Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

21 de março de 2014

Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

O maior ladrão do mundo dos games está de volta! Confira na sequência nossa análise de Thief, game que marca o retorno de Garrett!

O Thief original, lançado em 1998 marcou época por ser um dos precursores do gênero stealth. O jogador era encorajado a se esconder nas sombras, não fazer barulho e evitar o combate direto com os inimigos.

Justamente por estas características – que na época eram bem inovadoras- o game se destacou e ganhou duas sequências, ambas muito elogiadas. Embora hoje em dia o stealth seja bem comum por conta de jogos como Metal Gear Solid, Splinter Cell e Dishonored, o reboot de Thief foi recebido com euforia justamente pela importância da série.

Se por um lado o novo jogo não é bom o bastante para se equiparar à série clássica, por outro, ele ainda oferece uma excelente experiência stealth, e deve agradar em cheio aos entusiastas do gênero.

Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

A trama do novo Thief começa com um toque sobrenatural: Garrett e sua companheira, Erin, estão em uma missão para roubar um misterioso artefato chamado Primal Stone. Quando a missão está quase concluída, porém, a tal relíquia libera um vórtice de energia mística que desaparece com Erin e nocauteia o protagonista.

Quando desperta, nosso ladrão está ávido por saber do paradeiro de sua parceira. Sua busca por respostas acaba colocando-o no caminho do Barão, um tirano que governa com braço de ferro a sombria The City, e parece esconder muitos segredos obscuros.

A trama do game parte de uma premissa bacana, mas não é necessariamente empolgante. Ela segue um caminho bem básico, sem grandes surpresas ou reviravoltas na narrativa. Felizmente, o andamento cadenciado dela dá tempo do jogador aprender a se portar como um verdadeiro ninja enquanto vaga pela gigantesca metrópole surrupiando tudo o que aparece pelo caminho.

Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

A exploração em si – que é um dos pilares de qualquer jogo stealth – funciona suficientemente bem. A jogabilidade parece uma mistura de Dishonored com Assassin’s Creed (em primeira pessoa): temos uma variação do free run dos assassinos, bastando que o jogador mantenha um gatilho pressionado e mova o analógico para a direção desejada para correr, saltar, escalar e se dependurar. Curiosamente, não temos um botão de pulo, todos os saltos são executados automaticamente neste free run.

Garrett é ágil e rápido como todo bom ladrão deve ser, e fica praticamente invisível quando está nas sombras. A escuridão é sua maior aliada, e você pode mantê-la sempre por perto apagando luzes, velas e lampiões. Para evitar flagrantes indesejáveis, Garrett ainda pode dar uma espiadinha discreta pela lateral de paredes e móveis.

O ladrão ainda é capaz de rastejar e possui habilidades bem úteis, como o Swoop, que permite que o personagem se esgueire de maneira rápida e silenciosa (somente a curtas distâncias) para surpreender inimigos ou buscar abrigo. Usando uma ferramenta que é meio gancho, meio pé de cabra, Garrett ainda pode escalar muros baixos e arrombar portas, janelas e gavetas.

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Para facilitar a vida dos não familiarizados com o gênero, temos ainda as Focus Habilities, que funcionam de diferentes maneiras. Por exemplo, na hora da exploração, elas realçam inimigos e pontos de interesse, mais ou menos como o Detective Mode da série Arkham. Já durante um confronto ou perseguição, o Focus irá automaticamente se transformar em uma câmera lenta, permitindo que o jogador mire com mais precisão.

Enquanto explora a vasta cidade gótica em busca de pistas e informações, Garrett pode fazer aquilo que faz de melhor: roubar. É possível abrir armários, gavetas e escrivaninhas em busca de itens “roubáveis”, bem como furtar dinheiro dos bolsos de NPCs descuidados e buscar cofres ocultos atrás de quadros e painéis.

Podemos roubar praticamente qualquer coisa que esteja dando sopa: joias, xícaras, moedas, livros, copos, garrafas, canetas, castiçais, garfos (?!)… nada escapa das mãos ágeis de Garrett. Como o sistema de upgrades do jogo está diretamente atrelado à quantidade e qualidade dos seus roubos – que além de grana lhe rendem pontos de experiência – roubar acaba se tornando um hábito (só no game, ok?), então sempre que puder, faça a limpa em todos os ambientes.

Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

Estas tranqueiras aleatórias até rendem dinheiro e XP, mas não fazem jus ao título de “Master Thief” ostentado pelo protagonista. Claro que você não precisa se contentar somente com isso: durante a maioria das missões você pode roubar itens mais valiosos, que estão muito bem escondidos em palacetes repletos de guardas, e geralmente envolvem elaborados enviromental puzzles para serem alcançados.

Como no Thief original, você pode optar por não matar ninguém durante toda a campanha. Garrett pode eliminar seus inimigos de maneira não letal de diferentes maneiras, mas para quem quer um nível maior de desafio e imersão, o ideal é abordar uma postura 100% stealth, desaparecendo nas sombras e inventando maneiras engenhosas de cruzar os cenários sem que os guardas sequer tomem conhecimento de sua presença.

Uma abordagem realmente ninja demanda muita paciência, mas é sem dúvida recompensadora, pois o jogo oferece múltiplas opções para se encarar cada desafio. Você tem um arco e flecha para emergências, mas ao invés de mirar sua seta na cabeça de um soldado, que tal direcioná-la para uma vidraça, uma fogueira, ou qualquer outra coisa que crie uma distração temporária, permitindo seu avanço? O segredo é pensar de maneira “pacífica”, respirar fundo e se manter na escuridão.

