Análise Arkade: The Bunker é paranoia e terror psicológico em formato FMV

28 de setembro de 2016

Análise Arkade: The Bunker é paranoia e terror psicológico em formato FMV

Lembra dos jogos em FMV (full motion video) que eram sucesso nos anos 90? Tipo Phantasmagoria e The 7th Guest? Pois, em pleno 2016, um novo jogo todo filmado com atores reais foi lançado. Confira agora nossa análise do interessante The Bunker!

A vida em um bunker

The Bunker, como você pode imaginar, se passa em um bunker. O game começa nos mostrando apresentando John, criança que nasceu no bunker — no longínquo ano de 1986 — e nunca mais saiu de lá, pois a Inglaterra sofreu ataques nucleares, e ninguém sabe ao certo como está o mundo na superfície.

Análise Arkade: The Bunker é paranoia e terror psicológico em formato FMV

Pois é, há um pequeno QTE para você dar sua primeira respirada fora da barriga de sua mãe.

30 anos depois, reencontramos John adulto (interpretado por Adam Brown, o anão Ori, no filme O Hobbit), como último sobrevivente no bunker. Sua única companhia é o cadáver de sua mãe (interpretada por Sarah Greene, a Hecate Poole da série Penny Dreadful), que ele mantém coberto na mesma cama que ela ocupava quando morreu.

Para (tentar) manter sua sanidade, John se apega à rotina: tomar suas vitaminas, se alimentar, verificar índices de radiação e oxigênio, buscar algum sinal de contato pelo rádio… até ler para sua mãe morta faz parte do seu dia-a-dia, pois era um hábito que eles construíram enquanto ela estava viva.

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Enquanto as coisas se mantém sob controle, John até que leva a vida de forma relativamente tranquila. Porém, quando um alarme inesperado dispara e uma mensagem de erro surge na tela do computador que monitora o bunker, as coisas ficam tensas, e ele precisa abandonar sua zona de conforto para revisitar áreas abandonadas do bunker e lidar com fantasmas do passado, enquanto tentar colocar tudo nos eixos novamente – inclusive a sua própria mente.

Confira abaixo os primeiros 16 minutos de game, que mostram o nascimento de John, sua rotina administrando o bunker depois de adulto e a tensão do momento em que o alarme soa e seu “sossego” termina:

Na maior parte do jogo acompanhamos o personagem adulto, mas rolam muitos flashbacks que revisitam a infância dele, em uma época onde o bunker tinha muito mais moradores. Ali você conhece outros personagens, e percebe que alguns deles estavam envolvidos em segredos e conspirações, que vão sendo desenvolvidas conforme a história progride.

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John (ainda jovem) e sua mãe em um flashback.

Ambientação poderosa

Bom, como estamos falando de um jogo todo filmado, não tem muito o que falar de gráficos, né? Mas podemos falar de ambientação: The Bunker constrói uma atmosfera muito poderosa de solidão e claustrofobia. Viver sozinho em um bunker não deve ser nada agradável, e o jogo potencializa isso utilizando luzes de cores intensas, trilha sonora tensa e ângulos de câmera inteligentes — muitas vezes do ponto de vista de câmeras de segurança — para deixar claro ao jogador como está pilhada a mente paranoica de John.

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O jogo usa recursos de câmera muito interessantes.

O ambiente em si merece destaque também por outro motivo: The Bunker foi todo filmado em um bunker de verdade — o Kelvedon Hatch Secret Nuclear Bunker — que hoje em dia é meio que uma atração turística, mas não deixa de ser um bunker real, projetado para que pessoas pudessem viver lá dentro em caso de guerras nucleares.

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Ou seja, nada do que você vai ver ali é “cenário”, ou efeito especial: cada porta, escadaria e corredor realmente existe dentro do bunker, e embora eu só tenha descoberto que o lugar realmente existe no final do jogo (quando os créditos rolaram), isso sem dúvida agrega ainda mais valor ao conjunto da obra.

Um jogo que é mais para assistir do que para jogar

Como você percebeu pelo vídeo ali em cima, o gameplay de The Bunker é super minimalista mesmo para os padrões de um point and click: você basicamente interage com portas e objetos, e em alguns casos encara um pequeno quick time event quando a ação do personagem envolve, por exemplo, empurrar algum objeto pesado ou algo do tipo.

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Sim, há QTEs para mexer em trincos e abrir portas.

Também há muito para ler: mensagens de sistema, relatórios, anotações, instruções. E tudo está em inglês (inclusive as legendas), então só recomendo The Bunker para quem tem uma boa noção do idioma. Os colecionistas de plantão vão se divertir procurando os bonecos de madeira de John, uma pequena parte da infância do protagonista que continua espalhada pelo complexo subterrâneo.

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Por mais que você jogue pouco e passe mais tempo assistindo e lendo coisas, o jogo não se torna cansativo principalmente por ser curtinho: ele dura de 3 a 4 horas, e está sempre te empurrando para frente para dar continuidade à narrativa. O fato dele ser bem linear e sem muitos puzzles também ajuda, de modo que você dificilmente vai ficar “travado” em algum ponto.

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Apesar de curta, a história é boa e instigante. Escrita por um time de roteiristas que já trabalhou em jogos como SOMA e The Witcher, ela segue sem muita enrolação, com começo meio e fim bem definidos, e conta com uma boa reviravolta na reta final, sem ficar se alongando desnecessariamente. Ah, e um detalhe bacana: ainda que o jogo em si seja bem linear, no finalzinho é possível tomar uma decisão, que gera 2 opções de finais diferentes!

Conclusão

Embora a imagem do sujeito segurando um machado seja bem impactante, vou ser bem honesto com você: The Bunker não é exatamente um jogo de terror. Talvez de terror psicológico, mas ainda acho isso um pouco de exagero. Eu diria que The Bunker é mais sobre paranoia, medo e solidão do que sobre terror propriamente dito.

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Dito isso, acho justo dizer que The Bunker certamente não é um jogo para todos. Ele é paradão na maior parte do tempo, e você sem dúvida passa mais tempo assistindo do que de fato jogando. E mesmo quando joga, sua interação com o jogo é mínima, e eu fiquei com a impressão que mesmo que você não complete um QTE, o jogo simplesmente continua rolando, sem nenhum tipo de punição. E há ainda a barreira do idioma, afinal, estamos falando de um jogo onde o que mais importa é a narrativa.

Se você curtiu jogos em FMV no passado, sem dúvida vai sentir um gostinho de nostalgia ao visitar o bunker onde John vive. Se não vai necessariamente te deixar com medo, The Bunker vai sem dúvida te contar uma boa história de uma forma que andava meio sumida do mundo dos games.

The Bunker foi lançado no dia 20 de setembro. O game está disponível para PC, Mac, Playstation 4 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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