Análise Arkade – The Division 2 é mais do mesmo, porém melhor
Quando o primeiro The Division saiu, em 2016, era possível ver que a Ubisoft tentava algo diferente. Ao invés da ação tática de um Ghost Recon, tínhamos um mundo pós-apocalíptico, e os sobreviventes tentando reorganizar o que sobrou de uma Nova York destruída. O online foi uma de suas maiores novidades, oferecendo a criação de clãs. E também a zona cega, que permitia um gameplay bem diferenciado.
Estamos em 2019, e, no mundo de The Division, se passaram apenas sete meses. O palco agora é a capital dos EUA, Washington DC. Com direito a Casa Branca de base principal de operações. O temível vírus verde chegou por lá também, e é seu dever ajudar a restaurar não apenas a ordem na cidade, como o futuro da nação. Uma vez que é a capital que está em jogo.
Se a Ubisoft não quis reinventar a roda com muita coisa no primeiro jogo, nesta segunda iniciativa, ela se esforçou mais em evoluir o que já havia dado certo. Não dando muita bola para enredos, e focando mais no gameplay, especialmente o online, fomos convidados para explorar o caos na capital dos EUA.
Pouco enredo, mais ação
The Division 2 anda por dois caminhos opostos, quanto a seu gameplay. Por um lado, o típico formato de um gameplay single-player. Com um mapa para se explorar, evoluir seu personagem e um sistema bem completo de evolução. E, por outro, o formato que é comum aos jogos online, que consistem em apenas uma justificativa para cenários, armas e combates.
É o que acontece em relação ao enredo. Não procure The Division 2 se o seu interesse é querer saber o que aconteceu com Washington após a grande crise do vírus verde. As cutscenes são poucas, nulas quanto a conteúdo, e genéricas ao ponto de servirem só pra mostrar para o jogador que ele está avançando no game.
Seu personagem, por exemplo, é construído por você mesmo. E só serve como o “agente”. Sem nenhuma personalidade, ou algo que pudesse somar ao jogo. Wildlands e Far Cry 5 funcionam da mesma forma. Mas temos que levar em consideração que os vilões de ambos os jogos tem carisma de sobra, coisa que você não irá encontrar nos genéricos Hienas.
Você nem precisa jogar o primeiro game para se localizar em meio aos fatos. O pouco apresentado serve para você ser introduzido ao universo do jogo, e sair completando suas missões. Mas, quanto a ação, esta sim, segue bem afiada. Por se tratar de uma cidade destruída, e dividida, Washington se transformou em uma terra de ninguém.
Isso significa que não é incomum você andar pelas ruas, repletas de carros revirados, corpos jogados e prédios abandonados, e achar algum tiroteio acontecendo. Este clima hostil é um convite para a ação. Você vai trocar muitos tiros durante as missões, mas poderá fazê-lo também em um “passeio” sem compromisso pelas ruas.
A repetição que se salva pela administração
Se The Division fosse apenas um jogo de missões, seria um jogo chato demais. As missões do game, sejam elas principais ou não, são exatamente iguais. Significa que você tem que entrar em um lugar, trocar tiros com inimigos, lutar contra um adversário com maior poder de fogo e proteção, e encontrar algo, ou alguém. E isso acontece de novo, e de novo.
A conquista dos mapas é exatamente igual. Você encontra uma base inimiga, invade, troca tiros, enfrenta o líder do local e resiste a uma investida de inimigos. Que é igual a tarefa de evitar a disseminação de propaganda inimiga, ou a de evitar assassinatos de reféns. Ou ainda, de restaurar pontos de controle.
O que salva o jogo é, além de suas zonas cegas, a administração. A Ubisoft pegou o que ela tem de melhor em administração de recursos e caprichou neste sentido, em The Division. Temos o sistema de armas e proteção de Assassin’s Creed Origins/Odyssey, e a melhora de bases de Far Cry 5. Assim como o atual sistema de exploração de mapas da empresa. Como forma de pausa para a ação, é possível mexer em muita coisa, a fim de melhorar o seu desempenho no game.
Dá pra obter recursos, melhorá-los, doá-los para colônias amigas, obter melhorias e ver seus espaços mais funcionais. Desde a Casa Branca, passando pelos outros esconderijos, temos muito a se fazer. E, apesar de não ser a função principal do game, ajuda um pouco a diminuir a sensação de repetitividade que o game oferece.
Trocando tiro com estilo
Apesar da repetição, é preciso elogiar a criatividade da Ubisoft nos combates. Além das inúmeras metralhadoras e pistolas, cada uma adequada ao nível do jogador, também há muito mais para se “gastar” em combate. Por exemplo os acessórios, como drones, minas terrestres ou torretas, que garantem “armas extras” por um período de tempo, proteção, detecção de inimigos, ou restauração de energias.
