Análise Arkade: Blizzard Arcade Collection, um combo imperdível de nostalgia e diversão
Faz pouco mais de uma semana que rolou a BlizzConline, e com ela veio uma grande surpresa: a Blizzard anunciou — e lançou — sua Blizzard Arcade Collection, coletânea que reúne três clássicos dos anos 90: The Lost Vikings, Rock N Roll Racing e Blackthorne.
Lançados respectivamente em 1992, 1993 e 1994 para plataformas variadas — incluindo os consoles da geração 16-bits e PCs da época (como o Amiga) — estes 3 jogos são os primeiros jogos da Blizzard, anos antes dela ficar famosa com séries como Diablo, Warcraft e StarCraft.
Por alguma razão, a Blizzard nunca foi muito adepta de relançamentos. Estes jogos chegaram até o Game Boy Advance e plataformas um pouco mais exóticas — Blackthorne teve uma versão para Sega 32X — mas, até recentemente, quem quisesse revisitá-los precisava tirar o pó do Mega Drive/Super Nintendo, ou apelar para os emuladores.
Felizmente, a empresa decidiu trazer os 3 jogos em uma coletânea muito especial, que não só mantém os jogos originais em toda sua glória, como ainda apresenta Versões Definitivas de cada um deles, e vou te falar que elas valem a pena!
Digo isso porque, nas Versões Definitivas, a Blizzard acrescentou recursos de qualidade de vida que sem dúvida facilitam o progresso: nas edições originais de The Lost Vikings e Blackthorne, por exemplo, foi adicionado um “modo de observação”,que permite ao jogador assistir a um vídeo do jogo, e começar a controlá-lo a qualquer momento, o que é muito útil para superar os trechos mais cabeludos sem ficar empacado.
Outra colher de chá que pode ser habilitada em quase todos os jogos é uma função rebobinar, que permite ao jogador refazer os últimos 10 segundos de jogo, corrigindo algum erro fatal e evitando a morte. Para completar, todos os jogos (com exceção da Edição Definitiva de Rock N Roll Racing, sei lá porque) podem ser salvos a qualquer momento (basta pressionar o analógico direito R3 e usar o menu) e possuem menus e legendas em português brasileiro.
Ah, e uma dica que descobri experimentando: os passwords e cheat codes de todos os jogos — que estão aí pela internet
Revisitando The Lost Vikings
The Lost Vikings é um jogo de ação e plataforma 2D cheio de carima que nos apresenta a um trio de vikings (Erik, o Veloz, Olaf, o Robusto e Baelog, o Feroz) que foi abduzido, e precisa dar um jeito de voltar para casa.
Em uma experiência cooperativa para um jogador”, cada viking tem suas próprias habilidades: um deles pode se defender e levantar aliados, outro é capaz de atacar, e há ainda o mais ágil e rápido. Devemos coordenar e combinar as habilidades dos três guerreiros para que todos possam superar os obstáculos, sejam puzzles, inimigos, ou outros perigos.
É um jogo relativamente simples, mas muito criativo, que esbanja carisma e ainda funciona muito bem nos dias de hoje. A coletânea nos permite experimentar três versões do jogo: a versão SNES, a versão Mega Drive e a Edição Definitiva.
Embora seja legal poder relembrar as versões originais do game, a Edição Definitiva de The Lost Vikings é a mais fácil de recomendar porque agrega os melhores aspectos das versões originais para console em uma só, combinando uma experiência visual e sonora aprimorada com cenas e fases extras. Ah, e agora ele pode realmente ser uma experiência cooperativa para até três jogadores offline, algo que só foi acrescentado em uma versão posterior do jogo.
Revisitando Rock N Roll Racing
Vou te falar que quando vi que um dos meus jogos favoritos da vida estava nessa coletânea, fiquei com receio. Esse papo de “Edição Definitiva” podia arruinar todas as minhas memórias deste jogo de corrida e destruição maravilhoso… mas felizmente, isso não aconteceu, e a Edição Definitiva dele é simplesmente incrível!
Revisitar as duas versões originais de Rock N Roll Racing — lançadas para Mega Drive e Super Nintendo — já seria um prazer por si só, mas a cereja do bolo é mesmo a versão aprimorada do game, que acerta em cheio ao misturar nostalgia com recursos novos — incluindo versões originais com “qualidade de CD” da maioria das faixas do jogo original, que, convenhamos, tem uma trilha sonora simplesmente épica.
Algumas faixas clássicas ficaram de fora — como Paranoid, por exemplo, o que é uma pena –, mas, para compensar, algumas novas músicas foram acrescentadas, de bandas igualmente incríveis, como Rush e Judas Priest. É uma trilha sonora enxuta, mas muito boa, e poder escolher entre as versões em chiptune e as versões oficiais (completas, com vocal e tudo) é uma baita adição ao jogo.
Confira uma corridinha abaixo, ao som da antológica Born to be Wild:
Outra novidade bacana é que o narrador, Larry Huffman, está de volta, com muitas frases extras que ficaram de fora do jogo originalmente. Por exemplo: nos menus, ele vai soltar algumas curiosidades sobre o planeta em que estamos disputando. Já durante as corridas, ele pode trazer informações sobre patrocinadores do torneio, ou mesmo novas interjeições sobre a corrida, sempre com aquela dose de humor que fez de sua voz uma das mais icônicas do mundo dos games.
