Análise Arkade: Dead Island 2 demorou, mas saiu. E, acredite, é bem legal!
Muita gente duvidava que este jogo seria lançado. Mas a hora está chegando: anunciado há quase uma década, Dead Island 2 chega na próxima sexta. Nós já jogamos, e trazemos para você, em primeira mão, nossa análise Dead Island 2!
O development hell de Dead Island 2
Antes de falarmos do jogo em si, acho válido trazermos um panorama sobre o development hell pelo qual ele passou. Aliás, o termo “development hell” se refere a jogos que passam muito tempo em desenvolvimento, ou trocam de mãos várias vezes e, por isso, acabam sumindo ou são adiados inúmeras vezes.
Alguns destes jogos demoram vários anos para sair e, quando chegam, decepcionam — caso do famigerado Duke Nukem Forever. E alguns parece que nunca vão sair — caso (triste) de Beyond Good & Evil 2, que está perdido nos porões de uma Ubisoft em crise.
Desde que foi anunciado, lá em 2014, Dead Island 2 trocou de desenvolvedora 3 vezes — coemçou a ser desenvolvido pela Yager Development, depois foi para a Sumo Digital e, por fim, acabou caindo no colo da desconhecida Dambuster Studios.
Durante esse perrengue todo, o jogo passou muito tempo sumido — e foi, inclusive, “reanunciado” oficialmente na Gamescon do ano passado… com uma data de lançamento para fevereiro de 2023 (data esta que, claro, não foi respeitada). Se passou tanto tempo, e foram tantos adiamentos que muita gente duvidava que o jogo um dia seria lançado.
Quando pudemos testar antecipadamente um pouco do jogo, há algumas semanas, começamos a botar fé que ele realmente sairia — e poderia até ser bom. Relembre aqui nosso preview do beta, assinado pelo nosso camarada Renan do Prado.
É fato: um jogo quase nunca escapa ileso de um ciclo de produção muito longo e problemático. Dead Island 2, felizmente, pode ser a exceção à regra. Para saber mais, continue acompanhando nossa análise! 😉
Bem-vindo a Hell-A
Dead Island 2 se passa (ironicamente) cerca de 10 anos após os acontecimentos do jogo original. Conhecemos um mundo pós-apocalíptico mais maduro, no qual a humanidade precisou criar zonas de contenção para impedir o avanço dos zumbis.
Uma dessas áreas de quarentena engloba as cidades de Los Angeles — que deixa de ser “LA” e passa a ser “Hell A” no jogo — e San Francisco. E é ali que nosso avião acaba caindo. Pois é, bem no meio de um inferno na Terra, tomado por infectados.
Felizmente, logo descobrimos que nosso sobrevivente — podemos escolher entre 6 personagens com visuais, estatísticas e até mesmo habilidades distintas — é imune ao vírus. Não só isso, na verdade o vírus acaba liberando certos poderes especiais no organismo do protagonista.
Independente da sua escolha, a história é a mesma para todos eles, e envolve, essencialmente, achar uma saída de “Hell A” para tentar inclusive bancar a Ellie de The Last of Us, e ajudar a humanidade a encontrar uma cura para o vírus.
Nessa empreitada, vamos conhecer outros sobreviventes — inclusive alguns remanescentes do primeiro jogo — forjar alianças questionáveis e criar armas malucas enquanto exploramos um mundo aberto nem tão grande assim (o que para mim é um ponto positivo), dividido em várias áreas que se conectam.
Matança de qualidade
Ainda que quase 12 anos separem o primeiro Dead Island desta sequência, é fato que o novo jogo não reinventa a roda, e é imediatamente familiar para qualquer jogador que tenha experimentado algum jogo que envolva combate, crafting e exploração na última década.
Até os “tipos” de zumbis são bem comuns. Há os que rastejam, os que correm, os grandalhões fortes e aqueles inchados e podres que cospem gosma venenosa. Há os do tipo “kamikaze”, que correm até você e explodem. Entre as variações mais peculiares, há os soldados, que carregam granadas que podem ser explodidas à distância, e os “entregadores”, que carregam mochilas de delivery e podem dropar energéticos e itens de cura.
Que fique claro que a falta de inovação não necessariamente é um ponto negativo. Se o jogo não é criativo ou inovador, pelo menos ele faz tudo bem feitinho. Se tivesse que descrever a experiência de Dead Island 2 para alguém que nunca jogou a série, eu diria que parece uma mistura de Far Cry com Dead Rising e ênfase em pancadaria melee (armas de fogo só foram aparecer ali pelas 8 horas de campanha).
O combate é simples, mas agradável. Não há combos mirabolantes nem nada muito complexo, mas tudo funciona bem. Os golpes têm impacto, e é muito legal ver os zumbis perdendo partes do corpo ou “derretendo” — conforme a arma utilizada. Voadoras, parries e esquivas. E, há armas “improvisadas” por todo canto, o que potencializa a ação.
O nível de detalhes na carnificina impressiona. No melhor estilo Doom Eternal, os inimigos têm “camadas”, que vão saindo conforme o pau come. É possível quebrar o maxilar dos desmortos, rachar seus crânios, fazer seus olhos saltarem para fora, expor órgãos internos e causar variados tipos de desmembramentos e fraturas — mesmo quando eles já estão mortos. A matança é variada e visceral.
Como já dito, o vírus zumbi no organismo de nosso personagem acaba trazendo efeitos benéficos. Cada personagem possui perks específicos, mas em determinado momento da campanha, ganhamos acesso ao modo “Fúria”, que é basicamente um berserk ao melhor estilo God of War, e nos permite estraçalhar os zumbis na unha. Guarde para grandes hordas ou momentos estratégicos.
