Análise Arkade: Diablo II Resurrected, o retorno triunfal de um clássico
Um dos maiores clássicos dos videogames está de volta! Diablo II Resurrected é a legítima ressurreição deste título icônico da Blizzard, e traz os pontos positivos (e negativos) que transformaram a franquia em referência de RPG de ação.
Disclaimer
Antes de mais nada, um disclaimer: fica difícil ver com bons olhos um lançamento da Activision Blizzard em um período repleto de polêmicas, demissões, abusos e processos envolvendo a companhia. Nós inclusive, estamos cobrindo o caso, com postagens detalhadas que aprofundam os pormenores da treta.
Porém, recebemos uma cópia de review de Diablo II Resurrected e, portanto, estamos cumprindo com nossa obrigação profissional de analisar o jogo — independente das polêmicas. Sabemos que há gente optando pelo boicote e respeitamos esta decisão: ambientes de trabalho tóxicos devem ser denunciados e combatidos, seja na indústria dos games ou em qualquer outra esfera profissional.
Porém, aqui vamos nos focar em analisar o jogo Diablo II Resurrected, deixando de lado toda essa questão delicada que envolve a empresa por trás dele. Isso não quer dizer que estamos “passando pano” para a Blizzard: como já apontei, estamos acompanhando e noticiando o caso desde junho. Analisar um jogo da Blizzard nestes tempos conturbados significa apenas que seguimos tentando fazer nosso trabalho da maneira mais honesta e transparente possível, e estamos fazendo o nosso melhor para trazer informação de qualidade para nossos leitores.
Dito isso, vamos ao que interessa, que é falar de Diablo II Resurrected!
A ressurreição do mal
É curioso ver Diablo II ressurgindo justo em uma época em que o gênero que ele ajudou a criar está mais vivo do que nunca: muitos aspectos do RPG de ação/dungeon crawler/roguelike que hoje em dia ganha prêmios com Hades, já estava presente em Diablo II, duas d´ecadas atrás.
A trama do game se descortina ao longo de 5 atos (contando com a expansão Lord of Destruction, incluída neste remaster), onde vamos descobrir que o demônio que dá nome ao jogo — e foi vencido no primeiro Diablo — já está mexendo seus pauzinhos para retornar ao Santuário, corrompendo a alma do herói que lhe venceu e desencadeando uma nova invasão de monstros e demônios.
Diante deste novo perigo, um grupo de guerreiros que chega ao Acampamento das Amazonas decide averiguar a situação e buscar a origem desta nova infestação demoníaca. O lore da série é bastante rico, e quem é fã sem dúvida vai gostar de reencontrar figuras famosas da série, como Baal e Mephisto.
Lore este que está mais acessível do que nunca: Diablo II Resurrected é mais um game que chega 100% em português brasileiro — com dublagens, menus e legendas em nosso idioma. Isso não era tão comum lá no ano 2000, mas em 2021, a Blizzard segue fazendo um trabalho de qualidade ímpar na localização de suas grandes franquias.
Uma baita repaginada visual
A primeira coisa que salta aos olhos neste Diablo II Resurrected é como ele está mais bonito. O jogo original é de um tempo em que os monitores ainda eram quadrados, e rodava a uma risível resolução de 800 x 600 pixels.
Diablo II Resurrected, por sua vez, mantém o design e a direção de arte intactos, mas alcança até 4K em hardwares compatíveis, preenchendo uma tela widescreen com texturas, efeitos de luz e partículas recriadas em altíssima resolução. Está mais fácil ler informações das armas e itens no menu, ou mesmo enxergar o que é aquela arma que o inimigo dropou.
Os modelos de personagens e monstros foram totalmente atualizados, mas se mantém bastante fieis aos originais — estando, claro, mais bonitos e detalhados. A interface dos menus não sofreu grandes mudanças, mas recebeu um tapa no visual para se adequar ao conjunto da obra.
Além das já mencionadas dublagens em português brasileiro, todo o departamento sonoro do jogo foi remasterizado, para soar claro e cristalino nas plataformas atuais. Aquele barulhinho do gold dropando ainda é o mesmo, mas soa melhor do que nunca. A trilha sonora — que já era incrível originalmente — segue mantendo sua excelência, mais uma das provas da qualidade atemporal do jogo.
Nas cutscenes, temos uma recriação completa: todas as cutcenes elas foram refeitas no padrão Blizzard de qualidade, e estão mais intensas e cinematográficas do que nunca. Ou seja, ainda que seja essencialmente um remaster, em alguns aspectos, Diablo II Resurrected também tem ares de remake.
Matando demônios e coletando tesouros
Diablo II Resurrected é, em sua essência, o mesmo jogo de vinte anos atrás, que recebeu um “banho de loja” para ficar mais bonito e recebeu algumas bem-vindas melhorias de qualidade de vida para tornar-se mais acessível e (um pouco) menos obtuso hoje em dia.
No início da aventura, podemos escolher entre nada menos que sete classes de personagens distintas, cada uma com seu próprio leque de poderes, armas e habilidades: Amazona, Bárbaro, Necromante, Paladino, Maga, Druida e Assassina. Não há certo ou errado, cada jogador tem a sua classe favorita com base no seu estilo de jogo (combate próximo ou à distância, ataques físicos ou mágicos, etc.).
