Análise Arkade: Ved, um RPG que, infelizmente, é só um “rostinho bonito”
Ved é um jogo capaz de captar imediatamente a atenção do jogador com seu incrível visual pintado à mão. Mas será que ele é um jogo bom? Descubra em nossa análise!
Ved é o primeiro jogo do estúdio indie lituano Karaclan. E os caras sem dúvida foram ambiciosos: o jogo passou nada menos do que 12 anos em desenvolvimento, e o que nasceu como um jogo de plataforma 2D com pitadas de Souls-like, evoluiu para um RPG por turnos com (supostamente) uma intrincada história sobre universos paralelos e um conflito interdimensional que envolve magia e tecnologia.
Os universos paralelos de Ved
Ved nos apresenta a Cyrus, um jovem cego que “sem querer” descobre que possui a fantástica habilidade de se teleportar para um mundo paralelo e, por isso, é contratado para trabalhar em uma agência misteriosa para pessoas com habilidades mágicas.
Logo ele acaba envolvido em um confronto entre as diferentes realidades, toma partido em questões sócio-políticas e interage com criaturas mágicas que possuem suas próprias motivações e interesses.
Em diversos momentos, precisaremos fazer escolhas que (supostamente) afetam a narrativa. Porém, a natureza não linear da história, junto de um trabalho pobre de roteiro e escrita, dificultam o entendimento da trama.
A verdade é que a história de Ved tem potencial, e sem dúvida existe uma versão dela que faz sentido na cabeça de quem a escreveu. Porém, a execução deixa bastante a desejar, e o que sobra é uma narrativa confusa, com diálogos mal escritos, na qual os acontecimentos simplesmente não se conectam de forma natural e ficamos sem entender o real impacto das nossas decisões.
Navegando entre dois mundos
Com esta dinâmica de dois mundos, o jogo desenrola-se em dois momentos. Em ambos, a exploração é feita de forma indireta. Não temos controle direto sobre o personagem, apenas escolhemos as direções para onde ele deve ir.
Na prática, o gameplay em si é simples (até demais). Vamos basicamente selecionar as direções que queremos seguir — tipo “ir para a esquerda”, ou “seguir em frente”. — e acompanhar a transição entre as telas. Por mais “não lúdico” que isso seja, a riqueza visual do jogo rouba a cena: cada cenário é uma pintura, que cria uma atmosfera que mistura fantasia e surrealismo.
Vez ou outra, uma situação vai começar em um mundo e nos levar até outro. Podemos, inclusive, nos abster de tomar certas decisões — o que, na prática, também é uma decisão — e a história, em teoria, irá prosseguir levando isso em conta.
Ved e seu combate por turnos diferenciado
Ved traz um sistema de combate que é, ao mesmo tempo, clássico, porém inovador. Digo isso porque os confrontos são realizados por turnos, porém a dinâmica das batalhas acaba sendo ditada pelo seu posicionamento na tela.
Imagine que dividimos a tela da sua TV/monitor em 4 áreas verticais de tamanho equivalente: uma em cada canto e duas centrais. Os inimigos podem se espalhar por estas 4 áreas (ou mesmo ocuparem várias delas) e nossos ataques também fazem com que o protagonista se desloque mais para lá, ou mais para cá.
A ideia é que, antes dos combates, o jogador associe um determinado número de habilidades em cada quadrante. Certos ataques cruzam mais de um quadrante, outros não. Também pode acontecer, por exemplo, de você estar perto da morte, mas não poder se curar, por não ter acoplado uma magia de cura no quadrante em que está naquele turno.
Falando assim parece confuso (na prática também é), mas a verdade é que o sistema de combate é bastante funcional e divertido. Depois que você entende e internaliza como funciona, os combates — e a preparação estratégica que deve ser feita antes deles — tornam-se bem legais.
Além disso, existem momentos em que o jogo improvisa um rolar de dados, para nos dar uma chance de superar alguma situação específica com o poder do acaso. Porém, falhei na grande maioria delas.
A falta de clareza — é pura sorte ou há como eu melhorar minhas chances? — desta rolagem de dados é só mais um dos pontos que confusos e mal explicados do game.
Audiovisual
A direção de arte de Ved é simplesmente impressionante. Os cenários pintados à mão, os personagens exóticos, combinados com animações simples, mas fluidas, criam uma experiência visual de cair o queixo. Sem exagero, há frames que renderiam belíssimos quadros para pendurar na parede.
A questão é que, por mais belo que seja este mundo, ele é muito pouco interativo. É o famoso “olhe, mas não toque”. Não há muito o que fazer, exceto admirar. Muito por conta do gameplay, que é pautado por decisões, sem nunca deixar o jogador realmente livre para explorar.
A trilha sonora complementa bem a experiência audiovisual, com belas composições orquestradas que aumentam a imersão do jogador. A qualidade das dublagens é, no mínimo, irregular: algumas são boas, outras não — algo bem comum em jogos que não tem caminhões de dinheiro.
Infelizmente, faltou orçamento também para localizar o game. Ved possui menus e legendas somente em inglês. Considerando que a narrativa em si já é meio “sem pé nem cabeça”, a barreira idiomática pode deixar tudo ainda mais confuso.
Conclusão
Ainda que cause uma baita primeira impressão graças ao seu apelo visual, no fim das contas, Ved é um jogo decepcionante. Sua direção de arte é única, lindíssima e muito impactante. Porém, se não há uma boa história sendo contada, não há “rostinho bonito” que mantenha o jogador engajado.
O fato de se vender como um RPG, com uma narrativa densa e complexa, cria expectativas que, infelizmente, não são cumpridas. Ou, pelo menos, não são executadas de maneira satisfatória.
Apesar de ter algumas boas ideias, visual soberbo e um sistema de combate interessante, Ved acaba falhando no aspecto mais importante de um RPG: contar uma boa história.
Ved está disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada), Playstation 4, XBox Series X|S, Xbox One e Nintendo Switch. O game não possui localização para o nosso idioma.