Análise Arkade: State of Decay 2 é um árduo exercício de resiliência

21 de maio de 2018

Análise Arkade: State of Decay 2 é um árduo exercício de resiliência

Entra ano, sai ano, e os zumbis continuam sendo extremamente populares no mundo dos games. E alguns vão além do básico, oferecendo experiências bem complexas de sobrevivência. Com State of Decay 2, a Undead Labs aproveita o know how adquirido com o primeiro game entrega uma jornada de sobrevivência ainda mais desafiadora, mas que demanda perseverança e empenho do jogador para funcionar.

O início é cruel

Em State of Decay 2, já começamos tendo que escolher uma dupla de personagens com atributos aleatórios. Feito isso, já nos primeiros minutos de jogo um dos personagens dessa dupla é contaminado pela “peste de sangue”, colocando o jogador em uma corrida contra o tempo para matar zumbis “especiais” na esperança de fabricar uma cura.

Mas não é só isso: antes, você deve construir uma enfermaria, para ter onde tratar o doente. E é bom também ter alguma comida para alimentar o grupo. E medicamentos. E munição. E combustível. Tudo isso enquanto hordas de zumbis se proliferam ao redor da sua base, saqueadores levam seus suprimentos e grupos de sobreviventes oferecem trocas duvidosas de recursos.

Análise Arkade: State of Decay 2 é um árduo exercício de resiliência

Eu cheguei a mencionar que, além de tudo isso, devemos lidar com o “gênio” dos sobreviventes, que podem criar brigas, ou acabarem abandonando o grupo se ficarem frustrados e deprimidos? Isso, meu caro, é apenas um panorama geral do que te espera em State of Decay 2.

O jogo sem dúvida não é um passeio no parque, pois tudo é definitivo: quem morre, não volta mais… ou melhor, volta, mas como zumbi. Conviver com o peso de suas perdas e decisões equivocadas faz parte do processo, e pode acabar tornando o jogo punitivo e cruel. Porém, se você tiver paciência e perseverança, encontrará aqui uma experiência bastante densa (ainda que formulaica) de sobrevivência em mundo aberto.

A rotina é cruel

State of Decay 2 começa “nos obrigando” a aprender o básico pois ele se apoia em rotinas que devemos respeitar se quisermos sobreviver. Manter “a despensa cheia” é essencial para a sobrevivência e a moral do grupo, de modo que excursões em busca de alimentos, remédios e outros recursos correspondem ao cerne do game.

Claro que isso envolve também uma saudável dose de matança de zumbis:

O mapa vai sendo descortinado daquele “jeitão Ubisoft“: escalamos torres e outdoors para podermos enxergar pontos de interesse pelos arredores. Casas, lojas, mercados, oficinas, garagens, farmácias, postos de gasolina — todo lugar é uma potencial fonte de recursos… como também pode esconder uma cilada, tipo um núcleo pestilento, que é meio que o “ponto de respawn” da infestação, e deve ser destruído para conter as hordas de desmortos.

Ocasionalmente você pode esbarrar em outros sobreviventes, que irão lhe pedir coisas e podem (ou não) acabar fazendo  parte do seu grupo. Mais gente significa mais braços para trabalhar, mas também mais bocas para alimentar. E, considerando o eterno estresse a que todos estão submetidos, os nervos à flor da pele de um podem facilmente contaminar toda uma comunidade.

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“Estado da base: Alegre”. É bem difícil ver isso na tela.

Isso quer dizer que introduzir um novo sobrevivente no grupo é uma decisão cruel, que deve ser ponderada com muito cuidado. Mas, você tem coragem de negar ajuda a um necessitado? Isso vai ainda mais longe, pois você também pode exilar sobreviventes briguentos ou infectados, mas (obviamente) isso também acaba afetando o moral da equipe.

Conforme utiliza determinados personagens, eles ganham pontos em habilidades distintas — tiro, luta, ou condicionamento físico, por exemplo –, e podem receber upgrades nestas habilidades, tornando-se melhores. Porém, lembre-se que os personagens cansam, se machucam, e precisam descansar para repor suas forças. Fazer um “rodízio” de sobreviventes é fundamental, até porque há missões que só podem ser cumpridas por personagens específicos.