Personagem criado, é hora de começar a aventura: o loop de gameplay de Diablo II consiste em visitarmos o acampamento principal para “pegarmos” missões, e em seguida sairmos pelo mundo para encontrar e cumprir o objetivo. Missão cumprida, voltamos para a cidade, descarregamos o loot acumulado, conversamos com os NPCs e partimos para a próxima tarefa.
Embora o mapa do jogo e sua narrativa tenham uma estrutura imutável, os arredores das cidades principais e o interior das dungeons são gerados aleatoriamente — característica que se faz presente em praticamente todo roguelike atual.
Esta é a primeira vez Diablo II recebe suporte oficial para ser jogado com controles, e olha, faz uma baita diferença. O gameplay não é tão fluído quanto o de Diablo III (que, afinal, é um jogo mais moderno, com esquivas e tudo mais), mas foi muito bem adaptado. Jogar Diablo II no PC era quase um point and click: você clicava na habilidade que queria usar, depois clicava (e clicava, e clicava) no monstro até derrubá-lo.
No gamepad, podemos mapear cada habilidade para um botão específico, o que deixa o gameplay muito mais dinâmico. Detalhes que facilitam a vida da gente (como organizar o inventário com um clique, ou coletar ouro simplesmente passando sobre ele) também são melhorias que contribuem com a acessibilidade desta nova versão do jogo.
Vale ressaltar que, infelizmente, Diablo II Resurrected não oferece suporte para o multiplayer local. Jogando sozinho, você só vai poder curtir a campanha single player. O multiplayer é somente online, e é também onde o jogo realmente brilha.
Como o loot é aleatório (mas pode ser trocado e compartilhado), explorar masmorras ao lado dos amigos torna a experiência como um todo ainda mais divertida e interessante. Até porque, existem certas classes que são mais efetivas atuando como suporte, de modo que funcionam melhor dentro da estrutura balanceada de uma party.
Nem tudo envelheceu bem
Depois de arruinar o aclamado de Warcraft III em um remaster bastante criticado, parece que a Blizzard aprendeu a lição, pois tentou mexer o menos possível na estrutura de Diablo II (e não fez o jogo original desaparecer, como fez com Warcraft III) a fim de garantir que a jogatina seja o mais fiel possível ao que os fãs já conhecem.
Por um lado, isso é bom, pois mantém o feeling do jogo inalterado. Por outro, escancara elementos de game design que simplesmente não envelheceram tão bem assim, e até poderiam ter sido modificados em prol de uma experiência de jogo mais moderna, mais condizente com os 20 anos de evolução que o gênero ARPG incorporou dos anos 2000 para cá.
Talvez o aspecto que mais incomode seja a necessidade de ficarmos voltando para a(s) cidade(s) principal(is) o tempo todo, seja para pegar novas missões, ou simplesmente para limpar o inventário das tranqueiras acumuladas ao longo de uma run. Sim, há portais e pergaminhos de teleporte que podemos usar, e itens como o Horadric Cube expandem (um pouco) o inventário, mas não custava nada termos lojinhas, vendedores itinerantes ou algo do tipo espalhados pelo mapa. O site oficial do jogo confirma que o inventário foi levemente aumentado, mas na prática isso nem faz tanta diferença, dada a quantidade de loot que acumulamos.
Também é inegável que o jogo tenha uma pegada mais dura e desajeitada do que outros dungeon crawlers atuais. Como já dito, a estrutura do game não foi modificada, de modo que, até a gente se acostumar, as mecânicas tendem a ser um pouco datadas mesmo em coisas básicas, como locomoção e ataque. Derrubar um chefe poderoso jogando de Necromante para receber um equipamento de Assassina (ou alguma outra porcaria inútil para a sua classe) é algo frustrante, mas faz parte de como o loot era distribuído lá em 2000.
Conclusão
Para o bem e para o mal, Diablo II Resurrected inova e atualiza certos elementos do jogo original, mas não mexe muito no cerne da experiência — que ainda funciona, mas entrega sua idade em alguns momentos.
Mesmo trocando o mouse e o teclado pelo controle do Xbox Series, o feeling de jogar Diablo II ainda é o mesmo — especialmente porque ainda são as engrenagens de Diablo II que estão girando sob a nova fachada.
No geral, é bom termos acesso a uma versão completa e atualizada de um jogo tão importante disponível para mais plataformas. A série Diablo passou muitos anos afastada dos consoles, mas cada vez mais está se aproximando deles, e recursos como cross-play entre gerações (PS4 e PS5 podem jogar online, por exemplo), progressão compartilhada por todas as plataformas e navegação otimizada para controles comprovam que este tipo de jogo pode, sim, oferecer uma boa experiência nos consoles.
Seja você um veterano da série, ou um jogador que ainda nem era nascido em 2000, uma coisa é certa: Diablo II é uma peça importante da história dos videogames, e este Diablo II Resurrected sem dúvida é a melhor maneira de jogá-lo atualmente, pois é, de muitas maneiras, a edição definitiva de um clássico.
Diablo II Resurrected foi lançado em 23 de setembro, e está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S (versão analisada) e Nintendo Switch.