Análise Arkade – Spiritfarer surpreende com gameplay baseado na empatia
Cuidar de pessoas. Algo que ocasionalmente, fazemos em nossas vidas, mas que não é algo muito comum em se ver nos games. Com um conceito de “jogo de fazendinha”, Spiritfarer traz essa iniciativa, em um game que surpreende, de diversas formas. Não apenas por um gameplay baseado na empatia, mas também pelo seu excelente funcionamento, e seu visual, que conta com animações excelentes.
Entre gerenciar recursos e elementos em sua “fazendinha” que na verdade é um navio, existe um game que tem como grande objetivo praticar a empatia, ouvir as pessoas, suas necessidades e fazê-las se sentir melhor. O game da Thunder Lotus busca a diferença em um mundo (gamer e fora dos games) no qual a raiva, a falta de empatia, e a agressão gratuita estão a cada dia mais “transparentes”, das ruas para os tweets.
Em Spiritfarer, você é Stella. Uma pessoa que tem como objetivo, cuidar de almas próximas da morte, e em partida para o “outro mundo”. Sua missão, é a de ouvir todas estas pessoas, e cuidar delas. Ao mesmo tempo que você leva conforto e alimento, você também vai conhecendo um pouco mais sobre suas vidas. Assim, é possível ver um enredo de conexões, amizade e o famoso “se colocar no lugar do outro”.
Uma “fazendinha de barco” com almas precisando de conforto
Jogou Stardew Valley? Animal Crossing? Pois bem, o princípio de Spiritfarer é o mesmo. A diferença estão nos elementos e conceitos. Ao invés de uma fazendinha, um barco. Ao invés de estábulos, galinheiros ou plantações, casas, cozinhas, locais de trabalho e pequenos locais de plantação (sim, aqui você também planta e colhe). E ao invés de plantas e animais para serem cuidados, almas.
O princípio de gameplay é o mesmo. Você tem um mundo à sua disposição, com cidades e locais para explorar. Neles, você encontra itens especiais, pessoas que progridem a sua história, e recursos para o seu barco. Recursos estes que também podem ser encontrados em caixas perdidas pelas águas, ou compradas de vendedores. Entre os recursos, podem ser encontrados madeira, frutas, sementes, garrafas, peixes, entre outros.
Recursos adquiridos, você pode gerenciá-los. É possível cozinhar, transformar a madeira em construções, tear para fazer tecido, entre muitas outras coisas. Tudo isso com um fim em comum: oferecer conforto para as almas que você carrega em seu barco, em suas jornadas finais. Todos os que te acompanham tem necessidades, últimos desejos e emoções, que devem ser gerenciados por você.
Você terá que fazer tudo, literalmente, por eles. As “missões” envolvem esta entrega de consolo. Os personagens ficam felizes ou tristes, de acordo com o andar da jornada, e cabe a você identificar suas necessidades e carências, fazendo o possível para deixá-los melhores. Pode ser construir um local para passarem a noite, fazer algo que façam com que eles lembrem de bons momentos, ou dar a eles que eles mais gostam, como uma comida em especial.
E, como visto, o centro do game são as almas que você tem que levar até o seu merecido fim.
Uma jornada sobre o fim da jornada
Stella recebe uma missão. A de levar as almas para o seus devidos finais, em paz. Assim, os personagens que levam o enredo do game para a frente. Em meio a um gameplay comum de jogos “de fazenda”, você tem um gameplay muito familiar para quem gosta desse tipo de jogo. O único porém, é que aqui, você não “ganha nada”. Tudo o que você produz no game, é para ofertar a seus acompanhantes da jornada.
Se você cozinha, constrói, viaja e conversa, é tudo para cuidar deles. Soma-se a isso um trabalho artístico impecável, com visual 2D desenhado a mão com direito a mudança de ciclos do dia e tempo, minigames divertidos como pegar raios do céu ou encarar uma “tempestade de água-viva”, e uma trilha sonora que acalma, sendo bem suave, temos aqui um jogo extremamente interessante.
Nos games, geralmente falando, os nossos objetivos envolvem “ganhar”. Fazer mais pontos, mais gols, ganhar mais dinheiro, ou, no mundo online, especialmente, ter o maior ranking possível. Não é errado, pois somos competitivos, e está tudo bem. Mas, um game cujo objetivo é agir com empatia, e trabalhar e produzir apenas para os outros (fazer um cafezinho, por exemplo), enquanto sua “recompensa” é apenas vê-los felizes, é algo bem diferente, em nosso mundo “gamer” tão competitivo.
É um game que, além de bonito e divertido, e que conta com um gameplay caprichado e bem feito, ainda bota a gente pra refletir. É um game que nos faz, a cada conversa, pensar sobre a vida de cada um dos que ali estão e, mesmo se “jogos bonitinhos” não for a sua praia, conta com recursos bacanas que dão ao game uma qualidade e sensação de algo bem-feito, raramente visto no momento atual da nossa indústria, com games apressados e que são “corrigidos pelo caminho”.
Spiritifarer é diferente por vários motivos. Não é um game que preza pela pressa, e muito menos pela ansiedade de “terminar ele para começar o próximo”. Saiba que, quem se aventurar a jogar este game, não terá o fator tempo como o principal para jogá-lo. Na verdade, você nem vai se importar se o jogo vai acabar ou não. Pois, apesar de parecer bobeira, cuidar de alguém pode ser uma recompensa tão gratificante, e viciante, se falarmos em games, do que cumprir missões em outros tantos games que jogamos tanto.
Spiritfarer já está disponível, para Playstation 4, Xbox One (disponível no Game Pass), Nintendo Switch, Google Stadia e PC.