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Felizmente, praticamente todas as habilidades de Garrett podem ser melhoradas por meio dos Focus Points que você arrecada de diferentes maneiras. O sistema de upgrade é relativamente denso, permitindo que você aumente a força ou a defesa do protagonista, bem como diminua o som de seus passos, melhore sua camuflagem nas sombras e até otimize sua habilidade para destrancar cofres e portas.

A personalização também é bastante profunda no que tange a dificuldade: é possível configurar individualmente diversos recursos do jogo, como desabilitar parcialmente ou totalmente os takedowns, desativar saves manuais ou eliminar o uso das Focus Habilities de Garrett. Pode-se desligar até mesmo a fala (?!) do protagonista, se você julgar desnecessários seus monólogos e reflexões. Jogos como Dishonored ou Skyrim nos obrigam a jogar com personagens mudos, mas aqui isso é opcional; no modo normal, Garrett é bem articulado.

Com isso, você pode adequar o nível de dificuldade do game de acordo com sua experiência no gênero: enquanto os novatos podem eliminar guardas, ouvir pistas e pedir arrego para as Focus Habilities, os veteranos podem abrir mão de todos estas regalias. Tudo isso sem necessariamente alterar a dificuldade do jogo, mas alguns elementos isolados que tornam a aventura mais ou menos desafiadora. Uma grande sacada, que merece ser replicada em games de outros gêneros.

Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

Nos aspectos técnicos, Thief brilha como os trovões que estão constantemente iluminando as ruas de The City. Quer dizer, há uma notável diferença das versões “next-gen” para as versões da “geração passada”, especialmente nos efeitos de iluminação dinâmicos (como os relâmpagos), na resolução e na taxa de framerate.

As texturas também são superiores nos PCs e nos novos consoles, mas isso só fica realmente nítido quando visto de perto. Na prática, se você ainda está com seu Playstation 3 ou Xbox 360, não se preocupe, pois Thief está longe de ser um jogo feio ou mal acabado.

Se ainda está em dúvida, confira abaixo um vídeo que o pessoal do IGN fez para ilustrar a diferença de visual do game em todas as plataformas. Clique no play e tire suas conclusões:

Existe um excesso de escuridão evidente, mas isso é algo obviamente pensado para favorecer a abordagem stealth. Mesmo com poucas cores e muitas sombras, é fato que a direção de arte de Thief foi muito caprichosa e atenciosa aos detalhes.

Infelizmente, o mesmo não podemos dizer do level design. Se por um lado ele nos brinda com cenários muito bem construídos que oferecem diferentes possibilidades de transposição, por outro temos um excesso de becos sem saída e passagens que se fecham magicamente, tornando o progresso um tanto particionado: perde-se a fluidez e a sensação de continuidade quando parece que estamos, basicamente, indo de uma “caixa” para outra.

A inteligência artificial dos inimigos até funciona, mas a rapidez com que eles desistem de uma perseguição é um tanto questionável. No já longínquo ano de 2011, Batman: Arkham City nos entregou capangas muito mais persistentes e determinados. Para piorar, a escassez de tipos de inimigos – temos basicamente 2 tipos durante todo o jogo – deixa as coisas meio repetitivas.

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O departamento sonoro dá uma escorregada bem feia, que esperamos que seja consertada por algum patch em breve: parece que a proporção distância X volume foi mal calibrada, de modo que você vai se assustar ao ouvir soldados conversando como se estivessem ao seu lado… mas poderá não encontrar soldado nenhum nos arredores, a conversa na verdade está rolando em outra sala, ou na próxima esquina.

Em outros casos, a voz dos personagens pode parecer tão baixa que será ofuscada pela trilha sonora incidental (que geralmente é muito boa). Isso também pode causar confusão, visto que soldados próximos podem parecer estar longe por conta do volume de suas vozes. É bizarro.

Este é um bug pouco comum no mundo dos games, e é tragicamente recorrente aqui. Em um jogo que prima pelo sigilo, isso pode arruinar o que deve ser uma legítima experiência stealth. Vamos torce para que a Eidos e a Square corrijam o quanto antes este problema.

Análise Arkade: a vida bandida de Thief (PC, PS3, PS4, X360, XOne)

A campanha de Thief é relativamente longa, exigindo em média 10 horas do jogador para ser completada. Se você é um cleptomaníaco hardcore e ainda resolver desabilitar todos os recursos “facilitadores” possíveis, é possível que gaste mais de 15 horas buscando itens roubáveis e planejando com cautela suas abordagens.

No fim das contas, Thief é um bom retorno de uma franquia que já foi sinônimo de qualidade, e merecia voltar com tudo. A jogabilidade acessível, o belo visual, o amplo sistema de customização e as boas mecânicas de stealth são muito bem-vindos, mas não conseguem segurar a barra de um jogo que possui falhas bem evidentes, e se mostra pouco ousado em termos de narrativa e variedade.

Se você não conhecia a série Thief ou é um entusiasta do gênero stealth, sem dúvida vai se divertir com este reboot. Mas se você conhece o passado de Garrett, talvez acabe com um gosto um pouco amargo na boca, um gosto de é bom, mas poderia ser melhor. Garrett está de volta, mas, com o perdão do trocadilho, a criatividade e o vanguardismo que definiram a série ficaram trancafiados em alguma gaveta que nem o mestre dos ladrões conseguiu abrir.

Thief foi lançado no dia 25 de fevereiro, com versões para PC, Playstation 3, Playstation 4, Xbox 360 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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