Análise Arkade: A cansativa experiência de The Flock
Um jogo que valoriza cada vida perdida em uma partida prometendo um surpreendente final. Mas será que The Flock funciona ou não passa de uma ideia promissora? Confira agora em nossa resenha!
A premissa de um jogo multiplayer que coloca as vidas de todos os competidores em um contador que acaba caso chegue a zero é no minimo incomum de ver hoje em dia, e muitos podem considerar a ideia de botar um prazo de validade em seu jogo mais insana ainda.
Mas é exatamente isto que a produtora holandesa Vogelsap fez com The Flock, um multiplayer assimétrico que te coloca em um embate constante de monstros com o objetivo de encontrar um artefato de luz em algum ponto especifico do cenário, resultando em um “pega-pega glorificado”. Coloque essa brincadeira e adicione alguns elementos de terror e o resultado é The Flock, em sua melhor forma.
Mas The Flock não sai ileso, dando vários tropeços que no final te dá a sensação que o jogo está incompleto de alguma forma.
PERSEGUINDO A LUZ
A mecânica de The Flock é bastante simples, você encarna uma veloz e agressiva criatura que faz parte do flock, com o objetivo de seguir a luz que está em algum lugar no mapa. Sua agilidade te coloca rapidamente em um ponto mais alto para encontrar a luz, após avistá-la você corre, pula e se move rapidamente até encontrar o artefato que está emitindo está misteriosa iluminação. Ao manusear o artefato, seu corpo muda e a acrobática e feroz criatura se torna um pequeno ser bípede com passos bastante lentos por causa do pesado artefato, se tornando o carrier.
O artefato é uma espécie de lanterna e seu objetivo se torna um caminho tortuoso para ativar certos pontos do mapa os iluminando até chegar no destino. Mas como isso é um jogo competitivo, você tem mais quatro criaturas espreitando pelas sombras querendo te pegar e adquirir este artefato.
E assim o jogo se torna uma dicotomia constante entre a caça e o caçador. Cada um deles tem suas vantagens e desvantagens, resultando em um combate bastante divertido quando todos esses elementos se encaixam corretamente.
Enquanto a criatura é veloz, ameaçadora e extremamente forte a ponto de matar o carrier com um único golpe, ela tem a desvantagem de morrer com um rápido feixe de luz do artefato de sua caça, se tornando um verdadeiro canhão de vidro. Para se defender disso, a criatura consegue virar uma estátua quando está imóvel, conseguindo ficar imune ao poder da luz mas não podendo se mover.
No outro lado do combate, o carrier é lento e precisa estar em constante movimento para que o artefato funcione, já que o poder da luz vem diretamente da locomoção. O carrier consegue balancear a luz para que deixe com um foco mais intenso e um feixe mais fechado, ou mais fraco porém com uma área mais ampla que o normal. Essa inversão de valores traz mais imprevisibilidade para o jogo e momentos interessantes que formam a tensão e o clima de The Flock, complementando a arquitetura sombria dos cenários e a aparências das criaturas que formam o flock e você tem uma experiência bastante aterradora em certos momentos.
A ADRENALINA DA CAÇA
O ato de manusear o artefato e ter em mente que várias criaturas estão te perseguindo e que irão te pegar em qualquer deslize é extremamente emocionante e forma alguns dos melhores momentos do jogo inteiro. E o mesmo vale quando você é a criatura e está planejando diversas estratégias para matar o carrier e adquirir o artefato para si.
As vantagens das criaturas do flock vão desde essa agilidade animalesca até alguns poderes mais interessantes, como o poder de criar uma cópia de si mesmo para ludibriar o carrier. Em outros momentos você pode até tirar vantagem das outras criaturas para mover diferentes estratégias, fazendo as criaturas do flock se tornarem uma equipe involuntária pelo fato que todos estão procurando o mesmo objetivo individualmente, mas que iriam se beneficiar caso estivessem trabalhando juntos.
