Análise Arkade – The Thaumaturge traz investigação sobrenatural na Polônia de 1905
Em meio a tantos jogos “ultra realistas” e com Blockbusters que sempre prometem a “experiência definitiva”, jogos independentes e de menor porte são muito bem vindos, pois são eles quem trazem a criatividade em dias os quais os jogos acabam ficando tão “iguais” por causa de engravatados que travam a criatividade de muitos estúdios.
Entre as boas opções de jogos mais simples, mas que trazem muita coisa legal para se fazer, temos The Thaumaturge, um RPG com visão isométrica e que lembra muito uma versão moderna dos clássicos RPGs dos anos 90, que tem charme próprio e tem tudo para divertir fãs do gênero. Não é um game “para o TGA”, mas com certeza tem potencial para divertir mais do que muito jogo indicado na premiação.
O game oferece o que todo bom jogo de RPG dos anos 90 tinha pra oferecer: boa história, combates em turnos e muita exploração pelos cenários. Ele traz algumas inovações e um sistema de investigação e busca de pistas que me fez sentir, de verdade, jogando um RPG de Super Nintendo ou PS1 enquanto andava pela Polônia de The Thaumaturge.
Falando na Polônia, os contextos em torno do jogador também são interessantes. A Polônia é um país que teve um século XX bem intenso, com a ocupação soviética, os vários conflitos de interesse em seu território e, a mais conhecida, a invasão nazista que deu início à Segunda Guerra Mundial. E, no contexto de um game cuja história se passa em 1905, podemos ver o barril de pólvora polonês em plena ebulição em Varsóvia e nas vilas em que andamos, com o Império Russo, que dominava a região na época, comunistas, que estavam começando com aquilo que conheceríamos como a União Soviética e muito mais coisas daqueles dias.
Em The Thaumaturge, você joga como um Thaumaturge, um ser humano com poderes sobrenaturais e com capacidades de detetive extradimensional (quase como Yusuke de YuYu Hakusho) chamado Wiktor. Sua história envolve buscas por respostas para a morte recente de seu pai, ao mesmo tempo em que ele tenta lidar com o luto. Ele estava quinze anos fora de casa, então o que ele mais precisava era de respostas. E neste game você parte em rumo a elas. São 20 horas de uma história com forte foco narrativo, e com muita coisa para investigar, falar e ouvir.
O game tem um ritmo muito mais lento do que o usual de hoje em dia, fazendo dele um “ame ou odeie”, de acordo com a opinião de casa um sobre esse ritmo de jogo. Você terá, em momentos do game, que conversar com muita gente, e investigar os locais com seus poderes, para desbloquear respostas que entregam ainda mais informação do lugar. As habilidades adquiridas durante o game também servem para desbloquear respostas no jogo, exigindo uma boa exploração dos lugares em que anda. É possível também escolher o tom das respostas, com respostas orgulhosas modificando as coisas no game.
Você realmente terá que bancar o detetive, pois além de conversar, é preciso andar e investigar praças, lojas, casas e locais públicos, sendo possível, com seus poderes, até investigar emoções, como cheiros e sensações deixadas pelas pessoas em alguns itens. Sentir as emoções ajuda a construir um cenário e entender as motivações dos investigados, com cada pista entregue como a nota de um livro.
Todos no jogo são tensos, por questões pessoais e pelo barril de pólvora político que a Polônia era em 1905. E você terá que interagir com toda essa gente, seja da alta sociedade ou do povo, enquanto busca por respostas em um ambiente de quase revolução. Isso sem falar no Folclore local. O game conta com os Salutors, criaturas espirituais que são parte importante dos combates. Wiktor vai coletando seus Salutors quase como uns Pokémons, e na hora das lutas, eles que irão ajudar.
Os combates são simples, mas eficientes. Os ataques são por turnos mas seguem uma ordem de tempo, o que traz estratégia para a batalha. Os Salutors também atuam, atacando de acordo com a criatura escolhida e o golpe que pode ser para tirar energia ou atacar magicamente o oponente. Você vai notar que eles são repetitivos às vezes, mas são bons e exigem, mesmo nos níveis mais fáceis, atenção e estratégia. É o famoso jogo que pede para você entendê-lo antes de aproveitá-lo, mas que entrega uma boa experiência para quem o encarar.
The Thaumaturge me agradou por ser simples, mas profundo. Andar pela Polônia do início do século XX e sentir a tensão das ruas, além das questões pessoais de Wiktor, é sensacional. O jogo também traz ótimas investigações, bons diálogos, uma excelente história e é mais uma prova de que, com menos é possível fazer mais.
The Thaumaturge já está disponível para Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC.