Análise Arkade: The Darkside Detective é um Point and Click que evolui constantemente
The Darkside Detective é um jogo point and click de investigação desenvolvido pela empresa Spooky Door, que tem seu lançamento previsto para o dia 27 de julho na Steam.
O Game
Na cidade de Twin Lakes estão acontecendo coisas misteriosas, obscuras e sinistras relacionadas ao ‘Darkside‘.
Esse Darkside seria o “mundo dos mortos” do jogo, mas não existem apenas almas penadas lá, entram para a lista também monstros e outros tipos de criaturas sinistras. Cabe então ao detetive McQueen e ao policial Dooley resolverem casos como o desaparecimento de uma criança, fantasmas que apareceram numa biblioteca, um trem estranhíssimo que interrompeu a linha férrea ao aparecer simplesmente do nada e muitos outros casos.
O melhor jeito de resumir a qualidade desse jogo é que ele evolui como um personagem de um game de RPG: Principalmente no início da história ele ainda está inexperiente, sujeito à evolução durante o progresso da jornada.
Progressão valiosa
É exatamente o que acontece aqui, se o início de The Darkside Detective é algo que estaria entre o ruim e o medíocre, o final está quase no nível de jogos aclamados do gênero, como, por exemplo, alguns títulos da série Phoenix Wright Ace Attorney e os clássicos da LucasArts. Desde o trailer já sabemos que o jogo dá bastante importância ao humor, são várias piadas mais infantis e metalinguísticas.
Apesar de o jogo ser muito focado nos diálogos, para o roteiro falta substância. Se compararmos com a escrita de títulos padrão de qualidade do gênero, como Day of the Tentacle e Ghost Trick, se nota um abismo de diferença. O jogo também tem seus clichês, estão há o relógio de pêndulo, porque, pra ter mistério e atmosfera, algum cenário tem que ter o tal relógio de pêndulo.
Desafios
Durante os casos, o jogador tem que superar um puzzle, como se fosse um chefão que se vence com o raciocínio lógico, não com a habilidade. Nenhum desses enigmas é exatamente inovador, são em sua maioria quebra-cabeças, tanto de colocar as peças no lugar certo, quanto aqueles que se tem que mover os quadradinhos para o espaço vazio até que fiquem todos na posição correta.
Outro problema também está no inventário, que fica no canto superior esquerdo, bastando clicar no item para usá-lo. No entanto, quando se pode ir para outra tela que fica à esquerda, se pode clicar em qualquer lugar da parte extrema-esquerda da tela para que se troque de tela de fato. O problema é que os comandos se intercalam, fazendo com que o jogador troque de tela inúmeras vezes em vez de selecionar o item que está na ponta esquerda do inventário.
Referências Famosas
O jogo também traz várias referências: Michael Jackson, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Gremlins… há um momento onde é preciso dar para Edgar Alan Poe e H. P. Lovecraft um livro que é mais assustador do que qualquer um que eles tenham publicado (spoiler: esse livro é Crepúsculo). Também os nomes dos casos são paródias de títulos de filmes: Malice in Wonderland, Tome Alone, Disorient Express, entre outros.
Enquanto essas referências contribuem para a história, algumas passam dos limites, onde um conceito original se encaixaria melhor. Outro detalhe a ser notado é que, na tela de apresentação, o jogo dá destaque apenas ao detetive McQueen, sendo que o próprio Dooley ou Raxa, uma investigadora paranormal que ajuda a dupla no segundo caso e volta em outros, aparecem por tempo suficiente para serem apresentados também.
Estrutura Sólida
Claro que nem tudo é problema, mesmo no início. A espinha dorsal do jogo funciona sempre, o elemento de investigação é bom, algumas soluções são árduas e requerem investimento do jogador. Existe também o elemento da paranormalidade envolvendo o Darkside e o que ele proporciona, esse aspecto é interessante e se sobressai ao compararmos com Phoenix Wright e Ace Attorney.
Na série da Capcom, o contexto paranormal da mediunidade era algo já esclarecido desde o início e “ajudava” o jogador, aqui ele está do lado oposto, se tornando em algo a ser descoberto. A atmosfera também funciona muito bem, se utilizando de imagens intrigantes, iluminação e elementos como os caracteres usados em um ritual ou na arte dos monstros.
É preciso acrescentar também que os elementos relacionados ao Darkside são muito inspirados em filmes dos anos 80, como o próprio Gremlins, Os Aventureiros do Bairro Proibido e os terrores do gênero trash.
Audiovisual
Quanto aos gráficos, por mais que eles sejam muito simples, quem tem tolerância com gráficos pixelados deve se acostumar, apesar de que, quanto mais afastados estão os personagens do ponto de vista, melhor eles parecem.
A trilha sonora é muito boa no geral, com músicas de qualidade que combinam com a proposta do jogo. É possível notar inspirações de filmes policiais dos anos 80, Harry Potter, a própria série Ace Attorney. A única inspiração que não funciona muito bem é a de Blade Runner, que apesar de garantir bons acordes para a trilha, funcionaria melhor em um contexto de ficção científica do que de magia.
Progresso e Evolução
O jogo, então, passa da metade e melhora gradativamente, como já comentado. As piadas somem – apesar de que há duas piadas nos créditos, que aliás funcionam melhor do que todas as piadas boas do jogo inteiro – os clichês somem e as referências diminuem. Em resumo, a maioria do que antes causava problemas começa a ser deixado de lado, deixando os elementos do mistério e da investigação se sobressaírem.
A história começa a ganhar mais peso narrativo, se cria um maior sentimento de urgência e provavelmente os roteiristas passaram de nível, deixando os diálogos melhores. Em um determinado momento do último caso o jogo ousa dividir o gameplay, onde o jogador tem que controlar o detetive McQueen e o policial Dooley separadamente, mesmo que por um curto período.
Conclusão
O que realmente faltou para que The Darkside Detective fosse um jogo ótimo, é que os desenvolvedores, quando amadureceram, revisassem o início e o polissem usando as novas habilidades e experiência que adquiriram. Claro que essa decisão desorganizaria todo o cronograma e eles teriam muito mais trabalho, mas é então que se percebe uma pressa e priorização para o lançamento do que realmente ter o desejo de impressionar o público e a indústria.
Uma das piadas dos créditos faz alusão ao jogo ter uma sequência caso as vendas sejam boas. Por mais que devemos torcer pelo sucesso dos outros, caso realmente exista um próximo jogo, o ideal é que ele seja feito considerando a qualidade do ato final de The Darkside Detective, e não sua premissa, que é o que ele mais utiliza para se vender.