Crafting, exploração e RPG
Ainda que seja, sob muitos aspectos, um RPG de mundo aberto, Dead Island 2 pega bem leve na complexidade. Por exemplo, não há árvore de habilidades, nem nada do tipo. Ao invés disso, vamos desbloqueando cartas de perks e habilidades, que podemos equipar no personagem. Em contrapartida, as armas têm níveis de raridade divididos em cores, tal qual Destiny, e os números de dano “saltando” de cada golpe podem ser meio intrusivos.
O crafting se faz presente principalmente no que diz respeito à customização das armas. Criar armas malucas é uma das marcas registradas da franquia, e segue sendo um adendo divertido. Você pode, por exemplo, criar uma faca que eletrocuta os inimigos, ou um machado com lâmina ácida que derrete a zumbizada. Há inúmeras possibilidades, e todas elas turbinam a matança.
Também é interessante a “sinergia elemental” que pode surgir — seja de forma espontânea ou planejada. Jogar uma bateria de carro na água, por exemplo, vai fritar todos os zumbis ao redor, e causa mais dano nos que estiverem molhados. O mesmo vale para atear fogo em substâncias inflamáveis. Você pode arremesar galões, furar canos ou estourar hidrantes para potencializar os danos causados. Isso acrescenta um fator estratégico que pode salvar sua pele nos momentos mais tensos.
No que diz respeito à exploração, Dead Island 2 tem altos e baixos. Por um lado, eu gosto do fato do mapa do jogo não ser enorme e ser dividido em áreas e dele não ser salpicado de ícones e pontos de interesse. Por outro, falta alguma forma de locomoção mais dinâmica e divertida. Algo como o parkour de Dying Light, ou o surf nos cabos de Infamous, sabe?
Sei que a proposta aqui é outra — mais “realista” — mas em jogos de mundo aberto, a locomoção precisa ser interessante. Dead Island meio que falha neste quesito. Mesmo que seu mundo seja cheio de veículos abandonados, o ato de ir e vir é todo na base da sola de sapato (e sem parkour, ou algo mais elaborado).
O fato de as área serem compactas até que facilita a travessia — importante, afinal, estamos o tempo e todo indo e voltando de certos pontos-chave — mas não consigo deixar de pensar que, tal qual Dead Rising, Dead Island 2 ficaria ainda mais divertido se nos permitisse transformas carrinhos de supermercado ou aparadores de grama em máquinas para trucidar zumbis!
Audiovisual
Dead Island 2 é um jogo muito bem resolvido visualmente. Seu mundo é realista, sim, mas possui cores saturadas bem típicas de videogame. Por ter saído com uma geração de atraso (e também com versões para PS4 e Xbox One), não espere nada ultra avançado, mas um jogo contemporâneo bonito e que roda bem nas plataormas atuais (joguei a versão PS5).
Acho certas limitações um pouco curiosas. Por exemplo, nem tudo é destrutível. Me chamou a atenção bater em um piano e ele não fazer aquele som de piano característico. Também me incomoda o fato do nosso protagonista não se enxergar refletido em espelhos. Mas, isso são detalhes, que não comprometem a experiência.
Há uma boa variedade de zumbis, com penteados e roupas diferentes, bem como variados níveis de decomposição. Ainda que a Los Angeles do game seja uma fração da real, ela passa bem a vibe hollywoodiana do lugar real: vamos passar por mansões de luxo, estúdios de cinema, praias paradisíacas… e, claro, esgotos fedorentos.
No departamento sonoro, outra bola dentro: as dublagens são muito boas, ainda que a história do jogo não necessariamente se leve a sério. Joguei com Carla, uma garota latina, e adorei ver ela soltando comentários em espanhol ocasionalmente. O elenco de apoio, em geral, também cumpre bem seu papel. Embora o jogo não tenha sido dublado em nosso idioma, as legendas em português são de excelente qualidade.
A trilha sonora também faz um bom trabalho, misturando músicas incidentais que potencializam a tensão com faixas licenciadas que caem como uma luva no game. Como já dito, para um jogo que passou tanto tempo “no limbo” e foi adiado tantas vezes, é surpreendente como Dead Island 2 chega polido e bem acabado — e digo isso tendo jogado duas semanas antes de seu lançamento.
Conclusão
Dead Island 2 não é um jogo inovador, nem revolucionário. Mas, é um game muito divertido de se jogar, pois oferece formas malucas e criativas de destroçar zumbis, belos cenários, gameplay agradável e um bom nível de desafio.
Creio que ele fique ainda mais legal se jogado em modo cooperativo online, com alguns amigos, mas não pude experimentar o coop. Como joguei antes do lançamento, me aventurei pelas 20 e poucas horas da campanha em modo solo. Ossos do ofício. ¯\_(ツ)_/¯
Mas, mesmo jogando sozinho saio satisfeito com a experiência. E até um pouco surpreso. Como eu dise lá no começo do texto, é difícil um jogo que passa tanto tempo “no limbo” não sair meio capenga. Mas Dead Island 2 me pareceu bem redondinho e bem acabado.
Não é um jogo que deve levar algum grande prêmio, nem vai mudar a vida de ninguém. Mas, sem dúvida, diverte e entretém o jogador enquanto ele está com o controle na mão, fazendo picadinho de milhares de zumbis. E isso é mais do que se pode dizer de muito jogo que não fica 10 anos em desenvolvimento…
Dead Island 2 será lançado na sexta, 21 de abril, com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5 (versão analisada), Xbox One e Xbox Series X/S.