Análise Arkade – Unknown 9: Awakening é ambicioso, mas inconsistente
Lançado em um mercado saturado de games de mundo aberto, roguelikes e jogos como serviço, Unknown 9: Awakening tinha tudo para oferecer o gostinho de um jogo quase Triple A mais focado e linear que parece não ter mais espaço na indústria atual.
Contexto
Unknown 9: Awakening é uma parte de um projeto transmídia bastante ambicioso, que se expande para podcasts, quadrinhos, livros e séries. Algumas partes deste universo interconectado foram lançadas na esteira do game, e outras devem chegar no futuro.
O foco desta análise, obviamente, é o jogo em si, não o conteúdo expandido do qual ele faz parte. A trama de Unknown 9: Awakening gira em torno de Haroona, uma “Quaestor” (faz sentido no contexto do game que possui habilidades paranormais, sendo capaz de acessar uma dimensão paralela misteriosa, conhecida como Umbral.
O foco principal da história está na vingança de Haroona contra o líder dos Ascendants, uma espécie de milícia que matou sua mentora, e está tocando o terror em sua terra natal.
Ainda que seja louvável o esforço narrativo em misturar misticismo, ciência e ação — tudo isso com um pano de fundo pouco explorado nos videogames (a cultura indiana) — a verdade é que a trama é pouco inspirada, se perde em meio a ideias não desenvolvidas e personagens sem sal.
Rolaram muitas comparações de Unknown 9 com Forspoken, e não é por acaso: aqui também falta um tempero na protagonista, algo que faça o jogador se importar com Haroona e sua missão.
Sem este “gostinho”, o impacto emocional da jornada é quase nulo, falha que uma obra que almeja ser a porta de entrada de todo um universo compartilhado não deveria cometer.
Jogabilidade
Por ser um jogo linear, é fácil perceber que Unknown 9 se acomoda em um loop de gameplay um tanto previsível, composto por momentos de travessia (incluindo escaladas e trechos de plataforma) com arenas focadas em combate.
É um loop de gameplay que já vimos em muitos outros jogos de ação lineares — como Uncharted, por exemplo. E também já vimos esta fórmula ser muito melhor executada neste e em tantos outros jogos. E, ainda que os cenários sejam bonitos — incluindo florestas tropicais, cavernas subterrâneas e desertos áridos — há uma falta do que fazer, de motivos para explorar o limitado mundo do jogo.
Na hora dos combates, o diferencial está nas habilidades sobrenaturais de Haroona. Suas capacidades incluem manipular objetos, incendiar tanques de combustível para criar explosões estratégicas e a mais interessante: possuir brevemente o corpo de seus inimigos. Há também takedowns estilosos, que rolam quando surpreendemos um adversário pelas costas.
Utilizar essas mecânicas gera momentos divertidos e criativos. O problema é que Unknown 9 está mais para um jogo stealth do que um jogo de ação: os inimigos geralmente vêm em bando, e estão muito bem equipados, de modo que uma abordagem furtiva é sempre a opção mais segura.
O lance é que o stealth é super básico e sem graça, do tipo “se agache no matinho e fique esperando o inimigo se aproximar”. E como o alcance da “possessão” da protagonista é bem curto, você invariavelmente vai ser descoberto enquanto tenta encontrar um lugar melhor para poder agir.
Os inimigos, embora sejam variados em visual e equipamentos, apresentam inteligência artificial inconsistente, com comportamentos repetitivos e previsíveis. Isso cria um contraste de gameplay: de um lado, temos as possibilidades que as habilidades de Haroona oferecem. Do outro, há uma notável falta de situações que incentivem o jogador a usá-las de forma criativa.
Audiovisual
Visualmente, Unknown 9 impressiona, mas ao mesmo tempo deixa a desejar. As paisagens exuberantes da Índia são inegavelmente bonitas e detalhadas. Há uma boa variedade de ambientes, e todos eles são bem construídos — sem dúvida a parte mais caprichada do jogo.
As animações no entanto, deixam a desejar: os personagens se movem de forma desengonçada, e as expressões faciais são bem “geração passada”. E por falar nisso, sabe aqueles corredores estreitos, por onde o personagem se espreme e passa lentamente para disfarçar o carregamento da próxima área que era muito comum na geração passada? Unknown 9 está cheio destes momentos.
No departamento sonoro, temos altos e baixos: quem dá voz à Haroona é Anya Chalotra, conhecida por seu papel como Yennefer em The Witcher. Uma atriz de primeira, mas que não consegue brilhar por conta de um roteiro sem graça e diálogos insossos. A trilha sonora é atmosférica, mas carecia de temas mais memoráveis e grandiosos.
Conclusão
Unknown 9: Awakening apresenta conceitos muito interessantes, mas tropeça na execução de pontos bem importantes — como narrativa e jogabilidade.
A falta de profundidade na construção do mundo e dos personagens é preocupante para um projeto ambicioso como esse, e o gameplay formulaico e pouco inspirado impede que o jogo torne-se uma experiência marcante.
Para os fãs de experiências mais lineares e dirigidas, Unknown 9 quase coça uma coceira de algo que andamos vendo pouco na indústria. Porém, saiba que há muitas ressalvas. Na teoria, existe um jogo bom aqui. Na prática, nem tanto.
Unknown 9: Awakening está disponível para PC, Playstation 5 e Xbox Series X|S (versão analisada). O game possui menus e legendas em português brasileiro.