Análise Arkade: Weird West, um incrível RPG cheio de possibilidades
Nos últimos tempos a Devolver Digital tem sido uma publisher muito interessante. Com uma pegada sempre singular, seus games costumam chamar a atenção pela criatividade e personalidade. Weird West, desenvolvido pela WolfEye Studios, é mais um desses casos. Com uma história peculiar, contada pelo ponto de vista de cinco personagens, o game surpreende pela jogabilidade imersiva e possibilidades imensas de improviso.
Mas antes de mais nada, cabe dizer que Weird West é um action RPG com câmera isométrica que lembra bastante o início da franquia Fallout, porém bem mais dinâmico e de jogabilidade rápida. Ambientado no velho oeste, mas com uma boa pitada de Dark Fantasy, o jogo esbanja criatividade ao misturar pistoleiros e xerifes com wendigos, licantropos e diversas outras criaturas sobrenaturais.
Cinco jornadas convergentes
Weird West possui uma narrativa levemente semelhante à da franquia Diablo, com a história principal sendo dividida em “atos”. Essa divisão tem algumas peculiaridades bem criativas, pois, a cada novo capítulo da história, você assume o controle de um herói diferente, com árvores de habilidades distintas, status próprios e uma jogabilidade única.
Essas histórias inicialmente isoladas uma das outras tendem a convergir com o passar da narrativa principal, com as peças se encaixando aos poucos. Assim, uma história que começa de forma mais básica — com uma caçadora de recompensas que busca vingança pelo filho assassinado e também resgatar o marido feito prisioneiro por um grupo de canibais (bem básica né?) — chega ao patamar sobrenatural mais impactante, com personagens como um lobisomen e um homem-porco.
Essas histórias são majoritariamente contadas por texto, o que deixa o fato do jogo estar todo traduzido para português brasileiro uma ótima vantagem. Porém, além disso, temos também inúmeras possibilidades de escolhas que afetam diretamente o andamento da história, com personagens principais podendo morrer ou mudar de lado caso suas escolhas os levem a isso.
Com tantas possibilidades, o enredo, além de ser levemente complexo e muito bem amarrado, serve também como incentivo para o famigerado fator replay em Weird West. Existe a possibilidade latente de rejogar o game inúmeras vezes para testar todas as escolhas e seus impactos. Inclusive, para fomentar esse tipo de jogatina, ao final de cada capítulo temos uma checklist com tudo que fizemos de impactante na história. Algo bem legal e que incita a curiosidade do “e se?” no jogador.
Um mundo recheado de interações
Jogos de RPG isométricos normalmente se dividem entre aqueles táticos, normalmente baseados em turno (como a franquia Divinity Original Sins) e aqueles mais puxados para a ação e hack’n’slash (como o já citado Diablo). Weird West tende a ser o equilíbrio dessas duas vertentes distintas de jogabilidade de RPGs isométricos.
Isso acontece primeiramente porque o jogo não é baseado em turnos, sendo mais puxado para a ação — respostas rápidas e uso criativo de elementos tanto do personagem quanto do cenário ao seu redor. Entretanto isso não faz dele um hack’n’slash como Diablo. Na verdade, ele pode ser bastante t´ático, mesmo sendo em tempo real.
Um dos principais fatores que torna isso possível são as inúmeras possibilidades de interação que temos com o ambiente. Interações que superam bastante o “óbvio” desse tipo de mecânica, como explodir barris de pólvora, se esconder em arbustos ou envenenar inimigos com fumaça tóxica (elementos que estão presentes em Weird West).
A imersão vai um pouco mais além como sujar inimigos de óleo para queimá-los com um pavio, estourar um barril d’água criando uma poça e jogando uma bobina para criar uma corrente elétrica, usar fogo ou gás tóxico em um tornado para torná-lo elemental, atirar em uma lamparina para fazê-la explodir, tocar um piano para chamar a atenção de inimigos. As possibilidades vão desde escalar telhados para ganhar vantagem de campo até pegar um bilhete escrito em um guardanapo deixado no balcão de um bar.
