Análise Arkade: acabe com o inverno eterno na aventura épica de Spirits of Spring (iOS)
A Minority, que trouxe ao mundo Papo & Yo, apresenta mais um excelente jogo para os nossos dispositivos móveis: Spirits of Spring, com arte de primeira e quebra-cabeças inteligentes. Vem com a gente restaurar a primavera em uma história bacana de conscientização.
“Ah, se todos tivessem esse carinho ao fazer jogos móveis”, foi o que me peguei pensando ao jogar Spirits of Spring. Temos uma plataforma sólida e muitos projetos no mercado móvel de games, mas infelizmente a enxurrada de títulos sanguessugas de cartão de crédito ou feitos de maneira sempre igual afasta o jogador mais exigente dessa plataforma, pois a tal criatividade tão desejada que poderia reinar nos celulares e tablets hoje estão mais em computadores e consoles, graças aos apoios que os indies recebem por lá.
Mas te digo: dê uma chance ao jogo em questão. Sério, Spirits of Spring é bom demais. A começar pelo seu visual, leve e caprichado. Contando a história do jovem e atrapalhado índio Chiwatin, as florestas e desfiladeiros canadenses pelos quais o personagem tem que atravessar são bem feitos e transmitem todo o clima desejado, desde a névoa enquanto é inverno até as cores fortes e alegres quando a primavera é restaurada, lembrando até outro jogo que tem um trabalho artístico perfeito: Okami.
O controle também é simples e não atrapalha nunca: a cada borda do aparelho você arrasta e movimenta o personagem, sem alavancas, sem “erros”. Talvez o único “erro” aqui é proposital, pois Chiwatin é um pouco atrapalhado e ele costuma escorregar e cair muito durante o jogo. Pensei que era culpa minha no começo, mas no decorrer da história, os inimigos tiram sarro da cara do protagonista por cair tanto e ser tão desajeitado.
E no fim, o que parecia ser um erro se mostra parte de uma história muito bem contada. Além do objetivo principal, que é restaurar a primavera no lugar afastando o inverno eterno trazido pelos corvos malvados, uma mensagem de conscientização bem interessante faz parte do jogo, dizendo ao jogador o que o finado Jair Rodrigues cantava: “Deixe que digam, que pensem, que falem / Deixa isso pra lá vem pra cá o que que tem / Eu não tô fazendo nada nem você também…”. Inclusive o roteiro foi preparado a partir de depoimentos de pessoas que sofreram algum tipo de bullying na vida e o jogo além de ser bom ainda deixa uma mensagem de reflexão sem ser apelativo para todos que experimentam seus quebra-cabeças…
… que por sinal são também bem planejados. A mecânica básica do jogo é: procure pelo cenário espíritos sobreviventes da primavera, use-as para criar pontes para atravessar os cenários, ache a árvore morta e restaure sua vida com ajuda dos espíritos coletados. Para sua ajuda, um coelho e um urso podem ajudar, explorando melhor o cenário: o coelho pode usar as tocas para alcançar mais locais e o urso pode nadar, ampliando as capacidades de exploração. Até existe vez ou outra um “espírito destruidor” que serve para destruir árvores e abrir caminho, mas jogando o game, te garanto que você não vai se sentir bem ao fazer isso. Mas no geral, eles são inteligentes e não são tão difíceis, mas se mostram trabalhosos em alguma parte. Mas ao invés de te fazer desistir, eles fazem é com que você queira jogar mais e mais.
O som do jogo também é interessante. Obedecendo a instrução de jogar com fones de ouvido, você tem a disposição sons bem elaborados e músicas que te trazem a todo esse clima indígena da parte de cima do globo. O som tranquilo de uma floresta “respirando” ou de uma cachoeira jorrando água até serve como uma terapia de relaxamento. É talvez uma das melhores opções para se jogar ao voltar no metrô/ônibus após um dia estressante de trabalho.
Spirits of Spring é uma grata surpresa da Minority, é equilibrado (de maneira positiva) em seus aspectos, conta com uma direção artística impecável e ainda traz essa citada mensagem bacana contra o bullying. Vale cada centavo investido na App Store e deveria sim ser lançado o mais rápido possível para PC e Android (segundo a página oficial do jogo confere a possibilidade), já que hoje ele está disponível apenas para dispositivos da Apple. É um daqueles jogos que deveria servir de exemplo para os “caça-níqueis” mal feitos que existem por aí!