Análise Arkade: The Pedestrian e seus cativantes puzzles dentro de placas
O mundo dos games está sempre nos surpreendendo. Quando não com suas grandes histórias e sagas épicas, pela maneira brilhante com que consegue extrair grandes obras de objetos prosaicos e situações cotidianas.
Jogos como Superliminal ou The Stanley Parable vão por este segundo caminho, e nos surpreendem pela genialidade com que inserem elementos de nosso cotidiano dentro de uma mecânica e de um loop de gameplay. The Pedestrian é o mais novo jogo deste estilo, e ainda que seja basicamente um jogo de puzzle e plataforma 2D, sua apresentação é o que mais chama a atenção.
Ela é tipo assim, ó:
Pois é, o jogo nos coloca no controle de um “boneco palito”, destes que a gente vê em portas de banheiro, placas de trânsito e saídas de emergência. Nosso bonequinho transita entre placas, semáforos e sinalizações, e nosso objetivo é ajudá-lo a trilhar este caminho pouco comum. Como? Botando o cérebro pra funcionar e resolvendo um punhado de ótimos puzzles!
Viajando pelas placas
The Pedestrian se passa o tempo todo dentro de placas de sinalização, e nosso bonequinho pode passar de uma placa para outra… desde que haja uma conexão entre elas. Criar essas conexões é nosso trabalho, bem como controlar o bonequinho enquanto ele transita entre elas.
Funciona assim: há portas e escadas espalhadas por diferentes placas, e elas precisam se conectar para o personagem poder passar. Se uma placa tem uma porta saindo pelo lado direito, ela deve, obrigatoriamente, se ligar com a porta do lado esquerdo de outra placa. Se há uma escada descendo, ela precisa se ligar com uma escada que esteja subindo em outra sinalização.
O que começa fácil e intuitivo logo se torna um bom exercício para o cérebro, pois geralmente existe uma combinação bem específica de portas/conexões que deve ser feita para progredir. O lance é tentar visualizar a solução reorganizando as placas (o que nem sempre é possível), para não ficar preso no esquema “tentativa e erro”.
Logo também começam a surgir trampolins, lasers e placas que devem ser sobrepostas para complicar as coisas. Ah, e as ações de nosso bonequinho também impactam no mundo real, de modo que, colocar uma bateria (virtual) em um dispositivo faz ele funcionar de verdade, o que pode abrir novos caminhos que levam o jogo adiante. Nosso bonequinho de palito consegue até dar a partida no metrô!
The Pedestrian acerta a mão em seus puzzles: eles não são simples demais a ponto de subjugar a inteligência do jogador, nem complexos demais para tornar a experiência frustrante. Há a dose certa de desafio para manter o jogador entretido e fazê-lo se sentir esperto quando mata a charada. É um feito que poucos jogos conseguem, e este equilíbrio está perfeito aqui.
Também é muito interessante a maneira com que ele evolui seu próprio conceito: o que começa literalmente como um bonequinho desenhado a lápis logo está dentro de componentes eletrônicos, afetando o “mundo real (do jogo) com suas ações. E espere até chegar na reta final do jogo, que traz uma reviravolta bem impressionante (não vou dar spoilers aqui)!
Audiovisual
The Pedestrian nós mantém”preso” no mundinho 2.5D de placas e sinalizações, mas é incrível ver o vasto mundo tridimensional construído ao redor delas (as placas). É como se o jogo se passasse no mundo real, e vamos passar por cruzamentos movimentados, fábricas, elevadores, metrôs e muitos outros ambientes tipicamente urbanos.
E estes cenários são todos muito bonitos e realistas, ainda que sejam apenas o pano de fundo de nossa pequena jornada através das placas. É incrível o trabalho de construção de mundo que foi feito em torno de um conceito tão simples. Mecanicamente, The Pedestrian poderia tranquilamente ser um jogo totalmente 2D com visual retrô, mas isso sem dúvida tiraria boa parte de seu charme, que está justamente no conceito de paisagismo urbano.
A trilha sonora é minimalista (até demais), aparecendo mais para indicar ao jogador que ele completou algum objetivo do que para ser algo presente. Isso é até bom, pois dá um senso de recompensa e deixa espaço para o jogador pensar sem ser distraído. Não há conversas, nem vozes — também por isso, o jogo não recebeu localização para o nosso idioma.
Conclusão
The Pedestrian é um jogo realmente único. Quer dizer: existem centenas de jogos que misturam puzzle e plataforma no mercado, mas nenhum deles foi feito como este aqui. E isso torna-o realmente especial.
Mesmo sem uma grande história sendo desenvolvida, o jogo faz com que a gente realmente se importe com “o pedestre” (e queira ajudá-lo a ir até o fim de sua jornada). E conseguir criar esse apelo por um personagem tão simples — sem que uma palavra precise ser dita — só reforça os méritos desta obra, que já de cara entra para a lista de jogos com potencial de pintar entre os Melhores do Ano.
Espero que o jogo migre para mais plataformas — suas mecânicas de arrastar coisas e “ligar pontos” super funcionaria em telas touchscreen –, pois quanto mais pessoas puderem ter acesso ao jogo, melhor. É uma experiência criativa, fresca e cativante, algo que não é todo dia que aparece.
The Pedestrian foi lançado em 29 de janeiro. Por enquanto, o game é exclusivo para PCs, e está disponível na Steam.