Mapa dinâmico com escolhas que impactam
Toda essa interação incrível com o ambiente ao seu redor em Weird West não se limita apenas aos combates ou resolução de puzzles. Existe também a possibilidade das nossas escolhas impactarem diretamente a situação mais geral do mundo. Um bom exemplo disso é a mecânica de cidade fantasma que o jogo possui: quando você por algum motivo mata todos os habitantes de um determinado local, aquele se torna um local abandonado.
Este “local abandonado” com o tempo pode ser ocupado por bandidos, servir de ninho para algum monstro ou então voltar a ser habitado por novas pessoas, ressuscitando o comércio e a vida local. Assim, o mundo de Weird West se mostra mais dinâmico do que a maioria dos games do seu gênero, com NPCs parecendo um pouco mais únicos do que o de costume e o peso de suas ações significando um pouco mais no contexto geral.
Outro excelente exemplo dessa dinamicidade são as escolhas que envolvem resgatar prisioneiros enjaulados em algum acampamento de criaturas ou bandidos. Libertá-los sempre recompensa o jogador com pontos de moral, tornando-o mais conhecido no mundo. Porém, alguns desses prisioneiros podem se tornar “amigos para toda a vida”, podendo ajudar o jogador em um momento oportuno no futuro.
Da mesma forma, negar ajuda a alguém ou então prejudicar algum personagem de certo modo pode causar o efeito oposto, fazendo com que o jogador vire um alvo para alguém sedento por vingança ou então ter a resolução de uma missão prejudicada de certo modo por não ter a ajuda de algum personagem importante.
Um RPG com progressão única
Weird West tem um ritmo de progressão muito mais voltado para a narrativa do que para o grinding como outros RPGs isométricos costumam fazer. Isso é bem interessante, pois torna o ritmo de progressão do game um pouco mais casual e consequentemente divertido para um público maior. Imagino que isso ocorra pois o sistema de combate do jogo, adaptado para a temática do “bang-bang” já tem complexidade o suficiente para o sistema de mira e recarga de armas por exemplo.
Aqui não temos sistema de níveis e isso é muito significativo para como a sensação de progressão acontece. Temos basicamente duas árvores de habilidades: uma delas recheada de habilidades “ativas” — que são específicas de cada personagem — e outra de habilidades passivas — como bônus de atributos e outras vantagens — que são comuns a todos os heróis da história.
Assim, cada personagem possui sua progressão individual ao mesmo tempo em que temos a progressão “global” de todos os protagonistas em conjunto. Seja a árvore de habilidades individual ou a coletiva, utilizamos determinados itens encontrados no decorrer das explorações de cenário para ativar e melhorar nossas habilidades. Assim, para além de armas e equipamentos, encontrar esses itens raros escondidos é mais uma incentivo à exploração de cada partezinha do mapa de Weird West.
Esse sistema de progressão é interessante pois torna-se muito mais orgânico do que simplesmente sair matando coiotes ao longo das planícies para adquirir experiência. Aqui, as missões avançam com a narrativa principal, enquanto missões secundárias desbloqueiam locais, NPCs ou dão recompensas valiosas que ajudam nossos personagens a ficarem mais fortes. Assim a sensação de progressão não é mensurada em simples números, mas de um modo muito mais natural divertido e coerente com aquele mundo.
Um exemplo de originalidade
Um jogo desenvolvido por um estúdio pequeno, que encontrou os holofotes graças a uma publisher já conhecida por trazer à luz games independentes, Weird West é um exemplo de joia rara que pode estar fora do radar da maioria, mas que tem uma pegada tão original e criativa — ao mesmo tempo que tão familiar em certos pontos — que justifica a aposta de qualquer um que resolver experimentar esse jogo.
Para amantes de RPGs cansados da temática de fantasia medieval ou nórdica que são exploradas à exaustão pela indústria, ou então os que correm dos imensos mundos abertos recheados de conteúdo repetitivo, temos em mãos um game aparentemente “básico”, mas que esconde inúmeras camadas de narrativa e imersão. Weird West é ideal para quem gosta de um RPG que equilibra mecânicas clássicas e modernas de forma criativa, com uma ambientação estupendamente original.
Weird West chega hoje, dia 31 de março de 2022 para Xbox One, PC e PlayStation 4. O jogo tem todos os seus textos e menus em português brasileiro.