Análise Arkade: Synduality: Echo of Ada é um criativo mas burocrático game de exploração pós-apocalíptico

Synduality: Echo of Ada, lançado no final de janeiro, é um game bem diferente do “comum”. Misturando mechas, sobrevivência, base building e jogatina co-op numa experiência divertida, mas bastante burocrática. Vamos então conversar um pouco sobre o game!
A humanidade após dois apocalipses

Synduality: Echo of Ada é ambientado séculos no futuro, em um mundo que passou não por um, mas dois apocalipses diferentes, que obrigaram a humanidade a se reinventar e agir rápido para garantir a própria sobrevivência.
A história do game é contada em fragmentos, que são desbloqueados quando o jogador encontra relíquias do mundo antigo em suas explorações, um dos elementos mais importantes do game, que explicarei em detalhes mais pra frente.

Mas, para resumir tudo, e evitando spoilers demais, a história é a seguinte: No auge de sua evolução tecnológica, o planeta Terra foi atingido por um evento que ficou conhecido como “As Lágrimas da Lua Nova”: Uma chuva de cor azul que caiu no mundo inteiro, e que não parava de cair. Essa chuva corroía tudo o que tocava, alagou o mundo e trouxe consigo a aparição dos “Enders”, estranhos monstros que passaram a atacar tudo e todos.
Para se refugiar, os poucos sobreviventes da humanidade foram para o subsolo e com o tempo construíram a cidade de Amasia, uma gigantesca fortaleza humana que os protegia dos Enders e da chuva na superfície. Após séculos de prosperidade, veio a segunda crise: Misteriosamente, a cidade de Amasia explodiu, sendo quase completamente destruída e deixando a humanidade novamente à beira da extinção.

Para sobreviver, novas cidades foram construídas no subsolo. E devido a escassez de recursos, a humanidade precisou mais uma ver ir para a superfície. Não para construir um novo lar, mas para coletar recursos e trazê-los para baixo. E as pessoas responsáveis por fazer o trabalho de ir à superfície são os Drifters, pilotos dos Cradlecoffins, poderosos Mechas equipados com ferramentas de mineração e coleta, além de enormes armas para se defenderem. E os Drifters são acompanhados por seus Magus, Androides construídos como assistentes pessoais dos pilotos.
Sua missão, como um piloto de Cradlecoffin, é ir até a superfície, coletar os cristais AO, a principal fonte de energia do mundo, coletar recursos e retornar para o subsolo para contabilizar seus espólios. Tudo isso sendo feito em missões curtas de exploração livre. E conforme você explora, vai descobrindo vídeos e textos do passado, bem como vai desvendando pedaço a pedaço a história da queda de Amasia.
Esses pedaços de história contam a história de um piloto de séculos no passado chamado Alba e sua Magus chamada Ada (que dá o subtítulo ao game). Assim, além de explorar o presente, precisamos explorar o passado de Alba e Ada para descobrir os segredos de Amasia e das Lágrimas da Lua Nova.
Gerenciamento de base e missões livres, mas de curta duração

Synduality: Echo of Ada é um game de base building primeiramente. Você precisa coletar recursos para ir expandindo sua base com novas salas e instalações, bem como melhorando sua estética. Para fazer isso, você precisa sair em missões na superfície.
Você primeiro precisa montar o seu Cradlecoffin, que é composto de 3 partes: Corpo, pernas e braços. Equipá-lo com armas de fogo e itens de suprimento, como itens de cura e munição para suas armas. Então, você pega um gigantesco elevador e é levado para a superfície em um ponto aleatório do mapa. A partir daí, você é livre para ir onde quiser.

O mapa é dividido em diversas partes diferentes, cada uma com seu próprio bioma e recursos. Conforme você explora, a sua Magus vai registrar tudo o que você encontrar, de forma a facilitar a busca por recursos em explorações posteriores, o que é de imensa ajuda. Para saber para onde ir, ao abrir o mapa você vê a lista de missões ativas que você escolheu em sua base, que basicamente consistem em buscar certos recursos específicos, explorar uma área em busca de relíquias do passado, ou destruir Enders específicos. Além disso, você precisa coletar os Cristais AO, usando um radar que mostra a localização de cristais próximos.
Porém, a exploração não é realmente “livre”, tendo duas principais restrições: A bateria de seu mecha e a quantidade de peso que você está carregando. A bateria mostra uma contagem regressiva de tempo para que você volte ao subsolo, inicialmente com 20 minutos de duração, mas melhorando conforme seu mecha evolui. E a quantidade de peso é auto explicativa. Quando você atinge o limite, não pode mais coletar itens e seu mecha fica mais lento. Felizmente não há o problema de sobrepeso, em que o mecha anda de forma muito lenta. O game apenas bloqueia a opção de coletar mais itens se você atingir o limite.

