Análise Arkade: Tetris Effect, uma experiência sensorial que reinventa um clássico
Um dos maiores clássicos do mundo dos videogames recebeu uma baita reformulação, com direito a recursos em VR e tudo mais: com vocês, nossa análise do psicodélico e nostálgico Tetris Effect!
O sonho de um game designer
Antes de mais nada, vale a pena dar uma contextualizada no que envolve os bastidores da produção do game, pois ele envolve o sonho de um homem. Estou falando de Tetsuya Mizuguchi, game designer que atuou em clássicos como Sega Rally Championship, mas depois dedicou sua vida a criar jogos de ritmo com alguma dose de psicodelia, com destaque para Rez, Lumines e Child of Eden.
Mizuguchi sempre quis produzir uma vertente musical da série Tetris, mas questões de direitos autorais complicaram sua vida. Não por acaso, alguns de seus games, como Lumines, têm bastante em comum com Tetris, sendo um mix de puzzle com ritmo pra lá de viciante.
Pois bem, depois de muito tempo de expectativa e muitas negociações, o game designer enfim conseguiu acertar os ponteiros com a The Tetris Company, e ele entregou algo realmente único: Tetris Effect é uma experiência transcendental dentro da franquia, que consegue ser fiel ao feeling clássico, e ainda agrega todo um fator psicodélico e musical ao conjunto.
Um clássico reformulado
Tetris Effect possui 2 modos de jogo principais: o modo Journey e o modo Effects. O primeiro é o equivalente do game a uma Campanha, trazendo uma série de diversas fases “temáticas” que vão evoluindo conforme você cumpre um dos mais básicos e conhecidos objetivos do mundo dos games: formar linhas com os Tetriminos (esse é o nome das pecinhas) e fazê-las desaparecer.
O diferencial aqui é que, ainda que o gameplay seja meio que o mesmo de sempre — afinal, Tetris é Tetris –, o game envolve o jogador com efeitos audiovisuais incríveis, que enchem seus olhos e ouvidos de formas surrealmente impressionantes. Ao girar as peças, você acrescenta efeitos sonoros à trilha sonora, e quando linhas são formadas, o cenário reage, explodindo em formas, luzes e cores.
Deixo abaixo meu gameplay de uma das fases musicalmente mais interessantes, Downtown Jazz. Aumente o volume e clique no play:
Já o Modo Effects subdivide-se em outros 4 modos: Relax, Focus, Classic e Adventurous, que acrescentam novas camadas de complexidade sobre a receita clássica de Tetris, podendo tanto deixar a experiência mais fácil (o modo Relax, sem tela de Game Over) quanto mais complicada, tipo o modo Adventurous, que incorpora novas regras e modificadores de forma dinâmica durante as partidas.
O mais interessante é que, em todos os modos de jogo, a essência de Tetris está praticamente intacta: mecanicamente, o objetivo é o mesmo ao qual fomos apresentados há mais de 30 anos, quando o primeiro Tetris foi criado. No fim das contas, tudo se resume a alinhas os Tetriminos para formar linhas, limpar a tela e acumular pontos.
Mesmo o “power up” que o jogo adiciona respeita as regras básicas do que é Tetris: ao formar linhas, você vai enchendo um medidor chamado Zone. Ao ativá-lo, as peças param de cair automaticamente, permitindo que você planeje melhor suas jogadas. Além disso, quando está “in the Zone“, suas filas formadas automaticamente vão se acumulando no fundo da tela, otimizando o processo de “limpeza”.
Uma experiência sensorial
Geralmente este tópico seria para tratar do aspecto “Audiovisual” do game, mas isso não faria jus ao que temos em Tetris Effect. O jogo claramente foi pensado para ir além do simples “audiovisual”, e é muito bem sucedido nesta missão de ser uma experiência sensorial que realmente envolve o jogador.
Tetris Effect é compatível com o Playstation VR, e confesso que foi o jogo que mais me deu vontade de experimentar com o visor. Sei que isso pode parecer estranho — afinal, é “só Tetris” — mas seus ambientes são tão imersivos e psicodélicos que vê-los “ao seu redor” deve ser muito impressionante.
Tipo essa fase com águas vivas, bolhas e outras coisas psicodélicas que devem ficar incríveis em realidade virtual:
E mais: como baterista que tem algum conhecimento musical, era comum eu me pegar jogando de forma a harmonizar os sons produzidos pelas peças com a música de cada estágio. Pode ser isso aconteça involuntariamente mesmo com quem não manja nada de música, mas para mim esta sinergia entre som e gameplay transformou Tetris Effect quase em um jogo de ritmo.
Toda essa riqueza sensorial é potencializada pela interessante vibração do controle que acompanha a batida da música. Aliás, cada fase tem uma música única, feita “sob medida” para casar com cada barulhinho e cada elemento visual que popa na tela. O fato é: Tetris Effect é incrível de se ver na TV, e deve ficar ainda mais incrível em VR.
Conclusão
Tetris Effect é muito mais do que apenas um jogo clássico em uma skin nova. Tetsuya Mizuguchi traz toda sua bagagem em jogos de ritmo psicodélicos para compor uma experiência sensorial única, que irá cativar seus olhos e ouvidos e fazê-lo viajar por cores, luzes e sons.
O core de Tetris ainda é o mesmo — o que é ótimo –, mas chega potencializado por um mix de sensações que enriquecem muito o conjunto da obra. Os rankings online e desafios semanais prometem manter o game fresco para a comunidade, e há inclusive a possibilidade de revisitarmos os primórdios da franquia em eventos temáticos temporários.
Tetris Effect é uma nova forma de se jogar Tetris que respeita o legado de Tetris. Essencialmente, ainda é o mesmo Tetris que a gente já conhece e ama, mas com camadas extras de complexidade que o transformam em algo muito maior. Um jogo imersivo e viciante que reinventa com maestria um dos maiores clássicos do mundo dos games e deve ser realmente imperdível para quem tem o PSVR.
Tetris Effect foi lançado em 9 de novembro, exclusivamente para o Playstation 4/PSVR. O game está totalmente em inglês.