Análise Arkade: Back 4 Blood é tipo um Left 4 Dead modernizado (e isso é bom)

12 de outubro de 2021
Análise Arkade: Back 4 Blood é tipo um Left 4 Dead modernizado (e isso é bom)

Hoje está sendo lançado o legítimo “sucessor espiritual” de Left 4 Dead: Back 4 Blood, produzido pelo mesmo Turtle Rock Studios que praticamente inventou este gênero de “sobrevivência cooperativa” lá em 2008. Passamos os últimos dias matando zumbis online com outros jogadores, e aqui estão nossas impressões sobre o jogo!

O apocalipse zumbi talvez seja um dos backgrounds mais batidos da cultura pop, e já foi abordado de várias maneiras em filmes, séries, HQs e, claro, games. Algumas obras conseguem contar grandes histórias neste contexto, enquanto outras se limitam a fazer o básico, abordando apenas a luta diária pela sobrevivência e a coleta de recursos.

Em 2008, Left 4 Dead surfou na crista desta onda, apresentando aos jogadores um universo pós-apocalíptico extremamente hostil, onde o trabalho em equipe era a chave para a sobrevivência. Até 4 jogadores se reuniam para metralhar zumbis, em missões intensas e cheias de adrenalina. A receita deu tão certo que, em 2009, foi atualizada e repetida em Left 4 Dead 2.

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Novos sobreviventes, mesma premissa

Em 2021, esse tipo de experiência cooperativa de sobrevivência não é mais novidade. Não só pelos 13 anos que se passaram de lá para cá, mas principalmente porque outros jogos exploraram a mesma premissa. Seja em outros universos zumbis, enfrentando alienígenas sinistros ou assaltando bancos, o fato é que a fórmula de Left 4 Dead já não é mais nova.

Felizmente, o Turtle Rock Studios sabe o que funciona e o que não funciona no gênero que ajudou a criar. Sob muitos aspectos, Back 4 Blood é um novo Left 4 Dead (sem os direitos da marca, que pertencem à Valve), mas que amadureceu, acompanhou a ascensão dos looter shooters e introduziu até uma pitada de deck building à receita.

O básico refinado

A “campanha” de Back 4 Blood divide-se em 4 atos (uns maiores, outros menores) que acompanham um grupo de sobreviventes que vai realizar missões variadas para continuar sobrevivendo. Cada ato é composto por fases isoladas, que funcionam de maneira independente, mas apresentam algumas similaridades ambientais para justificar a sequência. Tipo, uma fase termina onde começa a próxima, por exemplo.

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Não espere uma grande história, pois não é isso o o que o jogo oferece. A descrição oficial resume bem a experiência: “os jogadores podem jogar como veteranos do apocalipse chamados Sentinelas, um grupo de caçadores de zumbis espirituosos, enquanto enfrentam os horríveis infectados conhecidos como os Contagiados em seu esforço para recuperar o mundo”. E é isso.

No total, temos 8 sobreviventes para escolher: Holly, Walker, Doutora, Karlee, Jim, Hoffman, Evangelo e Mãe. Não temos aquele sistema de classes específicas para cada um, tipo Tank e Scout, mas cada sobrevivente chega com um loadout próprio, bem como alguns buffs para o time e habilidades exclusivas. A Doutora, por exemplo, pode curar 25 pontos de vida de cada aliado uma vez por fase (mesmo sem itens de cura), enquanto Evangelo concede mais 5% de velocidade para o grupo. Fora isso, todos são meio que iguais.

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Os 8 personagens selecionáveis de Back 4 Blood

O feeling de atirar em Back 4 Blood é bastante satisfatório. A ação é extremamente acelerada, e os elementos randomizados fazem com que mesmo diferentes visitas a uma mesma fase não sejam 100% iguais. Se um dos objetivos é destruir ninhos de Contagiados, por exemplo, estes ninhos estarão espalhados por lugares diferentes, evitando o “decoreba” dos mapas.

O mundo de Back 4 Blood é agressivo, e exige que os jogadores também sejam agressivos. Aqui o stealth quase nunca é uma opção, o esquema é sentar o dedo no gatilho o tempo todo. Quem jogou Left 4 Dead vai inclusive reconhecer diversos arquétipos de inimigos reaproveitados, como o gordão que vomita e explode — lançando gosma verde para todos os lados.