Isso limita o quanto você pode fazer durante uma exploração. Assim, sair pelos mapas e explorar tudo de uma vez só e voltar para o subsolo carregado de recursos é algo que não vai rolar. Você até pode fazer isso, mas de forma extremamente limitada. O ideal é focar nos itens que você precisa e realizar excursões rápidas.
Tudo o que você coleta é usado em sua base para evoluí-la. Os cristais AO são convertidos em dinheiro, e os recursos como madeira, metal e etc, são usados para construção, como melhorar cada sala da base, reformar pisos e paredes, construir linhas de produção para crafting e etc. E você precisa fazer tudo isso se quiser deixar as coisas mais acessíveis para você, pois o game se inicia de forma bem complicada.
Um gameplay burocrático
Conforme dito, as explorações da superfície acontecem em missões curtas devido às restrições de bateria e capacidade de carga dos Cradlecoffins. Porém, antes de sair para uma exploração há várias coisas que você precisa gerenciar.
Para sair, você precisa escolher o mecha que vai usar, quais armas vai equipar e que itens consumíveis ou de outros tipos vai levar. Tudo isso precisa ser feito verificando o quanto de peso você vai carregar logo na saída, impactando a performance do mecha e quanto de materiais você poderá coletar na superfície. E, uma vez na superfície, você corre o risco de perder tudo isso. Literalmente!

Se seu mecha sofrer muito dano, uma mensagem aparece com um comando para realizar uma fuga de emergência. Se você fugir, o seu piloto e seu Magus sobrevivem, mas você perde todo o seu equipamento e tudo o que coletou durante a missão, voltando para o subsolo. Você então volta para sua base realmente de mãos abanando. Se isso acontecer, o game te dará equipamentos básicos para poder voltar a jogar, com o mecha inicial e duas armas fracas aleatórias. Assim, você vai precisar ralar para conseguir dinheiro para comprar um mecha novo e equipamentos melhores.
Há a possibilidade de adicionar seguro a seus equipamentos quando você sair. O seguro cobre apenas seu mecha e suas armas. Se eles forem destruídos, você é reembolsado com a quantia em dinheiro necessária para comprar tudo de volta. Porém, o seguro só funciona se você instalar uma estação da seguradora em sua base. E para construí-la leva bastante tempo e recursos.

Em suas primeiras missões, você com certeza vai passar muita dificuldade e perder seu mecha algumas vezes, pois leva um tempinho até você conseguir equipamentos bons o suficiente para sobreviver aos perigos dos Enders e da chuva, que corroem o seu mecha. Além disso, você precisa aprender a usar bem seu Magus. No início do game você cria seu próprio Magus, escolhendo um entre os diversos tipos com poderes especiais, como criar uma barreira anti-chuva, rastrear Enders, gerar pulsos eletromagnéticos e etc.
No fim, Synduality: Echo of Ada não é um game ruim, mas complexo. Trata-se de um jogo bastante nichado, em que o jogador precisa se envolver bastante para aí entender se gosta ou não do estilo. Usando uma comparação muito muito superficial, é como se fosse uma versão simplificada de Armored Core, com os mapas de Apex Legends e estética de anime.
O game ainda conta com jogatina co-op momentânea. Após avançar o suficiente para desbloquear a função de formar grupos, você pode se juntar a até 3 jogadores para cumprir uma missão específica no mapa. Quando a missão é concluída, o grupo é automaticamente desfeito. Não mencionei isso até agora, mas a exploração dos mapas ocorre meio ao estilo MMO, em que você encontra jogadores explorando por conta própria, podendo interagir com eles via gestos e formar grupos temporários.
Você não precisa jogar co-op se não quiser, pode jogar o game inteiro sozinho, mas por se tratar de um game que exige conexão online, você sempre vai encontrar algum jogador passando por perto. Há ainda missões especiais puramente single player, em que você recebe um mecha especial e explora mapas fechados com objetivos definidos, normalmente envolvendo combate com outros mechas e coleta de itens. Essas missões são difíceis e não oferecem recompensas, servindo para desbloquear as memórias do mundo e a história de Alba e Ada.
Audiovisual

