Análise Arkade: Bravely Default II, um JRPG tradicional, mas cheio de nuances
Bravely Default II é o mais novo RPG da Square Enix a ser lançado para o Nintendo Switch. E, vou te falar: ele é um pequeno grande jogo! Confira nossa análise completa para saber mais!
Como fã dos RPGs clássicos da Square Enix (que vieram antes do grandioso Final Fantasy VII), eu tenho um carinho muito especial por esses jogos menos realistas, com personagens cabeçudinhos e simpáticos.
Por conta disso, sempre nutri uma curiosidade por jogos como Bravely Default e Ocopath Traveler, que acabei nunca jogando simplesmente porque não tinha os consoles necessários — aliás, Octopath Traveler vai ser lançado no Xbox Game Pass semana que vem, e desde já eu estou super ansioso!
Felizmente, isso mudou, e agora que Bravely Default II está entre nós, aproveitei o código de review fornecido pela Nintendo para mergulhar em sua trama que, honestamente, é cheia de clichês do gênero, mas ganha força graças ao carisma dos protagonistas.
Em busca dos 4 cristais (de novo)
Bravely Default II se passa no mesmo mundo dos jogos anteriores, mas em um continente totalmente novo, e conta uma história que não depende dos jogos anteriores para ser compreendida. O protagonista é um jovem marinheiro chamado Seth, que após sobreviver a um terrível naufrágio, acorda em uma praia de um lugar que ele não reconhece.
Essa praia fica em Excillant, um grande continente que abriga cinco reinos. Logo conhecemos Gloria, princesa do antigo reino de Musa, que foi destruído pelo império Holograd. Sua terra natal guardava 4 Cristais elementais de grande poder, mas a princesa conseguiu salvar apenas um deles.
Conforme a história avança, descobrimos que o poder dos cristais é a única coisa que pode impedir um mal ancestral de espalhar caos e destruição pelo mundo. Quando uma pessoa é escolhida por um Cristal, ela torna-se um Hero of Light, e passa a ser um legítimo defensor dos cristais. Obviamente, Seth é escolhido por um dos Cristais (o do Vento, único que Gloria mantinha sob sua guarda) e logo todo o grupo embarca em um jornada pelo mundo para recuperar os demais Cristais.
A história não tem vergonha de apoiar-se em diversos clichês que já vimos em outros RPGs: o herói sem memória, que é escolhido pelo destino para salvar o mundo com o poder de cristais mágicos… nem o conceito dos Guerreiros da Luz é inédito; algo assim já existia lá no primeiro Final Fantasy, há mais de 30 anos.
Felizmente, o que falta em originalidade sobra em carisma: Bravely Default II é um jogo muito bonitinho e conta sua história de forma leve, bem humorada, sem tentar ser épico ou grandioso sem necessidade. Os personagens de nossa party contribuem para isso, todos muito carismáticos. O destaque vai para Elvis, o Black Mage falastrão que está o tempo todo querendo ir até a taberna mais próxima para encher a cara.
Um pequeno grande mundo para explorar
Bravely Default II é um JRPG bem tradicional em sua construção de mundo: a história nos manterá sempre em movimento, indo de uma cidade a outra em busca de pistas ou inimigos que possam estar escondendo um dos cristais.
O mundo aberto é explorável, mas serve mais como ponto de ligação entre as cidades e dungeons do que como algo para “se perder”. Há monstros para lá e para cá (nada de encontros aleatórios: sempre podemos ver os inimigos no mapa) e um ciclo de dia e noite que deixa uma região mais ou menos perigosa, pois altera os tipos de inimigos que iremos encontrar. Isso é útil para fazer grinding e fortalecer os personagens, algo que deve ser feito para encarar os inimigos mais avançados do jogo.
Em cada cidade pela qual passarmos, haverá um punhado de NPCs para nos solicitar pequenos favores, aka sidequests, que geralmente não são muito complexos, e podem nos render equipamentos e alguma experiência. Muitas dessas missões têm objetivos bobinhos, ou seguem o padrão “garoto de recados” típico dos RPGs, mas têm seu valor por aprofundarem as relações entre os protagonistas.
Sistema de batalha familiar, mas complexo
Em uma primeira olhada, o sistema de batalha de Bravely Default II é bem familiar para quem está acostumado a JRPGs por turnos, mas ele tem suas particularidades que acrescentam um tempero extra à fórmula. Elementos que, pelo que pesquisei, já existiam nos jogos anteriores da franquia, mas como não joguei, tudo foi novidade para mim.
O principal twist no gameplay está — literalmente — no nome do jogo: em uma batalha, você pode escolher se quer que seus personagens sejam agressivos e impetuosos (Bravely), ou mantenham um comportamento mais padrão (Default).
Na prática, isso afeta o ritmo do combate e o número de ações que você pode realizar. Cada personagem tem um medidor de ações (BP, ou Battle Points) que idealmente fica em equilíbrio… mas também pode acabar ficando com saldo positivo ou negativo, de acordo com as decisões que você toma.
O lance é que, com o comando Bravely, você pode “emprestar” ações extras para encadear mais golpes/magias em um único turno. Porém, ao fazer isso, o próximo turno daquele personagem vai demorar mais para chegar caso ele fique com “saldo negativo” de ações para realizar. É uma mecânica de “risco x recompensa” que você precisa administrar com cautela.