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Geralmente, a experiência do jogo se resume a caminhar/correr por mapas relativamente amplos, cumprindo objetivos simples até encontrarmos a próxima Safe House, que indica o final da fase. Há estágios mais curtos, outros mais longos, mas o loop de gameplay não muda muito e, ainda que tudo seja absolutamente funcional — e divertido, dentro da proposta — , não traz nada de muito inovador ao gênero.

É em alguns raros momentos de criatividade que Back 4 Blood realmente mostra o potencial de seu formato. Ainda no Ato 1, há um trecho onde precisamos explodir um grande navio que está bloqueando uma ponte. Nesta parte, 2 jogadores vão plantar os explosivos, enquanto outros 2 vão oferecer cobertura à distância. É um momento especialmente empolgante da “campanha” justamente porque foge do padrão estabelecido pelas fases comuns, separando os jogadores para que eles se ajudem à distância.

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Em outro momento, 2 jogadores vão precisar carregar caixas pesadas até um restaurante, o que lhes impossibilita de usar suas armas principais. Assim, o que seria uma fase comum vira basicamente uma missão de escolta, com 2 jogadores escoltando os outros 2. É possível soltar a carga para outro player carregá-la, um recurso útil em condições extremas.

Há outros momentos interessantes como esses ao longo da campanha, mas são pontuais, e não quero entregar tudo aqui para não estragar a sua experiência. Mas, no geral, espere por fases mais tradicionais do tipo “sobreviva até a Safe House com cada vez mais mutações bizarras de inimigos surgindo, e muitos momentos estilo “defenda-se da horda enquanto alguma coisa demorada acontece”. Aliás, espantar pássaros ou ativar alarmes (de carros ou portas trancadas) atrai grandes hordas, e ainda que seja possível evitar estes percalços, sempre pode haver um engraçadinho no grupo que vai fzer algo do tipo “sem querer”.

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Um detalhe que dificulta um pouco a vida da gente é a escassez de slots de armas: cada personagem carrega basicamente uma arma primária (alguns começam com pistolas, outros com armas brancas) e uma principal (rifles, escopetas, metralhadoras, etc), além de um slot para explosivos, outro para itens de cura e um terceiro para acessórios de uso único (como um taser para se livrar de certos zumbis que agarram a gente, ou um desfibrilador para reanimar automaticamente um parceiro caído).

Acho que seria bom podermos carregar uma arma melee separada dos slots equipáveis — de fato, há uma carta que transforma o ataque melee padrão em uma facada — simplesmente para podermos ter uma combinação de equipamentos apropriada para lidar com inimigos, estejam eles perto ou longe. Jogos como Doom Eternal (que nos permite carregar o arsenal inteiro simultaneamente) deixam a gente mal acostumado…

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Outra coisa que me parece um pouco desbalanceada é a dificuldade. Há trechos que são muito mais difíceis do que outros, com hordas tão grandes de inimigos que acabam dizimando os jogadores pela força bruta combinada. Repetir uma fase toda por conta de um trecho especialmente difícil é chato, mas aconteceu um bocado por aqui.

As novidades

Embora seja muito “mais do mesmo” em sua estrutura, Back 4 Blood comprova que os produtores estiveram de olho nos recursos que se consolidaram no mundo dos games de tiro ao longo da última década. Assim, ainda que “emule” a experiência de Left 4 Dead, Back 4 Blood também traz novidades que visam modernizar a fórmula e concedem um senso de progressão ao jogo.

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Escolha suas armas

Por exemplo: bebendo na fonte de The Division, Borderlands e outros looter shooters, agora temos diferentes níveis de raridade para as armas e equipamentos, separados por cores. Também existem partes intercambiáveis de armas (tipo miras, canos) que aumentam as estatísticas de certas armas quando equipadas.

Outra novidade são os cards, de diversos tipos diferentes. Existem os cards que aumentam as estatísticas do seu personagem, e outros que concedem benefícios para o grupo, entre outras. Há ainda cartas corrompidas, que agregam algum tipo de modificador à fase (como um chefe opcional, ou algum item secreto que deve ser encontrado e levado até o final).

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Você monta o deck, e vai tirando uma carta antes do início de cada fase

Há toneladas de cards diferentes, que o jogador desbloqueia simplesmente jogando ou comprando no acampamento — que é o hub do jogo, onde vamos adquirir missões, personalizar nosso Sentinela e montar nosso deck. Cada missão cumprida nos concede caixas de suprimentos, que é a moeda de troca usada no jogo. Além de cards, podemos adquirir novos trajes para os personagens, skins de armas, etc.