Synduality: Echo of Ada possui um visual bonito. Como mencionei, seu estilo lembra uma versão mais simplificada de Armored Core com os mapas de Apex Legends, e essa última menção não foi acidental. Se você jogou o Battle Royale da Respawn com certeza vai notar algumas semelhanças aqui, ainda que elas provavelmente não sejam intencionais.
O mapa inicial do game é uma vasta região com florestas e diversas estruturas abandonadas, como uma estação de satélite, uma fazenda altamente tecnológica, uma antiga cidade em ruínas, lagos e etc. Visualmente, tudo lembra bastante Apex Legends, especialmente ao encontrar baús com itens, que também se parecem um pouco com os do Battle Royale.

Os Enders parecem até criaturas saídas de Death Stranding, com lobos cujas bocas são formadas por dedos, uma espécie voadora que lembra uma estrela do mar com múltiplos “patas/braços” e, quando você avança bastante na narrativa, começa a encontrar Enders enormes e muito poderosos.
Os Cradlecoffins inicialmente parecem até cubos com braços e pernas, mas conforme você adquire partes novas, vai podendo customizá-los até parecerem mechas saídos diretamente de animes. E falando em anime, como já mencionado, os Magus são personagens em 3D com total estilo de anime. Existem Magus masculinos e femininos e durante suas criações, você pode customizá-los livremente com um construtor de personagens, bem como trocar suas roupas em sua base.

O game infelizmente não possui localização em português brasileiro, nem em suas vozes, menus ou legendas, o que é uma pena. Devido a isso, joguei o game com textos em inglês e áudio em japonês, que é a minha preferência em games com visual de anime. A atuação dos personagens é boa, apesar de haver pouca interação entre personagens, exceto nas gravações de áudio de Alba e Ada.
A trilha sonora do game é boa, mas durante a exploração os sons ambientes tomam conta, além de seu Magus fazendo comentários ao encontrar itens, identificar Enders e mechas inimigos e principalmente ao ouvir outros jogadores próximos, comentando que ouviu som de motores e sons de tiros a distância. Não há muito o que se falar da parte sonora além de que é bastante competente.
Conclusão

Synduality: Echo of Ada é um game divertido, se você gostar de seu estilo. Trata-se de um game de nicho, mas diluído de forma a ser mais acessível para o público em geral. Por conta disso, o game não se aprofunda tanto em certos aspectos que tira inspiração, por exemplo a customização do Cradlecoffin, que é bem básica. Mas também não pende mais para o lado da ação pura.
Assim, esse é um game que, honestamente, precisa ser jogado para se descobrir se você gosta ou não, o que é algo que infelizmente não é viável hoje em dia devido ao alto preço de qualquer game novo. Assim, se esse game se interessou, talvez essa análise te ajude a decidir se você dá uma chance a ele ou não. Eu pessoalmente gostei do game, mas não me vejo colocando centenas de horas nele para fazer todo o seu conteúdo.

Um ponto de crítica ao game é o fato dele possuir um Passe de Temporada ao estilo de Live Services. Ao cumprir missões diárias e semanais você ganha XP que desbloqueia itens do passe. O problema é que esse é um game pago, e possui um passe gratuito e um Passe Premium que precisa ser comprado com dinheiro real. A inserção desse tipo de elemento de live service em um game pago é algo que eu, pessoalmente, não consigo ver qualquer apelo para os jogadores em geral.
No fim, Synduality: Echo of Ada acaba sendo um game que não se decide para onde ir. Ele tem elementos de live services free-to-play, mas não é free-to-play. Explora sistemas de gerenciamento complexos, mas mantém-se básico de forma a ser mais acessível. E oferece um gameplay até divertido, mas limitado justamente pelas restrições que impõe para tentar ser mais acessível.
Synduality: Echo of Ada foi lançado no dia 23 de janeiro com versões para PC, Playstation 5 e Xbox Series X/S.
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