Análise Arkade: testamos o Xbox One X, o console mais poderoso do mundo
No final do ano passado, chegou ao mercado “o console mais poderoso do mundo”. O que antes era Project Scorpio virou o Xbox One X, e a gente experimentou o novo “brinquedo” da Microsoft para te contar tudo sobre o console!
Quando apresentou o Project Scorpio durante a E3 do ano passado, a Microsoft adorou usar termos técnicos, e os “6 teraflops” do console tornaram-se um mantra que foi repetido exaustivamente, ainda que muita gente sequer tenha noção do que é um teraflop ou qual sua importância na prática.
Antes de mais nada: o que é um teraflop?
O prefixo “tera” designa trilhão, e é o mesmo que você já viu em terabyte, por exemplo. Já o “flop” deriva do termo “floating point”. Ou seja, um teraflop é uma unidade que corresponde a um trilhão de “pontos flutuantes”.
Pense que videogames são, antes de mais nada, computadores, e o que vemos na tela nada mais é do que o resultado de incontáveis números sendo calculados simultaneamente, em tempo real. Tudo que a gente faz em uma interface computacional– seja um computador, um videogame ou um smartphone — pode ser resumido em cálculos. Cálculos que a gente não vê, mas que o harware está fazendo o tempo todo para rodar apps, programas, games e sistemas operacionais.
De fazer uma anotação no bloco de notas a rodar um jogo em 4K, em se tratando de poder de processamento, tudo se resume à rapidez e eficiência de uma máquina na hora de realizar esses cálculos.
O termo “ponto flutuante” por sua vez, refere-se aos números “quebrados”, separados por vírgula. Relembre os seus tempos de escola: fazer contas com números naturais ( 1, 2, 3, 4) era bem mais fácil do que realizar operações com números racionais (1/2, 3/4, -6/8), não era? A vírgula é justamente o ponto flutuante, pois o número de dígitos depois da vírgula pode flutuar (mudar), alterando completamente um valor.
Então 6 teraflops é bastante, né?
Se o Xbox One X alcança 6 teraflops, significa que ele pode processar 6 trilhões de cálculos com pontos flutuantes por segundo. E se você acha que 6 teraflops é muita coisa, vamos colocar as coisas em perspectiva: a GeForce GTX 1080 TI trabalha com 10,8 teraflops, algo que a galera PC Master Race sem dúvida vai adorar saber para sair contando vantagem por aí.
A questão é: só uma placa dessas pode custar mais que o Xbox One X inteiro, e a placa sozinha obviamente não faz milagre: é preciso que o processador, a memória RAM e os demais componentes do PC ajudem no trabalho, de outra forma, formam-se os famigerados “gargalos”, comprometendo o desempenho da máquina como um todo.
Um console é basicamente um computador para quem não tem empenho, grana ou conhecimento para montar um PC. Tudo vem em uma caixa (sacou o trocadilho?) pré-formatada, rodando um sistema próprio que está pronto para rodar jogos sem que o usuário precise se preocupar com aspectos técnicos, drivers, sistemas de refrigeração, e tudo mais.
Claro que a preferência por PCs ou consoles envolve muito mais do que isso (teclado e mouse x controle, jogos exclusivos, etc.), mas a comodidade aliada ao custo-benefício de uma máquina “plug and play” como é o console sem dúvida é muito atrativa para quem curte games, mas não necessariamente curte todos os aspectos técnicos que envolvem rodar um jogo.
Para ilustrar: enquanto um PC gamer precisa “montar” uma boa máquina para rodar um jogo do calibre de The Witcher 3, por exemplo, de forma satisfatória, um gamer de console só precisa colocar o jogo para rodar e pronto. Talvez ele não tenha o visual nem o framerate de um PC parrudo, mas o jogo vai rodar numa boa. Aliás, no Xbox One X ele já tá até rodando em 4K, viu!
Jogatina em 4K
Ok, falamos muito de aspectos técnicos ali em cima, mas o que importa para quem é gamer é a jogatina em si, não é? Neste ponto, o Xbox One X sem dúvida faz um excelente trabalho. Seu hardware robusto permite que o console rode jogos de forma muito mais fluida e consistente, alcançando taxas de framerate e resoluções mais altas.
Ainda que a biblioteca do X seja a mesma do Xbox One padrão, ele é capaz de rodar os mesmos jogos melhor, fazendo upscaling para a resolução 4K e aproveitando os recursos de HDR (High Dynamic Range) dos televisores mais modernos para oferecer contrastes muito superiores, aumentando a nitidez e as variações existentes entre elementos claros e escuros.
Temos ainda um “novo formato” de games, que foram otimizados para rodar ainda melhor no Xbox One X. O ótimo Halo 5, por exemplo, recebeu um upgrade para rodar em 4K a 60 frames por segundo no novo console, abandonando completamente a resolução dinâmica que encontramos em sua versão para o Xbox One tradicional.