Um modo mais prudente de jogo é respeitar o ritmo normal de uma ação por turno. Ou, você pode ser ainda mais precavido e deixar um personagem em modo defensivo (comando Default): assim ele vai acumular ações e poderá usar vários comandos de uma vez sem ficar com “saldo negativo”.
Falando assim parece meio complicado, mas depois que a gente pega o jeito, utilizar essas táticas em combate torna-se bastante natural, mas demanda um pensamento estratégico, visto que os inimigos (e chefes) também podem se valer das técnicas Bravely e Default em seus próprios turnos. Você vai querer ter um White Mage pronto para curar ou reviver mais de um herói caído de uma vez, se necessário.
Asterisks
Outro ponto interessante do jogo são os Asterisks, artefatos que têm importância narrativa e prática. Narrativamente, eles são úteis para que Elvis possa decifrar um livro antigo cheio de segredos. Na prática, um Asterisk é um Job, e ao equipar um Asterisk específico em um personagem, ele ganha o visual, os poderes e habilidades daquele Job. Os Asterisks geralmente são carregados por chefões; vença o chefe e leve de brinde a classe dele para utilizar.
O mais legal é que você pode ter um Main Job e um Sub Job, ou seja, dois Asterisks equipados em um só personagem O Main Job define seu visual e suas principais habilidades, mas você ainda pode aproveitar boa parte das habilidades de seu Sub Job. Quer ser um Black Mage poderoso, mas poder contar com magias de cura e suporte de um White Mage? Aqui você pode! Nenhum personagem é fixo de nenhuma classe, basta equipar e remover Asterisks para transformar um Guerreiro em um Bardo em poucos segundos!
Existem pouco mais de 20 Jobs no total, alguns bem comuns, como Thief e o já mencionado Black Mage, bem como outros mais inventivos e diferenciados. Oracle, por exemplo, é um Job focado em magias de tempo (Haste, Slow, etc.), enquanto o Pictomancer é um Job “artístico”, no qual o personagem usa um pincel mágico para aplicar debuffs em seus aliados.
Há diversos tipos de armas em Bravely Default II, e o Job de um personagem define seu nível de afinidade com certas armas. Magos, no geral, preferem cajados, enquanto um Ranger vai preferir um arco-e-flecha. Algumas armas usam as duas mãos do personagem, em outros casos, você pode equipar duas armas diferentes, uma em cada mão, ou optar pela clássica combinação de arma + escudo (só cuidado para não extrapolar o peso que o herói pode carregar). Inimigos são mais (ou menos) vulneráveis a certas armas: tirar proveito disso é vital nos combates.
Com tudo isso, quero deixar claro que, ainda que o sistema de combate e de “profissões” de Bravely Default II seja mais ou menos familiar, ele também possui nuances muito próprias. Mesmo os level ups seguem seu próprio ritmo: há o level geral do personagem, e o level de seus Jobs, que sobe separadamente e usa pontos (JP, Job Points) específicos. Aliás, reforço a dica: fazer grinding é uma necessidade para não sofrer muito contra os chefes e inimigos mais apelões.
Audiovisual
Embora eu não seja um grande apreciador da estética chibi (personagens fofinhos, com corpos pequenos e cabeças grandes), não posso negar que o visual de Bravely Default II é incrível. A direção de arte do jogo é primorosa, conseguindo misturar essa fofura dos personagens 3D cabeçudinhos aos imponentes castelos e cidadelas dos cenários — que são basicamente pinturas 2D cheias de detalhes.
A trilha sonora do jogo mantém a qualidade que se espera de uma empresa que construiu sua fama em cima de JRPGs, trazendo músicas orquestradas e grandiosas, bem como faixas alegres, sutis, sombrias… tudo depende da ocasião. A música realmente engrandece o jogo e coloca o jogador “no clima”.
Em se tratando de vozes, boa parte dos diálogos do game são dublados, e as atuações no geral são de excelente qualidade, com sotaques e trejeitos que injetam ainda mais personalidade aos heróis e vilões.
Infelizmente, como é meio que padrão em exclusivos do Nintendo Switch, o game não recebeu nenhuma tradução para o nosso idioma. Há opção de vozes em inglês e japonês, com legendas em alguns outros idiomas, mas nada em português.
Conclusão
Considerando a popularidade dos RPGs de ação ocidentais, confesso que fazia algum tempo que eu não me dedicava a um legítimo RPG japonês (acho que desde Persona 5, se não contarmos Final Fantasy VII Remake), com batalhas por turnos, Jobs, e tudo mais. E, devo dizer que, me reencontrar com o gênero em Bravely Default II foi um grande prazer.
Embora sua história não seja particularmente inspirada, o carisma dos personagens e do próprio mundo do jogo ajudam a gente a relevar os (muitos) clichês narrativos. E as pequenas, mas efetivas nuances do sistema de combate trazem um frescor muito bem-vindo ao formato “batalha por turnos”. A possibilidade de acelerar os combates é outro ótimo adendo, otimizando especialmente os momentos de grinding.
Então, não importa se você já conhecia a série, ou está chegando agora a ela (como eu): se você curte JRPG, Bravely Default II é um ótimo representante do gênero, que vai lhe garantir dezenas de horas de diversão no Nintendo Switch.
Bravely Default II foi lançado em fevereiro, e está disponível exclusivamente para Nintendo Switch.