Análise Arkade: jogamos Super Seducer, o polêmico game de paquera que foi proibido no PS4

10 de março de 2018

Análise Arkade: jogamos Super Seducer, o polêmico game de paquera que foi proibido no PS4

Se você é um jovem solteiro, que não tem a manha de como chegar nas mulheres, seus problemas acabaram (ou não): Super Seducer é um jogo que vai te ensinar (ou não) todos os segredos do flerte e da paquera!

Contextualizando

Super Seducer é um jogo idealizado por um cara chamado Richard La Ruina (que raio de nome é esse?). Embora o sujeito seja pouco conhecido por aqui, lá fora ele é meio que um guru da paquera, tem livros publicados sobre o assunto e ministra palestras e workshops sobre a arte de conquistar mulheres.

Curiosamente, ele é o mesmo cara que foi “xingado” por um apresentador de TV após afirmar ao vivo em um programa de TV (britânico) que homens não deveriam se relacionar com mulheres britânicas, pois elas costumam ser gordas, masculinas e não atraentes.

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Esse é o Richard, o auto-proclamado guru da paquera.

O game andou gerando polêmica essa semana, quando a Sony proibiu-o de ser lançado para o Playstation 4 às vésperas de seu lançamento. O caso reverberou pela internet, e acabou dando ainda mais visibilidade ao game.

Se os métodos do cara funcionam eu não sei, mas é fato que ele conseguiu juntar algum prestígio — e alguma grana — com isso… tanto é que agora estrela seu próprio game, e quer ajudar homens de todo o mundo a conseguirem se dar bem com garotas.

Mais vídeo do que game

Super Seducer se apresenta como um dos bons e velhos jogos em FMV de antigamente: todo filmado com “atores” reais. Porém, se antigamente tínhamos o terror e a tosqueira de Phantasmagoria e Night Trap representando o gênero, hoje temos apenas um pseudo-galã dando dicas de paquera para jovens com problemas de autoestima.

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Super Seducer é dividido em 10 cenas, que representam diferentes situações nas quais um homem pode tentar flertar com uma mulher: na rua, na balada, no trabalho, em uma cafeteria, e por aí vai. O jogo até vai um pouco além, “ensinando” o jogador a escapar da friendzone, conquistar uma colega de trabalho, ou mesmo dando dicas de como ser um bom “wingman” para um amigo que quer ficar com uma garota.

As cenas se desenrolam como pequenos filmes, e conforme o papo flui, o jogador deve tomar algumas decisões para demonstrar seu interesse e tentar conquistar a garota. Depois de cada escolha, somos avaliados por um “técnico”, que inclusive nos explica porque a escolha que fizemos é (ou não) adequada. Ao final de cada cena, recebemos uma nota com base em nosso desempenho.

Será que funciona?

A cópia do jogo que recebemos para análise veio com uma nota supostamente assinada pelo próprio Richard La Ruina, um sujeito que claramente acredita nos seus métodos.

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Eis um trecho da carta traduzido:

Super Seducer é mais que um jogo, é uma fantástica ferramenta de aprendizado que ainda se mantém divertida, com as escolhas corretas sendo recompensadas e as erradas sendo punidas. Essa abordagem ativa e o feedback imediato fazem deste jogo o treinamento de sedução definitivo. Estou confiante que, depois de jogarem Super Seducer, os jogadores começarão a ter bons resultados, fazendo os movimentos certos na vida real”.

Falemos então de “vida real”: ainda que algumas das situações apresentadas sejam bastante corriqueiras — uma garota caminhando em um parque, ou lendo um livro — o rumo que os diálogos tomam dificilmente corresponderá ao que encontraremos na realidade. A vida real não tem roteiro, então, dificilmente você conseguirá aplicar exatamente o mesmo “movimento” que o personagem do game aplicou.

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Também não ajuda o fato de que boa parte do elenco não parece muito confortável em seus papéis — o que é compreensível. Boa parte das atuações são forçadas e artificiais. As meninas obviamente são bonitas, mas nem todas são necessariamente boas atrizes. O destaque vai para Shanna Vincent, que co-protagoniza 2 cenas e tem alguma vivência na indústria cinematográfica como dublê e coadjuvante.

E digo mais: se prestarmos atenção ao modus operandi, veremos que o game traz algumas dicas genéricas que funcionam não só nas relações entre homens e mulheres, mas em qualquer âmbito social. Coisas como “seja simpático”, “não fale do seu pênis” e “tente encarar tudo com bom humor” são conselhos que podem ser utilizados não só na vida amorosa, e funcionam justamente por serem meio que convenções sociais óbvias.