Além disso, a Edição Definitiva roda em widescreen (16:9), sem bordas pretas, e traz um visual incrível, com muitos efeitos novos (chuva, neve, fumaça) e permite jogatina multiplayer local para até quatro pessoas — que se beneficia das 384 variações de pistas possíveis, o que traz muito mais variedade na hora da jogatina.
Para não dizer que essa versão é perfeita, ela tem um problema bem incômodo: especificamente na Edição Definitiva de Rock N Roll Racing, não é possível salvar o progresso, o que deixa a gente refém dos famigerados passwords. Não sei porque só esse jogo na coletânea inteira não tem save state, mas é curioso (e triste) que todos os outros possam ser salvos a qualquer momento, e só ele não. Salvar antes de cada fase do torneio já estaria de bom tamanho.
Revisitando Blackthorne
Utilizando as mesmas tecnologias de rotoscopia que foram vistas em Prince of Persia alguns anos antes, Blackthorne nos coloca na pele do ex-militar f*dão Kyle “Blackthorne” Vlaros, que vai usar sua espingarda e sua coragem para tentar liberar seu povo das garras de uma raça alienígena invasora.
O jogo é um sci fi futurista que flerta com o Metroidvania, e traz um gameplay um tanto sistemático, que demanda um período de adaptação, uma vez que tem seus melindres. Você só pode escalar se estiver com a arma guardada, há um botão só para atirar para trás (e ele faz isso sem olhar, de um jeito bem bad ass) e também podemos “nos esconder” de tiros inimigos no fundo do cenário — aliás, certas cachoeiras têm passagens secretas, fique de olho. A ação consiste em explorar as diversas telas interligadas do jogo, enfrentando inimigos, explodindo portas e coletando cartões de acesso a novas áreas.
É possível jogar tanto a versão de Super Nintendo quanto a versão 32X, que são essencialmente iguais, com exceção dos gráficos (até os passwords de uma funcionam na outra). Confesso que o gameplay “travado” de Blackthorne não me agrada muito, mas eu conheço a fama do jogo, e está sendo divertido revisitá-lo.
A Edição Definitiva de Blackthorne inclui uma nova área para explorar (que anteriormente só estava disponível na versão 32X do game), além de um mapa que se revela na medida em que o jogador desbrava cada nível. Ah, e aqui também temos legendas em português brasileiro, e a comodidade de salvar o progresso a qualquer momento.
Extras divertidos
Já que estava trazendo de volta este trio de clássicos, a Blizzard aproveitou a oportunidade para incluir depoimentos de alguns produtores que participaram da criação destes jogos tão emblemáticos, bem como algumas artes conceituais, testes de animação e outros materiais “de arquivo” que são muito interessantes para preservar a história de cada título.
Os depoimentos são a parte mais divertida destes conteúdos adicionais. A indústria dos videogames era muito diferente ali no início dos anos 90, e é muito legal ver alguns veteranos relembrando dessa época e dando risada de alguns casos pitorescos que rolaram nos bastidores.
Infelizmente os depoimentos não possuem legendas, mas se você tiver um bom nível de inglês, sem dúvida vai dar boas risadas com os “causos” narrados por estes dinossauros da Blizzard. Ah, e completa o pacote de extras uma jukebox que permite curtir as músicas destes clássicos!
Conclusão
Não é sempre que a Blizzard revira seu baú de clássicos — e já vimos ela fazer isso de forma bem errada recentemente, com o execrável Warcraft III: Reforged –, mas dessa vez ela acertou na veia: a Blizzard Arcade Collection é um pacote incrível, que vale a pena não só pela nostalgia dos jogos originais, mas também pela qualidade das releituras que chega na forma das Edições Definitivas de cada título.
Fico especialmente feliz com o que foi feito com Rock N Roll Racing. Esse é um jogo marcou minha infância (e a de muita gente), e é mágico poder jogá-lo em pleno 2021, com visual aprimorado, trilha sonora melhorada e multiplayer local para 4 pessoas. O jogo continua tão bom como era nos anos 90, e poder jogá-lo legalmente, em qualquer console atual, é incrível.
Os depoimentos e extras agregam ainda mais recheio a um pacote que por si só já seria incrível. Seja você um adulto que passou incontáveis tardes curtindo The Lost Vikings, Rock N Roll Racing e Blackthorne nos anos 90 ou um gamer mais novo, que quer conhecer um pedaço importante da história dos videogames, a Blizzard Arcade Collection é um combo imperdível de nostalgia e diversão.
A Blizzard Arcade Collection foi lançada em 19 de fevereiro, com versões para PC, Playstation 4 (versão analisada, rodando no PS5), Xbox One e Nintendo Switch. O pacote pode ser adquirido como parte da Coleção Comemorativa de 30 anos da Blizzard, que inclui mimos para outros jogos da empresa, como Overwatch e Diablo III.