Análise Arkade: Wolfenstein Youngblood traz tiroteios intensos e boas novidades
O jogo que deu origem a um dos gêneros mais aclamados do mundo está de volta, sacudindo a velha fórmula que ele ajudou a criar: aqui está nossa análise de Wolfenstein Youngblood!
As gêmeas Blaskowitz
Quem conhece a série Wolfenstein sabe que, desde sempre, o protagonista é o Capitão B. J. Blaskowitz, soldado que está sempre arriscando a vida para livrar o mundo dos nazistas — lembrando que os jogos se passam em uma timeline alternativa, na qual os alemães venceram a guerra e conquistaram o mundo com seus robôs e máquinas bélicas.
Pois bem, Youngblood já chega desconstruindo este clichê: o novo jogo de passa 18 anos após o excelente The New Colossus, e se lá a esposa de Blaskowitz estava grávida, aqui ele já é pai das gêmeas Jessie e Sophie, que cresceram sendo treinadas pelos pais para sobreviver em um mundo nazista.
Quando o “velho” Blaskowitz desaparece misteriosamente, as irmãs decidem que não vão deixar barato, e com a ajuda de sua amiga Abby, roubam um helicóptero e vão para a França, possível último paradeiro do pai.
Munidas de modernos exotrajes de combate que lhes concedem algumas habilidades sobre-humanas (e, claro, do sangue de um herói de guerra especialista em acabar com nazistas que corre em suas veias), as gêmeas vão encarar um verdadeiro exército de soldados e máquinas para descobrir o que aconteceu com seu pai.
Este sangue novo (com o perdão do trocadilho) traz um frescor que é muito bem-vindo à série. Ok, as gêmeas acabam se tornando verdadeiras matadoras, mas elas ainda são adolescentes que leem livros de ficção, têm algumas conversas bobas, ocasionalmente se estranham (como todos os irmãos do mundo), mas se amam, e estão sempre soltando palavras de incentivo uma para a outra. Isso dá um tom mais leve, menos sisudo, ao jogo, e concede bastante personalidade à dupla.
Quase um mundo aberto. Quase um RPG
Não foi só nas protagonistas que a Machine Games sacudiu os alicerces da franquia: Wolfenstein Youngblood tem uma estrutura bastante diferente dos últimos jogos, acrescentando um mundo que não é realmente aberto, mas dividido em distritos que são cheios de missões secundárias e colecionáveis, e podem ser explorados e visitados na ordem que o jogador quiser.
A resistência possui uma base de operações nas Catacumbas da cidade, que funciona como hub central do jogo. Ali conversamos com NPCs e pegamos missões. O QG liga-se a todos os distritos da cidade por túneis de metrô, então as Catacumbas acabam sendo um elo de ligação entre todas as áreas e missões do jogo.
Outra novidade é o fator RPG — não do jeito Skyrim, mas bebendo na fonte de jogos como Destiny e The Division. Explicando: as gêmeas sobem de nível e ganham novas habilidades, e os inimigos têm seus próprios níveis. Áreas onde inimigos têm uma caveira ao lado da barra de vida são perigosas demais, então o ideal é upar um pouco antes de enfrentá-las.
Além disso, agora diversos inimigos possuem quadradinhos ao lado da barra de vida (foto acima), que indicam quantos escudos ele possui. Há armas mais (ou menos) efetivas contra esses escudos, mas na prática isso torna chefes e certos inimigos “esponjas de balas”, exigindo que você gaste vários pentes para derubá-los. Esses escudos sem dúvida são a novidade mais pentelha do jogo.
Sendo bem honesto com você, há poucas missões principais em Wolfenstein Youngblood — basicamente invadir 3 grandes torres nazistas conhecidas como “As 3 Irmãs” em busca de informações antes de liberar a missão final. Porém, as torres estão marcadas com caveirinhas desde o início, ou seja, ir direto pra lá é suicídio: você deve matar uns nazistas “comuns” e cumprir objetivos secundários para chegar pelo menos ao level 20 antes de encarar “as Irmãs”.
Essa estrutura não-linear é interessante, mas não acho que realmente favoreça o jogo: há objetivos que começam em um distrito e terminam em outro, o que quebra a fluidez da exploração e do cumprimento de missões. Em um jogo de mundo aberto isso é até normal, mas aqui a gente precisa encarar fast travels e telas de loading para ir de um distrito à outro, o que não é muito legal.
Felizmente, o level design ganha pontos por oferecer múltiplas possibilidades ao jogador: quando for invadir as torres, por exemplo, você pode ir pela porta da frente — e encarar severas defesas — ou utilizar atalhos pelos esgotos, que te colocam pra dentro de forma mais discreta. Você descobre esses atalhos cumprindo missões secundárias nos esgotos, ou seja, talvez os jogadores mais afoitos sequer percebam que este recurso existe, mas ele está lá, e é muito útil.