Também há pelo game carrinhos que você terá que lidar, várias vezes, em ataques inimigos. Carrinhos com bombas embutidas, ou serras elétricas vão te incomodar muito. Como também as armas experimentais, o que inclui, por exemplo, uma bem chata que te gruda e dá a oportunidade do inimigo te encher de bala. E, como a vida aqui é tratada como um jogo online, prepare-se para morrer. E muito.
Não serão poucas as vezes que você vai morrer e ter que voltar de uma base próxima, o que garante uma boa caminhada até a volta do seu objetivo. Só há alguma regalia durante as missões, e em seus primeiros momentos. Fora isso, morreu, volta para uma base que você escolher, e começa tudo de novo. O que é bem cansativo, francamente.
Mas a ação compensa essa questão. Apesar de você acabar decorando o comportamento dos inimigos em determinado ponto do jogo, a dinâmica deles é sempre muito agressiva, o que exigirá do jogador movimentação. Os inimigos vão pra cima, sem dó, facilitando ás vezes até a distribuição de balas por sua parte. Eles sempre atacam avançando como podem em sua direção, exigindo que você nunca fique parado em apenas um lugar.
Tal movimentação seria perfeita, se não fossem os problemas com a movimentação. Várias vezes o jogo impede uma movimentação melhor, graças a um problemático sistema de cobertura, e um sistema de evasão mal planejado, que funciona pressionando o mesmo botão de proteção duas vezes, confundindo tudo. Não serão poucas as vezes que sua mente pensará uma coisa, e o jogo executará outra, em momentos cruciais.
E, outro problema a se mencionar, é a quase inexistência de um modo stealth. Pelo menos para invadir uma base e conseguir um posicionamento maior. Nem com os silenciadores disponíveis, o jogo fica amigável para pequenas invasões furtivas. Parece que tudo por aqui, tem que ser feito no “jeitão Rambo”.
Mas nem estes problemas tiram a graça do tiroteio de The Division 2, um dos mais divertidos dos últimos anos. Acredito que, se houver o interesse em lançar um terceiro game, bastaria focar mais na movimentação dos personagens, do que no tiroteio em si. Aí sim, iria melhorar, e muito, tudo isso.
Uma nova Zona Cega e um novo fim de jogo
A cereja do bolo do primeiro The Division evoluiu. Agora são três zonas, espalhadas pelo mapa de jogo, disponíveis após uma missão de reconhecimento, que por sua vez são ativadas após a investigação de locais infectados. Entrando na Zona Cega, se inicia um novo jogo, com barra de evolução própria, e algumas novidades.
Uma delas é que você não vai mais perder seus equipamentos e experiência, caso morra. E muitos dos itens encontrados por lá podem sair com você mesmo, sem a necessidade do helicóptero. A extração ainda existe, mas servirá para momentos mais pontuais, e específicos.
E, outra novidade, focada para manter os jogadores mais presos no jogo, é o seu “new game”. Chamado de endgame, ele é ativado após o fim da história principal e a chegada ao nível 30. No contexto do game, você conseguiu, de fato, erradicar a ameaça em Washington. Entretanto, uma nova facção se aproveita e busca ela dominar Washington. São os Black Tusk.
Com eles chegam três habilidades especiais, novas missões, e melhores recompensas. É quase como o episódio da “princesa que está em outro castelo” de Super Mario Bros., mas com melhorias que vão garantir os jogadores interessados ainda mais presos no jogo.
Em grupo ou sozinho, ainda um jogo interessante
The Division é uma série bem interessante. Os dois games não são perfeitos, apesar das melhorias do segundo jogo. Mas ele tem um ar de honestidade tão interessante, que os jogadores que curtem o game, acabam por relevar seus problemas, em nome de um divertido gameplay.
Quem gosta de jogar sozinho, poderá explorar Washington e encontrar seus cartões postais, enquanto encara uma ação aqui e ali. Quem joga em grupo, terá muito trabalho pelas ruas da cidade condenada. A evolução no game faz parte de um sistema de recompensas que cativa o jogador. E suas ideias de ampliar a jogatina, como a Zona Cega, e seu endgame, são suficientes para manter os adeptos dentro do jogo por meses. Isso sem contar os DLCs, gratuitos, que chegarão em breve.
The Division 2 já está disponível, com versões para Playstation 4 (compre na Amazon), Xbox One (compre na Amazon) e PC (compre na Nuuvem).