A luta da caça contra o caçador se intensifica por não ter quase nenhuma informação visual na tela, você não tem mapas, huds e medidores, enquanto todas as opções estão disponíveis para que os jogadores possam utilizar da forma que bem entender. Esta escolha é inteligente porque deixa somente o necessário visível e bastante espaço para procurar os pequenos cantos vantajosos para os dois lados da luta, enquanto os cenários não são grandes o bastante para ter essa obrigação de existir um mapa.
Toda essa naturalidade complementa o clima do jogo, disponibilizando três mapas diferentes — Templo, Caverna e Cortiço — que alternam entre lugares amplos, corredores fechados e vários pontos de vantagem no cenário em torno dos lugares principais de cada mapa. Preparar uma estratégia e ver ela dando certo, tanto pro lado da caça quanto para o caçador, é extremamente satisfatório e te deixa animado com a premissa do jogo.
Após morrer, aparece o que sugere ser o crânio de um dos monstros do flock e logo abaixo um contador marcando a sua morte. Neste momento que você nota o iminente desfecho que The Flock promete chegando cada vez mais perto, o grande problema é que este desfecho vai demorar um longo tempo para chegar, sendo que até o momento desta análise o contador está em um pouco mais de 200 mil.
RACHADURAS NA ESTRUTURA
The Flock faz de tudo para manter esse clima tenso com uma pequena pitada de terror, mas não é o bastante para ignorar alguns dos problemas mais visíveis que ele possui. Todos os elementos que adicionam ao ambiente geral de The Flock são rapidamente descartados quando notamos a falta de polimento nos cenários e personagens, os erros casuais em torno a precisão da jogabilidade e a repetição excessiva que o jogo rapidamente se torna.
The Flock traz uma sensação de que o jogo está incompleto, parecendo que foi lançado em fase de testes. Três cenários que contém o mesmo objetivo e as mesmas táticas são péssimos incentivos para te deixar com vontade de jogar, que por sua vez quebra toda a premissa de ser o último sobrevivente e testemunhar o tão prometido climax.
Para piorar, The Flock não indica o que pode ser este climax e te coloca em um mundo vazio com o mínimo de contexto possível. Até o momento não sabemos o que é o artefato, as criaturas, o motivo delas se tornarem algo completamente diferentes ao tocar no artefato e o porquê disso tudo. A falta de vontade de atiçar o jogador com sua história e universo é proporcional à preguiça que ele terá para descobrir, sendo uma luta cansativa que não te recompensa o bastante para continuar jogando.
Por fim temos a jogabilidade em si, que por mais interessante ela é em certos momentos, a grande parte da experiência é uma complicação que você precisa compreender e acostumar com os erros. Não é nada grave, mas ainda existe uma necessidade de lutar contra estes empecilhos que diminuem a experiência.
Estes mesmos empecilhos acabam agravando The Flock pelo efeito cascata que é causado no universo do jogo. A grande quantidade de vidas disponíveis vai continuar a mesma porque a quantidade de pessoas é inversamente proporcional, resultando em um número ainda maior de partidas para chegar até o suposto desfecho, isso se você encontrar pessoas que estão dispostas a jogar.
CONCLUSÃO
The Flock tem uma premissa cativante mas faz pouco para te prender nela, com uma história que não te cativa em volta de um jogo incompleto. Isto não quer dizer que ele não tem seus momentos divertidos, as tentativas de trazer este mundo para o jogador dão certo em certas ocasiões e não posso negar que me diverti em várias situações que o jogo te coloca durante este confronto entre as criaturas do flock e o carrier.
Porém, o foco de The Flock é o mistério em torno do suposto desfecho e a premissa de “matar” um jogo após o fim deste contador. E vejo que ele falha nessas duas instâncias, trazendo pouco motivos para que jogador possa se interessar naquele universo e um jogo que acaba prolongando demais a experiência de jogar, finalizando em um processo que muitas vezes se torna maçante.
The Flock foi lançado para PC e está disponível no Steam.