Análise Arkade: Transference é uma perturbadora reunião familiar (compatível com VR)

27 de setembro de 2018

Análise Arkade: Transference é uma perturbadora reunião familiar (compatível com VR)

Transference foi uma das surpresas mais enigmáticas da E3 deste ano. O game é fruto de uma parceria da Ubisoft com a SpectreVision, foi apresentado por ninguém menos que Elijah Frodo Bolseiro Wood, e prometia ser um passeio imersivo e perturbador pela psique humana.

Alguns meses depois, o jogo já foi lançado, e nós já tivemos a chance de experimentá-lo. Quer saber se esta empreitada em realidade virtual da Ubisoft merece seu dinheiro e/ou sua atenção? Então vem ver o que achamos do game!

Essa família é muito unida…

Transference começa com um emocionado depoimento do professor Raymond Hayes, que aparentemente acaba de conseguir algo extraordinário: transferir toda a complexidade da mente humana para um ambiente virtual.

No caso, Raymond usou sua própria família como cobaia para seus experimentos, e o que acompanhamos dentro da simulação condensa os fatos pela perspectiva dele, de sua esposa e de seu filho Benjamin. Algo deu muito errado nessa família, e cabe ao jogador investigar o apartamento deles e descobrir o que houve ali.

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A família Hayes

O assunto em pauta é bem relevante nos dias atuais. Elon Musk e outras personalidades científicas acreditam que a transferência da mente humana para um corpo artificial é o real caminho para a vida eterna. Claro que aqui a gente não se aprofunda muito no lado científico da coisa, pois o game usa este conceito como base para criar uma atmosfera de thriller que brinca com o lado tecnológico do típico suspense sobrenatural.

Escape Room Virtual

Você já foi a um Escape Room? Em muitos aspectos, Transference parece um escape room virtual: a maior parte do jogo se passa no apartamento da família Hayes, e conforme encontramos pistas e resolvemos puzzles, vamos descobrindo mais sobre o que aconteceu ali e ficando mais próximos da verdade.

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Alguns itens do cenário escondem pistas

Por ser um jogo compatível com dispositivos VR, Transference não tem um gameplay muito elaborado: nossas ações resumem-se a caminhar pelos cômodos, abrindo portas e gavetas, acionando mecanismos e buscando pistas em arquivos de vídeo, documentos e audiologs.

A exploração é limitada às áreas que podemos acessar, mas resolvendo os puzzles vamos liberando novas áreas, que escondem seus próprios segredos. Além de portas trancadas, alguns “bugs na Matrix” também podem impedir nosso progresso.

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Tipo assim

Como estamos em um ambiente virtual, nem sempre há lógica nas resoluções: há uma porta cuja senha deve ser escrita usando ímãs de geladeira (?!). Descobrir a senha é meio óbvio, a questão é: onde estão todos os ímãs?

Mundo invertido

Há uma vibe meio Stranger Things em Transference, e não falo apenas da estética ainda que ela também traga algumas similaridades com a série da Netflix (há até lampadinhas de natal pelas paredes!). O que acontece é que existem duas versões do apartamento, uma praticamente normal e outra um pouco mais sinistra, que é fácil de associar com o Mundo Invertido do seriado.

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A transição é feita através de interruptores de luz: basta “acendermos a luz” para viajarmos entre as duas versões do ambiente. Ainda que seja essencialmente o mesmo lugar, há diversas diferenças entre os dois “mundos”, com portas que simplesmente não funcionam em ambas, ou levam para lugares diferentes. Este aspecto mutante do apê me lembrou um bocado o casarão de Layers of Fear.

O jogo se aproveita destes ambientes gêmeos, obrigando o jogador a viajar entre eles para completar certos objetivos. Você pode ter que coletar um item em uma realidade para só usá-lo na outra, por exemplo, o que é um forma criativa de expandir o compacto universo do game.

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As vezes é “mundo invertido” literalmente, mesmo

O tal apartamento também apresenta por aqueles “loops” de parecer infinito, como vimos em P.T.: podemos sair do apê e subir ou descer as escadas, mas sempre vamos acabar indo para o mesmo lugar, pois só encontramos o mesmo apartamento em todos os andares.

Audiovisual

Dentro de seu escopo um tanto limitado, Transference entrega um visual bastante competente, sendo bem-sucedido em transformar um ambiente comum em algo distorcido, bizarro e claustrofóbico. Joguei da forma tradicional (na TV), mas não duvido que ele fique ainda mais incrível em VR, pois a imersão proporcionada deve ser potencializada ao máximo.

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Corredores escuros certamente ficam mais sinistros em VR

O áudio segue a mesma pegada, servindo para manter o jogador tenso o tempo todo. Há sempre algum ruído um tanto perturbador ecoando de algum lugar da casa, seja seu filho chamando por um walkie-talkie (Stranger Things…), o incômodo som de estática de um rádio ou os ganidos de um cachorro que nem está mais lá.

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A família é representada por pessoas reais

Vale ressaltar que a Ubisoft, sempre caprichosa, trouxe o game totalmente localizado ao Brasil. Considerando que temos muito conteúdo live action, optei pelo áudio original (em inglês) com legendas em PT-BR, mas quem quiser pode curtir o game com dublagens em nosso idioma.

Conclusão

Transference é uma experiência breve mas muito intensa, que ilustra bem o potencial da união de um estúdio de games (Ubisoft) com uma produtora de cinema (SpectreVision) quando elas trabalham juntas para contar uma história. Jogos como Layers of Fear, What Remains of Edith Finch e o próprio P.T. já nos proporcionaram ótimas experiências, mas aqui houve uma atenção maior ao “fator imersão”, algo que deve ficar ainda mais evidente em VR.

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O fato dele ser curtinho pode acabar desencorajando algumas pessoas, mas eu sempre parto do princípio de que qualidade é melhor do que quantidade, então acho melhor investir meu tempo em um jogo bom de 2 horas do que em um meia-boca que dure 20. Se você também pensa assim, vai fundo. Se já tem um dispositivo VR, então, é mais recomendado ainda.

Transference foi lançado em 18 de setembro, e está disponível para PC, Playstation 4 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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