Análise Arkade: Weird West, um incrível RPG cheio de possibilidades

31 de março de 2022
Análise Arkade: Weird West, um incrível RPG cheio de possibilidades

Nos últimos tempos a Devolver Digital tem sido uma publisher muito interessante. Com uma pegada sempre singular, seus games costumam chamar a atenção pela criatividade e personalidade. Weird West, desenvolvido pela WolfEye Studios, é mais um desses casos. Com uma história peculiar, contada pelo ponto de vista de cinco personagens, o game surpreende pela jogabilidade imersiva e possibilidades imensas de improviso.

Mas antes de mais nada, cabe dizer que Weird West é um action RPG com câmera isométrica que lembra bastante o início da franquia Fallout, porém bem mais dinâmico e de jogabilidade rápida. Ambientado no velho oeste, mas com uma boa pitada de Dark Fantasy, o jogo esbanja criatividade ao misturar pistoleiros e xerifes com wendigos, licantropos e diversas outras criaturas sobrenaturais.

Análise Arkade: Weird West, um incrível RPG cheio de possibilidades

Cinco jornadas convergentes

Weird West possui uma narrativa levemente semelhante à da franquia Diablo, com a história principal sendo dividida em “atos”. Essa divisão tem algumas peculiaridades bem criativas, pois, a cada novo capítulo da história, você assume o controle de um herói diferente, com árvores de habilidades distintas, status próprios e uma jogabilidade única.

Essas histórias inicialmente isoladas uma das outras tendem a convergir com o passar da narrativa principal, com as peças se encaixando aos poucos. Assim, uma história que começa de forma mais básica — com uma caçadora de recompensas que busca vingança pelo filho assassinado e também resgatar o marido feito prisioneiro por um grupo de canibais (bem básica né?) — chega ao patamar sobrenatural mais impactante, com personagens como um lobisomen e um homem-porco.

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Cada história é contada a partir dessa sala, já deixando pistas da direção do enredo final da aventura.

Essas histórias são majoritariamente contadas por texto, o que deixa o fato do jogo estar todo traduzido para português brasileiro uma ótima vantagem. Porém, além disso, temos também inúmeras possibilidades de escolhas que afetam diretamente o andamento da história, com personagens principais podendo morrer ou mudar de lado caso suas escolhas os levem a isso.

Com tantas possibilidades, o enredo, além de ser levemente complexo e muito bem amarrado, serve também como incentivo para o famigerado fator replay em Weird West. Existe a possibilidade latente de rejogar o game inúmeras vezes para testar todas as escolhas e seus impactos. Inclusive, para fomentar esse tipo de jogatina, ao final de cada capítulo temos uma checklist com tudo que fizemos de impactante na história. Algo bem legal e que incita a curiosidade do “e se?” no jogador.

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A maioria dos itens desse checklist aparentemente podem ter o resultado modificado de acordo com as escolhas do jogador.

Um mundo recheado de interações

Jogos de RPG isométricos normalmente se dividem entre aqueles táticos, normalmente baseados em turno (como a franquia Divinity Original Sins) e aqueles mais puxados para a ação e hack’n’slash (como o já citado Diablo). Weird West tende a ser o equilíbrio dessas duas vertentes distintas de jogabilidade de RPGs isométricos.

Isso acontece primeiramente porque o jogo não é baseado em turnos, sendo mais puxado para a ação — respostas rápidas e uso criativo de elementos tanto do personagem quanto do cenário ao seu redor. Entretanto isso não faz dele um hack’n’slash como Diablo. Na verdade, ele pode ser bastante t´ático, mesmo sendo em tempo real.

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Um dos principais fatores que torna isso possível são as inúmeras possibilidades de interação que temos com o ambiente. Interações que superam bastante o “óbvio” desse tipo de mecânica, como explodir barris de pólvora, se esconder em arbustos ou envenenar inimigos com fumaça tóxica (elementos que estão presentes em Weird West).

A imersão vai um pouco mais além como sujar inimigos de óleo para queimá-los com um pavio, estourar um barril d’água criando uma poça e jogando uma bobina para criar uma corrente elétrica, usar fogo ou gás tóxico em um tornado para torná-lo elemental, atirar em uma lamparina para fazê-la explodir, tocar um piano para chamar a atenção de inimigos. As possibilidades vão desde escalar telhados para ganhar vantagem de campo até pegar um bilhete escrito em um guardanapo deixado no balcão de um bar.