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Infelizmente, para cada dica “útil”, o game também “caga regras” ao tentar padronizar o comportamento feminino, pressupondo que certos “gatilhos” sempre funcionam, e podem oferecer o resultado esperado. E é por aí que a coisa desanda de vez.

Machismo enrustido

Por mais que o “técnico” adore respaldar seus argumentos em bases psicológicas (altamente questionáveis), é fato que Super Seducer é um jogo bastante machista, simplesmente pelo fato de mostrar mulheres como “presas fáceis” para os métodos de conquista (igualmente questionáveis) do ilustre Sr. La Ruina.

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E não é só isso: algumas das opções de diálogos que podemos escolher são de extremo mau gosto, com linguajar obsceno que na vida real certamente resultaria (no mínimo) em um tapa na cara do “conquistador”.

Se acha que estou exagerando, confira alguns exemplos de opções de diálogos (as imagens foram recortadas para que você possa ler):

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Sendo otimista, acho que o lado bom dos galanteadores de plantão poderem testar esse tipo de abordagem escrota no ambiente controlado do jogo é que isso pode, em teoria, evitar que façam isso na vida real, com garotas de verdade.

Porém, em tempos de empoderamento feminino e direitos iguais, é óbvio que o conteúdo de Super Seducer soa ofensivo e controverso (aliás, o marketing do game o descreve como “talvez o jogo mais controverso de 2018”).

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Vejamos: para começar, nunca há uma opção deixe a garota em paz”: desistir nunca é uma opção, mesmo quando ela já disse que é comprometida. Se você faz a escolha errada, toma uma leve bronca do “técnico”, a cena volta e você deve tentar uma abordagem diferente. Comportamento que poderia facilmente se tornar obsessivo e violento no mundo real.

Não para por aí: quando fazemos a escolha “certa”, nosso técnico está em uma cama, ao lado de duas garotas em trajes provocantes. Quando acertamos “mais ou menos”, as garotas ficam desfocadas ao fundo; e quando “erramos”, vemos apenas o cara, as garotas desaparecem como se a visão delas fosse um prêmio que nós, “perdedores”, não merecemos ter.

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A tela em caso de acerto…

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E em caso de erro.

Quem acompanha o Arkade sabe que não somos um site “lacrador” e geralmente até preferimos não abordar temas polêmicos, mas nesse caso é apenas questão de bom senso: mulheres — ou melhor, seres humanos — não são máquinas que podem ser desmontadas, estudadas e catalogadas. As simulações de Super Seducer funcionam porque são exatamente isso: simulações roteirizadas e planejadas, com atrizes que foram pagas para achar tudo aquilo ok.

E aos pervertidos de plantão, saibam que, apesar dos absurdos que nosso galante Richard pode dizer às mulheres, o jogo não traz nenhuma cena de sexo ou nudez: o foco geralmente é conseguir um telefone ou marcar um encontro, algo até que bem inocente. O máximo que vemos são uns beijos, e quando a coisa esquenta de verdade, rola um tímido black out. Vou te falar que, nesse ponto, alguns jogos japoneses já me deixaram mais constrangido.

Conclusão

Super Seducer pode ser moderadamente divertido quando a gente meio que não se importa com a conquista em si, e tenta ver quão absurda a situação pode se tornar quando falamos algo obsceno para a garota.

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Porém, além de todo o teor machista que objetifica mulheres descrito acima, a pura e simples zoeira não é o objetivo do game, então, como jogo — e como serviço de “coaching” para caras que não sabem como chegar em garotas — acho que ele simplesmente não vale o investimento. É curto, simplório e nada ali soa autêntico. Você dificilmente vai conseguir colocar em prática as “técnicas” apresentadas simplesmente porque, como já dito, a vida real não é encenada e roteirizada.

Se você é um sujeito tímido que precisa de ajuda para se aproximar de garotas, acho que não é Super Seducer que irá te transformar em um garanhão. Ele vai no máximo te dar algumas dicas óbvias de comportamento, te fazer rir um pouco e sentir um bocado de vergonha alheia perante as “brilhantes” interpretações.

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Mas é aquilo: eu já passei dos 30 e tenho namorada, então talvez eu não seja o “público-alvo” ideal para este tipo de experiência. Apesar disso, fico com um questionamento genuíno: realmente existe um público-alvo para isso? Sério?

https://youtu.be/ht8s5qty_gE

Super Seducer foi lançado em 6 de março para PC. O game também estava planejado para chegar ao PS4, mas seu lançamento foi cancelado em cima da hora. Aliás, lançar um jogo desses em plena semana do Dia Internacional da Mulher parece uma baita piada de mau gosto, não acha?

P.S. Vale ressaltar que, embora os menus e opções de diálogo estejam em português, as cenas em si não possuem legendas, então, caso queira se aventurar pelo game, é bom que seu inglês esteja em dia.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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