Análise Arkade: What Remains of Edith Finch é um jogo cativante, esquisito e cheio de boas ideias
What Remains of Edith Finch é um jogo que foi lançado em abril deste ano e foi bastante elogiado. Não tivemos tempo de experimentar o game na época, mas esta semana ele está chegando ao Xbox One, e dessa vez não deixamos passar, confira nossa análise!
Uma família estranha
What Remains of Edith Finch nos conta a história de Edith Finch (dã!), jovem de 17 anos que está revisitando a casa onde viveram (e morreram) várias gerações de sua família, de modo que ela vai conhecendo e desenhando a árvore genealógica de seus antepassados.
A questão é que os Finch são um pouco… estranhos. Quase todos os membros da família morreram em circunstâncias no mínimo curiosas, e sempre que alguém morria, o quarto desta pessoa era selado para manter tudo exatamente como era lá dentro, e ninguém mais podia entrar lá. Assim, mesmo tendo passado parte de sua infância ali, Edith não conhece muitos cômodos da casa.
Revisitando a casa agora abandonada, ela tem carta branca para explorar cada cantinho, e aprender um pouco mais sobre cada membro da família através de livros, diários, bilhetes e anotações. Ainda que muitas portas permaneçam trancadas, a casa é cheia de passagens secretas, que permitem que a garota visite novas áreas e conheça um pouco mais de sua própria família.
Mais que um walking simulator
Quem joga videogame certamente já está familiarizado com o termo “walking simulator”, certo? São jogos onde o foco está na narrativa, e a interação do jogador resume-se basicamente a caminhar, interagindo com alguns itens e abrindo algumas portas.
What Remains of Edith Finch é, essencialmente, um walking simulator… mas ele acrescenta novos ingredientes à receita do gênero, tornando-a muito mais interessante e criativa. O jogo funciona meio que como uma coletânea de contos, cada parente da protagonista tem seu momento e sua própria historinha… porém, a forma como cada “conto” é apresentado sempre muda, o que deixa tudo mais legal.
Por exemplo, uma das parentes falecidas de Edith é Barbara, garota que foi uma atriz mirim de sucesso, mas não manteve a fama depois de adulta. A parte dela da história se passa toda dentro de uma revista em quadrinhos interativa, o que muda totalmente a identidade visual do game e é muito legal!
Confira um trecho desta parte do jogo abaixo:
E deixo aqui também o trecho de um garoto rebelde soltando pipa na praia, uma situação “comum” que se desenrola de forma bem surpreendente, e que utiliza recursos visuais de forma muito interessante para dar seguimento à história, olha só:
Este são apenas dois exemplos de um jogo que é cheio de boas ideias e saídas criativas para tornar a experiência mais interessante para o jogador. Há ainda um trecho no qual acompanhamos o sonho maluco de uma garotinha que vai se transformando em vários animais… What Remains of Edith Finch é um jogo linear e de gameplay simples, mas ganha pontos por ter ótimas sacadas na hora de contar suas histórias ao jogador.
Audiovisual
Mais um departamento em que o game é muito bem resolvido. Temos aqui um jogo com visual bastante realista, mas que está sempre mantendo um pé na fantasia. A própria casa dos Finch é um completo absurdo arquitetônico — ela foi recebendo ajustes e “puxadinhos” conforme a família crescia — e sua silhueta parece saída diretamente de um desenho animado. Internamente, porém, seu visual é impecável, ainda que este “realismo” seja uma fachada que oculta passagens secretas malucas em estantes e beliches.
A trilha sonora do game mistura algumas músicas licenciadas (reconheceu o tema de Haloween no vídeo ali de cima?) com canções orquestradas e arranjos que ditam o tom da jornada e mexem com as emoções do jogador. É uma mistura poderosa e impactante que enriquece muito o jogo como um todo.
As dublagens (apenas inglês) são excelentes — inspiradíssimas e cativantes, elas realmente concedem muita personalidade a cada personagem, mesmo àqueles que passamos poucos minutos acompanhando — e para ninguém ficar boiando na trama, temos um dos melhores trabalhos de localização que vi nos últimos tempos: não são apenas legendas, mas tudo no jogo está em português, incluindo os inserts animados que acompanham os pensamentos da narradora e quase tudo o que vemos escrito em cadernos, livros e anotações.
Conclusão
What Remains of Edith Finch é um joguinho esquisito, mas boa parte de seu charme está justamente em sua esquisitice. Ele não tenta contar uma grande história, nem há realmente um grande mistério naquela casa (ainda que tenhamos um bom plot twist no final), mas todas as suas pequenas histórias são tão únicas e bizarras que é difícil a gente não se deixar levar.
Eu tenho minhas ressalvas com alguns walking simulators — achei Everybody’s Gone to the Rapture um saco –, mas não tenho problemas com o gênero em si, que pode ser usado para nos entregar histórias envolventes e imersivas (aqui vai um exemplo, The Town of Light). Considerando o quão monótono pode ser simplesmente “andar” em um jogo, gosto que esse tipo de game apresente formas criativas de incentivar o jogador a explorar, e isso é exatamente o que a Annapurna Interactive me entregou em What Remains of Edith Finch.
Este é um jogo curto, tranquilo, acessível e gostoso de jogar. Seu maior mérito não é apenas uma história, mas a forma com que suas várias pequenas histórias nos apresentam a uma família tão estranha quanto qualquer família pode ser. Ou vai dizer que a sua família não tem nenhuma esquisitice?
What Remains of Edith Finch está chegando hoje (19/07) ao Xbox One. Antes disso, o game já estava disponível para PC e Playstation 4.