Análise Arkade – Two Point Campus encontra seu antecessor em Medical School
Mesmo que tenha minhas memórias esparsas de Theme Hospital, foi em Two Campus Hospital que eu verdadeiramente me envolvi com a visão criativa da SEGA para com esse gênero de gerenciamento estratégico. Naquela oportunidade, quando experimentei uma forma pouco ortodoxa de se gerir uma grande instituição médica, passava várias das minhas muitas horas dentro do universo do game simplesmente assistindo meus renomados profissionais cuidando de enfermidades como “boca suja” ou males tenebrosos como aquele onde as pessoas não conseguiam tirar suas roupas de palhaço. Era de dar dó, coitados.
Minha empolgação com a agora franquia não diminuiu no momento do lançamento de Two Point Campus, e eu mal poderia esperar para saber que tipo de aula e quais tipos de curso estariam disponíveis. Curiosamente, como eu não esperava nenhuma graduação de faculdades mundanas, não me fez falta ter algo sobre medicina, direito, engenharia e afins. Adorei montar minha própria Hogwarts com a escola de magia, além de brincar bastante de um mundo temido por Asimov com as aulas de robótica. E agora, quando eu menos esperava, eis que dois universos óbvios se colidem com a expansão Medical School. Agora sim eu saberia de onde teriam saído os grandes doutores que trabalhavam em meus hospitais. Isso sim é que é dominar toda a cadeia, formando gente que depois trabalharia para mim mesmo.
Medicina, mas não só
Na expansão, porém, há muito mais do que só um novo curso a ser incluído em nossas universidades. Há três novos (e belos) campi a serem explorados; dois novos cursos – além de Medicina, há também Psicologia – além de meia dúzia de novas salas de aula, de atendimento e afins; e dezenas de novos itens de decoração para quem pretende manter o ambiente aconchegante para alunos e funcionários da instituição. Considerando ainda que enfermarias precisam de novos funcionários, o ciclo se completa, com o modelo de aperfeiçoamento também ganhando novas camadas. A relação é tão intrínseca que, entretanto, para quem já esgotou ambos os jogos, a sensação de novidade pode se perder um tanto quanto rapidamente.
Por sua vez, o modo livre é a mais rápida maneira de se explorar as novidades sem tantas amarras, e dependendo das configurações iniciais customizadas, tudo pode estar disponível logo de cara. Ampliar o campus que já existe pode ser complicado dependendo do nível de evolução e da ocupação de prédios e instalações, já que ambos os cursos demandam grandes salas novas e laboratórios, mais profissionais e outras instalações complementares. Comparando as duas possibilidades, a sugestão é realmente começar algo novo e dedicado à área da saúde, incluindo as decorações temáticas, bibliotecas especializadas e outras coisinhas mais. Nada impede, claro, que se tenha outros cursos mais tradicionais, porque as mecânicas seguem rigorosamente as mesmas do game base, então vai depender da visão empreendedora do potencial reitor-jogador.
Expande, só que nem tanto
Em laboratórios especiais, vale a pena observar uma dinâmica interessante onde seus professores atuam como os médicos do game anterior, atendendo pacientes com “cabeça de lâmpada” por exemplo, mas aqui, dá pra ver os atentos alunos anotando passo a passo da aula prática. Quanto melhores os professores, melhor o diagnóstico e a solução, o que pode lhe garantir prêmios pelo fazer docente no final do ano letivo, além de elevar a média geral de notas do alunos, algo que os jogadores veteranos sabem ser muito importante para a evolução da entidade.
Esta complementaridade convergente pode, como dito, ser revigorante para quem já conhece ambos os jogos, mas também pode levar a uma conclusão ser esta a adição menos inspirada do jogo depois das anteriores que traziam o sobrenatural em Spirit Campus e novos mundos com Space Academy, já que além de trazer de volta ideias já exploradas antes, ainda é, mesmo que esteja longe de se levar a sério, algo mais palpável e próximo do que se espera de uma faculdade. Desde sempre, a ideia de Two Point Campus foi oferecer o inusitado, o fantástico e o absurdo, e cá entre nós, nada mais tradicional do que medicina, ainda mais sem trazer tantas novas enfermidades na comparação com o que vimos antes.
Isso tudo significa que Medical School é uma ótima inclusão enquanto um ponto de intersecção de transmidialidade entre dois jogos, criando uma relação direta para que ambos se mostrem, na prática, dentro do mesmo universo, mas nem tanto assim enquanto diversidade para o jogo base. Particularmente, me diverti muito mais criando campos de justas para a escola de cavalaria do que centros médicos aqui. A sensação de novidade some muito rapidamente – se é que podemos pensar em velocidade em um jogo que consome madrugadas e mais madrugadas sem sentirmos o tempo passar – e só se sustenta por vários anos letivos quando conjugada com outras das melhores graduações já existentes antes.
A boa notícia é que, se vista de forma independente, a expansão pode nos fazer felizes por umas duas ou três boas madrugadas, a soma com os demais cursos e todas as dezenas de recursos e funcionalidades se mostra ainda mais parruda e bem recheada. Estou há dias jogando o game todo de novo não só pela oportunidade de experenciar a expansão, mas porque eu simplesmente não conseguia parar de me deliciar com o todo. Two Point Campus é, como nem tentei esconder na análise original, um dos meus jogos favoritos do gênero, e ter uma ótima desculpa para recomeçar a jogá-lo foi a melhor novidade que Medical School trouxe. Somando tudo isso à sensação de revisitar um velho amigo por relembrar o game anterior, é uma adição que vale a pena, desde que o jogador não espere por algo complemente novo de verdade, mas sim por um complemento, o que não é um defeito visto que esta é (ou deveria ser) a função primordial de uma DLC no final das contas.
Conclusão
Two Point Campus: Medical School é, sem sombra de dúvidas, uma expansão bem-vinda e quase óbvia para o jogo base, independentemente de os jogadores terem adquirido as outras duas, e de quebra faz uma ponte direta com Two Point Hospital não só por tratar das mesmas doenças vistas lá, como também criando um ciclo de formação, atendimento e administração médica. As novas localidades são lindas, as perfumarias para decoração nos fazem perder qualquer noção de tempo e dá vontade de pegar um saco de pipoca só pra assistir por horas nosso planejamento ganhando vida com o carisma desse povo todo vivendo sua vida universitária em nosso campus.
Contudo, a novidade só se sustenta pela estrutura prévia, se apropriando das mecânicas excepcionais do jogo base e em conjunto com outros tantos cursos já existentes, já que por si só, ele pouco adiciona à experiência de quem já esgotou a versão original e, principalmente, quem já jogou também o game dedicado ao tema hospitalar. Portanto, se você, tal como eu, se deixa ser agarrado em se dedicar ao conjunto todo novamente, Medical School vai trazer benefícios e profundidade ao seu gameplay. Se for só por ele, talvez valha a pena esperar para quando estiver precisando cuidar de uma universidade inteira novamente.
Two Point Campus: Medical School está disponível para Xbox Series X/S, PlayStation 5, Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC desde o dia 17 de agosto de 2023, acompanhando o jogo base no que se refere a localização completa para o português brasileiro.
