Análise Arkade: Streets of Rage 4 traz uma boa mistura de pancadaria e nostalgia

29 de abril de 2020
Análise Arkade: Streets of Rage 4 traz uma boa mistura de pancadaria e nostalgia

Prepare-se para uma dose cavalar de nostalgia e pancadaria: esta semana será lançado Streets of Rage 4, e a gente já zerou o game, para te contar tudo em primeira mão!

Jogar Streets of Rage 4 em pleno 2020 é como voltar para o início dos anos 90, uma época em que os jogos eram mais simples, e a Sega e a Nintendo brigavam pelo pódio no mercado de games.

Análise Arkade: Streets of Rage 4 traz uma boa mistura de pancadaria e nostalgia
É nostalgia que fala? É!

A série Streets of Rage nasceu no Mega Drive, sendo a aposta da Sega para o gênero “briga de rua” que vinha ganhando popularidade. Além de agradar aos jogadores pela porradaria em si, a série chamou a atenção por sua trilha sonora, assinada por Yuzo Koshiro, que até hoje é referência entre os entusiastas de gaming music.

Saindo na mão, 25 anos depois

O novo jogo traz Koshiro de volta às composições (acompanhado de outros artistas), e chega com a difícil missão de ser uma sequência oficial digna desta franquia que marcou toda uma geração de jogadores. O jogo está sendo lançado nada menos do que 25 anos após o lançamento de Streets of Rage 3, último jogo da série canônica.

A trama do game, é tão básica quanto a dos clássicos do gênero: na trilogia original, enfrentamos o sindicato do crime comandado pelo vilão Mr. X. Ele foi derrotado, mas adivinha só: Mr. X tinha um casal de filhos, os gêmeos Y! Eles estão a fim de retomar os “negócios da família” utilizando uma absurda tecnologia de ondas sonoras que controlam o cérebro das pessoas.

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Fique avisado que as “cutscenes” do jogo são assim

Como é que a gente resolve uma treta dessas em um beat ‘em up? Descendo a porrada em todo mundo, claro! Os veteranos Axel Stone e Blaze Fielding vão unir forças com a novata Cherry Hunter (filha de Adam Hunter, personagem da série clássica que pode ser destravado no novo jogo) e o grandalhão Floyd Araya (pupilo do Dr. Zan, o velhote ciborgue do terceiro jogo) para deter os gêmeos Y e limpar as ruas da criminalidade!

Pancadaria old school

Streets of Rage 4 não tenta esconder suas origens: o gameplay segue a cartilha do que vimos no Mega Drive, e traz uma pancadaria simples, mas honesta, sem muitas firulas. É possível reconhecer diversos golpes e animações, e boa parte dos inimigos “comuns” do jogo são releituras dos capangas genéricos que enfrentávamos nos anos 90.

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Blaze demonstrando sua flexibilidade para espancar bandidos

A coisa é bastante direta: cada personagem possui um botão para combos simples (X, no controle de Xbox), outro para golpes especiais (o Y, cujos golpes consomem um pouco da sua barra de vida) e um terceiro (B) para agarrões — além do A para pulos, e um ataque de costas em um dos gatilhos. Apertando Y e B juntos, você aciona a habilidade suprema de cada personagem, desde que tenha uma estrela para utilizá-la. A contagem de hits é compartilhada por todos os jogadores, e quanto mais dano cumulativo causado, mais pontos!

Streets of Rage 4 não tem árvores de habilidades, pontos de experiência, nem power ups. O jogo é super linear, dividido em fases que duram cerca de 10 minutos cada — sempre com um chefão no final. É possível coletar canos, bastões e garrafas para surrar os inimigos, e quando estiver ficando com pouca energia, socar barris e cabines telefônicas pode lhe brindar com “suculentas” comidas que recuperam sua barra de vida.

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Comida no chão e seta pra direita? Só pode ser um beat em up! (Atenção ao easter egg)

Para não dizer que não há nenhuma novidade, há um novo sistema de recuperação de vida bem interessante: ao usar algum golpe especial (botão Y), sua barra de energia será parcialmente consumida, mas o trecho utilizado ficará verde. Desça a porrada nos inimigos sem tomar dano e esta área verde da barra será recuperada aos poucos. Caso apanhe, o resto da recuperação se perde. Ah, e dá para trocar de personagem entre as fases, o que é bem legal.

Opinião polêmica

Embora eu respeite o purismo da abordagem deste novo jogo, acho que perdeu-se a oportunidade de aprofundar um pouco a experiência. Jogos como Scott Pilgrim e o recente River City Girls trazem lojas/dojos onde podemos comprar novos golpes e habilidades, que incrementam o combate.

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Pai e filha juntos em ação!

Aqui não há nada disso: os personagens não evoluem nem aprendem novas técnicas, continuando iguais por todo o jogo. Uma simples corrida faz bastante falta — a novata Cherry é a única personagem capaz de correr.

Entendo e respeito a ideia dos produtores, mas né? O mundo dos games evoluiu, e de 1993 para cá vimos a boa e velha “briga de rua” sendo reformulada e reimaginada, ganhando novas camadas e gameplay mais denso, com direito a comandos de jogos de luta, e por aí vai. Eu gostaria que Streets of Rage 4 fosse além do que já é básico e manjado, mas ele não vai.

