Análise Arkade: a nostalgia e a pancadaria frenética de Transformers Devastation
Se você cresceu no fim dos anos 80/início dos anos 90, pode ser que tenha assistido o desenho animado “clássico” dos Transformers e talvez até brincado com os bonequinhos. E é este universo “retrô” que enfim chega ao mundo dos games com Transformers Devastation, confira nossa resenha!
Uma história manjada
Por ser totalmente focado na Geração 1 de Transformers, não espere uma trama super tensa ou cheia de reviravoltas mirabolantes: basicamente, Megatron e seus Decepticons querem transformar a Terra em um novo Cybertron (seu planeta natal, que foi destruído); cabendo a Optimus Prime e seus Autobots a missão de impedir que isso aconteça e salvar a humanidade.
Como nos desenhos de antigamente, tudo aqui é preto no branco, sem frescura. Você sabe quem é o vilão, quem é o mocinho, e o que deve fazer. A trama até envolve conceitos básicos de lealdade e altruísmo, mas o foco aqui é a ação, e essa trama “manjada” é só o estopim para o que realmente importa: a pancadaria entre robôs gigantes!
Verdade seja dita, a simplicidade da trama não chega a ser um ponto negativo, pois ela passa bem aquele feeling dos games e desenhos animados dos anos 90, onde o vilão tem um plano mirabolante para conquistar (ou destruir) o mundo e os heróis precisam acabar com todo seu exército de capangas para impedi-lo. Simples assim.
Robôs gigantes caindo na porrada
Na geração passada, os Transformers ganharam uma boa leva de jogos bacanas — estamos falando daqueles produzidos pela High Moon Studios: War for Cybertron e Fall of Cyberton –, mas todos eram shooters em terceira pessoa com pouquíssima ênfase em combate direto.
Aqui a coisa é bem diferente: quem já jogou alguma coisa da Platinum Games sabe que ela é boa em fazer jogos de combate intensos, como Bayonetta, Metal Gear Rising e Anarchy Reigns. Ela também sabe fazer shooters frenéticos — Vanquish –, mas é na pancadaria que a Platinum se sobressai, e ela aplicou todo seu know how para criar batalhas épicas entre robôs gigantes!
Sendo bem honesto, o gameplay de Transformers Devastation é bastante “requentado” de Bayonetta: usamos dois botões principais de ataque para montar combos, e há um botão de esquiva que, usado no timing correto, desacelera o tempo e deixa os inimigos vulneráveis, exatamente como funciona o Witch Time no game da bruxa boazuda. A receita pode não ser necessariamente nova, mas continua funcionando muito bem.
E há muita variedade pois além de termos 5 robôs controláveis — cada um com finalizações e golpes especiais únicos — há toneladas de armas que podem ser encontradas ou compradas: martelos, machados, espadas (simples e duplas), brocas, serras circulares e uma infinidade de metralhadoras, lança-granadas, rifles, lança-mísseis, armas laser e muito mais.
Todos os robôs são totalmente customizáveis, e você pode equipar nada menos que 4 armas em cada um, alternando entre elas com o direcional digital “on the flow”, sem quebrar a cadeia de golpes. Salvo poucas exceções — como os martelos, que só podem ser equipados em Optimus e Grimlock –, você está livre para equipar seus Autobots do jeito que quiser.
E como estamos falando de Transformers — robôs gigantes que se transformam em veículos e outras coisas — estas transformações têm papel importante nos combates: sempre que vir um clarão azul após um golpe, pressione o botão correspondente (R1 no PS4) para se transformar e aplicar um golpe em sua forma veicular: entre derrapadas, “zerinhos”, atropelamentos e esmagamentos, estes golpes são mais legais do que poderosos, mas sem dúvida agregam valor (e variedade) aos combates do game.
Bom, mas porque ficar aqui falando sobre o combate quando podemos te mostrar um pouquinho dele em ação? Confira o vídeo que capturei para ver como funciona a pancadaria com Optimus Prime, Bumblebee e Grimlock:
Reparou nas trocas de armas, que acontecem em tempo real, e no efeito câmera lenta após as esquivas bem sucedidas? Transformers Devastation pode não ter um gameplay necessariamente inovador, mas é rápido, divertido e sem dúvida rende combates bem empolgantes!
Alguns probleminhas
Claro que nem tudo são flores: sendo eu um fã do gênero hack ‘n slash e do Bayonetta que tanto influencia este jogo, senti muita falta de 2 coisas. A primeira é um contador de hits. A outra é um sistema de travar a mira em um inimigo específico. Ok, o contador de hits não é tão essencial assim (mas faz falta), mas um botão para travar a mira viria bem a calhar!
Explicando: a maioria dos combates não é contra apenas um inimigo, e como estamos falando de robôs que viram veículos, prepare-se para sofrer com aqueles que viram aviões (e geralmente vêm em bando) e ficam te atirando de longe, enquanto você está tentando lutar contra outros tipos de inimigos. Uma complicação que um simples botão “auto lock” resolveria.