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Essa á uma das formas de se invadir um forte logo no início do jogo. Eu contei umas cinco a seis formas diferentes de invadir o local, mas claro que podem haver mais ainda.

Mapa dinâmico com escolhas que impactam

Toda essa interação incrível com o ambiente ao seu redor em Weird West não se limita apenas aos combates ou resolução de puzzles. Existe também a possibilidade das nossas escolhas impactarem diretamente a situação mais geral do mundo. Um bom exemplo disso é a mecânica de cidade fantasma que o jogo possui: quando você por algum motivo mata todos os habitantes de um determinado local, aquele se torna um local abandonado.

Este “local abandonado” com o tempo pode ser ocupado por bandidos, servir de ninho para algum monstro ou então voltar a ser habitado por novas pessoas, ressuscitando o comércio e a vida local. Assim, o mundo de Weird West se mostra mais dinâmico do que a maioria dos games do seu gênero, com NPCs parecendo um pouco mais únicos do que o de costume e o peso de suas ações significando um pouco mais no contexto geral.

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Outro excelente exemplo dessa dinamicidade são as escolhas que envolvem resgatar prisioneiros enjaulados em algum acampamento de criaturas ou bandidos. Libertá-los sempre recompensa o jogador com pontos de moral, tornando-o mais conhecido no mundo. Porém, alguns desses prisioneiros podem se tornar “amigos para toda a vida”, podendo ajudar o jogador em um momento oportuno no futuro.

Da mesma forma, negar ajuda a alguém ou então prejudicar algum personagem de certo modo pode causar o efeito oposto, fazendo com que o jogador vire um alvo para alguém sedento por vingança ou então ter a resolução de uma missão prejudicada de certo modo por não ter a ajuda de algum personagem importante.

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Um RPG com progressão única

Weird West tem um ritmo de progressão muito mais voltado para a narrativa do que para o grinding como outros RPGs isométricos costumam fazer. Isso é bem interessante, pois torna o ritmo de progressão do game um pouco mais casual e consequentemente divertido para um público maior. Imagino que isso ocorra pois o sistema de combate do jogo, adaptado para a temática do “bang-bang” já tem complexidade o suficiente para o sistema de mira e recarga de armas por exemplo.

Aqui não temos sistema de níveis e isso é muito significativo para como a sensação de progressão acontece. Temos basicamente duas árvores de habilidades: uma delas recheada de habilidades “ativas” — que são específicas de cada personagem — e outra de habilidades passivas — como bônus de atributos e outras vantagens — que são comuns a todos os heróis da história.

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Assim, cada personagem possui sua progressão individual ao mesmo tempo em que temos a progressão “global” de todos os protagonistas em conjunto. Seja a árvore de habilidades individual ou a coletiva, utilizamos determinados itens encontrados no decorrer das explorações de cenário para ativar e melhorar nossas habilidades. Assim, para além de armas e equipamentos, encontrar esses itens raros escondidos é mais uma incentivo à exploração de cada partezinha do mapa de Weird West.

Esse sistema de progressão é interessante pois torna-se muito mais orgânico do que simplesmente sair matando coiotes ao longo das planícies para adquirir experiência. Aqui, as missões avançam com a narrativa principal, enquanto missões secundárias desbloqueiam locais, NPCs ou dão recompensas valiosas que ajudam nossos personagens a ficarem mais fortes. Assim a sensação de progressão não é mensurada em simples números, mas de um modo muito mais natural divertido e coerente com aquele mundo.

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Um exemplo de originalidade

Um jogo desenvolvido por um estúdio pequeno, que encontrou os holofotes graças a uma publisher já conhecida por trazer à luz games independentes, Weird West é um exemplo de joia rara que pode estar fora do radar da maioria, mas que tem uma pegada tão original e criativa — ao mesmo tempo que tão familiar em certos pontos — que justifica a aposta de qualquer um que resolver experimentar esse jogo.

Para amantes de RPGs cansados da temática de fantasia medieval ou nórdica que são exploradas à exaustão pela indústria, ou então os que correm dos imensos mundos abertos recheados de conteúdo repetitivo, temos em mãos um game aparentemente “básico”, mas que esconde inúmeras camadas de narrativa e imersão. Weird West é ideal para quem gosta de um RPG que equilibra mecânicas clássicas e modernas de forma criativa, com uma ambientação estupendamente original.

Weird West chega hoje, dia 31 de março de 2022 para Xbox One, PC e PlayStation 4. O jogo tem todos os seus textos e menus em português brasileiro.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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