Forza 7 é outro game que foi bastante melhorado, rodando em 4K + HDR e constantes 60 frames por segundo no X, um desempenho bem impressionante para um jogo deste porte. Claro que estas melhorias chegam acompanhadas de downloads/instalações maiores, pois agora o sistema precisa alocar pacotes de texturas em resolução muito superior, então acostume-se com jogos que ocupam entre +80GB e +100GB do seu HD.
Rise of the Tomb Raider não consegue fazer tudo ao mesmo tempo, mas oferece opções ao jogador: você pode rodar o jogo com texturas e detalhes melhores a 30fps, ou abrir mão destes detalhes em prol da fluidez dos 60fps. Considerando que a diferença é mínima — detalhes em cabelos, texturas e efeitos, basicamente –, eu sempre opto pela taxa de quadros por segundo mais alta, pois acho que o framerate é bem mais perceptível e agradável do que a pequena melhoria gráfica.
Sombras da Guerra também oferece diferentes opções ao jogador, indo mais fundo ao abordar aspectos técnicos como contagem de polígonos na tela, efeitos de iluminação mais detalhados e vegetação mais densa. Já Ark Survival Evolved aproveita todos os teraflops do X de forma mais dinâmica: ele não chega aos 4K, mas possibilita tanto jogatina em 1080p a 60 frames quanto um modo que roda em 1440p e 30fps, mas oferece ambientes mais detalhados e aumenta o FOV (field of view, aka campo de visão).
Mesmo jogos da geração passada estão sendo otimizados para o Xbox One X — caso de Gears of War 3 e Mirror’s Edge, por exemplo, que estão disponíveis via retrocompatibilidade –, rodando de forma mais suave no X. O mesmo vale para o fenômeno PUBG, que ainda está no Preview Program, mas roda muito melhor no X.
Já de cara eu tinha mais de 20 jogos otimizados em minha biblioteca, o que não deixa de ser um bom começo. Aliás, fica a dica: é possível organizar sua biblioteca por “jogos otimizados para o Xbox One X” para ver tudo o que está rodando melhor no X.
E se eu não tiver uma TV 4K?
Pois é, nem todo mundo tem uma TV 4K com recurso HDR em casa, para desfrutar de toda essa exuberância gráfica que o X oferece. Se esse é o seu caso, não se desespere, pois mesmo a sua boa e velha TV Full HD também pode se beneficiar dos recursos do Xbox One X. Por possuir mais poder de processamento, o console conta com loadings mais rápidos, e entrega taxas de framerate muito mais estáveis. No geral, é um desempenho superior ao do PS4 Pro, que é seu concorrente direto em termos de consoles.
Quem se apega muito a detalhes também vai perceber que nos jogos otimizados para o X temos bordas mais suaves, menos serrilhados e melhorias gerais em efeitos como partículas, água, fogo e fumaça. Isso tudo se apoia no hardware mais potente, que consegue entregar experiências mais nítidas e fluidas, mesmo para quem vai rodar os jogos “apenas” em 1080p.
Aqui vale o que eu já disse ali em cima, quando falei do Rise of Tomb Raider: pessoalmente, prefiro abrir mão de detalhes quase insignificantes para garantir a fluidez dos 60fps, que é muito mais perceptível e deixa o gmeplay bem mais agradável. Nem todo jogo oferece opção, mas sempre que for possível, vou preferir jogar em 60 frames. Mas aí é questão de gosto, e jogos que rodem em 4K a 60fps unem o útil ao agradável, e deveriam ser o padrão para o X.
Um console menor e mais silencioso
Acho super válido abrir um parêntese para falar de algo que realmente me surpreendeu: como o Xbox One X é silencioso! Grande parte disso deve-se à ausência do “tijolo” que era a fonte externa do modelo original (o S já vinha sem fonte, mas eu só tive o fat), mas fora isso o console faz pouquíssimo barulho mesmo quando está rodando um jogo em disco que exige muito poder de fogo (caso de Forza Horizon 3 ou Battlefront 2, por exemplo).
Só para você ter uma ideia, eu deixo meus videogames mais usados no meu quarto, mas tinha que tirar o Xbox One (fat) da tomada para dormir, simplesmente porque sua fonte continuava zunindo mesmo com o console em stand by — e ela ainda ficava com uma incômoda luz acesa o tempo todo. Com o X, não estou tendo este problema: sem fonte externa, ele é tão discreto que eu mal percebo quando ele está em stand by.
Acredito que boa parte desta deliciosa quietude seja fruto do sistema de resfriamento do console, que utiliza a tecnologia conhecida como liquid-cooled vapor chamber. Basicamente, temos um sanduíche de placas de metal onde o “recheio” é um líquido. As placas aquecem o líquido, que vira vapor e vai pra uma câmara separada, levando consigo o calor acumulado. Ao resfriar, o vapor torna-se líquido novamente, para refazer o processo quantas vezes for necessário. Notebooks de alto desempenho utilizam sistemas de resfriamento semelhantes.