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Ainda que pareça com um daqueles jogos do tipo “sobreviva o máximo de tempo que puder”, State of Decay 2 pode sim, ser terminado. E se conseguir isso, você pode “importar” seus sobreviventes para uma nova comunidade, onde eles poderão ajudar alguns novatos em uma nova jornada. Não há um jeito “certo” de se jogar, mas é fato que o jogador precisa se adequar ao timing do jogo para perseverar.

Também há um bocado de sorte envolvida: as habilidades dos sobreviventes são meio randômicas, então pode acontecer de você simplesmente não ter um enfermeiro ou um engenheiro no grupo, o que atrasa seu progresso para evoluir em certos aspectos (tipo criar medicamentos ou componentes de armas). Driblar estes contratempos demanda jogo de cintura e um bom espírito de liderança — aliás, você não vai querer que o líder do seu grupo morra, pois isso abala consideravelmente a moral de todos.

A sobrevivência é cruel

Há muitas formas de encarar o cruel mundo aberto do jogo, mas é fato que descolar um bom carro é fundamental: você locomove-se mais rápido, pode usar o porta-malas para carregar recursos, e de quebra, pode sair atropelando a zumbizada. Porém, tente não destruir muito o carro, e tenha em mente que ele precisa de combustível para continuar rodando.

Sem contar que, de carro é possível fazer coisas divertidas tipo isso:

Na hora do combate, podemos usar diversos tipos de armas: canos, facas e machados são ótimos para combate corpo-a-corpo, enquanto pistolas, escopetas e coquetéis molotov podem manter as hordas afastadas. Todo tipo de arma se deteriora conforme você usa, e a stamina dos personagens também deve ser levada em conta, do contrário você irá se cansar no meio do caos sucumbir em poucos minutos.

Lembre também que armas de fogo podem ser mais poderosas, mas também são mais barulhentas, atraindo mais zumbis. Você vai querer criar silenciadores improvisados na sua oficina, mas obviamente precisará de materiais para criá-los. E como conseguimos esses materiais? Pois é, explorando. No fim das contas, tudo está atrelado às rotinas que descrevi lá em cima.

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Se tudo mais der errado, você sempre pode atirar um sinalizador para cima em busca de ajuda. Tal qual Dark Souls e Monster Hunter World, aqui você pode solicitar o auxílio de outros jogadores tanto para explorar quanto para cumprir objetivos específicos. Como joguei antes do lançamento, não pude experimentar muito este recurso, mas sem dúvida é um adendo interessante.

Acho válido ressaltar que o gameplay irrita um pouco, simplesmente por não ser muito prático. Equipar e usar itens é burocrático, e faltam recursos simples que poderiam facilitar a vida da gente. Por exemplo: é impossível passar itens de um sobrevivente para outro; durante uma missão você terá que deixar um item no chão, trocar de personagem e então juntar o item largado com esse outro personagem.

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Rolezinho suave no fim do mundo

Além disso, os sobreviventes controlados pela IA parecem incapazes de chegar na base e esvaziar suas mochilas na despensa (mochilas que você teve que encher, pois eles não apanham nada sozinhos). Levar itens no porta-malas é prático, mas ninguém é capaz de ir te ajudar a descarregar, você precisa fazer esse leva-e-traz sozinho do carro até a despensa. Se essa galera fosse tão pro-ativa para ajudar quanto é para brigar e reclamar, a vida em comunidade seria bem mais fácil.

A (má) sorte é cruel

Mesmo que você esteja fazendo tudo certo, e sua comunidade esteja indo de vento em popa, de uma hora para outra, tudo pode degringolar e fugir do seu controle. Sorte e azar podem virar o jogo e questão de minutos. Deixo abaixo um breve conto que ocorreu comigo e ilustra bem isso.

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RIP essa galera toda. 🙁

Era uma vez Jaden, o líder da minha comunidade. Jaden era esperto, batalhador e arrojado, mas também um pouco inconsequente. Ele acabou iniciando sozinho uma missão que acabou dando muito errado, e foi infectado pela peste de sangue.