Enquanto você explora esses “mini-mundos abertos” de cada distrito, podem rolar pequenas missões aleatórias — coisas do tipo “mate um general importante que está nas redondezas” ou “coloque uma bomba em um carro específico”. São objetivos que até podem ser ignorados, mas estão ali para justificar a liberdade que o novo jogo abraça e, de quebra, lhe conceder um pouco mais de grana e XP.
Apesar destas novidades um tanto RPGísticas, o game ainda oferece tiroteios intensos e bastante ação. Você vai passar um tempinho nos menus comprando upgrades e melhorando armas, mas o grosso da experiência ainda envolve meter balas em nazistas.
Jogando Wolfenstein em coop
Até agora não falei da que talvez a maior novidade do jogo: pela primeira vez em sua história, Wolfenstein é um jogo cooperativo. É possível jogá-lo sozinho — com a outra personagem sendo controlada pela IA –, deixar seu jogo aberto para que desconhecidos possam entrar pelo cômodo sistema drop in/drop out, ou chamar um amigo online para jogar com você (infelizmente não há tela dividida para multiplayer local).
Eu sempre reclamei que Wolfenstein oferece um péssimo feedback de dano (a gente não percebe que está tomando tiros e morrendo), e ainda que o novo jogo não tenha melhorado muito nesse ponto, agora uma personagem pode reviver a outra, o que elimina um pouco da frustração. As meninas possuem 3 vidas compartilhadas, mas uma vida só é perdida caso uma das personagens caia e não seja revivida em tempo.
O jogo traz aquelas situações típicas de game em coop que a gente já viu em diversos games: as duas precisam trabalhar juntas para abrir portas e acionar certos mecanismos. Uma função mais útil envolve decifrar códigos de portas — uma das personagens vai até um terminal de computador para decifrar o código, enquanto a outra espera para inseri-lo em um painel de acesso. Há até um divertido sistema de sinais que as meninas podem utilizar para se ajudarem, recuperando vida, escudo, e por aí vai.
Ainda que a IA faça um bom trabalho em controlar a segunda jogadora, a maneira mais legal de curtir o jogo é com um amigo online. Se você planeja fazer isso, se ligue nesta dica: a Deluxe Edition do jogo, que é só um pouco mais cara que a versão normal, vem com Buddy Pass, ou seja, permite que você convide um amigo que NÃO tem o jogo para jogar a campanha inteira contigo — basta ele baixar a versão trial do jogo. Mais ou menos como A Way Out fez, lembra? Este é um plus que faz o investimento na versão Deluxe valer a pena!
Audiovisual
Usando a mesma engine dos jogos mais recentes da série, Wolfenstein Youngblood entrega um departamento audiovisual bastante similar. O visual é muito bonito, e a direção de arte impressiona com suas construções imponentes e sua Europa reimaginada com indumentárias nazistas por todo canto.
Jogando no PS4 Pro, a fluidez do gameplay é extremamente estável, rodando suave aos 60fps. Acredito que o desempenho em si seja mais ou menos equivalentes nas demais plataformas, o que é ótimo, pois o game não sacrifica seu frame rate para entregar uma experiência visualmente impactante.
Como o novo jogo de passa nos anos 80, há diversas referências à cultura pop da época — com direito a fitas cassete e óculos 3D colecionáveis –, mas o jogo não força a barra nesse quesito, até porque esses não são os mesmos anos 80 que a gente viveu. A trilha sonora tira proveito da época, entregando faixas que têm tudo a ver com a década retratada.
Wolfenstein Youngblood chega ao Brasil totalmente em português brasileiro, com ótimas dublagens que não poupam palavrões e gírias. Os alemães, por sua vez, seguem falando alemão, o que mantém a autenticidade do game. Temos aqui um jogo muito caprichado, que se não evolui a estética da série, também não decepciona.
Conclusão
Desde que iniciou este reboot da série com The New Order lá em 2014, a Machine Games vem mantendo uma saudável regularidade de títulos principais e spin offs de qualidade equivalente. Este novo jogo de maneira nenhuma é o Wolfenstein 3 que (possivelmente) vai encerrar a nova trilogia, mas é um adendo muito bem-vindo, que expande o universo da franquia tanto em termos de história quanto de mecânicas e novidades.
Wolfenstein Youngblood não reinventa a roda, mas sem dúvida agrega boas novidades à fórmula da série. O coop é uma excelente adição, e ainda que algumas pessoas tenham torcido o nariz para essa pegada mais RPG do game, no geral elas funcionam, e não tiram o foco do jogo, que ainda é um shooter focado na ação, e continua acertando a mão com seus tiroteios intensos e viscerais.
Ou seja: Blaskowitz pode até estar sumido, mas a franquia está em boas mãos. Suas filhas são extremamente carismáticas, e herdaram o talento do pai para fuzilar nazistas. Fazer isso com um amigo enriquece bastante a experiência, e investir uma graninha a mais na Deluxe Edition é fortemente recomendado por conta do Budy Pass.
Wolfenstein Youngblood foi lançado em 26 de julho, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch. O jogo está 100% localizado para o português brasileiro.