenas uma campanha, mas duas, que ainda que abordem o mesmo tema — o paradeiro das lâminas Soul Edge e sua influência no mundo –, mostram os fatos de pontos de vista completamente diferentes, o que é bem legal, e contribui ainda mais com o lore da franquia.
Ainda que seja o sexto episódio numerado da franquia, SoulCalibur VI pode ser meio que considerado um reboot da série, pois se mostra disposto a revisitar as origens da saga, e, com isso, aproveita para trazer boa parte de seu elenco original para a briga. O modo Soul Chronicles é justamente isso: a história cronológica de cada personagem, e sua relação com as lâminas Soul Edge.
Já o modo Libra of Soul nos permite criar nosso próprio guerreiro, que é então inserido no lore daquele universo. Com um jeitão de RPG, este modo de jogo tenta mostrar como os acontecimentos cronológicos da série reverberam pelo mundo, e como afetam a vida de guerreiros “não famosos”.
Há até um sistema de escolhas morais aqui, que alteram consideravelmente os rumos que a história toma e as batalhas que o jogador enfrenta. Estas escolhas são representadas pela “Balança da Alma“, e conforme você toma decisões, verá os pratos pendendo para o lado do bem (escolhas azuis) ou do mal (opções vermelhas), o que agrega inclusive um fator replay a este modo de jogo.
Elenco clássico e muita pancadaria
Quando foi lançado, lá em 2012, SoulCalibur V gerou muita revolta ao colocar dois novatos para protagonizar sua campanha, e o fato de “renovar o elenco” com pupilos, aprendizes e herdeiros de diversos personagens mais famosos definitivamente não foi visto com bons olhos pelos fãs — a gente mesmo reclamou disso em nossa análise do game.
Os produtores claramente perceberam a besteira que fizeram, e em SoulCalibur VI trazem de volta quase todos os personagens mais emblemáticos e queridos da série, e ainda acrescentam alguns novos guerreiros sem que isso pareça forçado. Além do convidado Geralt of Rivia, Azwel e Grøh engrossam a lista de novos rostos presentes em um rol de personagens que, de resto, está cheio de velhos conhecidos como Mitsurugi, Taki, Cervantes, Voldo, Nightmare, Astaroth, Talim, Sophitia, entre outros.
Além das duas campanhas que descrevi lá em cima, temos modos de jogo tradicionais, como Versus, Arcade, Treinamento e o componente Online, onde jogadores de todos os cantos do mundo podem se desafiar para combates rápidos ou organizarem torneios, podendo definir regras específicas para suas partidas.
Gameplay cadenciado
Independente do modo de jogo, os fãs que já conhecem o estilo de gameplay da série SoulCalibur não terão do que reclamar: mecanicamente, o jogo continua bastante equilibrado e bem resolvido. Cada personagem possui uma postura de combate única, e seus ataques são cadenciados de acordo com a arma que empunham.
SoulCalibur não é muito sobre combos, mas sobre contra-ataques e criação de oportunidades. Há um novo tipo de ataque chamado Reversal Edge que deixa as coisas bem estratégicas: misturando uma técnica de parry com uma espécie de “duelo” em slow motion, a nova habilidade permite esquivas e quebras de defesa únicas, e se utilizado na hora certa, pode virar uma partida.
Para completar, agora cada guerreiro possui um super ataque único, que é não só devastador como também muito estiloso, com muitos efeitos especiais e ângulos de câmera estilosos. É válido ressaltar que nenhuma dessas novidades descaracteriza o jogo, de modo que as novas mecânicas parecem evoluções naturais de uma série que sempre demandou alguma habilidade dos jogadores.
Você deve estar curioso para ver o Geralt em ação, né? Relaxe, te mostro um pouco do gameplay dele, com direito a Reversal Edge e golpe especial:
É interessante lembrarmos que a série SoulCalibur ainda tem uma presença meio tímida em torneios e eSports, mas eu não me surpreenderia se este novo título figurasse entre os novos títulos disponíveis no EVO e em outros campeonatos importantes. O gameplay está bem afiado, o balanceamento idem, e as novidades realmente conseguem deixar as lutas mais imprevisíveis e emocionantes.
Audiovisual
A série SoulCalibur sempre foi referência em termos de qualidade visual, e o novo game honra este alto padrão, oferecendo cenários extremamente bonitos e detalhados, com pisos destrutíveis e mudanças que alteram sutilmente o background no decorrer dos rounds. Há até uma pseudo passagem de tempo que altera a iluminação, como se a luta estivesse rolando no decorrer do dia, e o sol estivesse mudando de posição no céu.
Os modelos dos personagens continuam soberbos, com trajes cheios de texturas e armaduras estilosas e detalhadas. Aliás, agora as roupas dos lutadores também vão se deteriorando conforme eles apanham, o que pode tornar as coisas mais… reveladoras, se é que você me entende. ( ͡° ͜ʖ ͡°)
O departamento sonoro também segue a cartilha da franquia, com um narrador cheio de frases poéticas e uma trilha sonora orquestrada cheia de pompa. Os sons da pancadaria em si também são satisfatórios, bem como as vozes e gritos de guerra dos personagens. O jogo não chega dublado ao Brasil, mas traz menus e legendas em nosso idioma.
Conclusão
Não é sempre que vemos uma empresa realmente disposta a ouvir os fãs e corrigir seus erros, mas sem dúvida a Projejct Soul fez a lição de casa direitinho, e se empenhou em corrigir tudo o que foi criticado no último game para entregar uma experiência da qual praticamente não há do que reclamar, com personagens famosos, muito conteúdo single player e a pancadaria cadenciada característica da série.
SoulCalibur é um dos poucos remanescentes dos jogos de luta realmente tridimensionais que existem atualmente — e provavelmente é o único jogo focado em combates com armas brancas e que praticamente ignora magias e projéteis –, o que faz dele uma joia rara em meio a tantos outros fighting games populares.
Mais de 20 anos após seu início — o primeiro jogo, Soul Edge, é de 1995, enquanto o primeiro SoulCalibur veio em 1999 — é seguro dizer que a essência da franquia permanece intacta, mas ela conseguiu reinventar-se, respeitando suas origens sem deixar de dar espaço para boas novidades. Desde já, estou bem ansioso pelo que o futuro reserva para o jogo.
SoulCalibur VI foi lançado em 19 de outubro, com versões para Playstation 4, Xbox One e PC.