Enquanto dirigia de volta para a base, recebo uma ligação avisando que meu escasso estoque de medicamentos acabara de ser invadido por saqueadores — pois é, esse tipo de coisa acontece aleatoriamente.

Também pode acontecer de você estar de boa e de repente dar de cara com um Juggernaut, um tipo de zumbi gordão que é duro na queda:

O fato é que, sem remédios, a enfermeira — que já estava uma pilha de nervos — abandonou o grupo. Isso deixou todos abalados, e enquanto meu líder definhava sem uma ampola de cura, vi minha comunidade ruir, com personagens brigando entre si, partindo e/ou morrendo de fome.

Em questão de minutos, 4 dias de sobrevivência foram pelo ralo. Era possível reverter este quadro? Talvez, mas eu me acovardei e preferi “seguir pelo caminho mais fácil”: iniciei uma nova campanha, com outros personagens, e uma base instalada em outro lugar. E logo o grupinho que começou com 3 personagens já contava com 7 sobreviventes:

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Travis e minha segunda comunidade, muito mais bem-sucedida 🙂

Essas e tantas outras histórias dramáticas acabam se tornando corriqueiras em State of Decay 2, simplesmente porque o jogo nunca está do seu lado. Como dizia Rocky Balboa em seu célebre discurso motivacional, State of Decay 2 é sobre “o quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando”.

Audiovisual é… meio cruel

Ainda que chegue otimizado ao Xbox One X (plataforma na qual jogamos), rodando em 4K e com suporte ao HDR, é fato que State of Decay 2 não é um primor técnico, especialmente se colocado ao lado de outros games de mundo aberto contemporâneos, como The Witcher 3 ou Assassin’s Creed Origins.

Análise Arkade: State of Decay 2 é um árduo exercício de resiliência

O visual não é feio, mas é um tanto genérico.

Isso não quer dizer que ele é feio, mas é inegável que ele parece um tanto… genérico. A modelagem dos personagens também é simples, e é normal vermos sobreviventes um pouco parecidos demais uns com os outros. De vez em quando rola uma musiquinha meio deprê, mas na maior parte do tempo o que temos são os sons ambientes, que fazem um bom trabalho em manter o jogador imerso.

O game possui alguns bugs, que eu acredito que sejam fruto de estarmos jogando antes do lançamento oficial. Nenhum bug foi muito grave nem “quebrou” o jogo, mas espero que patches sejam lançados para corrigir estes pequenos problemas que podem se tornar meio irritantes.

Análise Arkade: State of Decay 2 é um árduo exercício de resiliência

State of Decay 2 chega com áudio em inglês, mas menus e legendas totalmente traduzidos para o português brasileiro. Faltou uma revisão aqui e ali — “interajir” com J dói de ver –, mas no geral o trabalho de localização foi bem feito.

Conclusão Cruel (mas honesta)

State of Decay 2 é, antes de mais nada, um exercício de resiliência. Você precisa respeitar o seu timing e se adequar às suas rotinas se quiser que seu grupo sobreviva. O que temos aqui não é uma história roteirizada, mas uma jornada de sobrevivência pautada pela sorte, pela imprevisibilidade e pelo peso das decisões do jogador.

Análise Arkade: State of Decay 2 é um árduo exercício de resiliência

Isso é um núcleo pestilento. Prepare-se para odiá-los.

Isso pode ser a beleza ou o calcanhar de aquiles do jogo. Eu gostei da minha experiência com State of Decay 2 porque aprendi a me adequar às suas imprevisíveis dificuldades, mas sei que nem todo mundo terá culhões para fazer isso.

Provável que ele acabe se tornando um jogo de nicho, que será abandonado pelos gamers mais casuais, mas apreciado pelos mais resilientes, que curtem um desafio de alto nível, ainda que com potencial de ser punitivo e desesperador. Se você tem fibra para esse tipo de jogo, pode mergulhar em State of Decay 2 sem medo. Se  não, certamente há jogos de zumbis mais acessíveis por aí.

State of Decay 2 será lançado amanhã (22/05) para Xbox One e Windows. Este review foi feito com base na versão Xbox do game (rodando no Xbox One X), que recebemos antecipadamente da Microsoft para fins de análise.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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