E já que estamos falando de aspectos “físicos” do console, vale ressaltar que, mesmo sendo “o console mais poderoso do mundo”, ele também é o menor (desconsiderando o Switch): compacto e pesado, o X consegue ser menor que o PS4 Pro e mesmo o Xbox One S. Um trabalho de engenharia louvável, considerando todo o poderio do hardware que foi acomodado em uma carcaça bem mais discreta, que não parece em nada o enorme “vídeo cassete” que foi lançado em 2013.
Por fim, uma pisada na bola: eu tenho o Kinect, mas o Xbox One X simplesmente não possui mais a entrada para plugar o aparelho. Se eu quiser usar meu Kinect no X, vou ter que adquirir um adaptador separado — que, aliás, a Microsoft parou de produzir recentemente — o que significa mais gastos, mais cabos e o retorno de uma incômoda fonte externa.
Ok, a gente sabe que o Kinect não vingou, mas acho estúpido que uma versão aprimorada do console não ofereça suporte nativo ao periférico. Lembre que no início dessa geração era IMPOSSÍVEL adquirir um Xbox One sem Kinect, que era “parte fundamental da experiência”, ou seja, há milhares de Kinects sub-utilizados juntando poeira nas casas de milhares de jogadores. E, poxa, o Kinect teve bons jogos, com destaque óbvio para FRU, que até entrou na nossa lista de Melhores do Ano em 2016.
Afinal, devo migrar para o Xbox One X?
Essa é uma pergunta que está muito atrelada aos detalhes: você tem uma TV 4K? Faz questão de jogar em 4K, ou 1080p já estão de bom tamanho? E taxa de framerate, é algo que faz diferença para você, ou tanto faz se o jogo roda em 30fps ou 60fps?
O gamer hardcore que busca sempre o melhor desempenho pode se sentir ultrajado com estas perguntas, mas a verdade é que nem todo mundo se liga nisso, simplesmente porque nem todo mundo é gamer hardcore. Há pessoas que compram videogame para os filhos, outros que usam consoles como centrais multimídia, e para essa galera, coisas como “6 teraflops” não significam absolutamente nada, elas só querem sentar no sofá e curtir seus joguinhos sem complicação.
Também é importante você levar em consideração o seu círculo social: apesar de ter os dois consoles, eu tenho mais amigos na PSN, logo, o PS4 costuma ser minha primeira escolha para curtir jogos com multiplayer online. E os seus amigos, onde estão? Na Live ou na PSN — ou quem sabe na Steam? Isso é bem importante, especialmente se considerarmos que jogos como Halo 5 e Gears of War 4 possuem campanhas que podem ser jogadas integralmente em modo cooperativo.
Falando nisso, vale ressaltar que a Microsoft anda se esforçando para aproximar o Windows 10 do Xbox, de modo que diversos exclusivos são “Play Anywhere“, ou seja você compra em uma plataforma e pode jogar na outra, sincronizando seu progresso, suas conquistas e tudo mais. Isso não vale para jogos em mídia física, mas para quem não se importa em adquirir games digitalmente — e possui um PC com Windows 10 e hardware compatível –, ter o jogo em 2 plataformas pode ser uma boa pedida.
Por último, mas não menos importante, você também deve levar em consideração o preço: o Xbox One X é mais potente, mas também é mais caro. O preço sugerido dele é R$ 3.999, ainda que seja fácil achar em por menos de 3 mil no mercado paralelo. Com a grana do preço oficial, você praticamente consegue comprar um PS4 fat E um Xbox One fat, se pesquisar com carinho, ou seja é o dobro de diversão, e você ainda se livra da guerrinha infantil de “meu console é melhor que o seu”.
O valor oficial sugerido ainda é um preço aceitável pelo hardware entregue — lembre que só uma placa de vídeo top de linha custa cerca de 3 mil reais — mas não é algo que possa ser considerado “barato”. Se você não tem uma TV 4K HDR e nem pretende investir em uma tão cedo, não vai desfrutar de todo o potencial do aparelho, então talvez prefira continuar curtindo seu Xbox One fat, mesmo.
Conclusão
A conclusão é: o Xbox One X é um monstro em termos de desempenho, mas não é um upgrade obrigatório. Ele ainda é da mesma geração, e vai receber os mesmos jogos que o Xbox One tradicional. Vai rodá-los melhor? Com certeza, mas ainda serão os mesmos jogos. 4K e HDR acabam sendo “adendos” em uma geração que já vem entregando jogos de visual incrível há um tempinho.
Se você tem uma TV 4K HDR, é um entusiasta de novidades e tem amigos do lado verde da Força para jogar online com você, o Xbox One X sem dúvida é um prato cheio. Do contrário, talvez seja melhor pensar duas vezes. A geração atual possui 3 ótimas opções disponíveis — PS4, Xbox One e Nintendo Switch — e todas elas podem ser encontradas por preços bem mais em conta, ainda que com desempenho inferior.
A Arkade agradece ao pessoal da Microsoft Brasil, que nos enviou um kit irado do Xbox One X para análise.