Fora isso, o jogo ainda tem um PvP diferenciado, que chega na forma do Enxame. Aqui, foram-se duas equipes de quatro jogadores, que se enfrentam podem se enfrentar em uma série de rodadas estilo melhor de três. De um lado, os jogadores controlam Sentinelas. Do outro, assumem o comando dos Contagiados, podendo escolher 9 tipos de monstros diferentes. Joguei poucas partidas, mas gostei da ideia. Novamente, não é um modo de jogo especialmente inovador, mas funciona muito bem dentro da proposta.

Audiovisual

Se Left 4 Dead já mostra a idade da engine Source, Back 4 Blood chega rodando na sempre versátil Unreal Engine 4, que entrega um jogo compatível com o mercado atual. Não é o shooter mais lindo que você vai jogar, mas também não decepciona: os modelos de Sentinelas e Contagiados são interessantes, e há uma relativa variedade de ambientes ao longo dos 4 Atos da campanha.

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Desde antes de seu lançamento comercial (que é hoje, 12/10), Back 4 Blood já aceitava cross-play entre diferentes plataformas, e no geral o jogo dá conta do recado. É normal as partidas começarem com um ou dois bots, mas outros jogadores assumirem o comando deles ao longo da fase, em um dinâmico sistema drop-in/drop-out que ajuda quem não que jogar sozinho a formar uma party circunstancial com desconhecidos.

Como estive testando o jogo Back 4 Blood nos últimos dias, antes de seu lançamento, não tive a oportunidade de jogá-lo com meus amigos, mas o matchmaking sempre fez um bom trabalho, seja encontrando partidas rápidas ou colocando outros players no meu jogo em poucos minutos.

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Esta missão do bar é especialmente legal 😀

Joguei com ilustres desconhecidos” do PC e do Xbox, e imagino que o fato do jogo lançar direto no catálogo do Game Pass vai fazer a comunidade “do lado verde da Força” abraçar o jogo, mantendo servidores lotados e garantindo que todos encontrem partidas sem demora.

Rodando no Xbox Series S, o jogo ofereceu uma experiência muito sólida, segurando o framerate e mantendo a fluidez da jogatina mesmo nos momentos mais caóticos. A conexão também se manteve estável, sem kickar jogadores nem derrubar partidas na metade — o que é bom, visto que jogar Back 4 Blood em modo solo se mostrou uma experiência um tanto frustrante, pois bloqueia troféus, não contabiliza seu progresso, entre outros problemas.

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Fãs de Stephen King vão reconhecer este tapete <3

Vale ressaltar ainda que o jogo está 100% localizado para o nosso idioma. A Warner Bros. Games segue fazendo um excelente trabalho de localização de seus títulos, e aqui temos as vozes de alguns dos maiores nomes da indústria — incluindo nosso querido Wendel “Goku/Bob Esponja” Bezerra — concedendo voz e carisma para os personagens.

Por falar em carisma, uma coisa que eu queria ter visto em Back 4 Blood era um pouco mais de sinergia entre os personagens. Ainda que cada um tenha sua própria forma de descrever certos inimigos, eu queria ver os personagens interagindo uns com os outros.

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Nas Safe Houses, poderiam rolar uns diálogos mais únicos entre os Sentinelas

Sabe como os heróis de Overwatch conversam uns com os outros antes das partidas, e tem diálogos específicos entre eles? Queria ter visto algo desse nível aqui, mas, infelizmente, o jogo não traz nada desse tipo. Uma pena; um pouco de personalidade não faria mal.

Conclusão

Back 4 Blood pode não ser o Left 4 Dead 3 que os fãs queriam, mas provavelmente é o mais perto disso que teremos.

O lado bom é que a estrutura do jogo é essencialmente a mesma, mas foi atualizada, com elementos que visam prolongar a vida útil do jogo. Back 4 Blood incentiva a busca por cards e equipamentos melhores, e os modificadores ajudam a tornar a experiência como um todo um pouco menos repetitiva.

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Quem curte este tipo de experiência, sem dúvida estará bem servido. E, como já dito, o lançamento do jogo direto no Game Pass torna-o praticamente obrigatório para quem quiser matar zumbis no Xbox, ou mesmo em outros dispositivos, graças ao xCloud, que chegou recentemente ao Brasil.

Poucas coisas são tão catárticas e divertidas quanto matar zumbis com os amigos, e disso o pessoal da Turtle Rock Studios entende. Então, reúna seu time, carregue suas armas e venha sobreviver ao apocalipse zumbi mais uma vez.

Back 4 Blood está sendo lançado hoje (12/10), com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X|S (versão analisada). O game está 100% em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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