Análise Arkade: Spirit of the North traz uma mistura de relaxamento e frustração
Eu tenho uma queda por jogos onde o protagonista é um cão (ou um lobo, raposa, etc). Não por acaso, Okami é um dos meus jogos favoritos (não só por ter uma loba como protagonista, Okami é um baita jogo). Por esta minha preferência peculiar, eu estava bem animado por este Spirit of the North. Quer saber o que eu achei? Então confira nossa análise!
As duas raposas
Spirit of the North é mais um daqueles jogos que não tem realmente uma história, mas uma premissa. Nenhuma palavra é dita ao longo do jogo: controlamos uma raposa vermelha que está explorando as planícies geladas da Islândia, e de repente tem seu destino entrelaçado com o de uma entidade espiritual — representada por uma raposa feita de luz azul.
Juntas (e dividindo o mesmo corpo), a raposa de carne e osso e a raposa espectral irão se aventurar por bosques gelados, ruínas e campos de neve, purificando a natureza e livrando o ambiente de cancerosas bolhas vermelhas que estão espalhando raízes negras por tudo.
Ainda que essa temática de “animal salvando seu habitat” não seja exatamente inovadora (o próprio Okami tem um pouco disso), ela ainda funciona, e ao unir um jogo sem combates — e até sem história — a este conceito, cria-se uma jornada bastante relaxante… ainda que um pouco frustrante. Vamos falar melhor sobre cada um destes aspectos.
A parte relaxante
Spirit of the North é um jogo com gameplay simples. O jogo é dividido em capítulos, e cada um deles se passa em uma área ampla para ser explorada. O trabalho se resume basicamente a seguir em frente, interagindo com elementos do cenário que nos permitam prosseguir.
Nossa raposinha pode basicamente correr, nadar, saltar, latir e abanar o rabo. Ao latir perto de determinadas flores azuis, ela absorve energia espiritual, que é utilizada para interagir com pedras ritualísticas que podem nos ajudar a abrir passagens.
Conforme avançamos pelos capítulos e interagimos com estátuas e monumentos sagrados, vamos ganhando novas habilidades, como um “dash espiritual”, que pode ser usado para alongar o pulo, a capacidade de “sair do corpo” físico da raposinha por alguns instantes (para acessar lugares que seriam impossíveis para ela) e uma versão mais poderosa do latido, que é capaz de expurgar a coisa escura e maléfica que contamina os ambientes.
Esse lado do jogo — explorar, descobrir, purificar — é legal e muito relaxante. É aquele tipo de jogo gostoso de jogar após um dia estressante, só para dar uma espairecida. Sem combates ou inimigos, seria um prazer simplesmente correr pelo mundo na companhia das raposinhas. O problema é que além da parte relaxante, temos também…
A parte frustrante
Spirit of the North tem alguns problemas de game design que quebram um pouco a magia que ela poderia ter. Por exemplo: os cenários são amplos, e não necessariamente lineares. Sem nenhum tipo de bússola ou minimapa, é normal a gente ficar meio perdido, sem saber exatamente para onde ir.
Certos jogos driblam isso de formas eficazes: em alguns casos, temos a “visão de raio x “, que evidencia pontos de interesse no mapa — Tomb Raider e sua “visão de sobrevivente” fazem um bom trabalho nisso. Em outros casos, temos o puro e simples level design, que consegue direcionar o jogador para onde ele deve ir de maneira natural.
Spirit of the North não tem nenhum nem outro. Ele nos larga em áreas amplas com quem diz “se vira”, sem muitas informações ou indicações. O lance é explorar até achar algo que pareça útil. E como há muitas paredes de pedra e ruínas pelos cantos, encontrar as pedras ritualísticas pode dar um bocado de trabalho.
Outra coisa pentelha é o lance de latir perto das flores. Cada vez que você absorve a energia espiritual, ela só pode ser usada uma vez. Então, se houver 4 pedras para ativar pelo cenário, você vai ter que ficar indo e voltando até as flores para “recarregar” seu poder. Fica chato depois de um tempo.
Somados, estes elementos acabam indo contra a vibe relaxante do jogo, e o que deveria ser uma jornada agradável acaba tornando-se frustrante e enfadonho em alguns momentos.
Audiovisual
Spirit of the North é um jogo muito bonito. Ainda que nos detalhes fique evidente que ele não é um jogo de grande orçamento, os produtores conseguiram criar um mundo que é relativamente realista, mas ao mesmo tempo está sempre com um pé na fantasia.
Nossa raposinha é muito bem animada, e se comporta (na medida do possível) como um animal real. A neve sem graça das primeiras áreas do jogo logo dá lugar a paisagens mais vistosas, com muitas árvores, cachoeiras e ruínas.
Sem vozes nem diálogos, sobra para a trilha e os efeitos sonoros a missão de carregar o jogo. E no geral ele faz um bom trabalho, com trilhas em piano, violino e violoncelo que combinam muito bem com a pegada mística do jogo.
Minha ressalva é no fator “aleatório” da trilha. Sabe como Journey tem uma música única e sensacional para cada trecho da jornada, que realmente potencializam a experiência e as emoções que ele quer passar? Aqui não há esse cuidado: as músicas são bonitas, mas tocam de forma desordenada, sem nenhuma preocupação em combinar com o que está rolando na tela. Uma pena, o jogo sem dúvida ganharia pontos se fosse mais “dramático”.
Conclusão
Embora eu tenha apontado um bocado de problemas, no geral eu gostei do tempo que passei com Spirit of the North. É um jogo de nicho — basicamente um walking simulator canino com alguns environmental puzzles –, mas que sem dúvida tem predicados suficientes para cativar quem aprecia este tipo de aventura, e é capaz de relevar alguns de seus problemas.
Eu gostaria que ele fosse um pouco menos obtuso em apresentar ao jogador seus objetivos, e algumas mudanças de game design (e level design) sem dúvida deixariam a experiência como um todo muito mais agradável.
Mas, se o que você precisa é de um jogo “good vibes”, sem violência, sangue e explosões, vai encontrar aqui uma boa pedida. Demanda alguma paciência, mas sem dúvida é bem relaxante.
Spirit of the North foi lançado exclusivamente para Playstation 4 no início de novembro. O jogo está 100% em inglês (mas como não há diálogos nem nada do tipo, isso nem chega a ser um problema).