Considerando que o jogo chega distribuído pela Activision, é notável a total falta de localização para o nosso país: o game está todo em inglês, e não há nem menus ou legendas em português brasileiro, o máximo que podemos habilitar são legendas em inglês. Uma pena.
A falta de seres humanos causa certa estranheza, afinal, Optimus está o tempo todo dizendo que sua missão é “salvar a cidade”… mas a cidade parece vazia, e a pancadaria dos robôs acaba causando alguns estragos bem grandes. Fica aquela sensação de Megazord dos Power Rangers destruindo os prédios de papelão, saca? Uma coisa meio “destruímos a cidade para salvar a cidade”.
Por fim, devo apontar ainda os trechos de corrida/perseguição que são mais difíceis do que deveriam simplesmente porque o jogo não tem uma jogabilidade voltada para isso. Felizmente são poucos trechos assim, mas você não vai demorar para perceber que a dirigibilidade dos veículos deixa bastante a desejar.
Uma pitada de RPG
Ainda que seja essencialmente um hack ‘n slash de ação e pancadaria frenética, Transformers Devastation flerta de leve com o gênero RPG: o principal mapa do game é relativamente grande e pode ser explorada de forma mais ou menos livre, e há até baús secretos e missões secundárias escondidos aqui e ali. Apesar disso, a direção do seu objetivo atual sempre está bem clara, e você pode simplesmente ir “do ponto A ao ponto B” sem problemas.
É na customização de armas, porém, que temos mais profundidade: as armas têm níveis, e o único modo de aumentar o nível de um equipamento é através do comando Synthesize, onde você literalmente sacrifica uma arma para melhorar os atributos de outra. Dá um pouco de trabalho no começo e a interface é meio confusa, mas depois que você pega o jeito, fica bem intuitivo, e os resultados são muito bons.
Além disso, boa parte dos seus equipamentos também possuem propriedades elementais típicas de RPG como dano por fogo, gelo ou eletricidade. Confesso que, salvo a óbvia diferença visual, não vi muita efetividade destes elementais em combate. Mas, curiosamente, certos baús secretos só podem ser acessados por armas de um determinado elemento.
Cara (e som) de desenho
Transformers Devastation é nostalgia pura para quem curtia o desenho nos nos 80 e 90. Isso quer dizer que o visual dele não traz nenhum traço dos filmes recentes, ou seja, aqui o Bumblebee não vira um Camaro boladão, mas algo muito mais parecido com um Fusca amarelo.
O visual do jogo é pura “Generation 1“, com muitos robôs “quadradões” e angulosos, cores vibrantes e os absurdos que só mesmo que viveu nos anos 80 vai curtir, como por exemplo o robô Soundwave, que vira um aparelho de som gigante, e cujos minions se transformam em nada menos do que enormes fitas K7!
Com esta vibe de desenho animado, o visual de Transformers Devastation não é páreo para outros jogos atuais, mas essa foi uma escolha consciente, pois o jogo não só honra muito bem o visual “das antigas”, como roda em 1080p (só na nova geração) e mantém 60fps em todas as plataformas (apresentando menos quedas no PS4).
Mesmo com o frenesi das batalhas, é notável a beleza dos golpes, com faíscas, fachos de luz e lasers pipocando para todo lado. A física é um pouco zoada aqui e ali — os robôs usam “ventiladores gigantes” para pular mais alto e quando estão em cima de prédios parece que seus pés sequer estão em contato com a superfície — mas, no conjunto da obra, o jogo oferece um visual colorido, nostálgico e com a maior cara de desenho animado interativo.
As dublagens são um show a parte: boa parte dos dubladores clássicos repete seus papéis aqui, incluindo Peter Cullen como Optimus Prime e Frank Welker como Megatron. As cutscenes e diálogos mantém a pegada “anos 80” do game, enquanto a trilha sonora mistura um heavy metal acelerado com batidas eletrônicas que combinam bem com a proposta do jogo.
Conclusão
É meio difícil ser imparcial quando uma de suas empresas favoritas (Platinum Games) faz um jogo com alguns de seus personagens favoritos (Transformers),então, por tudo que você leu aqui, acho que ficou meio evidente que eu gostei muito do game, né?
Sinceramente, eu gostaria até que ele fosse maior, pois a campanha é meio curta — dura cerca de 6 horas — e as Challenge Missions que sobram como pós-game não são o bastante: eu queria mais conteúdo simplesmente para continuar jogando!
Apesar da minha empolgação, sei que este jogo não irá agradar a todos, e que seu público alvo é bem específico: os fãs de Transformers que cresceram acompanhando a luta entre Autobots e Decepticons na telinha da TV. Se você não é desse tempo, talvez não se divirta tanto com o jogo, pois o “fator nostalgia” certamente faz a diferença.
No mais, se você curte jogos como Bayonetta e sempre sonhou com um game que trouxesse a vibe “retrô” do desenho animado dos Transformers, não precisa procurar mais: Transformers Devastation é o seu jogo!
Transformers Devastation foi lançado no dia 6 de outubro, com versões para PC, Playstation 4, Playstation 3, Xbox One e Xbox 360.