Nostalgia & Audiovisual

Streets of Rage 4 tem mais orçamento do que um “jogo indie” padrão, mas também não é uma superprodução: sua história (que, já adianto, é bem bobinha) é desenvolvida por cenas estáticas, e não há dublagens para os personagens, apenas textos. Todos os protagonistas soltam três ou quatro frases na tela de seleção de personagens e durante a pancadaria, mas no geral há bem poucas vozes no jogo.

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Axel e Blaze prontos para a porrada (repare nos reflexos!)

Isso não quer dizer que temos um jogo “feito nas coxas”: Streets of Rage 4 roda em 4K e 60 fps em hardwares compatíveis (joguei no PC) e tem um visual de cair o queixo, com belíssimos efeitos de iluminação, reflexos e ótimas animações. A direção de arte é primorosa, tanto no design dos personagens quanto dos cenários.

Esse lado “moderno” do jogo é incrível, mas ele também é um prato cheio para os nostálgicos: acumulando pontos enquanto jogamos, podemos destravar as versões retrô dos principais personagens — incluindo alguns que nem têm versão “moderna” –, com direito a efeitos sonoros clássicos e até mesmo o famoso carro de polícia (que fazia as vezes de golpe especial no primeiro game da série).

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Se você lembra disso, você está ficando velho…

Ver estes personagens pixelados, como eram nos anos 90, socando inimigos super bem desenhados em cenários detalhadíssimos é uma experiência curiosa: causa uma estranheza inicial, mas ao mesmo tempo ilustra muito bem a evolução pela qual a série — e o mundo dos games — passaram. E, mesmo os personagens pixelados possuem “volume”, e reagem à luz dos letreiros de neon de forma caprichada.

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Olha que coisa linda a luz iluminando os pixels do Axel retrô!

Na galeria de Extras, é possível inclusive ver o histórico dos personagens (e a evolução dos principais dos pixels para o design atual), bem como um bom número de artes conceituais exclusivas de mocinhos, bandidos e cenários. Pra ficar perfeito, só faltou uma Jukebox, que nos permitisse curtir tanto as faixas novas quanto as clássicas — mas, é possível jogar com um apanhado de faixas retrô!

Um jogo curto?

Pois é. Streets of Rage 4 tem uma campanha curta — o que é condizente com um beat ‘em up, gênero que, afinal, tende a se tornar repetitivo –, mas traz modos de jogo complementares como o Batalha (pancadaria PvP para até 4 jogadores), o Arcade (apenas uma “ficha”, sem continues) e o Desafio de Chefões (basicamente um Boss Rush sem vidas extras) que prolongam sua vida útil, ainda que não seja lá um conteúdo muito denso.

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Pancadaria no banheiro

Se formos falar da campanha em si, Streets of Rage 4 é o tipo de jogo que dá pra terminar “em uma sentada”. Joguei um bocado sozinho, e anteontem, me reuni online com o Renan para experimentamos o coop… começamos a jogar ali pelas 19h30 e zeramos o game na mesma noite. Embora minha contagem de tempo jogado na Steam esteja em cerca de 5 horas, eu já vi praticamente tudo o que o jogo tem a oferecer, embora não tenha rejogado tudo em dificuldades mais altas.

Entendo que isso faz parte do “fator nostalgia” — os jogos de cartucho de antigamente eram curtos, pensados para múltiplas jogatinas — mas aqui temos um jogo moderno, que poderia ir alémmas não vai. Ele tem 5 níveis de dificuldade, mas o quanto você vai rejogá-lo e desfrutar de tudo o que ele tem a oferecer depende do seu saudosismo e do quão apaixonado por beat ‘em ups você é.

Conclusão

A partir do momento que a trilha sonora começa e a tela inicial surge, uma coisa fica bem clara: Streets of Rage 4 é um jogo produzido por apaixonados pela franquia. Ele está mais bonito do que nunca, mas ainda “se comporta” como um jogo dos anos 90, e parece querer levar o jogador de volta para aquele tempo.

Análise Arkade: Streets of Rage 4 traz uma boa mistura de pancadaria e nostalgia

A boa notícia é que ele é bem sucedido nesta missão: Streets of Rage 4 é nostálgico do jeito certo, apostando em uma pancadaria simples, mas bem feita, e revitalizando a identidade visual da série sempre com muito respeito ao material original, que se faz muito presente aqui.

Poderia ser maior, mais ousado? Poderia. Mas aí talvez ele não fosse agradar aos saudosistas de plantão. O jogo não tenta ser surpreendente, e traz todos os clichês que a gente já conhece — tem a “fase do elevador”, a “fase do esgoto”, a “fase do trem”, dezenas de modelos de inimigos iguais na mesma tela, e por aí vai.

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Poças verdes de gosma venenosa? Tem também!

Não há uma receita mágica para se fazer jogos, e embora aqui eles tenham apostado no que é mais seguro (nostalgia), entregam um neo-clássico muito competente, absurdamente lindo e muito bem executado, que não tenta reinventar a roda, e entrega exatamente o que os fãs esperam.

Enfim, Streets of Rage 4 honra o legado da série e tem tudo para agradar quem passou pela geração 16-bits dando porrada em bandido e comendo frango assado do chão!

Streets of Rage 4 será lançado nesta quinta (30/04) com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Este review foi feito com base na versão PC do game, que recebemos antecipadamente da assessoria (valeu, Renato!) para fins de análise.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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